"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sábado, 4 de janeiro de 2020

A BATALHA DA ILHA DE TRINDADE

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 Nos primeiros dias da 1ª Guerra Mundial, um inusitado combate naval entre dois navios de passageiros convertidos em cruzadores auxiliares ocorreu em águas brasileiras.


Mesmo tendo o governo brasileiro ter declarado o país neutro, a guerra continuava a rondar as águas brasileiras, quando ocorreu um inusitado combate naval entre dois navios de passageiros de linha convertidos em cruzadores auxiliares.

Após três semanas protegendo navios-carvoeiros, a canhoneira alemã Eber recebeu ordens para unir-se ao grande navio de passageiros Cap Trafalgar, para o qual deveria transferir seu armamento e a maior parte de sua tripulação, a fim de transformá-lo em incursor de superfície. O encontro entre os dois navios deu-se no dia 31 de agosto de 1914, junto à Ilha de Trindade, em águas territoriais brasileiras. No dia 10 de setembro, completada a transferência dos canhões e do pessoal, agora arvorando em seu mastro uma bandeira de navio mercante e guarnecida por apenas trinta homens, a Eber partiu desarmada em direção à Bahia, e chegou a Salvador quatro dias depois, exatamente na mesma data em que o cruzador auxiliar britânico HMS Carmania afundou o SMS Cap Trafalgar em Trindade.

O novíssimo navio de passageiros alemão Cap Trafalgar foi convertido para atuar como cruzador auxiliar
 
O paquete a vapor Cap Trafalgar era um novíssimo navio de transporte de passageiros, com menos de um ano de uso, que deslocava 18.170 toneladas e possuía 187 metros de comprimento. Aproveitando sua modernidade e bom desempenho em alto-mar, a Marinha Imperial alemã resolveu transformá-lo em cruzador auxiliar para empreender a guerra de corso no Atlântico Sul, atuando em conjunto com os cruzadores SMS Karlsruhe e SMS Dresden.

A trajetória do corsário SMS Cap Trafalgar, no entanto, foi curta e desafortunada. Depois de a canhoneira Eber transferir seu armamento e partir para a Bahia, na manhã de 14 de setembro o Cap Trafalgar estava sendo abastecido pelo navio-carvoeiro Eleonore Woermann, ainda na ilha de Trindade, quando foi surpreendido pelo cruzador auxiliar HMS Carmania, também um navio de passageiros convertido.

O RMS Carmania, pertencente à companhia Cunard Line, afundou o Cap Trafalgar ao largo da ilha de Trindade
 
Após breve perseguição, na qual embarcação alemã tentou se colocar fora do alcance do Carmania, os canhões dos dois navios abriram fogo, dando início a um tenso duelo que durou cerca de duas horas. Como os canhões britânicos possuíam maior alcance e eram servidos por uma central de tiro mais moderna, o Cap Trafalgar foi duramente atingido e começou a adernar. Quando atingiu a inclinação de 30º, o comandante alemão, capitão de corveta Julius Wirth, ordenou o abandono do navio, que não demorou muito para afundar.

O jornal alemão Die Grüne Post, em edição de 1936, rememora a Batalha de Trindade

A vitória não foi sem custo para os britânicos: o Carmania recebeu 73 impactos diretos das granadas dos canhões do Cap Trafalgar e, por muito pouco, também não afundou. Depois de ter um incêndio a bordo controlado, o Carmania precisou ser escoltado pelos cruzadores HMS Bristol e HMS Cornwall até o porto do Recife, onde sofreu reparos de emergência, antes de seguir viagem.

O Carmania recebeu 73 impactos diretos das granadas dos canhões do Cap Trafalgar e, por muito pouco, também não afundou.
Navios-carvoeiros alemães conseguiram resgatar do mar 279 marinheiros do Cap Trafalgar, muitos feridos com gravidade. A Batalha de Trindade, como ficou conhecido o episódio, resultou em 25 mortos, nove britânicos e dezesseis alemães, inclusive o capitão Wirth, que, em conformidade com as melhores tradições navais alemãs, preferiu ir ao fundo com seu navio. Posteriormente, os marinheiros alemães sobreviventes foram desembarcados em Montevidéu, no Uruguai.


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