Em
27 de janeiro de 1973, representantes do Vietnã do Norte e do Sul, bem como dos
Estados Unidos, assinaram em Paris um difícil acordo que pôs fim à guerra do
Vietnã.
Por
Michael Marek
Nenhum
outro acontecimento mobilizou tanto a opinião pública internacional nos anos
1960 e 1970 quanto a Guerra do Vietnã. Pela primeira vez na história, as
atrocidades dos campos de batalha foram exibidas no "horário nobre"
das tevês: vietnamitas queimados por bombas de napalm, o fuzilamento de um
rebelde pelo chefe da polícia de Saigon com um tiro na cabeça, o massacre de My
Lai por soldados norte-americanos.
Mais
de um milhão de vietnamitas e 55 mil combatentes dos EUA morreram no conflito.
A assinatura do acordo de paz, em 27 de janeiro de 1973, alimentou grandes
esperanças. O cessar-fogo firmado em Paris deveria significar o fim da Guerra
do Vietnã.
Com
isso, o presidente norte-americano Richard Nixon queria terminar a intervenção
militar dos EUA na Indochina: "Falo hoje à noite no rádio e na televisão
para anunciar que fechamos um acordo que põe fim à guerra e deve trazer a paz
para o Vietnã e o Sudeste Asiático.
Durante
os próximos 60 dias, as tropas norte-americanas serão retiradas do Vietnã do
Sul. Temos de reconhecer que o fim da guerra só pode ser um passo em direção à
paz. Todas as partes envolvidas no conflito precisam compreender agora que esta
é uma paz duradoura e benéfica".
Acordo
previa um fim ordenado do conflito
O
acordo de paz previa a retirada completa das tropas dos Estados Unidos. Em
contrapartida, o Vietnã do Norte se comprometeu a soltar todos os prisioneiros
de guerra norte-americanos. Além disso, Hanói reconheceu o direito à
autodeterminação do Vietnã do Sul.
Foi
criado também um conselho de reconciliação nacional, presidido pelo chefe de
Estado Nguyen Van Thieu, encarregado de convocar eleições livres no Vietnã do
Sul, com a participação dos comunistas do Vietcong e outros grupos de oposição.
Os
principais arquitetos do acordo de Paris foram os chefes das delegações do
Vietnã do Norte e dos EUA, respectivamente Le Duc Tho e Henry Kissinger,
encarregado especial de Nixon. Pelos seus esforços, os dois diplomatas foram
agraciados com o Prêmio Nobel da Paz de 1973.
Le Duc Tho e Henry Kissinger durante os acordos de Paris
Foi
principalmente Kissinger quem forçou uma mudança de rumo na política externa
dos Estados Unidos, depois que os protestos dos pacifistas criaram uma situação
insustentável para Washington. "Não é o Vietnã comunista que põe em risco
os interesses norte-americanos e, sim, o envolvimento dos EUA num conflito
insolúvel", argumentava.
O
então chanceler federal alemão Willy Brandt elogiou o acordo de Paris num
pronunciamento oficial: "As condições para a paz mundial melhoraram.
Sentimos o efeito libertador do acordo para milhões de atingidos. Infelizmente,
as pessoas no Vietnã tiveram de sofrer duramente sob a guerra civil ao longo de
uma geração".
A
última ofensiva americana
Pouco
antes do fim das negociações, Nixon ainda mandou bombardear o Vietnã do Norte.
A chamada Campanha de Natal, iniciada no final de dezembro de 1972, foi um dos
ataques aéreos mais pesados de toda a guerra. Com indiferença, o piloto de um
dos bombardeiros B-52 descreveu assim a sua missão: "É apenas uma tarefa.
Outras pessoas entregam leite, eu entrego bombas".
O
acordo de cessar-fogo, no entanto, não foi implementado. Após a retirada das
tropas dos EUA, as partes conflitantes tentaram ampliar pelas armas os
territórios sob seu controle. O Exército do Vietnã do Sul desintegrou-se
rapidamente, depois que os EUA suspenderam a sua ajuda financeira.
Pouco antes do fim das negociações, Nixon mandou bombardear o Vietnã do Norte
Em
21 de abril de 1975, o presidente Nguyen Van Thieu renunciou. Nove dias depois,
Saigon foi tomada pelas tropas do Vietnã do Norte e do Vietcong. A pseudotrégua
de janeiro de 1973 era letra morta.
O
papel dos meios de comunicação
Existe
a lenda de que os meios de comunicação decidiram a Guerra do Vietnã. Na
prática, porém, não existiam imagens dos crimes cometidos pelas tropas
norte-americanas nem das ondas de execuções dos comunistas nos territórios por
eles conquistados.
Diversos
estudos científicos demonstraram que as imagens das batalhas militares, dos
feridos e dos mortos mutilados representaram apenas 5 a 7% do noticiário de TV
sobre o Vietnã. Além disso, a maioria das cenas de guerra foram fictícias,
porque as equipes de TV não chegavam com seus equipamentos até os últimos
rincões das florestas vietnamitas.
É
certo que os correspondentes tiveram mais liberdade do que em outras guerras
para escrever críticas ao governo. Mas, nas tevês, a maioria das reportagens de
três a quatro minutos mostravam um conflito sem nexo, de forma distanciada.
Fonte:
DW
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário