"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



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quinta-feira, 13 de abril de 2017

ASPECTOS GEOGRÁFICOS NA OPERAÇÃO BARBAROSSA

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Por Jamicel Silva

Em 22 de junho de 1941, ao iniciar a Operação Barbarossa, Adolf Hitler rompia o pacto de não-agressão com a União Soviética e invadia aquele território que, no passado, mostrou-se inóspito a conquistas militares. Durante toda a campanha, que durou até dezembro daquele ano, aspectos geográficos influenciaram decisivamente na definição daquela fase da guerra, que impactou nos resultados finais do conflito, em 1945.

O início da operação foi descrito por Churchill (1874 – 1965) da seguinte maneira:

A hora havia soado. Às 4h desse mesmo 22 de junho de 1941, Ribbentrop entregou uma declaração formal de guerra ao embaixador russo em Berlim. Ao raiar do dia,Schulenberg apresentou-se a  Molotov no Kremlin. Este ouviu em silêncio a declaração lida pelo embaixador alemão, e em seguida comentou: “É a guerra. Vossos aviões acabaram de bombardear umas dez aldeias desprotegidas. O senhor acha que nós merecíamos isso?” (CHURCHILL, 2005, p. 530).

A partir daí, o que se observou foi uma massa de veículos militares e tropas deslocando-se rumo ao Leste, em três frentes de ataque: Leningrado, no norte; Moscou, no centro, e no sul rumo aos campos de petróleo no território da atual Ucrânia, já que as reservas dessa fonte de energia na África foram relegadas a segundo plano, mesmo com as vitórias de Rommel naquele teatro, decisão influenciada pela convicção de Hitler da necessidade de derrota do bolchevismo russo (FILHO, 2015).

O avanço alemão foi realizado em três direções, cada qual apoiada por um grupo de exércitos. No início a operação foi bem sucedida, mas, com a chegada de rigoroso inverno, a situação mudou completamente.


A observação do território soviético no local da campanha alemã permite compreender que as grandes extensões de planícies foram propícias ao avanço rápido das divisões mecanizadas, que permitiu o sucesso inicial da Operação Barbarossa. Em decorrência das campanhas da Polônia e França, com a Inglaterra encurralada, após a retirada de Dunquerque, Hitler acreditou que o avanço na Rússia seria breve.

A convicção de Hitler começou a ser colocada em xeque com a chegada do rigoroso inverno russo e, como em outras campanhas do passado, fatores climáticos influenciaram no resultado das ações militares. Como se sabe, Napoleão também foi derrotado nesse mesmo território, durante avanço, com o clima influenciando diretamente no desgaste das tropas da Grande Armèe, alcunha pela qual ficou conhecido o exército francês da época.

Hitler, mesmo ciente das dificuldades dos exércitos alemães, em decorrência do clima rigoroso, que debilitou a capacidade operacional, não permitiu a rendição dos generais e insistia que a resistência durasse até o limite das forças. Com o passar dos combates, a situação das tropas só piorava e a influência do clima se fazia sentir. Aliado ao clima, o relevo e vegetação potencializavam a derrocada das tropas, com o congelamento do solo que dificultava os deslocamentos, causava congelamento de membros, criava escassez de água e alimentos, além de tornar os equipamentos militares inoperantes, como, por exemplo, divisões blindadas que tiveram veículos militares destruídos pelo congelamento de componentes.

Hitler negligenciou os ensinamentos da História Militar e, como ocorreu com Napoleão, fracassou em sua tentativa de conquistar a Rússia.

A análise da Operação Barbarossa demonstra a importância de se levar em conta aspectos geográficos no estudo da História Militar, pois é um dos fatores decisivos no resultado de campanhas militares, como ficou demonstrado com a influência do inverno na sorte das tropas alemãs, na Segunda Guerra Mundial, já que essa foi considerada a primeira derrota de Hitler. A partir dela, os exércitos soviéticos avançaram rumo à Alemanha, com a abertura de um novo front no Leste, que deu tranquilidade aos outros Aliados para atuarem em regiões a oeste e sul da Europa, além da África e Ásia, com destino ao centro do Reich.

Aliadas à importância dos aspectos geográficos, as estratégias e táticas militares também são essenciais para o entendimento do sucesso de operações, pois são levados em conta o terreno, clima e o relevo no planejamento dos comandantes militares. No caso da Operação Barbarossa, a estratégia dos generais soviéticos de recuo das tropas com o intuito de esperar o inverno foi decisivo, pois com tropas mais adaptadas e melhor equipadas a esse clima, o enfrentamento do inimigo foi facilitado como se vê no rápido contra-ataque realizado com a  expulsão das tropas nazistas daquele território.


Referências

- CHURCHILL, Winston S. Memórias da Segunda Guerra Mundial. 3.ed. v.1. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 2005, 534 p.

- FILHO, Cyro Rezende. Rommel: a raposa do deserto. São Paulo: Contexto, 2015, 206 p.

Fonte: Werra


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sexta-feira, 25 de julho de 2014

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

GEOGRAFIA MILITAR POR UM GEÓGRAFO BRASILEIRO

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Por Alfredo Durães



Belo Horizonte — Foi um fracasso total. Uma das mais famosas fortificações militares de defesa, a Linha Maginot, criada na França na década de 1930 para repelir possíveis ataques alemães, teve um custo estratosférico, levou anos para ser construída e, na hora do vamos ver, se mostrou totalmente inútil. A Maginot não impediu que o exército alemão (Wehrmacht) ocupasse a França e Hitler posasse para fotos embaixo do Arco do Triunfo, para enorme desilusão dos franceses.

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Esse grande episódio da história moderna é lembrado pelo professor e geógrafo Filipe Giuseppe Dal Bó Ribeiro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Ele pesquisou a trajetória da geografia militar desde o século 19 e, no mês passado, apresentou suas conclusões. Ele aponta uma possível forma de aproximação com a geografia acadêmica no Brasil, por meio de informações que contribuam para organizar a defesa do território do país, em especial na Região Amazônica. O geógrafo levantou a bibliografia existente sobre o tema no Brasil, concentrada em instituições militares.
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De acordo com Dal Bó, “o fracasso da Linha Maginot talvez seja o marco do fim da antiga geografia militar, aquela mais topográfica e imbuída de antigas doutrinas sobre a tática militar”. Ele acredita que o marco da nova geografia militar foi a grande Batalha da Normandia (também na Segunda Guerra), que coordenou, de maneira vitoriosa, a travessia das tropas aliadas do Canal da Mancha, numa área muito bem protegida pelos alemães, por meio de uma logística bem estabelecida. “O chamado ‘dia D’ deve ser considerado um marco para a nova geografia militar, pois os fatores geográficos foram ponderados e os obstáculos naturais transpostos por um bom planejamento e por uma boa engenharia militar”, pontua.


Mapa mostrando a extensão da Linha Maginot


Questionado sobre a importância do estudo e da aplicação da geografia militar nos dias atuais, o professor diz que “o conhecimento do território é uma das matérias fundamentais que todo o comandante e seus encarregados devem estudar”. “É importante, desde o comando das menores unidades de combate até os mais altos escalões, onde se discute a estratégia e se desenvolve o conhecimento da geografia. Não podemos considerar apenas as condições do terreno, mas do território com todas as suas complexidades. Toda solução para uma situação tática ou estratégica requer o conhecimento prévio do cenário de onde vai se atuar”, acrescenta.



Dal Bó acredita firmemente que no Brasil esse estudo é fundamental, pois trata-se de um país de dimensões continentais e que tem uma enorme fronteira se relacionando com quase todos os países de seu continente, com exceção de Chile e Equador. “Além de um dos maiores litorais contínuos e navegáveis do mundo, um dos mais extensos mares territoriais e de um espaço aéreo também grandioso, o Brasil é um país muito diverso no que se refere ao relevo, vegetação e solos; com extensas redes hidrográficas que poderiam funcionar como um fator de integração; uma população de quase 200 milhões de pessoas e um território ainda pouco ocupado. É necessário que haja uma contribuição da ciência acadêmica, e nesse caso, a geografia é aquela que muito pode contribuir, por tratar da interação de todos os fenômenos espaciais, tanto físicos quanto humanos e de como eles transformam a organização do território”, diz.

Ele acrescenta que no campo da geografia não há escolas no Brasil que tratem do tema, mas sim instituições militares, como a Escola de Comando do Estado-Maior do Exército e a Escola Superior de Guerra. “A questão da Amazônia não é apenas restrita às suas fronteiras, mas é claro que elas chamam atenção pela sua extensão e pela sua diversidade. Portanto é assunto que deve ser estudado pela geografia militar”, diz.



Inimigos do Brasil? Professor da Universidade de Campinas (Unicamp) e uma das maiores autoridades brasileiras em estratégia militar, o coronel Geraldo Cavagnari, 76 anos, é rápido para devolver a seguinte pergunta: se o Brasil não tem inimigos declarados, por que se preocupar com a defesa do território? “Me diga então quem é o inimigo da França?”, questiona o militar reformado do Exército. Ele mesmo emenda a resposta: “Veja bem, a França não tem nenhum inimigo exposto, mas tem um dos mais modernos exércitos do mundo. Esse é o verdadeiro sentido da segurança nacional. Temos sempre que ter a chamada ‘pronta resposta’”, explica, com a autoridade de quem já foi comandante de inteligência do Exército.

Ele explica que o segmento da geografia militar no Brasil floresceu no começo da década de 1920, com chegada de uma missão militar francesa ao país que teve como tarefa modernizar o Exército. “Essa missão ficou aqui por quase 20 anos, treinando e modernizando nossas tropas, imbuindo o sentimento de organização e estratégia”, explica.

Num cenário de confronto hipotético em fronteiras brasileiras, ele aponta as Forças Armadas da Colômbia como um poderoso inimigo, mas faz ressalvas. “A Colômbia tem um exército moderno e muito bem equipado, treinado inclusive para a guerra de selva. Mas não tem efetivo suficiente para uma penetração profunda. Não teria fôlego para uma ocupação”, decreta.



Outro inimigo, ainda no campo das hipóteses, seria uma aliança de países ao Sul do Brasil, como Paraguai, Uruguai e Argentina. “Essa aliança até poderia ocupar, num primeiro momento, partes do Rio Grande do Sul e do Paraná, mas também não teriam efetivo e força suficiente nem para uma penetração maior em nosso território nem para mantê-la”, argumenta. Cavagnari lembra que para o Brasil obter a tão almejada cadeira no Conselho de Segurança das Nações Unidas, tem que ter Forças Armadas fortes. “Note que já somos uma potência econômica, mas teremos que ser, igualmente, uma potência militar”, conjectura.

.Fonte - Correio Brasiliense

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