Uma das grandes ações da Legião Estrangeira francesa na África ocorreu em 1978, no Zaire, em apoio ao governo do presidente Mobutu.
No dia 13 de maio de 1978 cerca de 4.000 Tigres, guerrilheiros da Frente Nacional de Libertação do Congo (FNLC), ocuparam a cidade de Kolwezi, na conturbada província de Sheba (ex-Katanga), cortando as comunicações com a capital e infligindo grandes perdas ao exército governamental. Seguiu-se uma orgia de violência e matanças que atingiram centenas de europeus habitantes da região. No dia seguinte, o presidente Mobutu pediu a ajuda dos franceses. A resposta veio rapidamente.
Entrada da cidade de Kolwezi
A Operação.
Em 17 de maio, por volta da 10 horas, o 2º Regimento Estrangeiro de Pára-quedistas da Legião Estrangeira (2º REP), baseado em Calvi, Córsega, foi designado para se deslocar no prazo de seis horas. Mas as ordens executivas só chegaram à 01:30h da madrugada seguinte. Às 8 horas o regimento estava na base aérea de Solenzara, pronto para partir.
O primeiro escalão embarcou naquela tarde em cinco DC-8 de carreira, seguidos pelo restante do contingente que foi junto com as armas e os veículos pesados em aviões C-141 e C-5 da Força Aérea dos EUA (USAF). Os DC-8 aterrissaram no início da noite no aeroporto de Kinshasa, capital do Zaire, onde os legionários souberam que embarcariam para Kolwezi (a 2000 km de distância) em quatro Hércules C-130 e em dois Transall C-160 da Força Aérea do Zaire.
Teriam como tarefa resgatar todos os civis que estivessem aprisionados pelos rebeldes em Kolwezi e arredores. Pouco se sabia de concreto o que acontecia em Kolwezi.
Os homens do 2º REP trabalharam toda a noite para se organizar e então embarcaram apressadamente nos aviões. Poucos já tinham saltado de um C-130 e todos teriam de usar pára-quedas norte-americanos T-10, com os quais não estavam acostumados.
Paraquedistas do 2º REP embarcando em Kinshasa, antes do salto em Kolwezi
Um pneu de um C-160 estourou durante a decolagem e os legionários tiveram que ser distribuídos pelos outros cinco aviões. Oitenta pára-quedistas foram espremidos num avião feito para levar 66 pessoas. Eles não dormiam havia 48 horas. Depois de quatro horas de vôo, o 2º REP fez com sucesso seu primeiro salto operacional desde a derrota de Dien Bien Phu, saltando diretamente sobre o objetivo e não a 1 km de distância como havia sido previsto.
Embora não houvesse oposição, a ação dos legionários foi rápida. A 1ª Companhia ocupou uma escola (Liceu João XXIII), a 2ª apoderou-se de um hospital e de uma oficina e a 3ª tomou o Hotel Impala e uma ponte. A noite transcorreu com ações esporádicas e, na manhã seguinte, os quatro C-130 e o C-160 chegaram com o restante do regimento. O comandante achou que não se justificava o risco de um salto noturno e mandou os aviões seguirem até perto de Lubumbashi. Ao amanhecer voltaram para o local da operação e lançaram os homens e os equipamentos com êxito total.
Enquanto tudo transcorria, os legionários em terra continuavam em sua tarefa de resgatar prisioneiros, impor ordem na cidade e enfrentar muito duramente os Tigres da FNLC.
Por volta do meio-dia de 20 de maio (dois dias depois da primeira aterrissagem) a situação em Kinshasa estava sob controle suficiente para que a 4ª Companhia avançasse em direção à cidade de Metal Shaba, ao norte. Ali deparou-se com uma poderosa força inimiga – que dispunha de infantaria motorizada, apoiada por dois tanques leves de fabricação soviética -, a qual foi prontamente destruída.
Legionário francês capturando um prisioneiro
Aos primeiros clarões de 21 de maio, a maior parte dos veículos de transporte do regimento chegou de Lubumbashi, seguida pelo restante da unidade. Totalmente motorizadas, as companhias passaram os dois dias seguintes percorrendo os arredores a procura de rebeldes e prisioneiros. Encontraram grupos de europeus aterrorizados pelas violências cometidas pelos Tigres.
Vitória
No dia 28 de maio, o 2º REP recebeu ordens para ceder seu espaço a tropas belgas, marroquinas e zairenses que se aproximavam, e se deslocar para Lubumbashi, de onde voltaria à Córsega em aviões C-141 da USAF.
Em sua rápida operação, o 2º REP foi o responsável direto pelo salvamento de 3.000 europeus e africanos leais ao governo Mobutu, cerca de trezentos Tigres da FNLC foram mortos e 163 capturados, além de grande quantidade de armas e munições. Cinco legionários morreram em combate e 25 ficaram feridos.
Legionário francês observa os restos da batalha
Levando-se em conta o rápido deslocamento da Córsega para Kinshasa e a precariedade do vôo para Kolwezi, bem como as condições adversas do local dos combates, o desempenho dos legionários foi excepcional.
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