"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sábado, 24 de dezembro de 2016

QUANDO A GUERRA IMITA A MODA

.

O magnífico uniforme com o qual o Exército russo entrou em Paris após a vitória contra Napoleão se transformou não só de acordo com as novas exigências da vida militar, mas também da moda. No lugar do fraque eram usadas jaquetas mais curtas, e calções pelos joelhos deram lugar às calças. Como resultado, no final do século XIX, a moda masculina era completamente diferente da do início do século. E o mesmo se aplicou ao uniforme militar.

Por Alexandr Verchínin


Os uniformes militares da era napoleônica desapareceram logo depois da morte do imperador francês, em 1821. A modernização do uniforme militar russo teve início quatro anos depois da morte do tsar Aleksander I, que derrotara Napoleão no campo de batalha, mas seguia as mesmas tendências de uniforme do inimigo.

A principal inovação no reinado do seu sucessor, o tsar Nikolai I, foi o abandono de alguns elementos da veste antiga. Após as mudanças, a jaqueta tipo fraque transpassada, com abotoamento duplo, alongada atrás e mais curta na frente, virou “coisa do passado”. Em seu lugar passou-se a usar a jaqueta de abotoamento simples, cujas abas caíam sobre os quadris.

Para substituir os calções, foram introduzidas pela primeira vez calças compridas e enfiadas dentro das botas. A barretina foi perdendo gradualmente o status de principal adorno da chapelaria militar – sofreu algumas alterações, e, em meados do século, já tinha sido quase que universalmente substituída pelo quepe.

Porém, introduzido no Exército no final do século XVIII, o quepe também não teve aceitação generalizada. Era mais um tipo de chapéu informal que os militares usavam quando não estavam em serviço. Quem usava quepe com maior regularidade estaria provavelmente tentando ser original ou criar uma imagem diferente. Foi assim que o quepe sem pala virou o tipo de chapéu favorito do marechal de campo Kutuzov, que derrotou Napoleão.


Nikolai, o Estilista

Em meados do século XIX tudo mudou: o quepe sem abas passou a ser amplamente usado. Já os oficiais, estes só usavam quepes com pala. A barretina do uniforme cerimonial foi substituída pelo capacete, que era feito de couro e reforçado com uma estrutura metálica. O couro levava uma camada protetora de esmalte e, na frente, uma pequena pala.

Em ocasiões festivas colocava-se em cima do capacete um enfeite de crina de cavalo, uma espécie de espiga de metal, ou até mesmo a águia bicéfala, também de metal.

Capacete da Guarda Imperial com a águia bicéfala russa


Cabe lembrar que o famoso capacete alemão com a ponta de lança em cima, o pickelhaube, com o qual Otto von Bismarck posou de bom grado, teve origem russa.

No início da década de 1840, esse capacete foi bolado pelo próprio Nikolai I usando como modelo o capacete dos antigos guerreiros russos. O capacete de couro esmaltado tinha uma pala na frente, uma aba na parte de trás e em cima levava um enfeite em forma de granada flamejante.


Toque caucasiano

A Guerra do Cáucaso, que a Rússia travou por várias décadas, introduziu na vestimenta do soldado russo elementos completamente novos. A papakha – gorro de pele dos homens das montanhas – começou a ter uso generalizado nas tropas. Ela era usada não apenas por combatentes das forças militares do Cáucaso, mas por soldados de todo o país.

Cossacos russos utilizando o gorro papakha 


Também a partir do Cáucaso se espalhou a moda da tcherkéska – um tipo de caftã (casaco longo) que ajustava na cintura, comum entre os moradores das montanhas. Confortável ​​e prática, a tcherkéska foi primeiro adotada por cossacos e, mais tarde, o seu uso acabou se espalhando por todo o Exército. As tcherkéskas de gala eram elementos importantes do guarda-roupa do tsar.


Moda da virada

Ao contrário das épocas anteriores, todos os oficiais podiam usar bigode durante o reinado de Nikolai I. Na época, assim como hoje, a imagem do homem com pelos no rosto ganhava popularidade. O próprio tsar e seus principais comandantes deixaram o bigode crescer.

Além disso, aos poucos passaram a usar distintivos nos ombros, e a patente militar passou a ser indicada pelo número de estrelas. A espada, um elemento integrante do estatuto oficial desde a época de Pedro I, foi substituída pelo sabre, que ficava preso em um cinturão rico e ornado.

Oficial do Regimento de Dragões de Novgorod na década de 1870


Em 1862, os capacetes e antigos quepes sem pala foram oficialmente substituídos pelo quepe de pala larga e reta. O laço preso a ele designava o tipo de tropa, e alguns oficiais usavam crinas de cavalo fixadas ao quepe.

Assim, o uniforme do Exército russo manteve até 1881 muitos elementos nada práticos, mas bem coloridos, como tiras bordadas nas fardas dos oficiais, exuberantes crinas na chapelaria etc. Com a aproximação do final do século, os uniformes militares foram sendo simplificados.

No lugar dos quepes, pequenas chapkas (gorros) de pele de cordeiro foram introduzidas e, posteriormente, acabaram sendo de novo substituídas pelo quepe tradicional com pala. Os oficiais passaram a usar uma espécie de túnica militar, que, no verão, era de cor branca, enquanto os soldados ganharam a guimnastiôrka, um tipo de camisa mais comprida e larga, confeccionada de tecido grosso e que inicialmente era usada para a prática de ginástica.

Fonte: Gazeta Russa

Nenhum comentário:

Postar um comentário