"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O COMBATE A BAIONETA NA 1ª GUERRA MUNDIAL




Segundo a tradição, a baioneta foi desenvolvida em Bayonne, França, no início do século XVII. O fato de ainda estar em uso comum durante a Primeira Guerra Mundial pode parecer incongruente quando comparado com saltos na guerra tecnológica tipificados pela artilharia, granadas, aviões e gases venenosos. No entanto, a baioneta foi usada por todos os lados no conflito de 1914-18, mesmo que o seu uso fosse mais psicológico do que prático.


Usada para atiçar o fogo

Os veteranos da Grande Guerra, quando entrevistados, tendiam a minimizar o impacto da baioneta durante a guerra. Muitos observavam (geralmente em tom de brincadeira) que a baioneta era usada primeiramente como um esplêndido meio para torrar pão, para a abertura de latas, para raspar a lama uniformes, para cutucar um braseiro nas trincheiras ou mesmo para ajudar na preparação de latrinas coletivas.

É, portanto, levanta a questão: a baioneta possuía algum efeito prático durante a guerra, e se não, por que foi utilizada por praticamente todos os soldados de infantaria em todos os exércitos, mesmo que tecnologicamente avançados para a época?


Projeto simples

O Exército Alemão desenvolveu mais tipos de baioneta do que todos os outros exércitos juntos. Foram produzidos adaptadores especiais para que as baionetas inimigas capturadas pudessem ser fixadas ao fuzil padrão alemão, o Gewehr 98.

Em essência, uma baioneta é simplesmente uma lâmina que está acoplada ao cano de um fuzil, para utilização no combate aproximado.

Soldados britânicos fixam suas baionetas antes de um ataque

A maioria das baionetas era de design simples, derivadas das facas militares já produzidas, embora existissem projetos específicos. Por exemplo, os franceses inventaram uma lâmina de agulha para uso em fuzis Lebel. Notoriamente, o exército alemão produziu uma lâmina “saw-back” que, como o próprio nome sugere, tinha a aparência de uma serra com a sua dupla fileira de dentes na extremidade oposta à do fio.

Produzida principalmente para o uso por unidades de engenharia para tarefas específicas, a lâmina de serra revelou-se uma bênção para fins de propaganda dos Aliados, que passaram a apresentar como cruéis, implacáveis e sedentos de sangue. A imprensa Aliada propagou amplamente a noção de que este tipo de baioneta tinha sido desenvolvido especificamente como um refinamento da brutalidade alemã para uso em combate próximo. Embora, sem dúvida, pudesse ser utilizada para tal uso, ela foi realmente concebida para ser usada como uma serra quando surgisse a necessidade.

A lâmina saw-back desenvolvida pelos alemães.  Embora tivesse sido projetada para trabalhos de engenharia, a propaganda Aliada  acusou os alemães de a utilizarem para cometer atrocidades


Personificação do Espírito Ofensivo

De muitas maneiras, a baioneta foi um retrocesso para o conceito de um método agressivo de guerra. Utilizada tradicionalmente pelas potências coloniais, como a França e a Grã-Bretanha em combate contra adversários muito menos bem armados, foi considerado um exemplo positivo do chamado "espírito ofensivo".

Tendo em conta que o modelo pré-guerra francês para a guerra, o Plano XVII, requeria uma abundância de espírito ofensivo no Exército Francês (o èlan) para a planejada conquista da Alsácia e da Lorena, a baioneta deve ter parecido uma arma ideal para a próxima guerra. Na realidade, porém verificou-se que os avanços tecnológicos na guerra defensiva tinham ultrapassado os de guerra ofensiva. A metralhadora manteve o domínio sobre o campo de batalha e os soldados de infantaria que tentassem avançar com baionetas afixadas aos fuzis eram invariavelmente ceifados antes de chegarem às trincheiras inimigas. As oportunidades de uso da baioneta eram, portanto, muito limitadas.

Mesmo quando um grupo de combate conseguia chegar à posição inimiga, o papel da baioneta era, frequentemente, defender os granadeiros que atacavam as trincheiras. Os grupos de assalto invariavelmente continham pelo menos dois "homens da baioneta”, cuja função era unicamente proteger os granadeiros.

Uma vantagem da baioneta no combate aproximado, ao contrário dos fuzis e granadas de mão, era a pequena probabilidade de provocar ferimentos acidentais nos próprios companheiros. Um projétil disparado a curta distância em um inimigo poderia muito bem passar pelo seu corpo e atingir um amigo que estivesse atrás dele.


Combate aproximado

Naturalmente ainda havia muitas ocasiões em que o combate aproximado se fazia necessário, o cenário ideal para o uso da baioneta. No entanto, o combate a baioneta raramente era utilizado, pois os soldados experientes geralmente preferiam outros métodos, e utilizavam lâminas, facas ou soqueiras.

Baionetas da 1ª Guerra Mundial

Curiosamente o manual de treinamento baioneta do Exército Britânico dava poucas orientações para o combate a baioneta. Os soldados eram instruídos a dirigir a baioneta nos pontos vulneráveis ​​do corpo do inimigo: a garganta, a mama esquerda ou direita e a virilha esquerda ou direita.

Ao cravar a lâmina de baioneta no peito corria-se o risco de prendê-la no esterno, tornando a remoção da lâmina altamente difícil. Da mesma forma, dirigir a lâmina contra a virilha resultava inevitavelmente em dor excruciante para a vítima, de tal forma que ela, muitas vezes, agarrava a baioneta em uma tentativa de puxar a lâmina para fora. Em tais casos, os soldados muitas vezes tinham que simplesmente remover a baioneta do fuzil a fim de continuarem combatendo.

Inegavelmente, havia um valor psicológico para a infantaria na realização de uma carga de baioneta, mesmo se, na prática, fosse pouco utilizada. As baionetas continuaram a ser normalmente produzidas na Segunda Guerra Mundial.
 


 



2 comentários:

  1. Maravilhosos os trabalhos do Professor Carlos Daróz. Aproveitando para cumprimentá-lo, duplamente,pois hoje comemora-se o Dia do Professor.Parabéns.

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