"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

MUSEU DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA SERÁ REABERTO HOJE EM BH APÓS MUDAR DE ENDEREÇO

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Parte da memória brasileira na Segunda Guerra está guardada, desde dezembro, em oito ambientes na Rua Tupis, 723, no Centro da capital


Por Gustavo Werneck

O mundo lembra em 2019, ainda com olhos do horror e do espanto, os 80 anos de início da Segunda Guerra, que envolveu a maioria das nações e incluiu todas as grandes potências da época, organizadas em duas alianças opostas: os aliados (Estados Unidos, França, Inglaterra e outros) e o Eixo (Alemanha, Itália e Japão). O conflito mais letal da história da humanidade durou até 1945 (veja cronologia), mobilizou mais de 100 milhões de militares e deixou cerca de 60 milhões de mortos. “Lembramos também os 75 anos de entrada efetiva do Brasil na guerra, o batismo de fogo dos pracinhas na Itália e o Dia D, quando os aliados desembarcaram na Normandia para retomar a Europa da mão dos nazistas liderados por Adolf Hitler (1889-1945)”, ressalta o presidente da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (FEB)/Regional Belo Horizonte e curador do Museu da FEB, Marcos Renault.

Parte da memória brasileira no conflito está guardada, desde dezembro, em oito ambientes na Rua Tupis, 723, no Centro da capital, endereço da nova sede do Museu da FEB, que será reaberto ao público hoje. A mudança da Avenida Francisco Sales, no Bairro Floresta, onde funcionou desde 1987, para a Tupis decorreu de uma medida que inviabilizou a continuidade do espaço cultural e indignou os organizadores. “Por força da legislação vigente, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) arcava com os custos de aluguel, vigilância, conservação e limpeza das instalações do museu, mas, já no fim da gestão anterior, passou a descumprir a legislação, honrando apenas com o aluguel. A segurança aqui é o mais caro, temos um arsenal que poderia ser roubado sem a devida segurança da casa onde estávamos”, informa Renault.

O curador Marcos Renault diante de parte do acervo do museu

Em face das dificuldades financeiras decorrentes do problema da supressão das verbas e sem condições de manter as portas abertas, todo o acervo original – armamento, fardas, documentos, medalhas, equipamentos, quadros e outras peças de peso histórico e físico, como um obuseiro de 155mm e a estátua em bronze de um expedicionário em combate – foi transferido para o prédio onde funcionou a 11ª Circunscrição do Serviço Militar, recentemente desativada. No imóvel localizado na esquina com a Rua Guarani permanece uma unidade do Exército. “Fizemos um comodato com o Exército, que está cedendo o espaço para a criação do centro cultural que registra a história da 11ª CSM e da participação do Brasil na Segunda Guerra”, explica.


Movimento

Com o novo endereço, Renault acredita em aumento de público, por três razões principais: “Trata-se de um ponto de grande circulação de pedestres e veículos; o museu fica no andar térreo, favorecendo a acessibilidade; e foi ampliado, passando a contar com oito ambientes para exposição”. Para este ano em que são lembrados fatos importantes da Segunda Guerra, ele planeja atividades especiais, como mostras temporárias e palestras, ensejando assim uma maior visitação de estudantes de escolas estaduais, municipais e privadas. “Na época da guerra, funcionava aqui uma escola alemã. Então, houve a desapropriação e as instalações foram ocupadas pelo Exército”, revela.


Na tarde de ontem, ao mostrar ao Estado de Minas seis espaços já organizados, Renault destacou que não se trata de um museu do Exército ou de outra instituição nacional. “Ele é um patrimônio do povo brasileiro. Aqui, a memória de pessoas comuns, cidadãos brasileiros que foram para os campos de batalha com coragem, patriotismo e o sentimento de respeito pelo Brasil, está preservada. A lição maior é que precisamos evitar que, um dia, tudo isso possa acontecer de novo. Daí a importância para as novas e futuras gerações”, disse o curador do museu, estudioso do conflito e, sempre presente como co-organizador das cerimônias do Dia da Libertação da Itália, que ocorrem a cada 25 de abril na cidade de Montese, na Itália.

Nas salas, os visitantes poderão ver uma série de armas, como metralhadoras refrigeradas a ar e a água, fuzis, submetralhadoras, carabinas e outras usadas pelos combatentes brasileiros, os pracinhas, “em conquistas que se tornaram famosas, como a do Monte Castello e da cidade de Montese, dentre várias outras, sendo que, em Collecchio e Fornovo, os pracinhas cercaram e aprisionaram a 148ª Divisão de Infantaria Alemã, com quase 15 mil homens”.

As vitrines do museu exibem cartazes daqueles tempos, com o slogan “A Cobra Vai Fumar!”, que se tornou símbolo da FEB, e “Senta a Pua!”, grito de guerra do 1º Grupo de Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira. Mas tem muito mais sobre o front que envolveu 25.334 brasileiros (2.947 de Minas), dos quais morreram 467 (82 de Minas) e 2.722 ficaram feridos.

Obuseiro de 155mm utilizado pela Artilharia da FEB na Segunda Guerra Mundial

Se num quadro há um registro sobre Monte Castello, imortalizado pelo expedicionário de origem polonesa, Zagloba, em outro está o veterano Belisário Nogueira Oliva em posição de combate. Uma linha do tempo que inclui a participação do Brasil na guerra, insígnias, medalhas, jornais da época, fardamento, botas, capacetes e fotografias e jornais podem ser vistos nas salas de exposição que serão abertas ao público. Na sala dos “inimigos”, ou Alemanha e Itália, há uma bandeira nazista capturada pelos brasileiros e trazida como troféu de guerra e a famosa metralhadora alemã, Spandau MG 42, com capacidade para disparar 1.200 tiros por minuto.

Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informa que, em junho de 2018, foi firmado um acordo segundo o qual a PBH continuaria a pagar o aluguel do imóvel onde funcionava o Museu da Força Expedicionária Brasileira, no Bairro Floresta, no valor de R$ 4.500,00. Com a mudança do museu para um imóvel próprio do Exército, no Centro, a PBH avalia, então, que não existe mais a necessidade de continuar a arcar com o valor do aluguel.

Fonte: em.com


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