"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



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sábado, 16 de abril de 2016

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR – MARECHAL SETEMBRINO DE CARVALHO



 
 * 13/09/1861 – Uruguiana-RS

+ 24/05/1947 — Rio de Janeiro-RJ


Fernando Setembrino de Carvalho nasceu em Uruguaiana–RS, no dia 13 de setembro de 1861. Aos dezesseis anos assentou praça no 12º Batalhão de Infantaria, em Porto Alegre, e, logo após, requereu sua matrícula na Escola Militar do Rio Grande do Sul, onde concluiu o curso de Artilharia no mês de janeiro de 1882.  Mandado apresentar-se à Escola Militar da Corte em março do mesmo ano, em 5 de setembro foi declarado 2º Tenente e classificado no 2º Batalhão de Artilharia a Pé.  Em 1884 concluiu o curso de Estado-Maior de 1ª Classe e o de Engenharia Militar, recebendo o grau de bacharel em Matemática e Ciências Físicas. Em seguida, foi classificado no 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, em São Gabriel–RS, herdeiro do velho "Boi de Botas" de Mallet da Guerra da Tríplice Aliança.


Revolução Federalista e atuação como engenheiro militar

Setembrino de Carvalho atuou como engenheiro na construção de quartéis e fortificações no Rio Grande do Sul. Transferido para Uruguaiana, lá servia quando ocorreu a proclamação da República. Desde 1885 aderira à causa republicana sem alterar, contudo, sua conduta fiel de militar. Com a eclosão da Revolução Federalista, comandou o Batalhão de Infantaria "Defensores da República", integrante da Divisão Oeste, organizado para defender Uruguaiana das tropas federalistas. terminada a revolução, foi transferido para o 2º Batalhão de Engenharia, onde provocou a iniciativa de construir a estrada de ferro estratégica Porto Alegre – Uruguaiana, de alta expressão para a economia gaúcha. Foi promovido a tenente-coronel em abril de 1906, e assumiu o comando do batalhão, passando, em julho de 1907 à construção do ramal ferroviário Cruz Alta – Ijuí. Já em 1908 assumiu a construção da linha telegráfica São Vicente - Santiago do Boqueirão.


Novas missões

Em 1910 foi convidado pelo Marechal Hermes da Fonseca, então candidato à Presidência da República, para exercer a chefia do Gabinete do Ministro da Guerra. Promovido a coronel no mesmo mês, foi mantido no cargo pelo novo Ministro, General Vespasiano Gonçalves de Albuquerque, em 30 de março de 1912. Nomeado comandante da então 4ª Região Militar em Fortaleza, foi, logo a seguir, designado interventor no Ceará em meio a grave crise. Em março de 1914 conseguiu apaziguar a revolta promovida pelo padre Cícero Romão Batista e fazer com que ele e seus seguidores voltassem para Juazeiro. Logo a seguir, em abril, foi promovido a general-de-brigada.


Campanha do Contestado

De volta ao Rio, foi incumbido pelo Ministro da Guerra de tratar da pacificação da luta em Palmas (Campanha do Contestado, 1914-1915) que se estendia desde 1840, liderada por José Maria de Agostinho, o "Monge". Entre 1912 e 1914 haviam sido enviadas seis expedições com tropas do Exército. Todas fracassaram. Para cumprir essa missão, no período de 12 de setembro de 1914 a 9 de março de 1915, comandou a 11ª Região Militar, em Curitiba-PR.  Em seguida, assumiu o comando da 2ª Circunscrição Militar, criada pelo Aviso do Ministro da Guerra nº 652, de 28 de abril de 1915, para pacificar os estados do Paraná e Santa Catarina. Graças à sua habilidade e atuação, os rebeldes foram completamente derrotados até dezembro de 1915, quando regressou ao Rio.




Atuação nos Movimentos Tenentistas

Promovido a general-de-divisão em janeiro de 1918, foi nomeado comandante da 2ª Divisão de Exército, sediada em Niterói. Em 1º de julho de 1922, foi nomeado Chefe do Estado-Maior do Exército pelo Presidente Epitácio Pessoa. No levante dos Fortes de Copacabana e do Vigia, Escola Militar e alguns efetivos da Vila Militar, foi chamado a intervir. Dirigiu-se então ao Realengo, encontrando a Escola Militar já sob controle. Instalou um quartel-general de operações em Deodoro, de onde comandou a repressão. O movimento terminou com o episódio na Avenida Atlântica, envolvendo os 18 do Forte.

Em novembro de 1922, Arthur Bernardes, empossado na Presidência da República, designou-o Ministro da Guerra. Em 1923, surgia no Rio Grande do Sul novo conflito armado. Fracassada a tentativa de armistício e agravando-se o conflito em todo Estado, decidiu Bernardes encarregar da missão o General Setembrino. Chegando a Porto Alegre, Setembrino promoveu o entendimento entre as partes em conflito, obtendo o armistício com o "Pacto das Pedras Altas", na estância de Assis Brasil, no dia 14 de dezembro.

Promovido a Marechal em abril de 1924, viu-se diante de novo movimento, iniciado no dia 5 de julho, com focos em São Paulo, Amazonas e Sergipe. Fez face aos revoltosos, comandados pelo General lsidoro Dias Lopes, conclamando-os por meio de dois manifestos à rendição e isentando-os de culpa.

O Marechal Setembrino afastou-se da vida pública em 1926. Continuou morando no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, vindo a falecer no dia 24 de maio de 1947, aos 85 anos de idade.



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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - GENERAL DALTRO FILHO

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* 1882 - Cachoeira do Sul-RS

+ 1938 – Porto Alegre-RS



Manuel de Cerqueira Daltro Filho inicou sua carreira militar aos 16 anos, ao sentar praça no 9° Batalhão de Infantaria, em Salvador. Após uma passagem pelo Rio de Janeiro, foi transferido para o Rio Grande do Sul, onde cursou a Escola Tática e de Tiro de Rio Pardo. Em 1901 retornou ao Rio para a Escola Militar da Praia Vermelha, onde permaneceu até 1904, quando a escola foi fechada por haver apoiado a Revolta da Vacina.

Entre 1906 e 1908, retornou ao Rio Grande do Sul para cursar a Escola de Guerra em Porto Alegre. Em 1911 foi transferido para Curitiba, onde, no ano seguinte, passou a integrar o Estado-Maior do general Setembrino de Carvalho, tendo participado do combate ao movimento do Contestado. Ainda em Curitiba, participou, com os amigos Victor Ferreira do Amaral e Nilo Cairo, em 19 de dezembro de 1912, da criação da Universidade do Paraná, embrião da UFPR, compondo a primeira diretoria da instituição, no cargo de 2° secretário.

Ao estourar a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana em 1922. era comandante da 3ª Companhia de Metralhadoras no Rio de Janeiro, integrada ao destacamento do general João de Deus Menna Barreto no combate aos revoltosos.

Major no governo de Artur Bernardes, foi ajudante de ordens do presidente da república. No final do mandato foi nomeado adido militar na Bélgica. Retornou ao Brasil em 1928, onde assumiu o comando do 7° Regimento de Infantaria, em Santa Maria. Em 1929 matriculou-se na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, no Rio de Janeiro.

Durante a Revolução de 1930, combateu a Aliança Liberal, que depôs o presidente Washington Luís e levou Getúlio Vargas ao poder, tendo organizado as forças governistas na região de Nova Friburgo. Após a derrota, entretanto, aproximou-se do novo governo e passou a apoiá-lo.

Combateu a Revolução de 1932, cercando as tropas revoltosas em Cruzeiro e depois, com Newton Cavalcanti, isolou a capital São Paulo. Foi depois nomeado interventor federal interino do estado de São Paulo durante dois meses, antes da posse de Armando Sales de Oliveira. Nomeado comandante da 2ª Região Militar, foi destituído do cargo em 1934 por apoiar a candidatura de Goes Monteiro à presidência. Foi, então, nomeado para o comando da 8ª Região Militar, em Belém.

Nomeado comandante da 3ª Região Militar, sediada em Porto Alegre, em agosto de 1937, foi um dos principais apoiadores do golpe que instaurou o Estado Novo e combateu a resistência organizada pelo então interventor do Rio Grande do Sul, José Antônio Flores da Cunha. Com a deposição e o exílio de Flores da Cunha, Daltro Filho foi empossado como interventor federal no estado, no dia 17 de outubro de 1937, pouco antes da instauração oficial da ditadura, em 10 de novembro do mesmo ano.

Permaneceu, entretanto, apenas três meses no cargo, sendo obrigado a se afastar de suas funções no dia 19 de janeiro de 1938 por motivos de saúde, vindo a falecer alguns dias depois.


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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A MORTE DO TENENTE SIQUEIRA CAMPOS

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Antônio de Siqueira Campos nasceu em Rio Claro-SP no ano de 1898. Formado na Escola Militar, ainda no posto de tenente participou do Movimento Tenentista e da Revolta do Forte de Copacabana, em julho de 1922. Foi um dos militares que marcharam na Avenida Atlântica, na orla marítima de Copacabana, em direção à tropa legalista e que, após intenso tiroteio em um combate totalmente desigual – 18 revoltosos contra 3.000 soldados do governo –, acabaram sendo derrotados em frente à Rua Barroso, na altura do Posto 3 de Copacabana, no episódio que passou à história como  “os dezoito do forte”.  A maioria dos revoltosos morreu, somente sobrevivendo os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes e algumas praças. 

Posteriormente, a Rua Barroso, onde ocorreu o confronto final da Revolta dos 18 do Forte, foi rebatizada com o nome de Rua Siqueira Campos, como é conhecida atualmente. Na esquina desta rua com a Avenida Atlântica, foi erigida uma enorme estátua representando o Tenente Siqueira Campos no momento em que recebeu o tiro que o derrotou no confronto.


No calçadão de Copacabana marcham os dezoito revolucionários remanescentes contra 3.000 soldados legalistas.

Siqueira Campos participou do início do chamado Movimento Tenentista, que visava romper os vícios da política brasileira da época, em que grupos elitistas se perpetuavam no poder. Após período de exílio, o Tenente Siqueira Campos participou ativamente, como um dos seus principais líderes, da famosa Coluna Miguel Costa-Prestes. Durante mais de três anos a Coluna percorreu o interior do Brasil do Sul ao Nordeste no prosseguimento da luta para derrubar a República Velha, que viria a cair em outubro de 1930 com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.


Morte no Rio da Prata

O tenente Siqueira Campos morreu em um acidente aéreo, ao retornar do Uruguai para o Brasil em 10 de maio de 1930, antes da Revolução que levaria Vargas ao poder, quando a aeronave em que estava caiu no rio da Prata. Dizia ele: "À Pátria tudo se deve dar, sem nada exigir em troca, nem mesmo compreensão".

O também revolucionário tenentista João Alberto Lins de Barros viajava no mesmo avião com Siqueira Campos e, em sua obra Memórias de um Revolucionário (p.227-229), relatou como se deu o acidente com o Laté 28:


“(...) dentro do Laté 28, apinhavam-se cinco passageiros: o piloto, Comandante Negrin, veterano da guerra e reconhecido ás da aviação francesa. O Sr. Pranville, diretor da Latecoere para a América do Sul; o telegrafista, o Siqueira e eu. Os dois primeiros viajavam no comando do aparelho e o resto na cabine. Valentim Bouças, em tempo desistia da viagem. 

Apesar do risco que corríamos, sentimos alívio quando o avião tomou altura. Queríamos chegar aos nossos destinos de qualquer maneira, o mais rapidamente possível. Não tínhamos nem um minuto a perder e no momento, a questão de segurança pessoal afigurava-se nos secundária.

Tirei os sapatos, levantei a gola do sobretudo, sentando-me na primeira cadeira do lado esquerdo. Fazia um frio penetrante. Fatigado dos trabalhos diurnos, rapidamente adormeci.
Despertei com um golpe na cabeça. 

O avião boiava na água, agitando pelas ondas que contra ele se quebravam. Nós três – os da cabine – caíramos com as cadeiras, em confusão. Eu estava ferido na testa, na face esquerda e no nariz. Siqueira, o primeiro a recuperar os sentidos, arrastou-se para uma porta lateral, abrindo-a com algum trabalho. Aí a água entrou, alagando o compartimento em que nos encontrávamos, até atingir os nossos joelhos. Ele pulou fora, ficou sobre o teto da cabine e içou, com a minha ajuda, o telegrafista, já ao meu lado nesse momento. Logo após, eu me reunia também aos dois. Em cima daquele pequeno avião que, sacudido pelas ondas, afundava lentamente, estávamos os cinco passageiros do malfadado Laté 28, agarrando-nos uns aos outros, a fim de não sermos precipitados na água. Fomos tirando a roupa para poder nadar.

Um vento frio de inverno fazia-nos tremer. Densa e baixa, a cerração permitia-nos apenas lobrigar, na linha do horizonte, as luzes de uma cidade.

O motor do avião começou a desaparecer. Procuramos, instintivamente, equilibrarmo-nos em sua calda. Ninguém tomava a iniciativa de abandonar o aparelho. Nada menos de três quilômetros de mar banzeiro nos separava da costa. Uma dura etapa a vencer durante a noite, com aquele frio áspero, cortante.

O piloto Negrin, talvez levado pela responsabilidade de Comandante do aparelho, que submergia, avisou-nos de que era preciso lançarmo-nos à água. Era um homem da nossa idade, demonstrando parecença física com o Siqueira. Como nós três, estava apenas com as roupas debaixo. E, tomando a iniciativa, para dar exemplo, atirou-se à água. Seguiu-o o Sr. Pranvile, tipo de burguês francês, baixo, forte, um pouco calvo.

O telegrafista e eu permanecemos ainda no avião, agarrados ao leme do aparelho. Siqueira, vendo-me banhado em sangue, olhava-me com expressão singular. Apesar de atordoado, sentia que ele ainda não se jogara na água por minha causa. Doía-lhe deixar-me sozinho. Era preciso ganhar coragem e enfrentar a realidade, arremessando-me e tentando alcançar a costa. Precedeu-me, porém, na decisão, o telegrafista. Seguira os nossos movimentos e despira, como nós, a roupa de cima. Saltou na água e estoicamente, deixando um último adeus em espanhol, que era também uma confissão: ‘Eu não sei nadar, Vou morrer. Adeus companheiros!’. E começou a bater-se com as ondas ali, do nosso lado. Veio à tona três ou quatro vezes, sem pedir socorro. Depois desapareceu. (...) Mal havia recuperado a calma (talvez decorrido uns dez minutos de nado), ouvi, perto de mim, o grito angustiante do Siqueira. ‘Espera, João.’ Voltei-me ainda em tempo de o ver, a um metro de mim, ser tragado por uma onda. Desapareceu sem estender um braço para pedir auxílio. Apenas, na face, aquela expressão de energia indômita que eu conhecia tão bem nos momentos de luta, desfigurando agora por uma intensa expressão de dor. Esperei um instante, afastando-me somente depois que percebi que ele não retornaria (...) jamais poderia eu supor, naquele momento, que o vitimara um ataque de angina, conforme foi constatado, mais tarde, pela autópsia”.



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