"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



segunda-feira, 23 de julho de 2018

A BATALHA DE NEERWINDEN (1793)

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A Batalha de Neerwinden, travada a 18 de Março de 1793, nos Países Baixos Austríacos, opôs um exército austríaco (reforçado com alguns batalhões holandeses), sob comando do Príncipe Josias de Coburg, ao exército da França revolucionária, sob o comando do General Dumouriez. A batalha resultou numa vitória austríaca que permitiu passar à ofensiva e expulsar os Franceses (temporariamente) dos Países Baixos.


Antecedentes

Após as batalhas de Valmy (20 de setembro de 1792) e de Jemappes (6 de novembro de 1792), os franceses invadiram os Países Baixos austríacos que ocuparam sem dificuldade. No ano seguinte, após a execução de Luís XVI (21 de janeiro de 1793), o governo francês não se iludiu relativamente a uma reação das potências europeias e decidiu antecipar-se tomando a iniciativa. O General Dumouriez, comandante do Exército do Norte, recebeu ordens para marchar sobre as Províncias Unidas. Inicialmente esta invasão correu bem. Foram atacadas e capturadas algumas fortalezas perto da costa e o General Miranda iniciou o cerco de Maastricht. No entanto, um exército austríaco sob o comando do Príncipe de Saxe-Coburg lançou um contra-ataque e derrotou os Franceses em Aldenhoven (1 de março) e em Aix-la-Chapelle (2 de março), salvando Maastricht. Dumouriez deixou as suas forças a Norte, nas Províncias Unidas, e dirigiu-se para a Bélgica onde assumiu o comando do Exército das Ardenas (Louvan, 13 de março).

Ao assumir o comando do Exército das Ardenas, temendo que os austríacos recebessem mais reforços, Dumouriez decidiu lançar de imediato uma operação ofensiva. Após uma série de pequenos combates ao longo da estrada entre Liège e Bruxelas, Saxe-Coburg ocupou uma posição defensiva com o centro à volta da vila de Neerwinden.


O campo de batalha

Neerwinden é uma vila na província belga de Liège. É atualmente parte do município de Landen. O terreno é muito plano. Os pontos mais elevados de onde se pode visualizar o campo de batalha são, na realidade, elevações muito suaves, poucos metros acima do terreno circundante. O principal curso de água na região é o Kleine Gete, rio que nasce em Ramillies e é afluente do Grote Gete. O rio passa a Oeste de Neerwinden, a uma distância de aproximadamente 5 km. Entre Neerwinden e Oberwinden, mais a Sul, o terreno é ligeiramente mais elevado, formando a colina de Mittelwinden.


As forças em presença

As forças francesas presentes na batalha pertenciam ao Exército das Ardenas. Este exército tinha sido criado por decreto da Convenção e foi formado com forças retiradas ao Exército do Norte. O comandante deste último era o General Dumouriez, que assumiu o comando do Exército das Ardenas entre 11 de março e 4 de abril, data em que desertou para o campo austríaco.

Charles-François du Périer Dumouriez, comandante das forças francesas.

Não se conhecem com exatidão os efetivos franceses. Sabe-se que se situavam entre os 40.000 e os 45.000 homens. As forças estavam organizadas da seguinte forma:
- Guarda avançada, sob comando do General de Divisão La Marche, com cerca de 4.000 homens de infantaria e 1.000 de cavalaria;
- Ala direita, com cerca de 10.000 homens, sendo 1.000 de cavalaria, sob comando dos generais Valence, Neuilly, Veneur e Dampiérre;
- Centro, sob comando do General Égalité, como era conhecido o duque de Chartres, com cerca de 8.000 homens sendo 1.000 de cavalaria;
- Ala esquerda, sob comando do General Miranda, com 16.000 homens, sendo 2.000 de cavalaria.

As forças austríacas encontravam-se sob o comando do Príncipe Josias de Coburg e eram constituídas por cerca de 43.000 homens. Entre estas forças encontravam-se seis batalhões de infantaria das Províncias Unidas.

Frederick Josias de Saxe-Coburg-Saalfeld, comandante das forças austríacas.


A batalha
As forças austríacas foram colocadas numa linha virada para ocidente, com o seu flanco direiro sobre a estrada que ligava Tirlemont (a actual Tienen) a Maastricht e o flanco esquerdo na região de Oberwinden. No centro do dispositivo ficava a povoação de Neerwinden. A esquerda deste dispositivo encontrava-se sob comando do Arquiduque Carlos, enquanto a direita era comandada por Charles Joseph de Croix, conde de Clerfait.

Dumouriez assumiu que os Austríacos eram mais fortes na sua ala direita, onde defendiam a sua linha de comunicações. Partindo desta suposição, decidiu atacar em força a esquerda austríaca.

O exército francês foi dividido em oito colunas. À direita, as três primeiras colunas, sob comando do General Valence, iriam flanquear Oberwinden, atacar a vila e a colina de Mittelwinden. Ao centro, o duque de Chartres, com duas colunas, iria atacar Neerwinden. À esquerda, o General Miranda, com três colunas, teria de capturar Leau, e apoderar-se da estrada Tirlemont – Maastricht.


Na direita francesa, pelas 07:00h, as tropas atravessaram de surpresa o rio Kleine Gete e atacaram. No entanto, Valence não conseguiu capturar Mittelwinden antes do meio dia. Neerwinden foi capturada e perdida duas vezes. De igual forma, Oberwinden foi capturada pelas tropas francesas para depois ser recapturada por Clairfait. As tropas francesas, perante os ataques da cavalaria austríaca, ainda foram obrigadas a ceder outras áreas que já tinham ocupado. Dumouriez fez avançar todas as suas forças da ala direita mas sem obter sucesso. Ao fim do dia, a ala esquerda austríaca encontrava-se mais ou menos nas mesmas posições que ocupava no início dos combates.

Na ala esquerda francesa, o General Miranda começou por conquistar a vila de Doormaal com a sua primeira coluna mas as suas forças foram obrigadas a abandonar as posições conquistadas devido a uma série de contra-ataques efetuados pelas tropas austríacas. A segunda coluna não conseguiu penetrar as posições inimigas e a terceira coluna, que atacou Léau, fracassou igualmente. Suas forças viram-se obrigadas a recuar e a atravessaram novamente o Kleine Gete para depois se dirigirem para Tirlemont.

Para se ter uma ideia da violência dos combates, pode-se recorrer a uma carta do General Miranda, datada de 21 de março, em que ele conta que sofreu cerca de 2.000 mortos e feridos, entre eles um oficial general e trinta outros oficiais. Ao todo, os franceses perderam cerca de 4.000 homens, mortos ou feridos, incluindo cinco generais, 1.000 desaparecidos ou capturados e 30 bocas de fogo de artilharia. Os austríacos, por seu lado, tiveram entre mortos, feridos e desaparecidos, 93 oficiais e 2.762 praças. Também perderam um elevado número (779) de cavalos. Após esta batalha, cerca de 6.000 franceses desertaram para o lado austríaco.


Consequências

A conduta de Dumouriez foi muito criticada. A 21 de março sofreu mais uma derrota num combate sem grande importância. Depois disso entrou em negociações com os austríacos. Com isso conseguiu retirar o seu exército para ocidente de Bruxelas sem ser molestado e desta forma preservou as suas tropas. No entanto viviam-se tempos agitados e este recuo despoletou ainda mais críticas por parte das forças radicais em Paris. Sentindo que não podia contar com o apoio dos seus homens, Dumouriez desertou para o campo austríaco a 5 de abril.

Fontes:
- CHANDLER, David G. Dictionary of the Napoleonic Wars. New York: Macmillan Publishing, 1979.
- DUPUY, Richard Ernest; DUPUY, Trevor Nevitt, The Encyclopedia of Military History. New York: Harper & Row, Publishers, 1986.
- RICKARD, J. Battle of Neerwinden, 18 March 1793,  Disponível em http://www.historyofwar.org/articles/battles_neerwinden_1793.html
- SMITH, Gigby, The Greenhill Napoleonic Wars Data Book. Londres: Greenhill Books, 1998.


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