"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sexta-feira, 5 de julho de 2024

HÁ 100 ANOS, CIDADE DE SP ERA BOMBARDEADA - AS MARCAS DO CONFLITO QUE PERMANECEM ATÉ HOJE

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Igrejas e colégios guardam "cicatrizes" do conflito centenário; tropas se mobilizaram em SP para tentar dar um golpe de Estado na Presidência da República, que tinha como sede o Rio. Depois de um intenso cerco, militares rebeldes foram bombardeados pelo governo federal.

Por Fabrício Lobel


Na madrugada de 5 de julho de 1924, há cem anos, teve início uma revolta militar que resultou no bombardeio de grande parte da cidade de São Paulo. 

De um lado, militares rebeldes tentavam pôr fim ao período que ficou conhecido como a República do Café com Leite (marcado por eleições fraudulentas e acordos políticos que deixavam o poder federal na mão de poucos).

Do lado oposto, estavam militares fiéis aos governos da província de São Paulo e do governo federal. "A cidade de São Paulo foi palco e vítima uma tentativa de um golpe de Estado fracassada", analisa a historiadora Ilka Stern Cohen.

Durante os conflitos, ruas e avenidas da cidade foram tomadas por barricadas e trincheiras, que tentavam evitar o avanço do inimigo.

"São Paulo não tinha asfalto na época, as ruas tinham o quê? Paralelepípedos. Então eles retiravam aquelas pedras, os paralelepípedos, juntavam e era o principal material utilizado nas trincheiras. Mas também foram utilizadas sacas de açúcar, feno, qualquer material que se juntasse ali e pudesse impedir que o projétil inimigo pudesse atravessar", explicou o coronel da PM e historiador Sérgio Marques.

Confira algumas das marcas da revolução que permanecem até hoje na cidade:


Fachada da Igreja Santa Efigênia

Fachada da igreja Santa Efigênia

Na ponta do Viaduto Santa Efigênia, no Centro, a igreja foi disputada por rebeldes e legalistas ao longo do conflito. As fachadas laterais e centrais da igreja ainda têm marcas dos tiroteios daquele tempo. A igreja foi construída em pedra, sem revestimento, o que ajudou a preservar as marcas até hoje. A história é recontada pelos párocos da Santa Efigênia.

"Como a basílica está num ponto que tem muitos hotéis, muita gente vem conhecer esse ponto turístico de SP que é a basílica. Eu, sempre que posso, explico. Os funcionários também, todos conhecem a história da Revolução de 24, e nós buscamos sempre mostrar as marcas de tiro", disse o pároco João Paulo Rizek.

E emendou: "Já temos um folhetinho preparado falando da história da revolução porque revolução é sempre um momento muito triste, é a falência do diálogo, e deve ser sempre rememorado para que não ocorra novamente".


Liceu Sagrado Coração de Jesus

Marca de tiro no Liceu Sagrado Coração de Jesus, no Centro de SP

Na Alameda Glete, também no Centro, o Liceu foi atingido por três balas de canhão logo no primeiro dia de conflito. Possivelmente, a artilharia tinha como alvo as proximidades do Palácio dos Campos Elíseos, que na época era a casa do governador de São Paulo.

Os fragmentos das balas de canhão estão expostos no museu do Liceu. Os portões da escola ainda estão marcados com as balas disparadas naqueles dias.

Na época, o diretor do colégio fez uma promessa de que, se nenhum estudante ou funcionário fosse morto naqueles combates, ele construiria uma capela em homenagem a Santa Teresinha. A promessa foi cumprida com a construção de uma igreja em Santana, na Zona Norte. Ao lado dela, a mesma ordenação católica fundou depois um outro colégio.


Mosteiro de São Bento

Mosteiro de São Bento

Um dos principais templos católicos da cidade também foi atingido em 1924. Os religiosos contam que uma granada foi parar dentro da basílica. Mas ela não explodiu. Em agradecimento, o mosteiro construiu um altar em homenagem ao Sagrado Coração de Jesus no mesmo lugar em que a granada havia caído.

Mosteiro de São Bento, que tem um altar em homenagem ao Sagrado Coração de Jesus no local em que uma granada caiu, há 100 anos, mas não explodiu


Chaminé na Luz

Uma chaminé de tijolos é o que resta de uma antiga usina termoelétrica na região da Luz. Ela foi construída ao lado do que era a sede da Força Pública, espécie de Polícia Militar da época. Esse é o mesmo prédio hoje ocupado pelo batalhão da Rota. Por isso, foi atingida mais de uma vez por balas de canhão. As marcas estão por lá até hoje.

Chaminé na Luz

Igreja do Cambuci

No alto de uma colina, com vista para o Centro de São Paulo, a igreja do Cambuci foi um ponto estratégico disputado durante os embates. Na época, a fachada, portas, janelas e parte do teto foram muito danificados. A imagem do arcanjo São Miguel na fachada perdeu uma das mãos. Ela permanece assim até hoje, recepcionando os fiéis do alto da entrada da igreja.

Fonte: Globo SP/G1


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