"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quarta-feira, 24 de setembro de 2025

DUNQUERQUE, O ÚLTIMO MISTÉRIO DA 2ª GUERRA MUNDIAL

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Por que Hitler permitiu que as tropas britânicas voltassem para casa após sua derrota na França?

Por Guillermo Altares

A batalha de Dunquerque, na França, ainda é um dos grandes mistérios da Segunda Guerra Mundial. Por que Hitler ordenou a interrupção do ataque contra um exército em retirada, em muitos casos em barcos que não tinham nenhuma proteção? Os historiadores mantêm uma disputa aberta sobre um episódio crucial do conflito que arrasou a Europa entre 1939 e 1945. Os nazistas começaram a guerra no dia 1º de setembro de 1939, com a invasão da Polônia. Os Aliados, França e Reino Unido, declararam abertas as hostilidades e começou então o que se conhece como a “drôle de guerre”, a guerra de mentira.

Com uma falsa sensação de segurança, os Aliados se acreditavam protegidos pela Linha Maginot. Durante quase um ano, as potências europeias estavam em conflito, mas nada acontecia. Em maio, entretanto, os carros de combate nazistas lançaram uma ofensiva imparável rumo ao sul e atravessaram as defesas aliadas como faca na manteiga. Em 11 de junho, de 1940, Paris era uma cidade aberta.

Prevendo o desastre que se aproximava, as tropas britânicas começaram a organizar no final de maio sua evacuação do continente, uma façanha retratada por Christopher Nolan em seu último filme, Dunkirk. “O Governo de Londres começou a preparar uma frota feita de quase tudo, botes e barcos, que pudessem encontrar em suas costas”, escreve Richard J. Evans em seu clássico reeditado O Terceiro Reich em Guerra

Soldados britânicos aguardam pela evacuação nas praias de Dunquerque.

Apesar dos ataques da aviação alemã, 700 barcos chegaram às praias de Dunquerque para levar às ilhas tudo o que pudessem salvar de um Exército em retirada. 340.000 soldados conseguiram retornar à Inglaterra graças à ordem pessoal de Hitler para que se parasse a ofensiva mesmo com a opinião contrária de muitos de seus oficiais. “Se não continuarmos, os ingleses poderão transportar o que desejarem, diante de nossos narizes”, exclamou o Marechal de Campo, Fedor von Bock. Quando os nazistas retomaram a ofensiva, já era muito tarde e a evacuação havia sido um sucesso.

Hitler queria reservar suas tropas para chegar a Paris o quanto antes? Confiava muito em sua força após o sucesso das guerras relâmpago de 1939 e 1940? Planejava chegar a um acordo com os britânicos antes de começar a fase seguinte do conflito, com a invasão da URSS? Demonstrou mais uma vez sua incompetência como estrategista? Nunca o saberemos. 

A realidade é que em 6 de junho de 1944 alguns desses soldados desembarcaram na Normandia para expulsar os nazistas da Europa e conseguir sua revanche.

Fonte: El País


segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O DESENVOLVIMENTO DA BLITZKRIEG NO PERÍODO ENTREGUERRAS

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No início da 1ª Guerra Mundial, a ideia vigente era baseada nos conceitos prussianos de ataque frontal e decisivo contra o inimigo. Ambos os contendores procuraram tal ação, no entanto o aparecimento de novas tecnologias no campo de batalha, como a metralhadora e a artilharia de alma raiada, provocaram uma situação de estagnação, a partir do fim de 1914, devido à impossibilidade de se progredir no terreno e alcançar as posições inimigas para desalojá-las.

Esse fato provocou o estabelecimento de frentes defensivas quase imutáveis no terreno, onde qualquer tentativa de desaferramento, ataque ou conquista de territórios resultava ineficiente e com elevado grau de letalidade. As pesadas baixas deslocaram o pensamento estratégico para a concepção da guerra de desgaste. Ao fim do primeiro ano da guerra, podia-se constatar a ausência de dois importantes princípios da guerra no campo de batalha: a surpresa e a mobilidade.

A "guerra de trincheiras" representou o impasse na Frente Ocidental.  Novas tecnologias iriam vencer o imobilismo

A solução para esse impasse mórbido, pois acarretava alto índice de mortes por causas alheias ao combate em si, incluindo doenças originadas nas precárias condições de higiene nas trincheiras, foi vislumbrada inicialmente pelos alemães com o uso de gases venenosos em 1915, mas os resultados não foram contundentes e, também, estavam à mercê das condições climáticas. Outras duas soluções surgidas iniciaram a extrema mudança futura na estratégia militar. Com maior importância e poder decisivo no campo de batalha o carro de combate e, com menor valor durante a 1ª Guerra e gradual aumento de importância posterior à guerra, o avião.

Esquadrão de caças alemão durante a 1ª Guerra Mundial

A 1ª Guerra Mundial também foi o primeiro conflito a ter ações aéreas significativas. A aviação militar desenvolveu-se em ritmo intenso durante a guerra, mas ainda estava em seus primórdios em 1918. O destaque era para os pilotos de caça, cuja missão principal era obter superioridade aérea local. Essa condição permitiu que os pilotos dos primeiros aviões conduzissem suas funções básicas de reconhecimento e ajuste de fogo de artilharia. Mesmo a Alemanha, que estabeleceu um estado-maior específico para a aviação em 1916 e desenvolveu um conceito maduro de poder aéreo, reconheceu a necessidade tanto do reconhecimento e da superioridade aérea local quanto dos bombardeios de longo alcance.

O carro de combate, por sua vez, apesar de seu desenvolvimento ainda primitivo, conseguiu influir decisivamente no resultado final da batalha. Podia avançar sob o fogo das metralhadoras e tinha relativa proteção contra as granadas da artilharia. Foi usado pela primeira vez, de forma reduzida, com apenas 46 carros, em setembro de 1916 na aldeia de Fleur-Courcelette na campanha do Somme. No decorrer do ano de 1917, os carros continuaram sendo usados em pequeno número, como apoio à infantaria e com êxito variável. Nesse mesmo ano, em junho, os britânicos criaram o primeiro Corpo de Tanques da história, tendo como comandante o General Hugh Elles e como planejador de operações o então Maj J. F. C. Fuller. Esse embrião começou a mudar o panorama, ao se pensar como uma arma independente e com poder de choque e surpresa.

J.F.C. Fuller, um dos criadores do Corpo de Tanques britânico

A prova de fogo veio em 20 de novembro de 1917, quando o Corpo de Tanques fez um ataque em massa com 476 carros, na batalha de Cambrai, com enorme sucesso, no entanto uma decisão equivocada do estado-maior britânico mudou o plano inicial de Fuller, fazendo com que se perdesse a conquista inicial. Mas a prova de fogo valeu, ficava comprovado o potencial decisivo dos tanques se usados planejadamente.

Com o fim do conflito, os planos de desenvolvimento dos carros se estagnaram entre os ingleses e franceses, que defendiam o conceito de defesa. No entanto os alemães aprenderam com a derrota e passaram a dar elevado valor a esses dois vetores – o carro e o avião – iniciando os estudos que originaram a “blitzkrieg”, avassalador conceito responsável pelas esmagadoras vitórias nos anos iniciais da Segunda guerra Mundial.

Carros de combate Vickers Mk.I britânicos em manobras durante a década de 1930

Esse novo conceito baseado nessas novas armas, era de velocidade, ação de choque e potência de fogo. Suplantou e extinguiu a cavalaria a cavalo e foi o alvorecer da nova cavalaria dos blindados. Criou a aviação e abriu possibilidades, desde o lançamento de tropas, passando pelos bombardeios e culminando com as missões de caça.

O leque de opções agora era bem maior, diretamente proporcional ao poder de letalidade dos combates futuros.



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