"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quinta-feira, 26 de março de 2009

BATALHA DE PORTO ARTHUR (1904) : A VEZ DAS MINAS




A batalha de Porto Artur foi a primeira ação militar na guerra entre a Rússia e o Japão que iniciou em fevereiro de 1904 e se estendeu até o ano seguinte.


Antecedentes

A tensão entre os dois países, que acabou por causar a guerra, estava relacionada com a vitória japonesa sobre a China em 1895. Com essa vitória a China cedia ao Japão diversos territórios, mas a intervenção russa acabou por pressionar o Japão para que permitisse a independência da Coreia, desligando-a do império japonês.

A Rússia foi tomando posições nas proximidades da Coreia e, em 1898, assinou um acordo com a China para que pudesse operar uma base no Mar Amarelo, onde hoje se encontra a cidade de Lushun, ao sul do importante porto chinês de Dalian.

A base ficou conhecida como Porto Artur e os russos começaram imediatamente a construir fortalezas e a instalar artilharia de costa em volta da enseada abrigada que constituía um abrigo perfeito para navios. A instabilidade política na China, forneceu aos russos um pretexto para enviarem mais tropas para a Manchúria, de onde poderiam ameaçar diretamente a Coreia.

A tensão entre russos e japoneses continuou a aumentar. Enquanto os japoneses começavam a enviar colonos para a Coreia e a tratar o território como seu, iniciando mesmo a construção de uma ferrovia, os russos faziam o mesmo, financiando uma estrada de ferro que ligava Vladivostok a Porto Artur. Além disso, em 1902, foram realizadas negociações secretas com o governo da Coreia para que este permitisse a instalação de bases russas em seu território.

Já no ano seguinte começaram a chegar à Tóquio notícias de que colonos russos estavam se instalando ao norte da Coreia. Os Japoneses consideravam o território coreano como vital para sua expansão. Após uma longa negociação, no início de 1904 a Rússia recusou-se a abandonar suas possessões no território coreano.
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A Rússia considerava inútil negociar com um país muito menor e com uma força militar que era cerca de um terço da sua, mas, se o Exército Imperial russo era enorme, com quase dois milhões de soldados, na verdade este efetivo estava completamente pulverizado pela gigantesca vastidão do império, de Vladivostok à Varsóvia.

Couraçados russos atracados na base de Porto Artur no final de 1903

No Extremo Oriente o Império Russo conseguia reunir um exército de 135.000 homens e a esquadra russa em Porto Artur tinha sido reforçada à medida que as exigências japonesas iam aumentando. Mas o Japão tinha capacidade para juntar um exército de 850.000 homens, dos quais 150.000 podiam ser mobilizados de imediato.
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A Rússia também tinha um problema de articulação de seu poder naval. Sua frota, que possuía mais do que o triplo de navios do que a esquadra japonesa, estava distribuída em três frentes. Além da Frota do Pacífico (dividida entre Porto Artur e Vladivostok) havia ainda a Frota do Mar Báltico (a mais poderosa de todas, mas que se encontrava do outro lado do mundo) e a Frota do Mar Negro, a qual estava impossibilitada de passar os estreito de Dardanelos. Assim, o poder russo, embora superior ao japonês, encontrava-se dividido e debilitado.

Na historiografia deste conflito destaca-se a ideia de que a frota japonesa era muito mais moderna do que a russa e que essa modernidade fez com que o resultado da guerra pendesse em favor dos japoneses. No entanto, embora a frota russa contasse com vários navios mais antigos, a maioria de suas unidades navais era contemporânea aos navios japoneses e, no máximo, possuía diferença de idade de cinco anos. Quanto aos principais couraçados japoneses, eles eram, na realidade, mais antigos do que a maioria dos principais couraçados russos.
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Não foi, portanto, sem espanto que os russos souberam que em 6 de fevereiro de 1904, pouco mais de um dia após a Rússia ter interrompido as negociações, uma força naval japonesa se tinha dirigido a Inchon, onde desembarcou seus soldados e afundou um cruzador russo.
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Bloqueio de Porto Artur
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Depois de apoiar o desembarque de suas forças no norte da Coreia, a esquadra japonesa dirigiu-se para Porto Artur com o objetivo de impedir a saída dos navios russos do porto. A declaração de guerra oficial do Japão à Rússia foi emitida em 8 de Fevereiro, mas entregue em Moscou no dia 10 de Fevereiro de 1904.

Canhão pesado japonês apontado contra Porto Arthur

Logo na madrugada de 8 para 9 de fevereiro, um ataque por parte de torpedeiros japoneses danificou os couraçados Tsessarevich e Retvisan, além do cruzador blindado Pallada.

Os couraçados japoneses não se aproximaram da terra evitando a artilharia costeira russa. Ao raiar do dia 9, o comandante japonês, Almirante Togo, enviou uma força de reconhecimento comandada pelo Contra-almirante Dewa para tentar saber o resultado do ataque, mas o almirante interpretou incorretamente a confusão dentro do porto como resultado do ataque japonês da madrugada anterior e voltou para avisar Togo que era a hora ideal para atacar.

A esquadra japonesa aproximou-se de Porto Artur, mas foi detectada por um cruzador russo. Alertados os russos, o combate teve inicio às 11:00 h da manhã de 9 de fevereiro. Inicialmente os japoneses conseguiram atingir o couraçado Petropavlovsk e o seu irmão gêmeo Poltava, mas os russos reagiram, atingindo o couraçado Mikasa , navio-capitânea de Togo, e os couraçados Shikishima, Fuji e Hatsuse com impactos da artilharia costeira e dos navios ancorados no porto.
Verificando o erro de avaliação do Almirante Dewa, Togo retirou sua esquadra para local fora do alcance dos canhões russos.

No dia 11 de fevereiro os japoneses começam a lançar minas para bloquear a saída dos navios russos do porto, mas uma das minas atingiu o próprio navio que as lançava afundando-o. Com este navio perdeu-se o mapa de localização das minas. Um cruzador russo, enviado para investigar, atingiu uma das minas e também afundou.

No inicio da noite de 24 de Fevereiro os japoneses tentaram encerrar os navios russos na enseada de Porto Artur afundando alguns navios de transporte em sua entrada, mas o couraçado russo Retvisan atacou os navios japoneses e os afundou. Os russos, contudo, acreditaram que tinha destruído couraçados japoneses.

Em 12 de Abril, ao realizar uma tentativa para deixar o porto, o couraçado Petropavlovsk bateu em uma mina e afundou, ficando a esquadra de couraçados russos reduzida a seis belonaves. No afundamento do Petropavlovsk morreu o almirante Makarov, comandante da esquadra russa.
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Em maio os russos conseguem atrair alguns navios japoneses para um campo minado e os couraçados Yashima e Hatsuse atingiram minas. O Yashima afundou de imediato e o Hatsuse, perdeu-se mais tarde quando era rebocado para o porto.
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Cruzador Retvizan russo afundado em águas rasas na enseada de Porto Arthur

A guerra entre o Japão e a Rússia tinha atingido um impasse. Se por um lado os japoneses não tinham conseguido neutralizar a força russa em Porto Artur, por outro os russos não estavam preparados para a guerra e não possuíam um plano claro para impedir as ações japonesas, pelo que o resultado da primeira batalha da guerra foi completamente inconclusivo.

A perda de importantes navios em decorrência das minas e a ausência de vantagem tática ou estratégica representaram um preço elevado pago por ambos os contendores em Porto Arthur.


Couraçado russo Peresviet destruído e encalhado na enseada de Porto Arthur. Apesar do grande número de navios afundados e vidas perdidas, a batalha não conduziu a um resultado conclusivo para a Rússia ou para o Japão


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2 comentários:

  1. A historiografia que li até agora mostrava uma disparidade enorme entre os navios russos e japoneses, o que por ora era uma contradição ao orgulho nutrido pelos russos a sua marinha.

    Agradeço se puder concluir a luta russo-japonesa; que me parece ter sido concluída por causa do talento do almirante Togo.

    Se tiver tempo para concluí-la agradecerei muito.

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  2. Ótimo resumo, camarada! Eu não sabia que as minas tiveram esse papel tão importante nesse evento.

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