"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quinta-feira, 8 de setembro de 2022

UMA PRINCESA NA GUERRA - HOMENAGEM DO PORTAL À RAINHA ELIZABETH II

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Durante a Segunda Guerra Mundial, a vida mudou drasticamente para o povo da Grã-Bretanha, inclusive para a Família Real e para a Princesa Elizabeth.


Faleceu hoje no Castelo de Balmoral, Escócia, a Rainha Elizabeth II, aos 96 anos de idade.  Em 70 anos de reinado, forneceu estabilidade ao Reino Unido em um momento no qual o mundo passou por profundas transformações, atuando com grande senso de dever e honrando, pelo exemplo,  a Coroa britânica.
  
Seu reinado e influência no cenário mundial são bastante conhecidos, mas, o que muitos ignoram, foi o papel desempenhado por ela, ainda uma jovem princesa, durante os difíceis anos da Segunda Guerra Mundial.

Em 13 de setembro de 1940, logo após o início da campanha de bombardeios da Alemanha contra as cidades da Grã-Bretanha, cinco bombas altamente explosivas foram lançadas sobre o Palácio de Buckingham. A Capela Real, o jardim interno e os portões do palácio foram atingidos, e vários trabalhadores ficaram feridos. Ao invés de fugir da cidade sob ataque, o Rei George VI e sua esposa, a Rainha Elizabeth, permaneceram no Palácio de Buckingham, em solidariedade aos que viviam sob os ataques da Blitz. O casal real visitou áreas de Londres que haviam sido devastadas pelos ataques aéreos, falando aos residentes e membros dos serviços de emergência locais. A Rainha se interessou muito pelo que estava sendo feito para ajudar as pessoas que haviam perdido suas casas. 

A princesa Elizabeth tinha apenas 13 anos quando a guerra eclodiu em setembro de 1939. Como muitas crianças que viviam em Londres, Elizabeth e sua irmã Princesa Margaret foram evacuadas para diminuir os riscos dos bombardeios. Elas foram enviadas ao Castelo de Windsor, aproximadamente 20 milhas fora de Londres. As jovens princesas eram duas de mais de três milhões de pessoas - principalmente crianças - que deixaram as cidades para a segurança das pequenas cidades e do campo durante a guerra. O Conselho de Acolhimento de Crianças do Governo também evacuou mais de 2.600 crianças para a Austrália, Canadá, Nova Zelândia, África do Sul e Estados Unidos. 

No dia  13 de outubro de 1940, em resposta a este movimento, a Princesa Elizabeth proferiu seu primeiro discurso da sala de visitas do Castelo de Windsor, como parte da Hora das Crianças da BBC, em uma tentativa de elevar o moral do público. Ela falou diretamente com as crianças que haviam sido separadas de suas famílias como parte do esquema de evacuação.
"Milhares de vocês neste país tiveram que deixar suas casas e ser separados de seus pais e mães. Minha irmã Margaret e eu sentimos muito por vocês, pois sabemos por experiência própria o que significa estar longe daqueles que vocês amam mais do que tudo. A vocês que vivem em novos ambientes, enviamos uma mensagem de verdadeira simpatia e, ao mesmo tempo, gostaríamos de agradecer às pessoas amáveis que os acolheram em suas casas no país".

À medida que a guerra avançava, a Princesa Elizabeth defendia mais aspectos da vida e da resiliência em tempo de guerra. Em 1943, ela foi fotografada cuidando dos jardins no Castelo de Windsor como parte da campanha do governo "Cavem pela Vitória", na qual as pessoas eram incentivadas a utilizar hortas e cada pedaço de terra para cultivar legumes para ajudar a combater a escassez de alimentos. Antes da Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha contava com a importação de alimentos de todo o mundo, mas quando a guerra começou, a navegação passou a ser ameaçada por submarinos e navios de guerra inimigos. Isto resultou na escassez de alimentos e levou ao racionamento de alimentos tais como carne, queijo manteiga, ovos e açúcar.

Na manhã de seu 16º aniversário, a Princesa Elizabeth realizou sua primeira inspeção de um regimento militar, durante um desfile no Castelo de Windsor. Ela tinha recebido o papel de coronel honorária do Regimento de Guardas Granadeiros, o que simbolizava seu envolvimento militar no esforço de guerra. Quando a Princesa Elizabeth completou 18 anos em 1944, ela insistiu em juntar-se ao Serviço Territorial Auxiliar (Auxiliary Territorial Service-ATS), o ramo feminino do Exército Britânico. Por vários anos durante a guerra, a Grã-Bretanha havia recrutado mulheres para se juntar ao esforço de guerra. Mulheres solteiras menores de 30 anos podiam se alistar nas forças armadas, trabalhar na terra ou na indústria. O Rei George se certificou de que sua filha não recebesse um posto privilegiado no Exército. Ela começou como 2ª subalterna no ATS e, mais tarde, foi promovida a Comandante Júnior (equivalente a capitão).

A princesa Elizabeth, como 2ª Subalterna do ATS, diante de uma viatura ambulância durante o treinamento.

A Princesa Elizabeth começou seu treinamento como mecânica de viaturas em março de 1945. Ela fez um curso de direção e manutenção de veículos em Aldershot, qualificando-se no dia 14 de abril. Jornais da época apelidaram-na de "Princesa Mecânica Automobilística". Havia uma grande variedade de empregos disponíveis para as mulheres soldados no ATS como cozinheiras, telefonistas, motoristas, operárias dos correios, operadores de holofotes e inspetoras de munição. Algumas mulheres serviam como parte de unidades antiaéreas guarnecendo canhões, embora não lhes fosse permitido disparar as armas. Os trabalhos eram perigosos, e durante o curso da guerra, 335 mulheres ATS foram mortas e muitas feridas. Em junho de 1945, havia cerca de 200.000 membros do ATS de todo o Império Britânico servindo na frente doméstica e nos diferentes teatros de guerra no exterior.

O Rei, a Rainha e a Princesa Margaret visitaram a Princesa Elizabeth na Seção de Treinamento de Transporte Mecânico em Camberley, Surrey, e a viram aprender sobre manutenção de motores. Ao descrever a visita à Revista LIFE, a Princesa comentou "Nunca soube que havia tanta preparação antecipada [para uma visita real] ...saberei em outra ocasião".

Inclinada sobre o veículo, a Princesa Elizabeth demonstra ao pai, o Rei George VI, e à irmã Margaret suas habilidades como mecânica do ATS

Em 8 de maio de 1945, a guerra na Europa terminou. Em Londres, milhares de pessoas saíram às ruas para comemorar, lotando a Trafalgar Square e a avenida que levava ao Palácio de Buckingham, onde o Rei e a Rainha os cumprimentaram da varanda. Quando o sol começou a se pôr e as celebrações indicavam que continuariam pela noite adentro, a Princesa Elizabeth, vestida com seu uniforme do ATS, uniu-se à multidão com sua irmã para participar das festividades. 

Celebrando o Dia da Vitória na Europa (VE Day) na varanda do Palácio de Buckingham estão (esq. para dir.), a Princesa Elizabeth, a Rainha Elizabeth, o primeiro-ministro Winston Churchill, o Rei George VI e a Princesa Margaret.

Em 1985, já Rainha, falou à BBC sobre como ela tentou evitar ser vista: "Lembro-me que estávamos aterrorizadas, com medo de sermos reconhecidas, então eu puxei meu quepe bem para baixo sobre meus olhos". Ela descreveu as "linhas de pessoas desconhecidas de braços dados e andando por Whitehall, e todos nós fomos arrastados por marés de felicidade e alívio". Há até mesmo relatos de que as princesas se juntaram a uma dança de conga através do Hotel Ritz enquanto comemoravam com as multidões. "Acho que foi uma das noites mais memoráveis da minha vida", lembrou-se ela.

A rainha Elizabeth II ocupou o posto de coronel-em-chefe de 16 regimentos e corpos do Exército Britânico e de muitas unidades da Commonwealth. Como membro do ATS, ela foi a primeira mulher da família Real a ser um membro ativo das Forças Armadas Britânicas. Elizabeth II foi também a última chefe de estado sobrevivente a ter servido durante a Segunda Guerra Mundial. 

Ao longo de sua vida, ela foi frequentemente fotografada ao volante de veículos, sendo conhecida por diagnosticar e reparar motores defeituosos, assim como foi ensinada a fazer durante seu serviço em tempo de guerra no ATS.

Com a história de seu serviço militar durante a Segunda Guerra Mundial, o Portal Carlos Daróz-História Militar presta sua homenagem a essa que foi uma das mais importantes mulheres dos séculos XX e XXI.  Seguramente o fim de uma era.

Que descanse em paz e que seu legado seja longo.



"Quando a vida parece difícil, os corajosos não se deitam e aceitam a derrota; em vez disso, eles estão ainda mais determinados a lutar por um futuro melhor."

Rainha Elizabeth II
* 21/4/1926
+ 8/9/2022

Fonte: Adaptação de texto de Vikki Hawkins, Imperial War Museum

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