"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sábado, 12 de dezembro de 2020

NOSSA LEGIÃO ESTRANGEIRA NA GUERRA DO PARAGUAI

.


Por Renato Coutinho


O Brasil contou com sua legião estrangeira, por assim dizer, na Guerra do Paraguai. Com o intuito de reforçar o diminuto exército da República Oriental do Uruguai, após sugestão do então brigadeiro (general de brigada) Osório, o governo imperial brasileiro decidiu organizar um batalhão de infantaria em Montevidéu no ano de 1865. Este batalhão poderia receber voluntários de todas as nacionalidades e realmente recebeu voluntários de diversas nacionalidades (italianos, poloneses, belgas, suíços, turcos, alemães, espanhóis, etc.). Inicialmente, o batalhão recebeu o nome de "Batalhão de Voluntários Auxiliar".

O governo brasileiro arcou com quase todos os custos para equipar, fardar e armar esse batalhão. O soldo também ficava a cargo do governo brasileiro. Os primeiros duzentos voluntários foram fardados através de contribuições de brasileiros proeminentes que viviam na capital uruguaia. Ainda em 1865, o batalhão deixou de ser conhecido como "Batalhão de Voluntários Auxiliar" e recebeu sua designação oficial. Passou a ser o 16º Corpo (Batalhão) de Voluntários da Pátria. De brasileiro mesmo, o batalhão contava apenas com a bandeira imperial brasileira e seu comandante, o gaúcho coronel do Exército Imperial Fidélis Paes da Silva.

Apesar do nome oficial de 16º Corpo Voluntários da Pátria, o batalhão era muito mais conhecido pelo seu apelido, ele recebeu o apelido de "Batalhão Garibaldino" (também chamados simplesmente de "Garibaldinos"), pois os voluntários italianos predominavam na unidade e Garibaldi, famoso revolucionário italiano, era admirado ao redor do mundo, além de ser um dos italianos mais conhecidos no mundo todo naquela época. Garibaldi, liderando sua legião de voluntários conhecidos como "camisas vermelhas", havia conquistado o sul da Itália e a Sicília em 1860, derrotando o exército do Reino de Nápoles e, assim, dando passo importante no processo de unificação da Itália. O segundo em comando do 16º de Voluntários, Major Groppi, era na realidade um velho companheiro de Garibaldi em outras aventuras.



O 16º de Voluntários adotou um uniforme parecido com o uniforme dos "camisas vermelhas" de Garibaldi, com camisa e quepe predominantemente vermelhos (farda e quepe contavam com detalhes na cor verde).

Os Garibaldinos foram integrados ao Exército Uruguaio sob o comando de D. Venâncio Flores, ora fazendo parte da brigada de infantaria uruguaia sob o comando do coronel León Palleja (brigada que contava com quatro batalhões uruguaios de infantaria), ora fazendo parte da 12ª Brigada de Infantaria Brasileira sob o comando do tenente-coronel Joaquim Rodrigues Coelho Kelly. A brigada Coelho Kelly também reforçava o pequeno exército dos nossos aliados uruguaios.


O coronel Fidélis Paes da Silva foi gravemente ferido logo na primeira ação do batalhão, na Batalha de Yataí. Uma bala de mosquete atingiu de raspão sua coxa direita, provocando algum dano, e ele recebeu um golpe de baioneta, uma cravada profunda, na coxa esquerda. O Coronel Fidélis passou um longo período no estaleiro, recuperando-se da baionetada.

O 16º de Voluntários esteve presente na rendição de Uruguaiana e combateu nas batalhas de Yataí, Estero Bellaco, Tuiuti, Isla Carapá e Curupaiti. Em Curupaiti, o 16º não participou do infrutífero e custoso assalto frontal (os aliados sofreram mais de 4.000 baixas, sendo que pouco mais de 2.000 foram brasileiras). O batalhão estava na outra margem do rio, ocupando posição numa espécie de chaco, de frente para o flanco paraguaio, de frente para o flanco das posições defensivas paraguaias, e quase não sofreu baixas. Pelo contrário, o fogo do 16º de Voluntários provocou baixas nas tropas paraguaias e fez com que muitos paraguaios mantivessem suas cabeças abaixadas procurando abrigo. Os paraguaios sofreram poucas baixas naquele dia e, segundo o depoimento de George Thompson, inglês que era Coronel do Exército Paraguaio, "As baixas paraguaias foram incrivelmente pequenas, a maior parte pelas balas dos fuzileiros postados no Chaco [justamente os homens do 16º]. O Tenente Lescano, ajudante de ordens favorito de López, foi morto por uma destas balas."

O 16º de Voluntários passou a ser o 43º de Voluntários na reforma organizacional que Caxias promoveu no fim de 1866, mas vou parando por aqui. Nossa "legião estrangeira" lutou muito bem no Paraguai.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário