No
dia 30 de maio de 1635 foi assinado o Acordo de Paz de Praga, que deveria
encerrar a terceira fase da Guerra dos Trinta Anos. O acordo, entretanto, não
vingou.
Por
Catrin Möderler
Por
volta de 1630, circulou em Nuremberg um panfleto em forma de cantiga medieval
que dizia mais ou menos o seguinte:
"Assustou-nos que chegue a guerra em
nossa cama. Façam com que, de imediato, nos acorde o galo e não o trompete
assassino. Em vez de batalhas, queremos a dança da alegria; em vez de louros,
uma coroa de folhas de oliveira. E que todos possam dormir seguros".
Início:
conflito religioso na Boêmia
A
Europa Central já não suportava mais sua primeira grande guerra. Os confrontos
acirravam-se havia 12 anos, com períodos de lutas ferozes, seguidos por fases
de relativo apaziguamento.
A
chamada Guerra dos Trinta Anos começara em 1618 como conflito religioso entre
católicos e protestantes na Boêmia, e adquirira caráter político em torno das
contradições entre Estados territoriais e principados. Envolveu a Alemanha,
Áustria, Hungria, Espanha, Holanda, Dinamarca, França e Suécia.
O
conflito eclodiu quando grupos protestantes boêmios rebelaram-se contra o imperador
e, de modo ostensivo, construíram uma igreja evangélica num reduto católico.
Eles invadiram a fortaleza Hradschin, em Praga, e assassinaram dois altos
funcionários da corte que os haviam preterido. Na
época, Fernando II, Imperador do Sacro Império Romano de Nação Germânica, era
também rei da Boêmia. Os rebeldes negaram-lhe esse título e entronizaram o
príncipe eleitor calvinista Frederico do Palatinado.
Recém-coroado,
Fernando II – monarca católico da casa dos Habsburgo, que permaneceu no poder
de 1619 a 1637 – reagiu energicamente. Mandou à Boêmia as tropas de seu aliado,
o duque Maximiliano da Baviera. Na primeira batalha da Guerra dos Trinta Anos,
Maximiliano conseguiu controlar rapidamente os revoltosos boêmios. Ferdinando
do Palatinado teve de fugir depois de uma breve regência que lhe rendeu o
apelido de "Rei do Inverno".
Em
Praga, o imperador vingou-se dos revoltosos com a execução pública de 27
nobres, líderes do levante. Para reprimir a insatisfação popular, enviou para a
Boêmia tropas comandadas por Albrecht von Wallenstein, um comandante sedento de
guerra.
Outros
países entram no conflito
Na
década de 1620, Wallenstein parecia estar a caminho de impor a paz na Boêmia.
Foi aí que outros países europeus entraram no conflito. Os holandeses invadiram
a Renânia para enfrentar os exércitos da Espanha e dos Habsburgo, comandados
pelo poderoso general Spinosa. Em 1626, uma força dinamarquesa comandada pelo
monarca Cristiano IV invadiu a Alemanha pelo norte, para apoiar os protestantes
germânicos.
Albrecht von Wallenstein
Albrecht
von Wallenstein ofereceu-se a Fernando II para expulsar os dinamarqueses com um
exército organizado por conta própria – e teve sucesso. Como compensação,
tornou-se príncipe imperial. Durante um breve período, Wallenstein foi o homem
mais poderoso da Alemanha.
Mas
essa rápida acumulação de poder em suas mãos apenas provocou os muitos inimigos
da casa de Habsburgo, levando-os a lutar com mais empenho. Os príncipes
germânicos logo depuseram Wallenstein do trono.
Assassinato
de Wallenstein
Em
1630, o exército do influente rei sueco Gustavo Adolfo II (1611–1632),
protestante, invadiu o norte da Alemanha e avançou para a Renânia e a Baviera
no ano seguinte. Wallenstein foi novamente chamado para defender o território
alemão, mas não conseguiu vencer as tropas de Gustavo Adolfo.
Ele
acabou fechando um acordo de paz duvidoso, o que lhe rendeu a suspeita de alta
traição à pátria. Por ordem do imperador Fernando II, Wallenstein foi
assassinado por oficiais que ele próprio comandava.
Tropas suecas sitiam Colônia, na Alemanha, em 1632
Com
a morte de Wallenstein, Fernando II reconquistou o controle sobre o Exército e
conseguiu expulsar os suecos da Alemanha. Em consequência, os protestantes
alemães passaram a procurar soluções pacíficas para o conflito, o que culminou
no chamado Acordo de Paz de Praga, de 30 de maio de 1635.
Esse
acordo, porém, foi de pouca duração. A França e a Espanha intervieram no
conflito, desencadeando mais uma série de lutas, que só terminou em 1648, com a
Paz de Vestfália, na qual foi reconhecida a liberdade religiosa dos calvinistas
e dos demais protestantes.
A
Guerra dos Trinta Anos reforçou o processo de fracionamento do território
alemão. Em 1648, a Alemanha compunha-se de 300 principados soberanos, sem
qualquer sentimento nacional comum. A Paz de Vestfália finalmente trouxe
tranquilidade para a Alemanha.
Segundo
Paul Kennedy, autor de Ascensão e Queda das Grandes Potências, a essência da
solução de Vestfália foi o reconhecimento do equilíbrio religioso e político
dentro do Sacro Império Romano de Nação Germânica, confirmando dessa forma as
limitações da autoridade imperial.
Fonte: DW
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