"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O SÍTIO DE BOIS-LE-DUC (1629)

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O cerco de Bois-le-Duc (den Bosch) ocorreu entre abril e setembro de 1629, durante a Guerra dos Oitenta Anos, ou Guerra de Flandres.  O exército das Províncias Unidas holandesas, comandado por Frederik Hendrik de Orange-Nassau sitiou e tomou a cidade de Bois-le-Duc, leal ao rei da Espanha.


A Guerra dos Oitenta Anos


A partir de 1568, as províncias holandesas, então sob a autoridade da Coroa espanhola, iniciaram um levante para tentar obter autonomia e independência.  O ano de 1609 foi marcado pela assinatura do Tratado de Antuérpia e um cessar-fogo entre as Províncias Unidas e a Espanha, com a mediação da França e da Inglaterra, dando início à chamada "Trégua dos Doze Anos".  Mas, durante a trégua, as Províncias Unidas desenvolveram uma poderosa esquadra, que desempenharia papel fundamental na continuidade do conflito. 

Com a chegada do final da trégua, os negociadores espanhóis exigiam que fosse concedida nas Províncias, predominantemente calvinistas, a liberdade do culto católico, mas negavam a mesma liberdade aos cultos protestantes em áreas sob seu domínio.  Sem acordo, em uma Europa marcada pelos conflitos da Contrarreforma, a luta entre holandeses e espanhóis reiniciou com grande intensidade, especialmente em torno das rotas comerciais espanholas para suas colônias no Extremo Oriente e na América, passando a Marinha Holandesa a praticar a guerra de corso com sua novíssima frota.

O stadthoulder Frederik Hendrik de Orange-Nassau

Mas, enquanto os holandeses utilizavam sua Marinha para enfraquecer o vasto Império Ultramarino espanhol, a Espanha empreendeu uma nova campanha para derrotar as províncias rebeladas ao norte.  Em 1622 o assédio espanhol à fortaleza de Bergen-op-Zoom foi repelido, mas, três anos depois, o stadtholder Maurício de Nassau, príncipe de Orange, foi morto durante o cerco a Breda, e, em seguida, o general espanhol Ambrósio de Spínola conquistou a cidade fortificada.  Após essa derrota, contudo, assumiu o comando do Exército das Províncias Unidas Frederik Hendrik de Orange-Nassau, meio irmão de Maurício de Nassau, e os ventos da guerra passaram a soprar em favor dos holandeses.


Bois-le-Duc

Leal ao rei da Espanha desde 1579, a cidade fortificada de Bois-le-Duc era o principal reduto da região e, por isso, tornou-se um objetivo óbvio para o Exército das Províncias Unidas.  Grandes somas em dinheiro foram investidas para fortalecer as defesas da cidade, sob a liderança de Anton Schetz, Conde de Grobbendonck, governador militar da praça.  O sistema defensivo, que compreendia profundas e extensas trincheiras externas às muralhas e minas enterradas no terreno pantanoso contíguo, tornavam o assalto à cidade uma tarefa extremamente difícil com reduzidíssima probabilidade de êxito.  No princípio do século XVII, Maurício de Nassau tentara, sem sucesso, conquistar a praça de guerra, que já começara a adquirir a fama de inexpugnável.

Bois-le-Duc (Den Bosch) em 1629.  É possível verificar as muralhas e defesas da cidade

O sítio

Frederick Hendrik surgiu diante da cidade em abril de 1629, com um numeroso exército composto por 24.000 infantes, 4.000 milicianos e 4.000 soldados de cavalaria.  Sua primeira providência foi drenar o pântano, desviando os dois rios que o alimentava - o Dommel e o Aa - por meio de um canal de 40 km de extensão que mandou construir.  Para bombear as águas pantanosas para o canal, instalou moinhos movidos por cavalos.  Somente com o terreno seco, os soldados holandeses iniciaram a escavação de suas trincheiras de circunvalação.

Enquanto isso, o governo espanhol enviou um exército de reforço para tentar levantar o cerco, comandado por Hendrik van der Bergh, primo de Frederik Hendrik que era leal à Espanha. Quando chegou perto de Bois-le-Duc, em meados de julho, Van der Bergh constatou que o sítio era demasiadamente extenso, não sendo possível qualquer esforço para impedí-lo.  Van der Bergh, então, tentou distrair a atenção de seu primo, tomando a cidade de Amersfoort em 14 de agosto, mas os holandeses cortaram suas linhas de abastecimento pelo Wesel, obrigando-o a se retirar, deixando os sitiados de Bois-le-Duc a mercê de sua própria sorte.

Frederik Hendrik comanda pessoalmente o sítio a Bois-le-Duc (ao fundo)

Bem entrincheirados e estabelecidos, os holandeses passaram a bombardear continuamente a cidade.  Em 18 de julho caiu o Forte Isabella e, no dia seguinte, foi a vez do Forte Anthon, embora boa parte de sua guarnição de 2.500 homens conseguisse se refugiar nas muralhas da cidade.  Em seguida, os sitiantes passaram a direcionar seus esforços contra o o portão sul da cidade e, na manhã de 11 de setembro, uma grande explosão conseguiu romper as muralhas nesse ponto.  Três dias mais tarde, com suas defesas esgotadas, o governador Anton Schetz capitulou e entregou Bois-le-Duc a seu conquistador, o stadthouder Frederik Hendrik.


Consequências

A perda de Bois-le-Duc foi um grande golpe para o prestígio dos espanhóis. Suas posições no norte do país ficaram seriamente comprometidas e, animado pela importante vitória, Frederik Hendrik continuou sua campanha, agora auxiliado por seu primo, Hendrik van der Bergh, que, depois de ser acusado de traição, mudou de lado e passou a apoiar as províncias Unidas.

Merece destaque também, para a História Militar brasileira, a participação no cerco do Conde João Maurício de Nassau-Siegen, que governaria o Brasil Holandês entre 1636 e 1643.  Sua atuação em Bois-le-Duc reforçou sua já bem estabelecida reputação como comandante militar e rendeu-lhe a promoção ao posto de coronel de cavalaria.

A guerra em Flandres prosseguiria até a assinatura do Tratado de Münster, em 1648, quando as Províncias Unidas ganharam sua independência sob o nome de Países Baixos.


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