Apaixonado por música, o jovem Fernando Buschman foi o primeiro brasileiro a morrer durante a Primeira Guerra Mundial. Preso e condenado por espionagem, foi fuzilado pelos britânicos em 1915

Após se formar em engenharia na Áustria, retornou ao Rio de Janeiro para trabalhar com o irmão na loja da família, mas os negócios não prosperaram, o que levou Buschman a fazer nova sociedade com o brasileiro Marcelino Bello, em uma importadora e exportadora de produtos alimentícios. Culto, refinado, músico de qualidade, apaixonado pelo violino e pela aviação, então uma novidade, Fernando Buschman passou a viajar constantemente para a Europa, onde se casou com a filha de um milionário alemão. Quando a guerra começou em 1914, encontrava-se na Alemanha e lá foi recrutado pelo serviço de espionagem, provavelmente por causa da fachada já bem estabelecida de comerciante internacional de cigarros, alimentos e lâminas de barbear. Depois de uma breve passagem pela Itália e Espanha, chegou a Londres em abril de 1915, onde se estabeleceu como comerciante.
No exercício das atividades de espionagem Fernando Buschman mostrou pouquíssimo rendimento. Em primeiro lugar, instalou-se num hotel que era bastante conhecido pela contraespionagem britânica como ponto de reunião de espiões, e, por isso, constantemente revistado. Suas cartas eram todas abertas, pois o endereço do destinatário batia com o de espiões alemães já identificados em Roterdã, nos Países Baixos. As informações que passava eram inócuas e sem importância, não correspondentes aos insistentes pedidos de dinheiro que fazia para as autoridades alemãs.
A Torre de Londres em 1915: palco do fuzilamento de Fernando Buschman
Na madrugada do dia 4 de junho de 1915, Buschman foi preso em sua casa na Harrington Road, no bairro londrino de South Kensington. Após intensos interrogatórios e um breve julgamento de guerra, no dia 30 de setembro foi condenado à morte como espião, por fuzilamento. Encarcerado na Torre de Londres, na véspera da execução, um advogado de quem se tornara amigo, Henry Francis Garrett, conseguiu que lhe devolvessem o violino, e Buschman, que negou até o fim ser um espião, tocou seu instrumento a noite inteira. Pouco antes das 7 horas da manhã de 19 de outubro de 1915, despediu-se do violino com um beijo e seguiu para a morte. No galpão de treinamento de tiro ao alvo, anexo à torre onde se procediam as execuções, prática que estava abolida no local desde 1601, sentou-se na cadeira indicada, dispensou a venda e “morreu como um cavalheiro”, diante dos oito soldados do 3º Batalhão de Guardas escoceses que compunham o pelotão de fuzilamento.
Carta de Valerie Buschman para o advogado do marido
Executado aos 25 anos de idade, Fernando Buschman foi o primeiro brasileiro a morrer na guerra. Além dele, outros dez estrangeiros foram executados entre o fim de 1914 e o início de 1916, todos espiões amadores e pouco eficientes, controlados por uma organização igualmente descuidada, com sede em Roterdã.
Fonte:
- DAROZ, Carlos. O Brasil na Primeira Guerra Mundial - a longa travessia. São Paulo: Contexto, 2016.