"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sábado, 10 de março de 2018

BATALHA DE WITTSTOCK (1636)

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A Batalha de Wittstock teve lugar no curso da Guerra dos Trinta Anos, nas proximidades da vila de Wittstock, no dia 4 de outubro de 1636 e opôs o exército sueco às forças aliadas do Sacro Império Romano-Germânico e do Eleitorado da Saxônia.


Antecedentes

Após a Paz de Praga de 1635, João Jorge I da Saxônia abandonara o partido protestante para lutar ao lado do Imperador germânico contra a Suécia. Em março de 1636 os suecos, comandados por Johan Banér, e tendo Lennart Torstensson como imediato, invadiram a Saxônia e puseram o país a saque. Em junho, porém, o Eleitor João George foi socorrido por tropas imperiais comandadas pelo marechal Hatzfeld que, com superioridade numérica, iniciou implacável perseguição aos suecos. Banér seguiu para o norte até se ver imprensado contra os pântanos insalubres da região que margeia o mar Báltico. Temendo perder definitivamente o norte da Alemanha ele parou a espera do adversário.


A Batalha

Os imperiais porém não atacaram. Entrincheiraram-se sobre uma elevação precedida por uma longa faixa de floresta. Tradicionalmente calcula-se que Hatzfeld possuía cerca de 22.000 homens. Baner teria cerca de 16.000, ou talvez um pouco mais. O marechal sueco logo percebeu que um ataque frontal seria impossível. Mas a atitude inerte e defensiva dos imperiais possibilitou aos suecos realizar um feito raro na história militar: um duplo envolvimento levado a cabo contra um defensor dotado de superioridade numérica.

Os suecos logo perceberam que a floresta, mais do que um obstáculo, era um meio de esconder seus movimentos. Recusando combater nas condições escolhidas pelo inimigo, Banér levou o grosso do seu exército contra o flanco esquerdo das forças imperiais e saxônicas. Para tanto, pôde contar com a competência de Lennart Torstensson que cuidou do transporte da artilharia sueca por caminhos difíceis, conseguindo alinhá-la a tempo para a batalha. Enquanto isto, escondidas pela floresta, duas colunas formadas por mercenários escoceses (coronéis Lesley e King), envolveriam os flancos adversários e atacariam pela retaguarda.




Esquema mostrando as fases da batalha de Wittstock

Os adversários perceberam a marcha de Banér e Torstensson e mudaram parcialmente sua frente em um ângulo de 90 graus, mas deixando boa parte dos canhões e das forças imperiais na posição original. O ataque da coluna de Torstensson apanhou os saxões ainda despreparados, mas o tempo corria contra o comandante sueco. O combate nesta frente foi aos poucos drenando as tropas imperiais do flanco oposto o que colocou Torstensson em apuros. Enquanto os escoceses faziam em segredo seu longo envolvimento, Banér e Torstensson suportaram um combate desigual, quase desesperado. Quando Lesley apareceu, atacou o flanco imperial mas sem resultado decisivo. Ao final da tarde, quando todos já estavam exaustos, surgiu King com suas tropas frescas sobre a retaguarda dos imperiais. O inimigo finalmente fraquejou, vendo-se forçado a recuar, abandonando 23 canhões.


Banér (no detalhe) surpreende o exército imperial com sua manobra de flanco

Pela sua duração e pela perseverança sueca em esperar a chegada dos escoceses, mesmo quando tudo parecia perdido, Wittstock foi uma das mais sangrentas batalhas da Guerra dos Trinta Anos. Entre mortos, feridos e capturados as forças imperiais perderam mais de 60% de seus efetivos. Os suecos por sua vez perderam entre 3.000 e 5.000 soldados.


Consequências

A vitória de Banér, conquistada sobre forças superiores em número, permitiu à Suécia recobrar muito do prestígio perdido após a derrota de Nördlingen, dois anos antes. Os aliados da Suécia puderam também recobrar as esperanças. Banér ainda aproveitou para explorar a vitória, perseguindo os destroços do exército imperial, retomando cidades e voltanto à Saxônia, onde montou seus quartéis de inverno às custas dos recursos do adversário. Hans Delbrück, renomado historiador alemão, considera que o duplo envolvimento das forças do Império e da Saxônia por um exército em inferioridade numérica faz de Wittstock “uma das mais extraordinárias batalhas da história mundial”.

Fontes:
- DELBRÜCK, Hans. The Dawn of Modern Warfare. Lincoln: University of Nebraska Press.
- KEEGAN, John et al. Who’s Who in Military History: from 1453 to the present day. London: Routledge, 1996.
- SACCHI, Henri. La Guerre de Trente Ans. Paris: Editions l’Harmattan, 1991.
- TARNSTROM, Ronald. The Sword of Scandinavia. Lindsborg: Trogen Books, 1996.


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