O século que começou dentro de um carro: atentado
ao arquiduque Francisco Ferdinando completa 100 anos
Por Jason
Vogel
Um dos episódios mais importantes da História completou cem anos. Em 28
de junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando, príncipe herdeiro de
Áustria, Hungria e Bohêmia, foi assassinado numa rua de Sarajevo, na Bósnia. Um
estopim que detonou a 1ª Guerra Mundial.
No
atentado cometido pelo estudante Gavrilo Princip, da organização nacionalista
sérvia Mão Negra, morreu também a duquesa Sofia, esposa de Francisco
Ferdinando.
O Gräf & Stift Double Phateon que foi palco do atentado é hoje acervo do Museu Militar de Viena
Um mês
depois do crime, o Império Austro-Húngaro declarou guerra contra a Sérvia,
levando Alemanha, Inglaterra, França, Rússia e muitos outros países ao primeiro
conflito em grande escala da era industrial. Começava a 1ª Guerra Mundial (na
época chamada apenas de “Grande Guerra”).
Para
muitos historiadores, o atentado em Sarajevo marca o momento em que o século XX
começou para valer. A guerra só acabaria em 1918, deixando 19 milhões de
mortos, alterando fronteiras e mudando o eixo econômico do planeta: da
decadência europeia brotava a emergência dos EUA.
BOMBA E
TIRO
O
atentado ao arquiduque teve como palco um carro da marca Gräf & Stift.
Carregado de fatos e lendas, este automóvel existe até hoje, bem preservado no
Heeresgeschichtliches Museum (Museu de História Militar), em Viena, na Áustria.
Em termos funestos e políticos, supera até o Lincoln Continental em que John
Kennedy morreu em 1963.
O
fatídico Gräf & Stift tinha uma carroceria tipo double phaeton (espécie de
limusine conversível) e fora fabricado em 1911. Não pertencia ao arquiduque
Francisco Ferdinando e, nem sequer, a alguma frota oficial. Seu dono era o
conde Franz von Harrach, oficial do exército austríaco.
Fato é
que Francisco Ferdinando chegou de trem a Sarajevo e foi levado à câmara
municipal no Gräf & Stift. No caminho, Nedeljko Cabrinovic, um militante da
Mão Negra lançou uma bomba contra o automóvel. Leopold Lojka, o motorista,
conseguiu desviar e o artefato explodiu em outro dos seis carros da comitiva,
ferindo seus ocupantes.
Gavrilo Princip assassinado o arquiduque e sua esposa
Ainda
assim, o arquiduque foi à prefeitura. Após o discurso, decidiu ir ao hospital
onde estavam os feridos pela bomba. Houve um desvio da rota planejada e, na
tentativa de se fazer o retorno, o carro empacou justamente onde estava Gavrilo
Princip. Por obra do acaso, o terrorista de 19 anos se viu a apenas 2 metros de
distância do Gräf & Stift e aproveitou a oportunidade: sacou uma pistola e
deu dois tiros na direção do automóvel, ferindo mortalmente Francisco
Ferdinando e a duquesa Sofia.
MITOS E
LENDAS
Conta-se
que, após a guerra, o mesmo Gräf & Stift esteve envolvido em diversos
acidentes: num, o “governador da Iugoslávia” perdeu o braço; noutro, capotou e
matou seu dono.
Os
“causos” incluíam um desatre em corrida, uma queda de ribanceira, colisões e
até o bombardeio do museu onde o Gräf & Stift fora aposentado. Tudo, porém,
é ficção, fruto da imaginação fértil de um radialista americano que escreveu um
conto nos anos 50.
Mas,
nessa história há uma coincidência que nada tem de boato: o armistício da 1ª
Guerra foi assinado em 11 de novembro de 1918. E a placa do Gräf & Stift é
A-III-118 (leia-se: “A” de armistício, 11-11-18)...
Fonte: O Globo
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