"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



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quarta-feira, 22 de março de 2023

A QUEDA DE CONSTANTINOPLA (1453)

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A Queda de Constantinopla ocorreu em 29 de maio de 1453, após o ataque dos turco-otomanos comandados por Mehmet II.  
O episódio marcou a transição da Idade Média para a Modernidade.


A cidade, vestígio do Império Romano do Oriente e do Império Bizantino, era a última depositária da Antiguidade Clássica. A capital do Império Bizantino já havia sido cercada duas vezes pelas frotas muçulmanas. O primeiro cerco durou cinco anos de 673 a 677; o segundo, um ano somente, em 717. Nos dois cercos, os muçulmanos foram repelidos com o uso de fogo grego. Entretanto, ao longo dos séculos, os bizantinos foram perdendo sua capacidade militar, além disso, as perdas de territórios, a expansão islâmica e as cruzadas podem ser considerados como fatores determinantes para o que ocorreria em 1453. Quando os turcos otomanos, atravessaram o Estreito do Bósforo. Tomaram a maior parte dos Bálcãs e instalaram a sua capital em Adrianópolis, cercando Constantinopla. Isolando a cidade e impedindo qualquer apoio das nações ocidentais. 

No século XIV, as vitórias dos turcos em Kosovo e Nicópolis sobre os cristãos prenunciavam a queda iminente de Constantinopla. A cidade de Constantino I, em meados do século XIV, era um pequeno Estado relacionado com os mercados do Extremo Oriente, porém em benefício dos mercadores de Veneza e Gênova. 

Em 1451, Maomé II sucede a seu pai, Murad II, à frente do Império Otomano, o novo sultão, de 19 anos, decide acabar com Constantinopla.

Tropas do sultão aproximam-se da muralha transportando um dos gigantescos canhões que seriam utilizados no sítio


Em Julho de 1452, é enviada uma declaração de guerra ao imperador bizantino. Dois meses mais tarde, são desencadeadas as hostilidades testando as muralhas da cidade com 50 mil homens. O cerco começa em abril de 1453 com 150 mil homens e uma poderosa frota. Os bizantinos só dispunham de sete mil soldados gregos e um destacamento de 700 genoveses sob o comando de Giovanni Giustiniani Longo, além de 40 navios.

O imperador Constantino XI Paleólogo envia emissários, disfarçados de turcos, que se infiltraram entre os navios e chegaram a Veneza. A Sereníssima República logo arma 10 embarcações para socorrer os seus tradicionais aliados. Porém, a ausência de vento e a pouca pressa dos venezianos não permitiram chegar a tempo para salvar Constantinopla.

Diante do tríplice anel de muralhas, Maomé II recorre a todos os seus recursos de artilharia. Durante semanas, sem trégua, arremessam projéteis com seus canhões. A frota do sultão cerca a cidade pelo Bósforo e o mar de Mármara mas não consegue entrar no canal do Corno de Ouro que fecha a cidade pelo leste.

Constantinopla sitiada

No dia 28 de Maio, os arautos do sultão anunciam a batalha decisiva. Na alvorada de 29, dezenas de milhares de soldados invadem a cidade. Diante da Igreja de Santa Sofia, o imperador Constantino XI Paleólogo, de armas na mão, morre no meio dos seus soldados. Ao meio-dia o sultão entra triunfalmente na cidade. Os combates fizeram pelo menos quatro mil mortos. Caía finalmente, depois de mais de dez séculos, a maçã de prata ou simplesmente Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente.

O sultão Mehmet II já dentro das muralhas da cidade

A queda de Constantinopla teve grande impacto no Ocidente. Chegou-se a iniciar conversações para uma nova cruzada para liberar Constantinopla do jugo turco, mas nenhuma nação poderia ceder tropas naquele momento. Os próprios genoveses se apressaram a prestar respeitos ao sultão, e assim puderam manter seus negócios por algum tempo.

domingo, 15 de agosto de 2021

BATALHA DE KRBAVA (1493)

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A derrota na batalha significou o fim da resistência independente dos croatas aos turcos, e também um prelúdio à derrota do exército croata-húngaro em Mohacs, um pouco mais tarde, que significou o fim do reino croata-húngaro que durou por 425 anos.


No final do verão de 1493, Jakub-pasha irrompeu com seus soldados através de Stankovci e Stupa, na Estíria, e devastou Celje e Ptuj. Ao retornar da Eslovênia, os turcos também saquearam o Zagorje croata, onde queimaram e saquearam a rica cidade do Príncipe Frankopan, Modrush, na qual estava localizada uma diocese.

Ao retornar à Bósnia, contudo, Jakub Pasha deparou-se com as forças feudais croatas em Mala Kapela. As forças combinadas da Croácia, constituídas por exércitos de todas as famílias nobres de Frankopan, Gusic, Berislavic, Subić e outros, lideradas pelo ban de Derenchin, encontraram-se com o exército turco em Krbavsko Polje, no sopé de Udbina.

Tropas croatas enfrentando os turcos

A infantaria mal equipada teve dificuldades para manter o terreno. A cavalaria feudal croata, significativamente mais pesada que a turca, era muito lenta para lutar eficientemente. Alguns príncipes caíram já no início da batalha, e, quando Ivan Frankopan morreu, o pânico se espalhou entre as fileiras. Pouco depois, Ban Derenchin foi capturado (além dele, os príncipes capturados foram Nikola Frankopan Trzakic e Karlo Gusic), enquanto Bernardin Frankopan foi resgatado. Sem o seu comandante, o resto do exército croata foi dividido, enquanto se retirava ou se afogava no rio.

O exército croata foi tão profundamente derrotado que apenas duzentos homens, dentre vários milhares, conseguiram sobreviver. Após a batalha, os turcos cortaram os narizes dos derrotados para levá-los ao sultão, em troca de uma recompensa.

Soldados turcos recolhendo os despojos no campo de batalha

Indubitavelmente, a nobreza croata após a batalha de Krbava, enfraquecida e empobrecida, já não conseguiu mais proporcionar uma resistência mais forte, e os turcos abriram caminho para novos avanços em relação à Lika na Europa.

A Batalha de Krbava foi, de alguma forma, um prelúdio para a Batalha de Mohacs, onde o Rei Ludwig II Jagielo foi morto e resultou na entrada da Croácia no Império Habsburgo, o que determinou o futuro do povo croata por muitos séculos. Muitos autores consideram essa batalha como o início dos cem anos de guerra no Reino da Croácia e no Império Otomano, que terminou com a Batalha de Sisak em 1593.


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segunda-feira, 23 de setembro de 2019

GUERRA FRANCO-TURCA (1918-1921)

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A Guerra Franco-Turca, também chamada de Campanha da Cilícia da Guerra da Independência Turca, foi uma série de conflitos conflitos militares entre as Forças Coloniais Francesas, aliadas à Legião Armênia Francesa, e as Forças Nacionais Turcas, no rescaldo da Primeira Guerra Mundial.


O interesse francês na região veio após o Acordo Sykes-Picot (1916) e do retorno dos refugiados armênios a seus lares.  Junto com as outras potências aliadas, os franceses abandonaram o interesse pela população armênia para apoiar a Turquia como um estado-tampão do expansionismo Bolchevique.


Acordos e tratados

Após o Armistício de Mudros, o Exército Francês deslocou-se para Çukurova, conforme previsto em segredo pelo Acordo Sykes-Picot, que dava à França o controle da Síria Otomana e do sul da Anatólia, incluindo os principais locais estratégicos da fértil planície de Çukurova, os portos de Mersin e İskenderun (Alexandreta) e as minas de cobre de Ergani.

Por outro lado, as terras férteis da Mesopotâmia e o vilaiete de Mossul (onde se suspeitava que existissem campos petrolíferos) eram prioridades para os britânicos. Segundo o acordo, os britânicos cuidariam das cidades de Antep, Marash e Urfa, até que os franceses chegassem às regiões da Anatólia meridional alocadas a eles no acordo.

Mapa mostrando os efeitos do Acordo Sykes-Picot, que redefiniu as fronteiras do Oriente Médio e deram origem a um conflito latente até os dias atuais.

A Legião Armênia francesa, sob o comando do General britânico Edmund Allenby, consistia de voluntários armênios que ajudaram os Aliados quando os Otomanos começaram a levar a cabo o genocídio da população armênia. Os Armênios lutaram na Palestina e na Síria, e também na Cilícia após o Armistício de Mudros.


Desembarques franceses no Mar Negro

Após o armistício de Mudros, a primeira providência dos militares franceses foi controlar as minas de carvão Otomanas, estrategicamente importantes, sobre as quais a capital francesa detinha participações significativas. O objetivo era tomar o controle dessa fonte de energia e atender às necessidades militares francesas. Também pretendiam impedir a distribuição de carvão na Anatólia, que poderia ser usada em atividades de apoio à insurgência.

Em 18 de Março de 1919, duas canhoneiras francesas trouxeram tropas para os portos de Zonguldaque e Karadeniz Ereğli, no Mar Negro, para dominar a região de mineração de carvão Otomana. Em face da resistência que enfrentaram durante um ano na região, as tropas francesas começaram a retirar-se de Karadeniz Ereğli em 8 de Junho de 1920. Os franceses, contudo, persistiram na ocupação de Zonguldaque, o que aconteceu em 18 de junho de 1920.


Operações em Constantinopla e na Trácia

As principais operações na Trácia visaram apoiar os objetivos estratégicos dos aliados. Uma brigada Francesa entrou em Constantinopla em 12 de Novembro de 1918. Em 8 de Fevereiro de 1919, o General francês Franchet d'Espèrey - comandante em chefe das forças de ocupação aliadas no Império Otomano - chegou a Constantinopla para coordenar o governo de ocupação.

Milícias turcas na Anatólia em 1919


A cidade de Bursa - uma antiga capital Otomana de importância central no noroeste da Anatólia - também foi ocupada por forças francesas por um breve período antes da grande ofensiva de verão do Exército Grego em 1920, quando a cidade caiu para os gregos.


A Campanha Cilícia

O primeiro desembarque ocorreu em 17 de novembro de 1918 em Mersin, com cerca de 15.000 homens, principalmente voluntários da Legião Armênia francesa, acompanhados por 150 oficiais Franceses. Os primeiros objetivos dessa força expedicionária eram ocupar portos e desmantelar a administração Otomana. Em 19 de novembro, Tarso foi ocupada para proteger o ambiente e preparar o estabelecimento do quartel general em Adana.

Depois da ocupação da Cilícia em fins de 1918, as tropas francesas ocuparam as províncias Otomanas de Antep, Marash e Urfa, no sul da Anatólia, no final de 1919, recebendo o controle das tropas britânicas, conforme combinado.

Nas regiões que ocupavam, os franceses encontraram resistência imediata dos turcos, especialmente porque se associaram aos objetivos Armênios. Os soldados franceses eram estrangeiros na região e usavam milícias armênias para adquirir informações, enquanto os cidadãos turcos tinham estado em cooperação com tribos árabes nesta área. Comparado com a ameaça grega, os franceses pareciam menos perigosos para Mustafa Kemal Pasha, que sugeriu que, se a ameaça grega pudesse ser superada, os franceses não resistiriam, especialmente porque queriam se estabelecer na Síria.

Voluntários armênios a serviço do Exército Francês
 
A resistência das forças turcas foi uma grande surpresa para os franceses. Estes culparam os britânicos por seu fracasso em conter o poder das forças de resistência locais. O objetivo estratégico de abrir uma frente sulista ao mover os armênios contra as forças nacionais turcas foi um fracasso, após a derrota das forças gregas no oeste.

Em 11 de fevereiro de 1920, após 22 dias da Batalha de Marash, as tropas de ocupação francesas, seguidas por membros da comunidade armênia local, viram-se forçadas a evacuar Marash em razão da resistência e ataques dos revolucionários turcos. A perda da cidade foi acompanhada por massacres em larga escala da população armênia, com milhares de vítimas. O membro da legião armênia francesa Sarkis Torossian registrou, em seu diário, que as forças francesas deram armas e munição aos Kemalistas para permitir que o Exército Francês se retirasse da Cilícia.  

Forças de milícia de Marash contribuíram ainda mais para o esforço de guerra, participando na recaptura de outros centros na região, forçando as forças francesas a recuar gradualmente, cidade por cidade.


O fim das Hostilidades - retirada e migrações

O Tratado de Paz da Cilícia entre a França e o Movimento Nacional Turco foi assinado em 9 de março de 1921. Ele pretendia acabar com a guerra Franco-Turca, mas não logrou êxito, sendo substituído, em outubro de 1921, pelo Tratado de Ancara, assinado por representantes dos franceses e turcos, assinado em 20 de outubro de 1921, e finalizado com o Armistício de Mudanya.

Medalha francesa concedida aos militares que participaram da Campanha da Cilícia

As forças francesas retiraram-se da zona de ocupação nos primeiros dias de 1922, cerca de dez meses antes do Armistício de Mudanya. A partir de 3 de janeiro, as tropas francesas evacuaram Mersin e Dörtyol. Dois dias mais tarde, deixaram Adana, Ceyhan e Tarso. A evacuação foi concluída em 7 de janeiro, com as últimas tropas deixando Osmaniye.

Miliciano turco
Nos estágios iniciais da Guerra Greco-Turca, tropas francesas e gregas cruzaram o Rio Meriç e ocuparam a cidade de Uzunköprü, no leste da Trácia, e a rota ferroviária de lá para a estação de Hadimkoy, perto de Çatalca, nos arredores de Constantinopla. Em setembro de 1922, no final daquela guerra, durante a retirada grega depois do avanço dos revolucionários turcos, as forças francesas retiraram-se de suas posições perto dos Dardanelos, mas os britânicos pareciam preparados para se manterem firmes. 

O governo britânico emitiu um pedido de apoio militar de suas colônias, mas este foi recusado, e os franceses, que deixaram os britânicos nos estreitos, sinalizaram que os Aliados não estavam dispostos a intervir em auxílio da Grécia. As tropas gregas e francesas retiraram-se para além do Rio Meriç.


Resultado da guerra

Juntamente com as outras potências aliadas, os franceses abandonaram o interesse pela população Armênia para apoiar a Turquia como um estado-tampão do expansionismo Bolchevique. A França teve melhores relações com os cidadãos turcos durante a Guerra da Independência Turca, principalmente por ter rompido a solidariedade com a Tríplice Entente e assinado um acordo separado com o Movimento Nacional Turco. As relações positivas Franco-Turcas foram mantidas. A política francesa de apoio ao movimento de independência da Turquia recuou durante a Conferência de Lausanne sobre a abolição das Capitulações do Império Otomano.

Objeções francesas durante as discussões sobre a abolição foram percebidas como contrárias à plena independência e soberania da Turquia.  A atitude positiva desenvolvida com o Tratado de Ancara permaneceu amigável, ainda que limitada.  As dívidas Otomanas foram perdoadas pela República da Turquia, em consonância com o Tratado de Lausanne.


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segunda-feira, 16 de setembro de 2019

IMAGEM DO DIA - 16/9/2019

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Tropas otomanas avançando durante a Guerra Russo-Turca de 1877


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sexta-feira, 21 de junho de 2019

IMAGEM DO DIA - 21/6/2019

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Tropas gregas defendem-se contra uma carga de cavalaria otomana durante a Batalha de Velestino, por ocasião da Guerra Turco-Grega de 1897 



segunda-feira, 3 de julho de 2017

IMAGEM DO DIA - 3/7/2017

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Um obuseiro do exército turco de 10,5 cm de fabricação alemã em 1917



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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

IMAGEM DO DIA - 02/01/2014

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O kaiser Guilherme II vestindo uniforme de marechal do Império Otomano por ocasião de sua visita a Constantinopla e a Galipoli, em outubro de 1917.


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sexta-feira, 5 de julho de 2013

ARMAS - OS CANHÕES OTOMANOS

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No século XV, época em que a artilharia era ainda incipiente, o canhão tornou-se numa das armas mais temíveis do império otomano.

Com efeito, a tomada de Constantinopla pelos Turcos em 1453 apenas foi possível graças ao uso intenso de canhões que destruíram as suas inexpugnáveis muralhas. Mas os turcos otomanos não possuíam tradições no uso de artilharia e, se não fosse um irónico episódio, aparentemente insignificante, talvez a História tivesse seguido outro rumo...

O canhão que veio a ser conhecido como Bombarda Turca, Basílica, Canhão Real ou Canhão de Mehmed foi na verdade trazido da Hungria. O seu inventor, um engenheiro de nome Orban, apresentou-o ao sultão Mehmed II após uma tentativa falhada junto do então imperador do Império Bizantino, Constantino XI, que a recusou. É esta a grande ironia da História.

Ao invés do seu adversário, o sultão viu naquele engenho grandes potencialidades e dispôs-se a financiar a construção de um protótipo. Deve dizer-se que o projecto era extremamente complexo e oneroso. Terá sido este último aspecto, aliás, que desinteressou Constantino. Durante meses, na cidade de Edirne, um exército de operários trabalhou sob a orientação de Orban, consumindo quantidades enormes de bronze e outras matérias primas necessárias à fundição das duas peças que compunham o canhão. Quando ficou pronto, o sultão pôde enfim contemplar o enorme monstro que tinha encomendado...

O grande canhão otomano pode ser visto com suas duas seções

Ligadas, as duas peças formavam um tubo cilíndrico com 5,20 m de comprimento - uma dimensão colossal para a época. O conjunto pesava cerca de 19 toneladas e possuía um calibre de 75 cm (o que quer dizer que podia disparar bolas de pedra com este diâmetro) pesando cerca de 600 Kg, a uma distância superior a 2 Km. Era necessário testá-lo e, primeiro, conseguir tirá-lo dali.

Com a ajuda de 60 bois e 400 homens, dos quais metade prepararam um piso capaz de suportar tamanho peso, o canhão foi deslocado até um local de testes. Aí, foi carregado com pólvora e uma enorme esfera de pedra que foi projetada a mais de 1500 metros e se enterrou no solo quase 2 metros! Pouco preciso mas de efeito devastador. Vários destes canhões foram então preparados e colocados em frente às muralhas de Constantinopla. Bastou algumas horas de fogo para que as defesas fossem literalmente desbaratadas e as tropas otomanas tomassem a mítica capital do Império bizantino.


Fonte: Obvious

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sábado, 11 de dezembro de 2010

IMAGEM DO DIA - 11/12/2010

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Durante a Guerra Ítalo-turca (1911-1912), tropas italianas marcham em direção a Trípoli


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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A QUEDA DE CONSTANTINOPLA (1453)

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Constantinopla era uma das cidades mais importantes do mundo.  Ela funcionava como uma parte para as rotas comerciais que ligavam a Ásia a Europa por terra, além de ser o principal porto nas rotas que vinham e iam entre o Mar mediterrâneo e o Mar Negro. O cisma entre as Igrejas Ortodoxa e Católica manteve Constantinopla distante das nações ocidentais. A ameaça turca fez com que o Imperador João VIII Paleólogo, promovesse um concílio em Ferrara, na Itália, onde as diferenças entre as duas igrejas foram resolvidas rapidamente.


Constantino XI e Maomé II

Com a morte de seu pai João VIII, Constantino assume o trono no ano seguinte. O novo imperador era uma pessoa popular, tendo lutado na resistência bizantina no Peloponeso frente ao exército otomano, no entanto,  seguia a linha de pensamento de seu pai na conciliação das duas igrejas, o que gerava desconfiança não só ao Sultão Murad II - que via tal acordo como uma ameaça de intervenção das potências ocidentais na resistência à sua expansão na Europa -, mas como também ao clero bizantino.

Constantino XI, o último imperador bizantino

Já no ano de 1451, Murad II morre, e seu jovem filho Maomé II faz sua sucessão e,.já no princípio de seu reinado, faz a promessa de não violar o território bizantino, o que fez aumentar ainda mais a confiança de Constantino. Sentindo-se seguro, no mesmo ano o imperador bizantino decidiu exigir o pagamento de uma anuidade para a manutenção de um prícipe otomano que era mantido como refém, em Constantinopla. Ultrajado com a exigência, Maomé II ordenou os preparativos para fazer um cerco total à capital binzantina.


Ataque turco

No dia 6 de abril de 1453 começa oficialmente o cerco à cidade bizantina, quando o grande canhão disparou o primeiro tiro em direção ao vale do Rio Lico. Até então considerada imbatível, em menos de uma semana  a muralha começou a ceder, tendo em vista que ela não foi construída para suportar ataques com canhões. O ataque otomano restrigiu-se apenas a uma frente, o que colaborou prara para que o tempo e a mão-de-obra dos bizantinos fossem suficientes para suportarem o cerco.

Constantinopla e suas defesas na época bizantina

Os turcos evitaram o atque pela costa, tendo em vista que, deste lado, as muralhas eram reforçadas por torres com canhões, o que poderia trazer grandes dificuldades à sua frota. No início do assédio, porém, os bizantinos obtiveram duas vitórias animadoras. No dia 20 de abril os bizantinos avistaram os navios enviados pelo Papa, juntamente com outro navio grego com grãos da Sicília, as embarcações chegaram com êxito ao Corno de Ouro.

Já no dia 22 de abril, o Sultão aplicou um golpe ardiloso nas defesas bizantinas. Impedidos de cruzar a corrente que fechava o Corno de Ouro, o Sultão mandou que contruíssem uma estrada de rolagem ao norte de Pera, por onde os seus navios podessem ser puxados por terra, contornando a barreira.

Com os navios colocados em uma nova frente, os bizantinos logo não teriam soluções para reparar suas muralhas. Sem opção, os bizantinos se viram coagidos a contra-atacar, então, no dia 28 de abril, arriscaram um ataque surpresa aos turcos no Corno de Ouro que, no entanto, não logrou êxito.


O último ataque

No dia 28 de maio as tropas receberam ordens de Maomé II para descansarem e realizarem o ataque final no dia seguinte. Após dois meses de intenso combate, pela primeira vez não se ouviu o barulho dos canhões e das tropas em movimento.

Artilheiros otomanos posicionam um grande canhão diante das muralhas de Constantinopla


Para tentar levantar o moral para o momento decisivo, todas as igrejas de Constantinopla tocaram seus sinos durante todo o dia. Na madrugada do dia 29 de maio de 1453, Maomé II concentrou um ataque concentrado no vale do Lico.

Por aproximadamente duas horas os soldados bizantinos sob o comando de Giustiniani conseguiram resistir ao ataque, mas as tropas já estavam cansadas, e teriam ainda que enfrentar o exército regular de 80 mil turcos.

Um grande canhão conseguiu abrir uma brecha na muralha, pela qual os turcos concentraram o ataque. Tendo chegado a esse ponto, Constantino em pessoa coordenou uma cadeia humana que manteve os turcos ocupados enquanto a muralha era consertada.

Após uma hora de combate intenso, os janízaros, que escalavam a muralha com escadas, ainda não haviam conseguido entrar na cidade. Preocupados com os ataques no Lico, os bizantinos cometeram o erro de deixar o portão da muralha noroeste semi-aberto.


A muralha exterior de Constantinopla sucumbe diante dos canhões otomanos

Com isso, um destacamento otomano conseguiu por ali invadir o espaço entre as muralhas interna e externa. Com o comandante Giustiniani ferido e levado para o navio, os soldados gregos ficaram sem liderança, lutaram desordenadamente contra os disciplinados turcos. Tem-se como momento final quando o Imperador Constantino XI levantou sua espada e partiu para o combate, onde nunca mais foi visto, resultando na queda de Constantinopla.


De acordo com a periodização da História mais corrente no Ocidente, a queda de Constantinopla marcou o fim da Idade Média e o início da Era Moderna.


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domingo, 6 de junho de 2010

IMAGEM DO DIA - 06/06/2010

Durante a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), soldados turcos recebem instrução para manejarem uma metralhadora Maxim, de fabricação alemã. 


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quinta-feira, 5 de março de 2009

OS JANÍZAROS OTOMANOS



Os janízaros constituíram a elite do exército dos sultões otomanos. A força, criada pelo sultão Murad I, era constituída de crianças cristãs capturadas em batalha, levadas como escravas e convertidas ao Islã. 


Os janízaros (do turco Yeni Tcheri, ou "Nova Força") constituíam a elite do exército dos sultões otomanos. A força foi criada pelo Sultão Murad I, por volta do ano de 1330, e era formada por crianças não muçulmanas - geralmente cristãs - capturadas em batalha, levadas como escravas e convertidas ao Islã.

Os jovens eram educados de acordo com a Lei islâmica e na língua turca, ao mesmo tempo em que aprendiam a manejar armas e eram instruídos na arte da guerra. Os jovens cresciam tendo o próprio Sultão como uma figura paterna, a quem estariam dispostos a defender até a morte, mesmo contra seu próprio povo de origem.
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A justificativa para a adoção de um corpo de soldados convertidos, ao invés de turcos nativos, era que os turcos deviam lealdade ao seu povo e às suas famílias, e poderiam se tornar rebeldes em caso de uma ação do Sultão contra outros turcos. Já os jovens cristãos deviam lealdade apenas ao Sultão, e por ele lutariam contra qualquer inimigo que se apresentasse.

Apesar do Império Otomano ter adotado oficialmente o islamismo sunita, os janízaros eram adeptos de uma ordem chamada bektashi, em alusão ao seu criador, Hajji Bektash, que reunia elementos muçulmanos e cristãos, permitia o consumo de bebidas alcoólicas e a participação de mulheres sem véus. Quando em serviço, no entanto, eram rigorosamente disciplinados e proibidos de se casar. Os janízaros tinham o hábito de levar consigo símbolos ou citações cristãs para a batalha, com o consentimento de seus superiores.

Assim, tornou-se uma prática comum nas campanhas empreendidas pelos otomanos na Europa capturar meninos nas cidades conquistadas e levá-los para os centros de treinamento turcos. Quando não estavam em guerra, os sultões exigiam de seus estados vassalos cristãos nos Bálcãs uma remessa de jovens para compor o corpo de janízaros, prática conhecida como “imposto de sangue”.


Janízaros combatendo cavaleiros hospitalares em Rhodes, 1522

Organização

O Corpo de Janízaros era organizado em ortas, uma espécie de batalhão, comandadas pelos çorbaci. Quando reunidas todas as ortas, o Corpo era constituído sob a denominação de ocak (em tradução literal, "coração"). O Sultão Suleiman I, por exemplo, possuía 165 ortas.
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Embora o sultão fosse o comandante nominal de todo o exército otomano, inclusive dos janízaros, estes eram comandados em batalha por um oficial denominado ağa. Em combate, a organização padrão do Corpo de Janízaros era a seguinte:

- os cemaat, constituindo a força de choque principal com 101 ortas;
- os beyliks (ou beuluks), com 61 ortas, desempenhavam a tarefa de guarda pessoal do sultão
- os sekban (ou seirnen), reunidos como reserva e contando com 34 ortas.

Além desse efetivo, o Corpo possuía 34 ortas de ajemi (cadetes), que permaneciam em constante treinamento.

Os janízaros eram normalmente promovidos por antiguidade dentro de suas próprias ortas, das quais somente podiam sair no caso de serem nomeados para o comando de outra unidade. Cada orta era identificada por um símbolo comum, como uma flor ou um peixe.

A hierarquia dos janízaros era estruturada de maneira bastante curiosa. Quando em acampamento, cada unidade se reunia em torno de um caldeirão de cobre onde seu alimento era preparado, do qual decorria uma forte simbologia com base na comida. Chamavam seus coronéis de "fazedor de sopa-chefe", oficiais-intendentes eram "cozinheiros-chefes", e assim por diante.

Os caldeirões eram conduzidos para as batalhas e, se fossem perdidos, toda a unidade era dispensada e impedida de combater. A disciplina era extremamente severa, mas o soldado janízaro somente podia ser punido por seu próprio comandante superior.

O efetivo das tropas de janízaros variou conforme a época, desde cem homens até a impressionante cifra de 200 mil soldados. De acordo com Nicolle, no século XIV havia cerca de 1.000 janízaros e, por volta de 1475, o efetivo era estimado em 6.000 soldados. No século XVIII, por sua vez, o Corpo de Janízaros compreendia mais de 113 mil homens.


Armamento e equipamento

Inicialmente, os janízaros eram especialistas no uso do arco composto, porém, tão logo as armas de fogo foram introduzidas, por volta de 1440, logo passaram a empregá-las. Por ocasião do cerco de Viena, em 1529, os engenheiros janízaros ganharam notoriedade, realizando tarefas de sapa e trabalhos de minagem. No combate aproximado empregavam sabres otomanos e machados de guerra. Em tempos de paz, os janízaros podiam portar somente uma adaga, exceto quando em serviço nas regiões fronteiriças do império, onde eram autorizados a portar armas de fogo.


Sabre utilizado pelos janízaros

No início do século XVI os janízaros utilizavam mosquetes pesados e armamento coletivo, em especial a chamada “arma de trincheira”, que disparava um projétil esférico de 80 mm e era especialmente temida por seus inimigos. Outros armamentos bastante empregados eram as granadas e os primitivos canhões portáteis. A partir da Guerra de Creta (1645-1669), os soldados começaram a utilizar pistolas para autodefesa em curtas distâncias.

Os janízaros eram muito bem equipados. Utilizavam uma armadura, por sobre a veste de combate, que lhes conferia boa proteção e mobilidade em combate. Tinham costume era raspar a cabeça, deixando um rabo de cavalo com um tufo de cabelo no topo e utilizavam um chapéu de feltro alto (Zarcolas) com o objetivo de parecerem mais altos e intimidarem seus oponentes.


Decadência

Os janízaros permaneceram por muito tempo como a elite do exército turco, entrando em batalha em momentos decisivos ou apenas como último recurso para garantir a segurança do Sultão. Ao longo de sua existência, participaram de praticamente todas as campanhas militares do Império Otomano, inclusive a tomada de Constantinopla (1453), a vitória sobre os mamelucos egípcios e as guerras contra a Hungria e a Áustria. Nessas oportunidades, demonstraram ser grandes soldados e bravos guerreiros.

No decorrer do século XIX, contudo, os janízaros entraram em franca decadência, em parte porque o recrutamento de jovens cristãos tornava-se cada vez mais difícil diante da oposição de potências igualmente fortes militarmente, como Reino Unido e França, e também devido à progressiva retração territorial do Império Otomano na Europa.

Os janízaros angariaram grande prestígio e prosperaram economicamente, o que os levou a se rebelarem algumas vezes em busca de poder no Império. Em 1807 os janízaros depuseram o Sultão Selim III, que tentava reorganizar o exército otomano segundo o modelo dos exércitos europeus, e colocaram em seu lugar Mahmud II. Em 1826, temendo ser também derrubado pelos janízaros, o Sultão Mahmud II também determinou a reorganização de seu exército nos moldes europeus, o que gerou nova rebelião dos janízaros. Mahmud II lançou, então, as demais tropas do exército contra o Corpo de Janízaros e conseguiu sufocar a revolta. Nesses combates os janízaros tiveram cerca de 4.000 baixas, seus remanescentes foram executados ou exilados e suas terras confiscadas pelo sultão. Os janízaros foram abolidos como força militar e, desde então, até o final do Império em 1922, uns poucos janízaros permaneceram como uma guarda pessoal simbólica do Sultão.


Janízaro turco da guarda pessoal do Sultão em 1914

Atualmente a banda de música do Exército Turco é a herdeira da tradição dos janízaros, apresentando-se nas cerimônias com seu uniforme e executando marchas e músicas compostas na época de sua existência.


Bibliografia

- GOODWIN, Godfrey. The Janissaries. London: Saqi Books, 2001

GOODWIN, Jason. Lords of the Horizons: A History of the Ottoman Empire. New York: H. Holt, 1998.

- KINROSS, Patrick. The Ottoman Centuries: The Rise and Fall of the Turkish Empire. London: Perennial, 1977.

- NICOLLE, David. The Janissaries. London: Osprey Publishing, 1995.

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