"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



Mostrando postagens com marcador Guerra das Falklands / Malvinas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Guerra das Falklands / Malvinas. Mostrar todas as postagens

sábado, 7 de janeiro de 2023

A DESCONHECIDA GUERRA PSICOLÓGICA UTILIZADA PELOS BRITÂNICOS NAS FALKLANDS/MALVINAS

.

Em plena Guerra das Malvinas, um soldado argentino mal treinado e desprovido de armamentos, com frio e fome, faz a guarda de uma colina. O ano era 1982.

Por Max Seitz


Ali, assim como no resto do arquipélago, o vento é constante e não há uma única árvore para se proteger da chuva - somente pedras. O jovem está mais longe de casa do que nunca, quer fugir e ficar perto de sua família. Ele tem medo e poucas esperanças. A comida e os suprimentos são cada vez mais escassos e é improvável que o local seja reabastecido tão cedo. Mas não há outro remédio senão esperar a hora fatal, quando lutará contra as forças britânicas, muito melhor preparadas e armadas do que ele.


De repente, cai em suas mãos um panfleto com os escritos: "Ilha de Condenados".
"Soldados das forças argentinas: vocês estão completamente sozinhos. Da sua pátria não há esperança ou ajuda. Vocês estão condenados à triste tarefa de defender uma ilha remota (...) Não é justo que paguem com suas vidas pelas ambições tortuosas desta louca aventura."

Poucos dias depois, o jovem soldado abandona seu posto e se entrega à unidade britânica mais próxima.


Guerra psicológica

Assim, o governo do Reino Unido imaginava que poderia executar uma "guerra psicológica" (Psywar, na expressão em inglês), estratégia adotada no início do conflito no sul do Atlântico para atingir a moral dos soldados inexperientes que a Argentina havia enviado ao arquipélago. O panfleto é real e faz parte de uma série de documentos secretos recém-revelados pelo Ministério da Defesa britânico.

Os arquivos revelam detalhes até então desconhecidos dessa missão secreta para tentar "manipular" as forças argentinas durante a guerra que matou 649 soldados argentinos e 255 britânicos, entre 2 de abril e 14 de julho de 1982. "Esse material vem à tona só agora porque acabaram de transcorrer os 35 anos exigidos por lei para que pudéssemos divulgá-lo", explicou a autoridade dos Arquivos Nacionais, em Londres, onde os documentos podem ser consultados sob medidas de segurança restritas. Trata-se de uma pasta que contém 189 páginas de documentos etiquetados como "ultra-secretos", sob a referência DEFE 24/2254. Neles, são revelados os detalhes do plano, implementação, exemplos e lições aprendidas da guerra psicológica no arquipélago.


'Explorar o sentimento de isolamento'

A missão de "Psywar" fazia parte da "Operação Corporate", o nome da maior ofensiva militar para recuperar as Ilhas Malvinas. Nos documentos, é possível constatar que o governo britânico deu ao chamado Grupo Especial de Projetos (GEP) a missão de "enganar" as tropas argentinas no arquipélago em abril de 1982, quando a guerra havia acabado de começar. O GEP é uma pequena unidade de oficiais especializados em guerra psicológica dentro do Ministério da Defesa britânico.

Em termos gerais, a missão deles era espalhar o medo diante de um contingente britânico com melhor preparo, contra o qual a derrota seria inevitável. Seguindo essa "ideia de força", um dos documentos definia três metas específicas para o GEP.

- A primeira era "reforçar a percepção argentina sobre a determinação do governo britânico (de recuperar as ilhas) e ressaltar também o poder da força-tarefa (a frota enviada ao arquipélago) mostrando a capacidade do arsenal do Reino Unido."
A segunda era "intensificar a percepção entre os argentinos de que seus líderes são irresponsáveis", ao enfatizar a "escassez de suprimentos nas ilhas".
O terceiro objetivo, o mais ambicioso da operação, era "a desmoralização da tropa argentina nas ilhas", apelando para emoções.

Um dos pressupostos utilizados pelo GEP foi explorar o isolamento dos soldados argentinos nas ilhas.

Isso implicava "explorar qualquer sentimento de isolamento nas tropas de ocupação (argentinas) para que a defesa argentina das Ilhas Falklands (denominação britânica para as Malvinas) pareça insignificante diante da força-tarefa britânica", diziam os documentos. E quando nos arquivos se fala em isolamento, a referência feita não é apenas ao isolamento físico das ilhas, mas também ao desamparo psicológico: a ideia era também tirar proveito do afastamento dos soldados de seus familiares e amigos.


Guerra de panfletos

Para levar a guerra psicológica ao arquipélago, o Grupo Especial de Projetos escolheu "duas armas", segundo os documentos secretos: a produção de panfletos e a instalação de uma emissora de rádio em espanhol. A história da Rádio Atlântico Sul (RAdS) é bastante conhecida. Muito já foi escrito sobre ela, mas há aspectos menos conhecidos, como seu surgimento, operação e alcance - algo que os arquivos do Ministério da Defesa do Reino Unido revelam parcialmente.

Os panfletos produzidos em diferentes momentos do conflito - foram impressos 12 mil exemplares de cada um - são, talvez, o capítulo mais fascinante da guerra psicológica descrita nos documentos oficiais. Um dos panfletos se inspira na rápida derrota da tropa argentina nas Ilhas Geórgia do Sul, também ocupadas pelo país sul-americano. Ali, o capitão-de-fragata Alfredo Astiz sucumbiu em 24 de abril de 1982 diante da superioridade das forças britânicas.


O panfleto, que inclui uma foto de Astiz se rendendo, explora em particular o sentimento de separação.
"Seus valorosos companheiros de armas que estavam há pouco tempo nas Ilhas Geórgia do Sul voltaram à terra natal. Fotografias deles recebendo honras militares e reunidos com seus entes queridos apareceram em todos os jornais", diz o documento.

"Eles tomaram uma decisão correta e honrada. Você deve agora fazer o mesmo. Pense no perigo em que você se encontra. Seus suprimentos de guerra e alimentos são muito escassos. Pense em seus familiares e em sua casa, todos esperando seu retorno."

Outro panfleto descreve uma situação ainda mais dramática: 
"Todos os rigores de um inverno cruel irão cair sobre vocês e o exército argentino não está em condições de enviar os suprimentos e reforços de que vocês tanto precisam".
E completa: "Seus familiares vivem sob terror, sob o medo de que nunca voltarão a vê-los."


Salvo-conduto e canhões

Entre os panfletos impressos durante o conflito, um deles oferece aos soldados argentinos uma solução prática para "fugir" de sua "situação de desespero": um salvo-conduto assinado por ninguém menos do que o comandante das forças britânicas, o almirante John "Sandy" Woodward.


O documento, com objetivo claro de estimular a deserção, certifica: 
"O soldado que estiver portando este passe assinou seu desejo de não continuar na batalha. Ele será tratado estritamente de acordo com o estipulado pela Convenção de Genebra e deverá ser retirado da área de operações o mais rápido possível".

E ainda acrescenta, para tranquilizar o soldado: 
"Serão providenciados alimentos e tratamento médico e depois ele será internado em algum albergue, onde esperará sua repatriação com segurança".

O texto traz instruções precisas sobre como usar o salvo-conduto. Recomenda ao beneficiário: 
a) entregar sua arma; 
b) manter o documento de salvo-conduto em posição bem visível; 
c) aproximar-se do integrante das forças britânicas que estiver mais perto.

No entanto, a guerra psicológica com panfletos não terminou como havia planejado o GEP britânico, a unidade encarregada pela "ofensiva desmoralizadora". Por várias razões. Em um dos documentos secretos, o GEP reclama das dificuldades causadas pela "falta de (informações de) inteligência" sobre as "características psicológicas do público" para tirar o maior proveito da estratégia com os panfletos. Essa falta de inteligência, acrescenta, também impossibilitou comprovar se os panfletos tiveram alguma efetividade na região.

O que fica claro com os arquivos revelados é que os panfletos foram despachados para as Malvinas nos navios HMS Fearless e HMS Hermes e que houve relatos de que vários deles chegaram a ser distribuídos, ainda que em outros casos tenha sido impossível confirmar se eles efetivamente chegaram aos destinatários.

Tropas britânicas em marcha após desembarcarem nas ilhas

O GEP ressalta outro obstáculo que teve de enfrentar: as limitações técnicas para lançar os folhetos no "teatro de operações". "Não foi desenvolvido nenhum projétil para lançar os panfletos como um canhão de 105mm", lamenta. "Também não houve qualquer dispositivo de uso oficial para lançar os panfletos dos aviões de guerra." Na prática, tudo dependia da boa vontade dos militares britânicos no campo de batalha, que tinham outras prioridades na guerra.


Ondas de rádio

Nos documentos divulgados pelas autoridades britânicas, é possível ler que no fim de abril de 1982 o Ministério da Defesa do Reino Unido propôs a criação de uma emissora de rádio para "rebaixar a moral dos soldados argentinos" nas Malvinas. A missão, que levava o nome secreto de "Operação Moonshine" ("Luz da Lua"), deu origem à Rádio Atlântico Sul (RAdS). Seus programas, destinados a "intensificar o sentimento de isolamento das tropas argentinas e estimular sua rendição", seriam produzidos em Londres por uma equipe de 25 pessoas, majoritariamente militares.

Entre eles: um diretor, jornalistas, apresentadores, tradutores, engenheiros do rádio e "coletores" (membros do serviço de inteligência encarregados de obter informações relevantes de todas as fontes possíveis).


De acordo com um dos documentos divulgados, a equipe trabalhou de maneira secreta, em um local da capital britânica. Para evitar comprometer suas operações, os empregados precisavam usar uma senha secreta - "Pinóquio" - para se referir à rádio ou aos seus objetivos. Essa senha sugere a ideia de engano, mas, paradoxalmente, o grupo encarregado da guerra psicológica insiste que "a RAdS se apresentava como uma emissora neutra e imparcial", que "informava os fatos" com fontes do governo britânico e da Argentina, "se este último fosse compatível com as metas".

A justificativa para esse tipo de orientação editorial pode ser encontrada em um dos documentos: "No decorrer da crise, as autoridades argentinas buscaram maneiras de justificar suas ações e provar, especialmente para seu próprio povo, que estavam sendo bem-sucedidos." "Montaram uma campanha de propaganda em grande escala em que a verdade foi ignorada. Muitas declarações eram tão exageradas e absurdas que se desmentiam por si mesmas", completa.


'De iniciantes'

Segundo os arquivos secretos do Ministério da Defesa, a "Operação Moonshine" gerou resistência em outras áreas do governo britânico e na BBC, cujos serviços Mundial e Latino-Americano já faziam transmissões no arquipélago e no território argentino. A BBC também se opôs à iniciativa do governo de assumir o controle de uma de suas antenas na Ilha Ascensão - no meio do Oceano Atlântico - para lançar sua "arma psicológica" pela frequência 9,71 MHz. 

A RAdS fez transmissões em espanhol entre 19 de maio e 15 de junho durante quatro horas por dia. A programação incluía boletins de notícias, comunicados, reportagens, e, eventualmente, até músicas.

No entanto, conforme se constata no material divulgado, os líderes da "Operação Moonshine" acabaram frustrados. Em um dos documentos, há uma pergunta ao então ministro da Defesa, John Nott, se ele acreditava que a RAdS havia contribuído de alguma maneira na captura dos soldados argentinos. "As transmissões eram muito boas...mas eu diria que não tiveram um efeito maior no resultado", respondeu. Nott parecia julgar de maneira otimista a qualidade da programação da rádio. Porque os arquivos secretos detalham vários problemas nela - para começar, há uma citação à própria BBC dizendo que ela considerava que o conteúdo era "de principiantes" e denunciando que "comprometia" sua imparcialidade.

É possível identificar outros problemas por meio de uma comunicação do Exército argentino interceptada pela inteligência britânica, que é falha e cujas conclusões o governo do Reino Unido acabou aceitando. "A linguagem usada era similar à da América Central e faltava conhecimento do espanhol falado na Argentina", dizia o documento. Os britânicos reconhecem isso como um erro estratégico: como poderiam conseguir uma identificação emocional na guerra psicológica se usam expressões da língua que não são faladas ali?

Mas o documento em questão vai além: "Nenhum soldado tinha ideia do que era a RAdS (...) Os soldados argentinos nem estavam sabendo dessas transmissões, nem chegaram a escutá-la devido às circunstâncias." "A maioria das tropas se encontrava no chão e, com exceção de alguns oficiais, nenhum deles tinha receptores" e que "quando surgia alguma oportunidade de escutar rádio, sintonizavam nas rádios da Argentina".

Fonte: BBC


sexta-feira, 18 de maio de 2018

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - CAPITÃO HÉCTOR BONZO

.

Bonzo era o capitão do cruzador ARA General Belgrano, afundado pelo submarino nuclear britânico HMS Conqueror, em 1982


* 11/8/1932 - General Rodríguez, Argentina

+ 22/4/2009 - Buenos Aires, Argentina


“Toda vez que ouço falar das vítimas do Belgrano, adoeço. Eles são heróis e por isso devem ser lembrados”, disse mil vezes o capitão aposentado Héctor Elías Bonzo, comandante do cruzador General Belgrano, que faleceu em 23 de abril de 2009, aos 76 anos, vítima de um ataque cardíaco enquanto dirigia seu carro.

Com a mesma ênfase que ele colocou para resgatar do esquecimento e colocar em seu lugar na história os 323 mortos no naufrágio do navio durante a Guerra das Malvinas, ele reiterou a seus parentes mais próximos nos últimos anos que não queria funeral público e que esperava que suas cinzas fossem espalhadas no mar.

O capitão Bonzo se aposentou da Marinha poucos meses após o fim da guerra com a Grã-Bretanha, Bonzo dedicou o resto de sua vida a manter o espírito daqueles que sobreviveram ao ataque do submarino de propulsão nuclear britânico HMS Conqueror e lembrar-se dos “heróis” mortos de 2 de maio de 1982. A Guerra das Malvinas foi um ponto de inflexão na sua carreira, que começou em 1947 quando entrou para a Academia Naval.

Nascido em 11 de agosto de 1932 em General Rodriguez, ele serviu em diferentes navios da Marinha, como os cruzadores ARA Argentina e ARA 9 de Julio, fragata ARA Sarandi, fragata ARA Libertad e o quebra-gelos ARA San Martin.

Foi o responsável pela División Avisos y del Comando Local de Control Operativo, adido naval no Brasil, comandante da Escuadrilla de Apoyo y Sostén e secretário-geral adjunto. O governo brasileiro concedeu-lhe a Medalha Mérito Tamandaré. Héctor Bonzo assumiu o comando do ARA Belgrano em dezembro de 1981.

Pouco depois de sua aposentadoria da atividade militar, Bonzo ajudou a organizar a Asociación Amigos del Crucero General Belgrano, a partir da qual ele manteve contato constante com a tripulação que sobreviveu e as famílias dos falecidos.

O cruzador ARA General Belgrano afunda após ter sido torpedeado pelo submarino HMS Conqueror

Em homenagem aos tripulantes do navio, ele escreveu o livro 1093 Tripulantes e deixou pendente para editar La Historia del Crucero General Belgrano.

Em entrevistas dadas ao jornal La Nacion e a outros meios de comunicação, foi contundente quando se referia ao papel de Belgrano na guerra. “Eu não gosto quando se fala sobre o Belgrano como crime de guerra. Se eu tivesse avistado um navio britânico, não tenha dúvida de que eu teria atacado. Não éramos um alvo inofensivo. O Belgrano tinha 15 canhões de 152 mm e mísseis”.

Nos últimos anos de vida, Bonzo teve problemas de saúde. Assim, não pôde participar, em março de 2003, da expedição realizada pela National Geographic para tentar localizar o ARA General Belgrano no fundo do mar.

Fonte: La Nacion


segunda-feira, 19 de março de 2018

HERÓI SOBREVIVENTE

,

Bravo November recebeu quatro medalhas em três guerras


Por André Vargas

São raras as aeronaves de série que adquirem fama individual. A mais famosa é o Enola Gay, o bombardeiro B-29 Superfortress que lançou a bomba atômica em Hiroshima. Longe de ser tão conhecida, a história do Chinook britânico de matrícula ZA718 merece ser contada. Conhecido como Bravo November, em 35 anos de vida operacional este CH-47 esteve em três guerras: Falklands/Malvinas (1982), Iraque (2003) e Afeganistão (2006-2010), além de desdobramentos operacionais no Líbano, Alemanha, Irlanda do Norte e Curdistão. Submetido a fogo inimigo, em quatro ocasiões seus pilotos receberam a Distinguished Flying Cross (DFC), prestigiosa condecoração da RAF, a Real Força Aérea britânica. Feitos que renderam ao hoje lendário aparelho um lugar de honra no Museu da RAF, em Londres. Para os militares, este Chinook se tornou The Survivor, já o jornal Daily Mail o apelidou de Herocopter.

A fama do ZA718 nasceu na Guerra das Falklands/ Malvinas, entre Reino Unido e Argentina. Integrante do primeiro lote de 30 Chinnok adquiridos em 1978, na versão HC1 - similar aos CH-47C norte-americanos -, em abril de 1982, com a identificação Bravo November na fuselagem, foi embarcado para o sul do Atlântico com outros quatro aparelhos no cargueiro porta-contêineres Atlantic Conveyor. Em 25 de maio, quando o navio foi afundado por mísseis Exocet lançados por caças Super Étendard da marinha argentina, o Bravo November estava no ar carregando suprimentos. Realocado para o porta-aviões Hermes, se tornou o único Chinook britânico disponível. Mesmo sem manutenção, até a rendição argentina, em 14 de junho, voou 109 horas, transportando 1.500 soldados, 95 feridos, 650 prisioneiros e 550 toneladas de carga.

O Bravo November em ação nas Falklandas em 1982. Após o afundamento do navio Atlantic Conveyor, foi o único Chinook restante para apoias as forças britânicas


Os primeiros tripulantes a ganhar a DFC foram o squadron leader (equivalente a major, na FAB) Dick Langworthy e o flight lieutenant (capitão) Andy Lawless. No voo noturno que transportava os oficiais que negociariam a rendição argentina, uma forte nevasca obrigou uma redução de velocidade e altitude. Um defeito no altímetro fez com que o Bravo November atingisse o mar a 100 nós (185 km/h). Com os motores afetados pela água do mar, Langworthy conseguiu voltar ao ar e completar a missão mesmo com a porta do copiloto arrancada.

O segundo grande momento do Bravo November surge em março de 2003, na segunda Guerra do Golfo. Decolando do porta-aviões Ark Royal, foi a primeira aeronave britânica a desembarcar fuzileiros reais na península Al-Faw para a tomada de instalações petrolíferas. O squadron leader Steve Carr conduziu o aparelho a 30 metros do solo com o sistema de visão noturna prejudicado pelas nuvens de poeira erguidas pelos tanques americanos e sob risco de ser vítima de fogo amigo.

A matrícula Bravo November pela qual o Chinook ficou conhecido

O aparelho volta ao centro da ação na noite de 11 de junho de 2006, na província de Helmand, no Afeganistão. O flight lieutenant Craig Wilson, após completar duas missões arriscadas, voando a 45 metros do solo, se voluntariou para levar reforços ao front e retornar com dois feridos. As 24 horas de ação ininterrupta renderam a Wilson uma condecoração por "coragem excepcional e extraordinária habilidade em voo". A quarta DFC vem em 2010, também no Afeganistão, quando o flight lieutenant Ian Fortune é atingido no capacete por um disparo durante o resgate de uma patrulha emboscada por talibãs. Com a aeronave alvejada diversas vezes, Fortune teve seu óculos de visão noturna e sua viseira inutilizados. Mesmo assim, manteve o controle do aparelho, resgatando seis soldados feridos.

Chinook da RAF desembarcando tropas no Afeganistão

Para quem espera ver o célebre helicóptero no Museu da RAF, vai um alerta: a parte dianteira da fuselagem em exposição é a de um Chinook americano pintado para representar seu congênere britânico. O Bravo November ZA718 continua em serviço.

Fonte: Aeromagazine


quinta-feira, 22 de junho de 2017

A INCRÍVEL HISTÓRIA DE CORAGEM POR TRÁS DE UMA FOTO

.

35 anos atrás, dois torpedos do submarino nuclear britânico HMS Conqueror feriram fatalmente o cruzador argentino ARA General Belgrano. E levaram para o fundo do oceano 323 vidas. Esta é a história heroica dos dois últimos membros da tripulação que deixaram o navio, minutos antes de afundar para sempre em um mar revolto


Por Gaby Cociffi

Dois homens na popa do navio afundando. Eles seguram na balaustrada em cima de um mar tempestuoso. Eles são os últimos restantes do gigante ferido de morte.

Abandono o navio ou não?, pergunta o comandante capitão Héctor Bonzo.

Uma voz o surpreende atrás dele, pois pensava que estava sozinho no navio. Ele não reconhece o estranho contido na névoa. O homem grita:

Se não pular, eu também não vou! Eu vou ficar com você, Capitão!

São 16h35 de 2 de maio de 1982. Trinta e quatro minutos mais cedo, a partir das profundezas do mar do sul, o operador do submarino britânico HMS Conqueror lançou a pergunta que iria selar o destino do cruzador General Belgrano. — Devemos afundá-lo?

A resposta é dada em segundos a 12.489 quilômetros entre o Reino Unido e as Ilhas Falkland. O Capitão Richard Hask, da Força Tarefa, é aquele que transmite a ordem implacável de Margaret Thatcher, a primeira-ministra britânica.
— Disparem e afundem.

O cruzador ARA General Belgrano fotografado antes da guerra


Às 16h01 o primeiro torpedo Mk.8 atravessa a proa do navio, que navega a 30 milhas da zona de exclusão imposta pelos britânicos. Perfura os quatro conveses verticalmente. A água entra em todos os compartimentos. Apenas alguns segundos depois, o segundo torpedo acerta a popa.

O cruzador está inclinado para bombordo, o fogo surge das suas entranhas. Há gritos. E depois um silêncio ensurdecedor que dói. A partir da ponte, e com um megafone, o capitão Bonzo — 23 minutos após o primeiro impacto, dá a ordem: “Abandonem o navio”. Setecentos e setenta homens alcançam as balsas. Trezentos e vinte e três encontram o seu destino final no oceano.

Como ainda não foi para uma das balsas!? O que você está fazendo aqui se não há mais ninguém!?” Bonzo repreende a figura irreconhecível, coberta da cabeça aos pés com uma capa de chuva e uma balaclava cinza, que se recusa a deixar o navio. O homem que grita “Não há tempo, capitão! Você deve abandonar o navio!” está determinado a impedir que o comandante atenda à lei marinheira de ir para o fundo com o seu navio.

Às 16h01 o submarino britânico HMS Conqueror disparou o primeiro de dois torpedos Mk.8 que acertaram a proa e a popa do Belgrano. A imagem surpreendente foi tomada pelo primeiro tenente Martín Sgut, que estava em uma das balsas


Ali, de frente para o mar, para mim era mais difícil viver do que morrer”, confessou anos mais tarde o comandante do Belgrano.

Eu vi o capitão com essa atitude de afundar com o navio, e não permitiria”, explica calmamente da província de Catamarca, 35 anos depois da tragédia, o suboficial Ramón Barrionuevo, como se não tivesse conhecimento do seu ato de heroísmo. “Eu sou aquela figura que você vê na imagem, lá no convés. Fui inflar o colete do Capitão”, diz ele humildemente.

E se o capitão não pulasse, você estava disposto a ir para o fundo com o navio?

Não sei. Nós iríamos ter uma longa discussão. Eu não deixaria meu comandante sozinho no Belgrano. Porque o que estávamos vivendo lá era o pior inferno.

Com emoção, Ramón Barrionuevo — nascido em Piedra Blanca em 17 de fevereiro de 1947, filho de Gerardo, pedreiro, e Antonia Sánchez, costureira, recorda o momento em que ele viu o mar engolir o gigante de 185,5 metros. Nomeia um por um seus companheiros mortos. Lembra do Capitão Bonzo, que morreu em 2009. E se desculpa quando surgem lágrimas incontroláveis.

Desgastada pela ação do tempo, esta é a única foto do suboficial Ramón Barrionuevo junto do capitão Héctor Bonzo (em trajes civis).


Vamos ouvi-lo.

A mim cabia dar o serviço das 4 às 8h e de 16h às 20h. Eu guarnecia o compartimento de controle de cobertura de artilharia 03 no topo do navio, logo à frente do comando. Em 2 de maio, saí do meu camarote às 3h45 para dar tempo de receber informações do meu colega Juan Carlos Córdoba, e assumir o posto às 16h. Juan me passou os dados das armas carregadas, as pessoas que estavam prontas e a posição do navio. Cumprimentei-o como em qualquer dia. E ele foi para o nosso camarote na popa para descansar. Ali foi onde o segundo torpedo acertou. Eu não o vi mais.”

Às 16h01 veio o primeiro torpedo. O barulho era tremendo. O navio balançou. Eu estava sentado num banco e caí. Era como se o navio tivesse afundado debaixo dos meus pés. Eu já tinha 35 anos de idade e 14 de serviço, era especialista em armas, eu sabia que tínhamos sido torpedeados.”

“Um vigia que estava com binóculos viu o rastro na água e conseguiu gritar… ‘Torpedo!’ Abri a porta da sala de controle e o segundo impacto atingiu a popa, mas eu não pude senti-lo, talvez por causa do nervoso ou por causa da fumaça da primeira explosão, que cobriu o meu convés”.

“Eu ouvi os gritos das pessoas que estavam se queimando. Desci do terceiro convés, e eu estava carregando comigo toda a tripulação que estava no caminho. Podia ver o medo dos jovens, tentando manter a ordem. Foi um inferno“.

Dos 1093 tripulantes do navio, 770 salvaram-se nas balsas, 323 pereceram no mar


“As pessoas começaram a pular direto para as balsas porque o navio começou a inclinar cada vez mais. O vento era muito forte e as balsas batiam contra o costado do navio. Alguns foram levados em direção à proa, onde as chapas abertas afiadas as partiam ao meio. Eu vi a corrente da âncora arrastando para o fundo do oceano uma balsa com toda a tripulação dela. Ninguém pode ser salvo“.

“No convés vi o comandante Bonzo com uma faca de cozinha tentando cortar uma corda para liberar uma balsa. Se ela caísse, poderia arrastá-lo e ele não teria força para suportar o peso. Perguntei. .. ‘O que está fazendo comandante?’. Ele sabia o perigo, mas queria colocar o máximo de balsas no mar.”

“Bonzo ordenou-me a deixar o navio e eu me recusei, em seguida, olhou para mim e disse … ‘Ajude-me a ver se há mais alguém, se tem alguém ferido’, com o convés do navio quase tocando o mar, entravam toneladas de água…”.

“Eu não quero nunca mais ver na minha vida o que eu vi naquela tarde no Belgrano. Houve um marinheiro com o corpo completamente queimado, gravata e punhos da camisa estavam colados à pele, carbonizada. A pele escamosa, carne viva. Nos pediu para jogá-lo na água. Se ele caísse no mar, com o corpo queimado não teria sido capaz de sobreviver. O descemos cuidadosamente com uma corda feita com as roupas de cama que foram deixadas no convés pelos marinheiros que estavam em sua hora de descanso quando começou a tragédia”.

Às 16h50, o cruzador está inclinado a 60 graus. O Belgrano levou menos de uma hora para afundar. Sem sonares para detectar submarinos, navegava na companhia dos destróieres Bouchard e Piedrabuena que tinham o equipamento


“De repente, um rapaz veio chorando … ‘Me ajude, me ajude’, tapava o rosto com as mãos. Separamos suas mãos e a pele descascando grudou às palmas e começou a sangrar muito. Eu lhe dei um lenço para estancar o sangue. Saímos para uma balsa. E eu não o vi mais. Meses depois, em julho de 1982, eu fui para o hospital Azul, na província de Buenos Aires. E vi que alguém estava me chamando. ‘Suboficial Barrionuevo! eu tenho algo para dar lhe devolver’. “Eu não o reconheci até que ele me trouxe o lenço. Você não sabe a emoção que senti! ele estava vivo!”.

“Com o capitão Bonzo percorremos o convés para ter certeza de que ninguém tinha sido deixado para trás. Eram 16h38 e o navio estava muito inclinado. As pessoas das balsas gritavam para saltarmos na água, porque o navio afundava.”

“Fomos até a proa ali eu notei o capitão em dúvida. ‘Se você não pular, eu vou ficar também’, lhe disse. Ele olhou para mim. O Belgrano se inclinava cada vez mais. Me mandou: “Pule e eu lhe sigo”.

“Antes de saltarmos, inflei o colete salva-vidas dele. Nós amarramos lençóis como um cinto para podermos deslizar para baixo. Tiramos os sapatos para nadar melhor, e guardamos as meias nas calças. Eu saltei do topo do navio, que no momento estava a cerca de 4 metros do mar, porque o vento nos impedia de descer do lado onde o convés quase tocava a água.”

“Eu pulei na água e não senti frio, era tão grave a situação que estávamos vivendo, que havia bloqueado os meus sentimentos. Eu comecei a nadar para longe do navio, porque se ele afundasse ele iria me arrastar. Não vi mais o Bonzo, eu o perdi no oceano“.

“O navio fez um movimento, re-emergiu da água e finalmente afundou verticalmente. Em baixo dágua as caldeiras explodiram e criaram um redemoinho gigante de água “, lembra Barrionuevo


“As ondas eram enormes. Eu vi as balsas subir e descer, tremendo como cascas de nozes. De repente, veio em minha direção uma a toda velocidade empurrada pelo vento. Nadei e eu agarrei como pude. O impacto me tirou um dedo do lugar: foi a primeira vez que senti dor. Quando cheguei na balsa, comecei a tremer, era como se mil agulhas fossem pregadas no meu corpo. Eu estava congelando”.

“Olhei para fora e vi o naufrágio do navio. Foi triste ver como tal massa foi engolida pelo mar. O navio fez um movimento, re-emergiu da água e finalmente afundou verticalmente. No mar as caldeiras explodiram e fizeram um vórtice gigante de água. A última coisa que vi foi o guardabote, uma vara de 6 metros que veio à tona e flutuava no oceano. O povo gritou … ‘Viva o cruzador, viva o Belgrano, viva la Patria!’. Eu não sei de onde nós tivemos forças.”

“As balsas foram amarradas umas nas outras, para formar uma grande mancha no mar para que uma aeronave de salvamento pudesse nos encontrar. Mas as ondas eram tão altas que nós tivemos que cortar as cordas, porque as balsas pareciam que iriam se rasgar. E ficamos sós, à deriva”.

“As balsas eram para 20 pessoas, algumas tinham mais gente, outras menos. Estavam bem equipadas: sachet de água, rações alimentares (muito calóricas para ter uma porção por dia), cigarros, uma pequena Bíblia, kit de curativos, pomada, calmante, equipamentos de sinalização SOS”.

“Na minha balsa tinham 20. Havia pessoas com mãos queimadas, joelhos quebrados e outro que tinha sido operado do apêndice há três dias e não aguentava mais de dor. Eu tentei dar-lhe incentivo e calma. Um tenente começou a ler parágrafos da Bíblia. A palavra de Deus trouxe a paz em meio à tempestade.”

“Passamos mais de 48 horas à deriva. Pensei que não nunca seríamos encontrados. Eu sabia que a união dos dois oceanos puxa para o sudeste e em algum momento o mar nos arrastaria e nós iríamos morrer. Olhei para os meus companheiros e eu pensei, ‘estamos todos mortos’, mas não disse nada a ninguém. Eu lembrei dos meus quatro filhos pequenos e pedi a Deus para cuidar deles e eu orava à Virgem del Valle: …‘Mãe, eu só peço para não sofrer’“.

“Quando você está à deriva, tem que comer e beber o mínimo possível até não conseguir mais, porque não sabe quanto tempo você estará bem. E não sabíamos mesmo se estavam nos procurando. Quando fomos resgatados, tínhamos acabado de comer 20 porções e tínhamos bebido um sachê de água”.

“Durante o dia, conversávamos sobre suas namoradas, sua família, sua idade. Até mesmo os fazia rir. Tinha que mantê-los acordados, com o espírito alerta. Um rapaz entrou em colapso nervoso. E eu tive que dizer: ‘Se você não se acalmar, vamos jogá-lo na água, porque o pânico é contagioso e se você continuar assim estamos todos mortos.’”

O resgate das balsas. Elas ficaram mais de 48 horas à deriva num mar agitado, com ventos de 120 km por hora

“Quando você está na balsa você não dorme … A escuridão do mar é absoluta e tremenda e o que existe é o nada. Quando amanhecia, continuávamos com a incerteza. ‘Somos uma só balsa no mar … ela não pode ser vista por ninguém … e o inimigo está lá fora’.”

“De repente, quando já não esperávamos nada, em 4 de maio ouvimos o ruído do motor de um avião. Era um A-4Q da Armada! Nós não sabíamos se tinham nos visto … Foi um tempo quase eternal — até que começamos a ver, no meio da tempestade, as luzes de um navio apontando para o céu e depois para o mar, sacudido pelas ondas enormes. ‘Estão nos procurando!’, gritei. E o ânimo mudou.”

“Esquecemos o frio, a sede, a fome e começamos a organizar o resgate. Em meio ao mar mais revolto que eu já vi, apareceu o Gurruchaga“.

“Nós fomos resgatados. O barco estava lotado porque eles tinham resgatado outras balsas do Belgrano. Tiraram nossas roupas geladas e duras de sal e nos deram um caldo quente. Éramos tantos que acabaram os alimentos. O cozinheiro fez um pouco de pão com farinha e água. Nos acomodamos no convés como pudemos, e nos envolveram com cobertores.”

A imprensa argentina noticia a tragédia do Belgrano


“Quando entramos no Canal de Beagle, o Gurruchaga parecia uma coqueteleira. No meio das pessoas, apareceu um cabo gritando meu nome …. ‘Barrionuevo, está aqui o Barrionuevo?’ Me identifiquei. Eram 6h da manhã. ‘O capitão Bonzo está no barco e está lhe procurando, quer falar com você’, me disse. Eu não sabia que ele tinha sobrevivido, e ele não sabia se eu estava vivo … mas estava procurando.”

“De repente, a porta se abriu e apareceu o capitão. Ele andou até onde eu estava firme, esperando por ele. Ele esqueceu a hierarquia, a saudação formal. Nos demos um abraço eterno. Todo mundo começou a aplaudir. ‘Já vamos falar sobre isso que aconteceu’, me disse. E choramos abraçados. Antes de sair, ele sussurrou para mim: ‘Obrigado, obrigado.’“

“Nos encontramos muitas vezes ao longo destes 35 anos. Mas nós nunca mais voltamos a falar sobre aquela noite dramática em que nós éramos os últimos homens agarrados ao navio afundando para sempre nas profundezas do mar austral”.

Fonte: Infobae


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

ARQUIVO MALVINAS – REAGAN ADVERTIU CONTRA ‘HUMILHAÇÃO’ DE BUENOS AIRES

.




Preocupado com uma repercussão negativa da Guerra das Malvinas no Brasil e na América Latina, o então presidente americano, Ronaldo Reagan, apelou aos britânicos que negociassem um tratado de paz com a Argentina, forjassem uma boa relação com o Brasil e "não humilhassem" Buenos Aires, sob o risco de ver a influência soviética se alastrar pela região. A informação faz parte das milhares de páginas divulgadas no final de 2012 pelo National Archives, de Londres.


O apelo mais firme foi feito em um telegrama de 1º de junho de 1982, quando Reagan pediu à Grã-Bretanha que evitasse fazer os argentinos "reféns do futuro" em caso de uma derrota total. O americano também sugeriu que o Brasil fosse envolvido em uma solução política e chegou a propor a criação de uma missão de paz liderada por brasileiros e americanos. No entanto, a Casa Branca deixou claro aos britânicos que o Brasil recusaria uma rendição "incondicional e humilhante" dos argentinos.


Numa carta do dia 5 de maio, a Casa Branca apelava à premiê Margaret Thatcher que considerasse uma saída negociada para o conflito. Assinada por "Ron" (Ronald Reagan), a mensagem do presidente pedia que uma solução diplomática fosse encontra­da o quanto antes.



Fonte: Estadão

.