"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sábado, 5 de agosto de 2023

"POPOVKAS": OS NAVIOS REDONDOS DA MARINHA RUSSA

.

No final do século XIX, os primeiros e últimos navios de guerra ‘redondos’ na história da Rússia surgiram nas águas do mar Negro. Eles eram conhecidos como Popovkas.

Por Nikolai Litôvkin

Após a assinatura do Tratado de Paris de 1856, que formalizou a derrota da Rússia na Guerra da Crimeia, Moscou ficou proibida de operar com sua frota no mar Negro. Mas isso não se adequava aos interesses do governo imperial e, até 1871 (quando o acordo foi denunciado, e a Rússia recebeu de novo permissão de manter navios nas águas da região), foi bolado um programa alternativo para criar defesas costeiras na Crimeia.

“As autoridades decidiram construir ‘navios não de madeira’. Segundo o projeto, esse objeto flutuante deveria ter 3,3 metros de extensão e armas com, pelo menos, 280 mm de calibre. Um dos critérios mais importantes dessas embarcações era a carcaça”, afirma o ex-editor-geral do Voenno-Promyshlennyi Kurier, Mikhail Khodarionok.

O Novgorod em testes de mar

As únicas embarcações que atendiam a essas exigências eram os navios de guerra redondos projetados pelo Almirante Andrêi Popov – daí surgiu o apelido Popovkas.

“Como a Rússia não tinha dinheiro e também estava proibida de implantar uma frota de pleno direito no mar Negro, tivemos que experimentar”, acrescenta Khodarionok.


Primeiras falhas

O primeiro navio, chamado Novgorod, foi lançado na presença do imperador em 21 de maio de 1873. Já o segundo, nomeado em homenagem a seu criador, apareceu em 25 de setembro de 1875.  Ao contrário do Novgorod, o novo Popovka recebeu uma carcaça mais espessa (dupla camada), um motor mais potente, e uma superestrutura maior sobre o convés. Mas, apesar das melhorias, o projeto não teve êxito.

O Novgorod, incapaz de navegar em mar aberto

Os Popovkas eram incapazes de navegar em mar aberto, além de serem mais lentos que tartarugas. E o impacto dos disparos fazia o navio virar. Eles podem ter exercido um papel menor como o único meio de defesa costeira, mas nem mesmo de forma plena”, relembra o ex-comandante supremo da Frota do Mar Negro, Ígor Kasatonov.

O Vice-Almirante Popov e o Novgorod passaram toda a guerra russo-turca, em 1876 e 1877, atracados no porto de Odessa, com três expedições sem jamais ver a batalha. Todas as tentativas de Andrêi Popov de empregar os navios no mar foram recebidas com oposição do Almirantado, que não via qualquer potencial neles. Além disso, o uso dos navios revelou outras falhas, como completa ausência de navegação autônoma e condições precárias para a tripulação.

Após o fim da guerra com a Turquia, o Vice-Almirante Popov foi modernizado, recebendo um novo sistema de ventilação, equipamentos de artilharia, e um novo motor – o que melhorou não apenas a estabilidade da embarcação no mar, mas também sua navegabilidade. Ainda assim, nem o Vice-Almirante Popov nem o Novgorod jamais participaram de combate.

Maquete representando o navio Popovka Vice-Almirante Popov


O fim dos Popovkas

Apesar do fracasso dos primeiros projetos, o conceito de navios de guerra redondos não morreu. Após a destruição, em 1878, do navio imperial Livadia, a corte imperial demonstrou interesse por esse tipo de embarcação.

No novo projeto, foram reavaliados os defeitos presentes dos modelos Popovka anteriores. Sua estrutura ficou mais plana, e a velocidade aumentou para 15 nós. Os navios foram construídos na Grã-Bretanha, embora seguindo diretrizes russas.

Em 24 de setembro de 1880, o novo Livadia deixou o cais. Era equipado com a tecnologia sofisticada para a época, incluindo ‘velas Yablochkov’ (as primeiras lâmpadas de arco voltaico elétrica), e apresentou melhor navegabilidade.

O Vice-almirante Popov atracado em Odessa

No entanto, quando Aleksander III subiu ao trono, em 1881, o Império russo, aumentou seu potencial de construção naval e começou a construir uma nova frota para o mar Negro. O interesse pelos navios redondos desapareceu por completo.

O Livadia acabou sendo convertido no navio a vapor Opit, que passou um longo período ancorado – e sem função – em São Petersburgo, antes de desarmado em 1926 e transferido para Sebastopol, na Crimeia. No caso do Novgorod e do Vice-Almirante Popov, ambos permaneceram ancorados em um cais de Odessa até 1913, quando foram vendidos para clientes particulares.

“Esse projeto não foi mais desenvolvido, e, de um modo geral, a experiência com os Popovkas é considerada infrutífera, ou seja, os navios apresentavam problemas e não tinham qualidades notáveis. Em termos de formato, o navio era bastante original, mas em batalha se mostraria extremamente limitado”, conclui Khodarionok.

Fonte: Gazeta Russa


Nenhum comentário:

Postar um comentário