"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quarta-feira, 2 de junho de 2010

A BATALHA DE NARVA (1700)

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A Batalha de Narva aconteceu no início da Grande Guerra do Norte, em 30 de novembro de 1700. O exército sueco sob o comando do rei Carlos XII derrotou forças russas quatro vezes mais numerosa, comandada por Pedro, o Grande. Narva marcou o ponto alto do poderio sueco no continente, com a Rússia obtendo posteriormente vitórias decisivas no final do conflito.

A guerra começou com um ataque não-provocado sobre a Suécia por uma coligação composta pela Polônia, Rússia e Dinamarca, com o objetivo de diminuir a influência sueca no Báltico. Carlos XII da Suécia havia recém assumido trono em 1697, com a idade de quatorze anos, e a Suécia não lutava uma guerra desde que sofrera uma séria derrota na Guerra Scania (1674-1679). A coligação aliada esperava uma vitória fácil.

Carlos XII, rei da Suécia

Carlos XII reagiu, isolando a Dinamarca e colocando-a fora da guerra com a invasão da Zelândia (Tratado de Travendal, de 18 de agosto de 1700). Os suecos, então, puderam se concentrar a leste a fim de lidar com a ameaça russa. Pedro, o Grande, liderou um exército de 35 mil homens na direção de Ingria, sitiando a cidade de Narva (atualmente situada na Estônia). O bombardeio russo teve início em 31 de Outubro.

Carlos XII respondeu com um contra-ataque agressivo, uma marca registrada no exército sueco. Com um exército de apenas 8.000 homens, tomou a iniciativa e avançou na direção de Narva, eliminando pequenos destacamentos russos no caminho. Confrontado com o avanço do exército sueco, Pedro decidiu deixar Narva, e passou o comando de seu exército a Charles Eugène de Croy.

Apesar da saída de Pedro do comando, os russos ainda estavam em posição confortável. Pelo menos 26 mil deles guarneciam as trincheiras de circunvalação que cercavam Narva, o que significa que Carlos teria de atacar um inimigo entrincheirado que ultrapassava seu exército em 3 por 1.


Os suecos responderam com um movimento rápido. Sob a proteção de uma repentina tempestade, lançaram um ataque contra as linhas russas, rompendo-a em dois lugares. A poderosa força de cavalaria russa, composta por 5.000 veteranos, fugiu na primeira carga, enquanto de Croy foi surpreendido pelas pequenas dimensões do exército sueco, o qual pensava ser apenas uma guarda avançada.

Com sua linha dividida em três e com a neve bloqueando a visibilidade, o exército russo entrou em colapso e Carlos XII foi capaz de combater as três partes da linha russa separadamente. Um grande número de soldados fugiu, muitos se afogando no rio Dvina. Pelo menos 20 mil infantes foram capturados pelos suecos para, em seguida, serem liberados após terem entregado seus mosquetes. A Suécia perdeu 667 homens no combate, enquanto que o exército russo perdeu cerca de 15.000 homens, e a maioria do exército restante foi capturada. Muitos foram mortos pelo ataque sob a proteção da nevasca, que deixou as tropas russas sem reação. Outros tantos morreram ao tentar escapar do combate, atravessando as águas geladas do rio Narva. Os suecos também apreenderam uma grande quantidade de mosquetes russos.

Soldados russos entregam suas armas diante de oficiais suecos.  Grande quantidade de material bélico foi capturada ao término da Batalha de Narva


A rendição russa trouxe para o exército de Carlos XII todos os canhões de Pedro, mosquetes e suprimentos militares. Isto deixou o que restou das forças armadas da Rússia sem praticamente nenhum equipamento. Caso a Suécia, ou qualquer outro agressor, tivesse invadido a Rússia logo após a batalha de Narva, Pedro teria sido quase impotente para detê-los.

O próximo movimento dos suecos após Narva permanece controverso até os dias atuais. Ao invés de perseguir Pedro, o Grande, através da Rússia, Carlos XII decidiu convergir seu exército para o sul em direção à Polónia e à Lituânia, onde obteve uma série de vitórias. No entanto, tal movimento deu a Pedro o tempo para recuperar e reforçar o exército russo e, quando Carlos XII voltou-se para o leste a fim de enfrentar os russos, em 1708-9, foi decisivamente derrotado na batalha de Poltava e forçado a fugir em direção ao Império Otomano. A própria cidade de Narva caiu nas mãos da Rússia em 1704, enquanto Carlos XII estava ausente na Polônia.

A eficiência do exército russo em Narva também era controversa. A má qualidade do seu exército em 1700 contrastava com a propaganda realizada por Pedro, o Grande, deliberadamente exagerada para possibilitar a reforma do exército diante da corte russa. Os soldados russos foram qualificados como inexperientes, uma horda de bárbaros e que “lutavam como gado”. Na verdade, apenas o Regimento de Lefortovskii era constituído por tropas veteranas, enquanto os dois regimentos de guardas só tinham visto em ação em Azov.

Tropas suecas em ação durante a Grande Guerra do Norte

Outros observadores mais imparciais, contudo, sugerem que o exército russo de 1700 em Narva foi muito melhor do que isso, contendo um núcleo de infantaria bem treinado e conduzindo operações de cerco de forma bem organizada. O cerco a Narva durava apenas quatro semanas quando Carlos XII chegou e expulsou o exército russo. A Rússia vinha se envolvendo em constantes conflitos em sua fronteira sul, o que deve ter dado a alguns dos homens presentes em Narva a experiência militar necessária. As táticas agressivas de Carlos XII, na verdade, seriam bem sucedidas contra quaisquer exércitos ocidentais de qualidade comprovada.

Narva foi uma esmagadora derrota para a Rússia, mas a Suécia não soube tirar proveito, deixando de explorar todo o seu potencial. Como Carlos XII acabou se envolvendo em conflitos mais perto de casa, Pedro foi capaz de fazer avançar suas capacidades militares de maneira como ele tinha sempre almejado. Estas melhorias nas tropas russas acabariam por vencer os suecos na Batalha de Poltava, terminando com o predomínio militar do Império Sueco e marcando o surgimento do Império Russo.

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