"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



domingo, 8 de maio de 2011

A CARGA DA BRIGADA LIGEIRA





A Carga da Brigada Ligeira foi uma desastrosa ação de cavalaria, dirigida por Lord Cardigan no decorrer da Batalha de Balaclava, em 25 de outubro de 1854, durante a Guerra da Crimeia. Passou para a História como tema do célebre poema The Charge of The Light Brigade, de Alfred Tennyson, cujos versos dizem "Não há nenhuma razão / só há que agir e morrer", fazendo desta carga um símbolo do absurdo da guerra.


Acontecimentos

A carga é considerada como um dos episódios mais heróicos ou mais desastrosos de toda a história militar britânica. Lord James Cardigan realiza uma carga de cavalaria da Brigada Ligeira contra a bem defendida artilharia russa durante a Guerra da Crimeia. Os britânicos combatiam na Batalha de Balaclava quando Cardigan recebeu a ordem de atacar os russos, comandados por Pavel Liprandi. A cavalaria britânica carregou sobre os inimigos sem hesitar, mas foi dizimada pela artilharia russa, sofrendo 40% de baixas em poucos minutos. Posteriormente, soube-se que a ordem foi o resultado de um erro (uma ordem que não foi dada intencionalmente). Lord Cardigan, que sobreviveu à carga, foi considerado um herói nacional na Grã-Bretanha.

Os protagonistas do desastre: Lordes Raglan (a esquerda) e Cardigan


A Brigada Ligeira era formada pelos 4º e 13º Regimentos de Dragões Ligeiros, pelo 17º Regimento de Lanceiros, e pelos 8º e 11º Regimentos de Hussardos, sob as ordens do general Lord Cardigan. Carregaram junto com a Brigada Pesada, formada pelo 4º Regimento de Dragões Irlandeses da Guarda, pelo 5º Regimento de Dragões da Guarda, pelo 6º Regimento de Dragões de Inniskilling e pelo Regimento Scots Greys. Estas unidades eram as principais forças de cavalaria britânicas no campo de batalha. O comando da cavalaria recaía em Lord Lucan.

Lucan recebeu uma ordem do comandante-chefe do exército, Lord Raglan, indicando que «Lord Raglan deseja que a cavalaria avance rapidamente para diante, persiga o inimigo, e tente impedir que retire os seus canhões. A artilharia montada pode acompanhá-la. A cavalaria francesa encontra-se à sua direita. Imediatamente.». Quem levava a ordem era o capitão Nolan, que talvez tenha transmitido informações complementares de viva voz.



Como resposta à ordem, Cardigan dirigiu 673 (ou 661) ginetes diretamente através do vale existente no sopé da colina de Fedyukhin, que mais tarde o poeta Alfred Tennyson denominaria vale da morte. As tropas russas, sob o comando de Pavel Liprandi, eram formadas por aproximadamente 20 batalhões de infantaria com o apoio de mais de cinquenta peças de artilharia. Tais forças estavam distribuídas de ambos os lados e no fundo do vale.

Parece que a ordem de Cardigan se referia à massa de canhões russos existentes em um reduto no fundo do vale, aproximadamente 1,5 km mais longe, enquanto Raglan teria percebido que se referia a um grupo de redutos na outra vertente da colina que formava o lado esquerdo do vale. Aqueles não eram visíveis desde as posições ocupadas pela Brigada Ligeira, colocada na entrada do vale.

A carga da Brigada Ligeira sob o ponto de vista dos russos


A brigada alcançou o contato com as forças russas do fundo do vale, e obrigou-as a fugir do reduto. Sofreu fortes perdas, e foi rapidamente obrigada a recolocar-se. Lucan fracassou na sua missão de apoiar Cardigan, e alguns suspeitam que isso se devia à animosidade que sentia contra o seu cunhado: a Brigada Pesada alcançou o vale, mas não avançou mais. A cavalaria francesa, os Caçadores de África, foram mais eficazes, já que romperam a linha russa da colina de Fedyukin e cobriram os sobreviventes da Brigada Ligeira durante a sua retirada.

Cardigan sobreviveu, e descreveu o combate num discurso na Mansion House, em Londres, que foi registado e amplamente citado posteriormente na Câmara dos Comuns:

"Avançámos por uma encosta gradual de mais de um quilómetro, as baterias vomitavam sobre nós obuses e metralha, com uma bateria à nossa esquerda e outra à nossa direita, e o espaço intermédio cheio de fuzis russos; assim, quando chegámos a 50 metros da boca dos canhões que tinham lançado a destruição sobre nós, estávamos, de facto, rodeados por um muro de fogo, além do dos fuzis no nosso flanco.
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Enquanto subíamos a colina, o fogo oblíquo da artilharia caía sobre a nossa retaguarda, de tal modo que recebíamos um forte fogo sobre a vanguarda, os flancos e a retaguarda. Entramos no espaço da bateria, atravessamo-la, os dois regimentos à cabeça ferindo um grande número de artilheiros russos ao passar. Nos dois regimentos que tive a honra de dirigir, cada oficial, com uma única exceção, foi ou bem ferido, ou morto, ou viu o cavalo que montava morto ou ferido. Estes regimentos passaram, seguidos pela segunda linha, formada por dois regimentos suplementares, que seguiram o seu dever de ferir os artilheiros russos.

Depois veio a terceira linha, formada por outro Regimento, que completou o trabalho dado à nossa Brigada. Creio que se fez com verdadeiro êxito, e o resultado foi que esse corpo, formado por apenas 670 homens aproximadamente, conseguiu atravessar a massa da cavalaria russa que — como soubemos posteriormente — dispunha de 5240 homens; e tendo atravessado esta massa, deram a volta, como se diz na nossa expressão técnica militar, «ao fundo de tudo», e retiraram-se do mesmo modo, provocando tantos danos como era possível na cavalaria inimiga. De regresso à colina de qual havia partido o ataque, tivemos que sofrer a mesma mão-de-ferro e padecer o mesmo risco de disparos dos atiradores no nosso flanco que na ida. Muitos dos nossos homens foram atingidos, homens e cavalgaduras resultaram mortos, e muitos dos homens cujas montadas morreram foram massacrados quando tentavam escapar.

Mas, mylord, qual foi o sentimento destes valentes que regressaram à sua posição, se de cada regimento não voltou senão um pequeno destacamento, e dois terços dos efetivos implicados na ação se tinham perdido?. Creio que cada homem que participou neste desastroso assunto de Balaclava, e que teve a bastante sorte para continuar com vida, deve notar que foi somente por um decreto da Divina Providência que escapou à morte mais certa que era possível conceber".


Consequências

A brigada não foi completamente destruída, embora sofresse terríveis perdas: 118 mortos, 127 feridos, e a perda de 362 cavalos. Depois de serem reagrupados, apenas 195 homens dispunham de cavalo. A futilidade da ação e a sua bravura imprudente fizeram afirmar o general francês Pierre Joseph François Bosquet: "É magnífico, mas isso não é a guerra". Diz-se que os chefes russos acreditavam a princípio que os ginetes tinham abusado da bebida. A reputação da cavalaria britânica melhorou notavelmente com esta carga, embora o mesmo não se possa dizer do seu comando.

O jornalista irlandês William Howard Russell, presente no local do combate, apresentou na época a seguinte informação acerca dos efetivos e perdas da Brigada Ligeira nessa batalha:

4º Dragões Ligeiros - total 118 - perdas 79
13º Dragões Ligeiros - total 130 - perdas 69
8º Hussardos - total 104 - perdas 66
11º Hussardos - total 110 - perdas 85
17º Lanceiros - total 145 - perdas 110
Total - 607 sabres - perdas 409

Remanescentes da Brigada Ligeira fotografados após a batalha

A lentidão das comunicações marítimas fez com que as notícias do desastre não chegassem ao conhecimento do público britânico senão três semanas depois. Os relatos da frente dos chefes britânicos publicaram-se numa edição extraordinária da London Gazette em 12 de novembro de 1854. Raglan implica Lucan pela carga, declarando que "Por sua incompreensão da ordem de avanço, o tenente-general (Lucan) considerou que devia atacar a qualquer preço, e ordenou o major-general Cardigan avançar com a Brigada Ligeira".

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