"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

EXPOSIÇÃO EVOCA CÁNDIDO LÓPEZ, O PINTOR MANETA DA GUERRA DO PARAGUAI

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Um panorama das obras pertencentes ao acervo do Museu Histórico Nacional da Argentina está exposto a partir de hoje nas salas do Parque Lezama

Por Daniel Gigena
 
 
A partir de hoje, a exposição Panorama Cándido pode ser visitada pessoalmente, com a coleção completa de pinturas de Cándido López (1840-1902) pertencentes ao Museu Histórico Nacional (MHN) argentino. As imagens do artista de um braço só serão exibidas ao lado de objetos da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), na qual Argentina, Brasil e Uruguai lutaram contra o Paraguai. O MHN é o museu nacional com maior número de obras de López, o pintor tenente que perdeu a mão direita na sangrenta batalha de Curupaiti e reeducou a esquerda para representar episódios de guerra. O roteiro da exposição ficou a cargo da equipe do museu, que desde 2020 é dirigida pelo historiador, pesquisador e professor Gabriel Di Meglio.

"O trabalho de Cándido López pode ser abordado de diferentes lugares", disse Di Meglio. "Optamos por ordená-los de acordo com as descrições que ele fez: os acampamentos militares, os movimentos de tropas, as batalhas, os momentos de lazer dos soldados e, por fim, um muro com várias obras”. O diretor do museu destaca que a exposição foi pensada para valorizar a obra do artista a partir do momento histórico em que ele foi protagonista.

Panorama Cándido procura contextualizar o pintor, explora as histórias de oficiais e soldados, o papel desempenhado pelas mulheres, as razões dos adversários da guerra e os estragos que esta deixou na sua esteira. Por outro lado, destaca Di Meglio, “a Guerra da Tríplice Aliança foi a primeira guerra fotografada na América do Sul”; A exposição inclui diversos retratos de soldados e cenas da queda de Humaitá, a maior fortaleza paraguaia. 
 
Em 1862, Cándido López posa com um quadro de Bartolomé Mitre, em Mercedes 
 

Anos depois do fim da guerra, em 1885, Cándido López expôs vinte e nove pinturas a óleo no Clube Gimnasia y Esgrima, com grande sucesso. “Embora muitas pessoas não achem interessante do ponto de vista artístico”, diz Di Meglio. A obra foi muito apreciada pelo próprio Bartolomé Mitre, com quem se correspondeu o pintor e ex-soldado de armas. “Suas pinturas são verdadeiros documentos históricos por sua fidelidade gráfica e contribuirão para preservar a memória gloriosa dos eventos que representam”, escreveu Mitre.

O Estado argentino comprou toda a obra do "maneta de Curupaiti" (que estava na pobreza) e, após sua morte, a família López doou algumas outras. “Essa compra era muito rara na época e até hoje”, diz o diretor do MHN. São quatro pinturas de López no Museu e Biblioteca Casa del Acordo em San Nicolás, de onde partiu com o Batalhão de Voluntários nº 17, no Museu Nacional de Belas Artes (além de esboços e desenhos) e trinta e duas no MHN. 
 
"Desembarque do Exército Argentino em frente às trincheiras de Curuzú, em 12 de setembro de 1866" 
 

O MHN possui o maior acervo do artista e a exposição é voltada para mostrá-lo na íntegra: trinta e duas pinturas dedicadas a episódios da Guerra da Tríplice Aliança. Existem batalhas, movimentos de soldados e outras cenas. O trabalho é magnífico e ver tudo junto é impressionante”, afirma Di Meglio. Além das pinturas a óleo nos tamanhos habituais de López (paisagem e 40 x 105 cm, aproximadamente), será exibida uma excepcionalmente grande, onde está representada a Batalha do Boquerón, da qual também participou. A intenção do artista era narrar a guerra por meio de noventa pinturas de batalha; ele fez cinquenta e oito. Nas contas do museu no Facebook, Twitter e Instagram, os fãs da arte argentina são convidados a apreciar as obras do Panorama Cándido.

Na exposição é possível ver parte do acervo de objetos ligados à guerra, que muitos ex-combatentes ou seus familiares doaram ao MHN. “Por isso decidimos contextualizar o trabalho de López, que trata da guerra, com informações sobre o conflito e objetos muito interessantes, como as armas utilizadas, desde sabres a morteiros para lançar sinais; um baú que pertencia a Eliza Lynch, esposa do presidente paraguaio Francisco Solano López; a cocar paraguaia com que Solano López condecorou as paraguaias que arrecadaram dinheiro; a espada do coronel Manuel Rosetti (que morreu no conflito), e outros objetos dos exércitos que intervieram na guerra”. Há também um setor dedicado aos líderes da guerra, outro aos que se opuseram ao conflito (como Juan Bautista Alberdi, Olegario Andrade e Carlos Guido y Spano).
 
"Acampamento em 16 de novembro de 1865. Passagem do rio Batel, província de Corrientes
 

O público verá a obra de Cándido López e poderá conhecer a guerra em que lutou”, resume o diretor do museu. Sua vida está ligada a essa guerra. Foi um jovem artista que fez daguerreótipos nas cidades da província de Buenos Aires e se alistou como voluntário quando o Paraguai invadiu a província de Corrientes”. Após a aquisição de suas pinturas a óleo pelo Estado, ele se tornou o único cronista visual da guerra. 

Fonte: La Nacion
 
 

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