"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sexta-feira, 14 de setembro de 2012

ARMAS – FUZIL BAKER, O MATADOR DE GENERAIS

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Os estados germânicos eram especialmente eficientes na elaboração de tecnologias e táticas de emprego de fuzis.  Pequenas unidades de caçadores prussianos (Jägers) entraram em ação em 1740, empregadas em missões de emboscada, reconhecimento e tiro de precisão.  O fuzil clássico dos caçadores – Jäger Rifle - possuía calibre aproximado de 0,75 polegada, comprimento do cano de 762 a 814 mm e uma coronha curta para absorver o impacto do tiro contra o ombro do atirador.


Atiradores de elite e marcadores

Por intermédio de imigrantes alemães e suíços, os fuzis de caçadores influenciaram o desenvolvimento dos fuzis nos EUA.  Os fuzis “Kentucky” e “Pensylvania” utilizavam como base o mesmo projeto do fuzil de caçadores, mas em escala menor, com calibres entre 0,40 e 0,54 polegada.  Nas mãos de atiradores de elite norte-americanos, que utilizavam táticas de camuflagem e de tiro não convencionais, estes fuzis infligiram baixas terríveis às forças britânicas durante a Guerra de Independência dos EUA (1775-1783), particularmente entre os oficiais.  Os fuzis eram capazes de acertar e neutralizar um homem a 350 metros e seu efeito na cadeia de comando e controle inimiga costumava ser profundo.  Durante a batalha de Freeman’s Farm, por exemplo, travada em 19 de setembro de 1777, um atirador de elite americano atingiu e matou o general Simon Fraser, provocando a retirada das tropas britânicas.



Lições aprendidas

Enquanto muitos oficiais britânicos perdiam tempo criticando o comportamento “não adequado” de soldados comuns matarem cavalheiros oficiais, as lições não foram desperdiçadas por outros.  A capacidade do fuzil nas emboscadas foi ratificada quando versões francesas entraram em serviço nas primeiras batalhas das Guerras Revolucionárias francesas.  Uma pequena quantidade de soldados britânicos foi equipada no final da década de 1770 com fuzis Ferguson, mas demoraria até o início do próximo século para que o Exército Britânico passasse a dispor de unidades de fuzileiros em maior quantidade.

Soldados do 95º Regimento de Fuzileiros britânico disparando seus fuzis Baker durante as Guerras Napoleônicas

Em 1798 o Escritório de Material Bélico britânico começou a buscar alternativas ao fuzil Ferguson, extremamente caro para os padrões da época.  O fuzil Jäger foi a escolha natural e aproximadamente 5.000 exemplares foram distribuídos a várias unidades de infantaria ligeira.  No ano seguinte, o armeiro Ezekiel Baker recebeu a incumbência de desenvolver um novo fuzil, baseado no modelo Jäger, mas adaptado para uso britânico.  O resultado foi lendário fuzil Baker, adotado para o serviço em 1800, e distribuído, inicialmente, ao 95º Regimento de Fuzileiros.  Inicialmente produzido com calibre 0,7 polegada, a maior quantidade produzida foi de calibre menor - 0,62 polegada – com um cano que possuía 7 raias.  Seu comprimento total (1,156 m) era menor do que o do mosquete Brown Bess, anteriormente adotado pelo Exército Britânico, o que fazia do fuzil Baker uma arma de excepcional desempenho para uso em emboscadas por atiradores camuflados.

O fuzil Baker com seus acessórios


 O fuzil Baker era, sob muitos aspectos, diferente dos modelos anteriores.  Sua importância, no entanto, deve-se ao fato de auxiliar o Exército Britânico na transição da tática do tiro emassado em linha para a do fogo e movimento.  O 95º Regimento era conhecido pelo uso inteligente do terreno e pela habilidade de seus atiradores atingirem alvos em alcances superiores a 180 metros, em especial, oficiais, sargentos, tambores e artilheiros inimigos.

Durante a retirada da Coruña, no inverno de 1808-1809, os fuzileiros britânicos foram empregados para resguardar a retaguarda dos freqüentes ataques da cavalaria francesa que os perseguia.  Em 3 de janeiro de 1809, o fuzileiro Thomas Plunkett ocupou uma posição elevada e, com seu fuzil Baker, atingiu o general Auguste-Marie François Colbert, comandante da cavalaria francesa, matando-o.  A morte do general desorganizou os franceses e permitiu o retraimento em segurança das tropas britânicas.


O fuzileiro Thomas Plunkett dispara seu fuzil Baker, matando o General francês Colbert, em 3 de janeiro de 1809 na Espanha


As lições aprendidas pelo 95º foram aproveitadas por todo o exército, mas, com a introdução do cartucho (estojo + carga + projétil) e de processos de fabricação mais baratos no final do século XIX, o fuzil Baker tornou-se obsoleto.  Como legado, ficou a certeza de que, na era do fuzil, o soldado que se expunha em combate era um homem morto.


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2 comentários:

  1. Muito bom o artigo, gostaria de saber de onde foi retirada a gravura do soldado Plunkett atirando.

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    1. http://www.napoleon-series.org/research/biographies/c_plunkett.html

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