Em agosto de 1942 o submarino alemão U-507, que havia afundado em sequência cinco navios brasileiros, foi posto a pique por uma aeronave da Marinha dos EUA. Um dos aviadores que participou do ataque relata como ocorreu o afundamento do u-boat.
Em agosto de 1942 o submarino alemão U-507 comandado pelo capitão-de-corveta Harro Schacht afundou cinco navios brasileiros em menos de 3 dias. Este ato indignou o povo brasileiro que exigiu a entrada do Brasil ao lado dos Aliados na 2ª Guerra Mundial.
Em uma missão posterior, o U-507 também afundou o navio inglês SS Baron Dechmont, atualmente conhecido como "Navio do Pecém" e naufragado a 30 km da praia que deu nome ao naufrágio. Após torpedear três navios mercantes ingleses, este submarino foi atacado por um avião da US Navy Air Service que decolou de Fortaleza em 13 de janeiro de 1943, às 5:00 da manhã. Depois deste ataque, o submarino cessou qualquer contato com sua base e não retornou à mesma.
Foi no dia 13 de janeiro que o U-507 encerrou sua quarta patrulha, após 47 dias no mar. O Tenente Aviador Lloyd Ludwig e sua tripulação decolaram no dia 2 de janeiro a bordo do avião Catalina PBY-10, do esquadrão norte-americano VP-83, com a missão de dar cobertura aérea a comboios aliados entre Natal e Belém. Logo após a primeira decolagem, avistaram três botes salva-vidas repletos de sobreviventes, provavelmente do MV Oakbank. Após dez dias voando entre as bases de Belém, Fortaleza e Natal, receberam a informação de que um submarino estava seguindo um comboio nas proximidades de Fortaleza.
O Tenente-Aviador Lloyd Ludwig fez um relato do afundamento:
"No dia 12 de janeiro, chegamos a Fortaleza após o anoitecer. Nós 'emprestamos' dois galões de combustível de avião a um taxista para que nos levasse a um hotel local. Depois de jantar e tomar uma garrafa de cerveja e nos recolhemos por volta das 23 horas. Antes do sol nascer já estávamos a caminho do aeroporto. [Quando chegamos] Nosso avião estava com as luzes do interior acesas e o radioperador de 2ª Classe R.O. Siemann e o mecânico de avião de 1ª Classe R.K Gernhofer, estavam bem acordados. Gernhofer me entregou uma mensagem de Natal informando que um submarino alemão estava seguindo um comboio e nos deu instruções para agir.
Antes de partirmos, eu e a tripulação, mais precisamente o copiloto Tenente Mearl Taylor e Guarda-Marinha Harry Holt, o navegador, o radioperador e os dois artilheiros chamados Merrick e Thurston, revisamos nosso plano. Nós não usaríamos o intervalômetro quando lançássemos as cargas de profundidade, pois houve casos em que elas travaram. Nós voaríamos a 6.000 pés [aproximadamente 2.000 m] de altitude usando a cobertura das nuvens quando possível. Se fizéssemos um ataque, eu lançaria duas cargas de profundidade usando o controle manual, ou seja, as duas de bombordo. Mearl no assento do copiloto soltaria manualmente a da direita e aí Harry, ajoelhado entre nós, soltaria a última. Com sorte eles as lançariam com dois ou três segundos de intervalos.
Gernhofer ficou encarregado de avisar a base quando estivéssemos atacando. Os dois artilheiros operariam as metralhadoras .50 e não atirariam até que eu ou Mearl os ordenasse. Nós voaríamos 50 milhas a frente do provável percurso do comboio e iríamos ao seu encontro. Desta forma nós estaríamos olhando a favor do sol, o que aumentaria nossa chance de surpreender o inimigo.
Ninguém comentou quando nós o passamos pelo meu lado. Seja lá o que foi, fosse sorte ou as noites mal dormidas e as nuvens abaixo, eu não o vi. Logo depois Mearl se inclinou e disse 'Aquilo parece um pc boat?'. Só precisei olhar uma vez: 'É um sub!'.
Parece que aconteceu tudo de uma vez, a força foi cortada, o nariz [do avião] abaixado, alarme de aviso soando postos de batalha e as cargas de profundidade armadas. Harry Holt veio para a frente e se ajoelhou entre Mearl e eu. Logo nós estávamos em um mergulho excedendo 200 nós de velocidade. Nos aproximávamos do submarino pela proa e ainda nenhum sinal que ele nos avistara. Pareceu muito tempo, mas em questão de segundos descemos para 1.200 pés.
O sub tinha nos avistado e começava a submergir. Nós diminuímos o mergulho, mas o nariz do avião ainda estava baixo. Aumentamos a força do motor para mantermos a velocidade. Mearl já estava prestes a empurrar a soltar as bombas do lado direito. Harry estava na esquerda. Eu estava com o mecanismo de lançamento das bombas em minhas mãos. Nós estávamos quase lá e o sub tinha acabado de submergir, estava apenas com a torre de comando sendo inundada. Nós estávamos a menos de 100 pés e ainda descendo. Eu pressionei o dispositivo mirando um pouco depois da torre de comando. Então Mearl e Harry também soltaram as suas cargas de profundidade.
O sub tinha nos avistado e começava a submergir. Nós diminuímos o mergulho, mas o nariz do avião ainda estava baixo. Aumentamos a força do motor para mantermos a velocidade. Mearl já estava prestes a empurrar a soltar as bombas do lado direito. Harry estava na esquerda. Eu estava com o mecanismo de lançamento das bombas em minhas mãos. Nós estávamos quase lá e o sub tinha acabado de submergir, estava apenas com a torre de comando sendo inundada. Nós estávamos a menos de 100 pés e ainda descendo. Eu pressionei o dispositivo mirando um pouco depois da torre de comando. Então Mearl e Harry também soltaram as suas cargas de profundidade.
Ainda bem que todas as quatro cargas foram lançadas pois nós estávamos a menos de 25 pés e a perda de de 2.000 libras [1 tonelada] nos ajudou a ganhar altitude. Logo nós estávamos em uma curva ascendente para a esquerda. Eu olhei pra trás, e que vista! Pareciam as cataratas de Niágara viradas de cabeça para baixo, um paredão de água foi lançado para o ar, não em quatro colunas, mas em uma só. Nós circulamos os destroços, jogamos duas bombas de fumaças mas não vimos nada do submarino exceto os vestígios das cargas de profundidade. Harry Holt voltou para o compartimento de comunicação, marcou nossa posição e avisou a base do ataque. Eu perguntei pelo rádio 'Alguém viu o comboio?'. Eu acho que foi o capitão de aeronaves J.W Dickson na torre que respondeu 'Nós o passamos mais ou menos 5 minutos antes de iniciarmos o ataque.'
Eu passei os controles para Mearl seguir até o comboio e me voltei para a tripulação e perguntei:
- Vocês viram onde as cargas de profundidade caíram?
- Sim!
- Pareceu ter atingido o submarino?
- Logo antes da torre de comando.
- O que vocês acharam do ataque?
- Achei que nós íamos bater nele!
- Bem, foi bem perto mesmo, mas mantenhas os olhos na fumaça enquanto puder, nós estamos voltando para avisar ao comboio."
PBY Catalina do Esquadrão VP-83
O Tenente Ludwig contatou o cruzador USS Omaha que estava escoltando o comboio. O navio de guerra se deslocou para o local do ataque mas falhou em encontrar qualquer evidência da destruição do U-boat. Um relatório foi enviado para o escritório de inteligência do esquadrão VP-83 e no dia seguinte Ludwig e sua tripulação fizeram um ataque simulado em uns arbustos próximos a Natal. O esquadrão deu ao Tenente Ludwig e sua tripulação pouco crédito por causar estrago ao submarino, mas o U-507 não sobreviveu ao ataque.
O U-507 foi ao fundo levando consigo quatro prisioneiros britânicos: o comandante do MV Oakbank, o comandante do SS Baron Dechmont - chamado Donald MacCallum - e o imediato e o comandante do SS Yookwood. Seu afundamento só seria confirmado após o fim da guerra.
Fonte: Blog Mar do Ceará
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Muito bom! Obrigado pelo relato.
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