sábado, 26 de agosto de 2017

BILLY MITCHELL E SUA VISÃO SOBRE O PODER AÉREO: UM HOMEM À FRENTE DE SEU TEMPO

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A criação dos serviços aéreos nos diversos exércitos e marinhas do mundo, no final da década de 1910, revelou a necessidade da elaboração de uma doutrina de emprego capaz de permitir a utilização mais adequada dos novos meios de combate. Nesse sentido, surgiram, logo após a 1ª Guerra Mundial, teóricos militares que buscaram estabelecer as bases do emprego da nova aviação de guerra, dando origem à teoria do Poder Aéreo.

A experiência da 1ª Guerra Mundial provocou um intenso debate sobre a aplicação dos meios aéreos, sendo os principais teóricos Giulio Douhet, na Itália; Hugh Trenchard, na Grã-Bretanha, e William Mitchell nos EUA. Esses três oficiais contemporâneos eram defensores persistentes da utilização do avião para fins militares.

O General norte-americano William “Billy” Mitchell, contemporâneo de Douhet e Trenchard, desempenhou papel essencial na elaboração do Poder Aéreo dos EUA. Mitchell aprendeu a voar como major, aos 38 anos de idade, e desempenhava a função de observador americano na França quando os EUA entraram na guerra, em 1917, tendo lá estabelecido e comandado o Corpo Aéreo do Exército dos EUA.

O major Billy Mitchell em sua aeronave na França, durante a 1ª Guerra Mundial.

Considerava importante o bombardeio estratégico, mas, ao contrário de Douhet, atribuía grande valor às aeronaves de caça, e, na sua concepção, o enfrentamento entre as forças aéreas oponentes ocupava lugar de destaque.

Mitchell era um estudioso de estratégia e causava-lhe exasperação a falta de atenção das autoridades com o desenvolvimento do Poder Aéreo. Segundo acreditava, era a única forma de dar ao país a vitória na próxima guerra, que previa como inevitável. Na defesa de suas opiniões, entrou em choque diversas vezes com seus superiores. Dentre os choques que travou com a estrutura militar, dois são dignos de registro.

William "Billy" Mitchell, fotografado no início da década de 1920 no posto de Brigadeiro-General com todas as suas condecorações.

Em 1921, sentindo-se ridicularizado pela Marinha, após ter expressado a opinião de que um encouraçado – que custava mil vezes mais que um avião – podia ser afundado por apenas um desses engenhos, desafiou a força naval para um teste. O experimento foi realizado, e o resultado foi o afundamento do ex-encouraçado alemão Ostfriesland por aviões bombardeiros que lançaram bombas de 2.000 libras durante manobras realizadas ao largo da costa de Norfolk.

O experimento de Mitchell de 1921, na costa da Virginia. Um bombardeiro Martin MB-2 lança uma bomba de fósforo branco sobre o encouraçado SMS Ostfriesland


Uma bomba explode junto á proa do encouraçado SMS Ostfriesland


Mortalmente ferido pelas bombas da aviação, o SMS Ostfriesland afunda na costa da Virgínia: o Poder Aéreo se afirmava sobre os antigos encouraçados

As lideranças da Marinha dos EUA, contudo, não se sensibilizaram. Mesmo diante do sucesso da demonstração de Mitchell, ao afundar o Ostfriesland, com bombas lançadas por aviões, os almirantes norte-americanos permaneceram crentes no poder do navio encouraçado, e desprezaram a eficácia do avião contra o navio. Após a experiência, um relatório do Chefe do Estado-Maior do Exército dos EUA chegou a atribuir ao poderio da aviação o mesmo valor das minas navais, lançadas para bloquear os portos inimigos, obviamente subestimando o Poder Aéreo.

Charge publicada no jornal Chicago Tribune sobre o experimento de Billy Mitchell mostrando as visões antagônicas dos almirantes e dos defensores do Poder Aéreo.
Marinha: " Um alvo estacionário indefeso e, ainda assim, veja quanto tempo levou para os aviões bombardeiros afundá-lo!"
Aviadores: "Sim, mas nós o afundamos, não?"

O outro enfrentamento com os superiores do qual Mitchell tomou parte ocorreu em 1925, quando foi submetido à corte marcial por ter chamado publicamente de incompetentes os líderes da Marinha e do Exército. A Corte Marcial, que durou sete semanas, se converteu, na realidade, em um seminário sobre estratégia e sua teoria do Poder Aéreo, onde Mitchell predisse que a próxima guerra seria global, que os EUA enfrentariam o Japão, que os porta-aviões não poderiam fazer frente à aviação baseada em terra e que um forte Poder Aéreo era a única forma de enfrentar com êxito tal situação. Com exceção da vulnerabilidade dos porta-aviões diante da aviação baseada em terra, Mitchell acertou todos os demais quesitos de suas previsões.

Billy Mitchell (o segundo, da direita para a esquerda) sendo submetido à corte marcial. Seria rebaixado ao posto de tenente-coronel, mas defenderia, com grande visibilidade, o conceito do Poder Aéreo.

Mitchell considerava que a única defesa contra o ataque aéreo seria a própria aviação. A força aérea deveria ser constituída por uma força estratégica de grande raio de ação, e por uma série de unidades aéreas locais de defesa, para proteção dos centros vitais do poder. Diferentemente de Douhet, admitia a criação de forças aéreas auxiliares, principalmente com finalidade de observação e transporte, ligadas à marinha e ao exército.

Billy Mitchell pagou um alto preço por estar à frente de seu tempo, Condenado pela corte marcial, foi sentenciado ao rebaixamento, regredindo do posto de brigadeiro-general ao de tenente-coronel. No entanto, sua contribuição para o emprego do Poder Aéreo foi imensa.


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UM CÉU CINZENTO: A HISTÓRIA DA AVIAÇÃO NA REVOLUÇÃO DE 1932


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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

MUITA POMPA PARA A GUERRA: OS UNIFORMES DA RÚSSIA DO CZAR

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As inúmeras mudanças nos uniformes militares russos na época do último czar.

Por Alexandr Verchínin


O último czar russo, Nikolai II, tinha uma paixão talvez maior do que os seus antecessores por atributos militares externos: manobras, desfiles e uniformes. O seu pai, Aleksandr III, um homem que não gostava de grandes públicos e que apreciava coisas singelas, havia simplificado o uniforme dos soldados russos. Os bordados de renda, o uniforme de gala e os exuberantes enfeites de crina de cavalo foram abolidos.

Já Nikolai II acreditava que os elementos cerimoniais dos uniformes eram parte necessária da vida militar de soldados e oficiais. Mal subiu ao trono, em 1894, e reformulou a roupa da cavalaria. O novo uniforme mais lembrava a vestimenta de seus antecessores distantes que marcharam sobre Paris em 1814: jaquetas de abotoamento duplo afuniladas na cintura com bainha colorida na lapela e punhos. Em vez do simples cinturão de couro com a bainha para a espada, introduzido no reinado anterior, os oficiais voltaram a usar a faixa de gala bordada.

O uniforme simples do Exército introduzido por Aleksandr III se manteve em uso até a guerra russo-japonesa. Os soldados russos foram para essa batalha vestindo túnicas brancas e quepes que variavam de cor, dependendo da unidade militar, mas que eram cobertos por uma capa também branca. Quanto aos oficiais, usavam túnicas brancas.

Por saltar à vista e se distinguir tão bem ao longe, aquele uniforme transformava os soldados russos em alvos fáceis para os artilheiros inimigos. A situação ficou tão grave que os combatentes começaram a pintar a vestimenta por iniciativa própria. Em 1904, teve início a confecção de guimnastiôrkas (tipo de camisa longa e larga)  dos soldados e túnicas dos oficiais em tecido cáqui.

Admirador das pompas militares, Nikolai II posa para fotografia em meio a seus oficiais

A derrota da Rússia na guerra russo-japonesa levou a novas alterações no uniforme. Por um lado, as batalhas demonstraram que a roupa do Exército precisava ser adaptada às novas condições de combate. Por mais que as camisas brancas como a neve fossem do agrado dos soldados, e as brilhantes dragonas ao sol, dos oficiais, não dava para virar mira fácil de um franco-atirador ou de uma metralhadora inimiga.

Em 1907, o exército foi inteiramente vestido com uniformes cáqui. O quepe com pala se impôs definitivamente como principal atributo da chapelaria militar, enquanto as calças largas, enfiadas dentro das botas, substituíram por completo as calças justas, tendo apenas os cavaleiros mantido as reithose (calças justas de equitação) cinzas com elementos coloridos. As túnicas e camisas brancas viraram para sempre “coisa do passado”. Os novos uniformes dos oficiais eram cáqui com bolsos no peito e botões metálicos. As guimnastiôrkas dos soldados também receberam bolsos, mas os seus botões eram feitos de couro pressionado.


Psicologia da moda

Para elevar a moral do Exército derrotado, surgiu um novo uniforme cerimonial  ou de gala. Todos os soldados receberam jaqueta de abotoamento duplo com debrum (acabamento feito entre duas costuras) de cor viva. Os oficiais dos regimentos ganharam bordados de ouro sobre a jaqueta, e os generais, um ornamento especial com a forma de folhas de carvalho.

Em algumas unidades foram retomadas as já esquecidas barretinas, confeccionadas  no mesmo modelo daquelas usadas pelos soldados russos em 1812. No Regimento de Granadeiros foi ordenado que se voltasse a colocar sobre o ombro direito os alamares, tal como no século 18, com o monograma de Ekaterina II. As faixas de cintura de prata se assemelhavam àquelas usadas no tempo de ​ Suvorov. Os elementos do uniforme militar do glorioso passado da Rússia deveriam levantar o moral dos combatentes.


Triunfo do espírito

A Primeira Guerra Mundial, que eclodiu em 1914, não permitiu aos soldados russos apreciar plenamente a beleza do novo uniforme cerimonial. Não restou outra opção, senão colocá-lo de lado, uma vez que na frente de batalha ele não tinha qualquer utilidade. Os oficiais tiveram que vestir um uniforme do mesmo tipo do dos soldados.

Elaborado uniforme do Regimento de Cavalaria de Guarda

Todos os elementos chamativos e brilhantes dos uniformes, botões e insígnias das platinas, foram pintados com cores escuras para os tornar invisíveis aos artilheiros inimigos. As correias entrelaçadas do cinto da espada foram substituídas por correias de couro que se cruzavam nas costas e que mantinham o cinturão com um coldre para o revólver e uma bainha para a arma branca. Junto com a túnica militar e a guimnastiôrka começou a ser usada a jaqueta, cuja moda foi introduzida pelas fileiras dos aliados do exército britânico.

A falta de material também levou a alterações no estilo da vestimenta militar. As tropas do front do Cáucaso receberam autorização para confeccionar as suas tcherkéskas com tecido cinzento caseiro. A falta de couro levou à substituição maciça das botas com caneleira enrolada.

Soldados russos durante a Guerra Russo-Japonesa de 1905


Supunha-se que o uniforme cerimonial do Exército russo seria mais uma vez trajado nas capitais dos estados inimigos derrotados – Berlim e Viena. Chegou mesmo a ser feita um traje especial para a futura parada da vitória. O chapéu de feltro em forma de capacete, imitando o antigo capacete russo, foi criado na véspera da guerra para as celebrações por ocasião do jubileu da dinastia reinante. Longos capotes com martingales costurados na região do peito, um sobre outro, faziam lembrar o caftã dos arqueiros russos.

Tudo isso deveria simbolizar o triunfo do espírito eslavo sobre o seu eterno inimigo – a Alemanha. No entanto, a guerra se arrastou e levou a uma revolução. O novo uniforme acabou sendo herdado pelo Exército Vermelho, cujos soldados o tornaram visível e reconhecido no mundo inteiro.

Fonte: Gazeta Russa


terça-feira, 15 de agosto de 2017

EQUIPE DA AMAN VENCE A IV OLIMPÍADA DE HISTÓRIA MILITAR E AERONÁUTICA

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Nos dias 9 e 10 de agosto de 2017, a Academia da Força Aérea promoveu a quarta edição da Olimpíada de História Militar e Aeronáutica, a sempre vibrante competição de conhecimentos que procura, por meio do lúdico, despertar talentos e estimular o estudo da História Militar entre os cadetes da Aeronáutica. Desde 2016, a olimpíada passou a incluir a participação dos aspirantes da Escola Naval e dos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). 

A competição contou com a participação maciça do Corpo de Cadetes da Aeronáutica: vibração e conhecimento

A palestra de abertura foi proferida pelo coronel R1 Fernando Velôzo Gomes Pedrosa, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, que apresentou o tema “Eficácia Militar: uma abordagem histórica”. Os futuros oficiais formaram equipes de quatro integrantes para enfrentar as difíceis provas intelectuais que envolvem conhecimentos da história das guerras da Antiguidade até a Idade Contemporânea. Para esta competição, foram formadas 10 equipes, que envolveram 40 estudantes das três escolas militares. Surpreendentemente, a fase final acabou por ser disputada por uma equipe de cada escola.

A equipe Almirante Saldanha da Gama, da Escola Naval, em plena disputa

A novidade no resultado deste ano ficou por conta da AMAN, que conquistou a primeira colocação com a equipe Duque de Caxias. O segundo lugar coube à equipe Alte. Saldanha da Gama, da Escola Naval. A medalha de bronze ficou com a equipe Brigadeiro Rui Moreira Lima, formada por cadetes da AFA.  Assim como no ano passado, as provas foram disputadíssimas e o resultado final só foi decidido na última bateria de questões, quando a equipe da Marinha quase abocanhou a medalha de ouro se não tivesse errado sua última questão.

A seguir, algumas fotos da competição:

A equipe Brigadeiro Rui Moreira Lima, da Academia da Força Aérea, concentrada em mais uma pergunta da Olimpíada

A equipe Duque de Caxias, pertencente à Academia Militar das Agulhas Negras, com suas medalhas de ouro após a vitória

Em perfeita integração interforças, os integrantes das três equipes finalistas ostentam suas medalhas.

O Brigadeiro Baccarin, comandante da Academia da Força Aérea, realizando a entrega da premiação aos cadetes da equipe vencedora.

O Blog Carlos Daroz-História Militar parabeniza a Academia da Força Aérea e a organização da Olimpíada, na pessoa do Cel Cláudio Calaza, pela excelência e primor do evento, que, a cada ano, alcança mais relevância e visibilidade.

Que venha a V Olimpíada no ano de 2018.

"MACTE ANIMO! GENEROSE PUER, SIC ITUR AD ASTRA".
("Jovem, ânimo! Por este caminho se vai ao Céu". Lema da Academia da Força Aérea)


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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

II SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA MILITAR

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Será realizada, entre 29 e 31 de agosto, a segunda edição do Simpósio Nacional de História Militar, no qual serão apresentadas as mais recentes pesquisas no campo do estudo da guerra, das instituições militares e do soldado.  

O simpósio transcorrerá na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e no Museu Naval, com o apoio da Universidade Estadual de Londrina, Diretoria de Patrimônio Histórico e Documentação da Aeronáutica, UNIRIO, Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Escola de Guerra Naval e Universidade Salgado de Oliveira.

Participe e vivencie a cooperação intelectual entre militares e acadêmicos para a consolidação da História Militar como disciplina.




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sexta-feira, 11 de agosto de 2017

MUSEU DA GUERRA CIVIL AMERICANA FECHA SUAS PORTAS APÓS POLÍTICA EXIGIR A RETIRADA DE BANDEIRAS CONFEDERADAS

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O Museu de Nash Farm, em Hampton, na Geórgia, teria cessado suas atividades depois que uma política democrata local exigiu a remoção de suas bandeiras confederadas.


Nos Estados Unidos continua a polêmica em torno das bandeiras confederadas que fazem referência ao período da Guerra Civil Americana. Dessa vez uma controversa decisão política prejudica a museologia e a promove um silenciamento da memória histórica. 

De acordo com a porta-voz do condado de Hampton, Melissa Robinson, a vereadora democrata Dee Clemmons "solicitou", em nível pessoal, que as bandeiras confederadas fossem removidas do acervo.

Tim Knight, que trabalha para a organização sem fins lucrativos que administra o museu, deu outra versão, afirmando que Clemmons primeiro "exigiu" a remoção de bandeiras confederadas do lado de fora do estabelecimento e, em seguida, exigiu a remoção de todos os artefatos confederados dentro da propriedade.

A organização controladora do museu insistiu que não poderia relatar adequadamente a história da batalha travada 1864 sem seus artefatos e exposições confederados.  Como resultado o museu fechou suas portas e encerrou suas operações.

Um dos objetos confederados existente no acervo do museu

Robinson, no entanto, afirmou que não havia nada de irracional no pedido da vereadora: "Acho que é razoável", disse ela. "Eu acho que havia muitos outros artefatos no museu que poderiam contar a história da Guerra Civil".

"Eu entendo que algumas pessoas acham a imagem ofensiva [da Confederação]", disse Stuart Carter, um residente e defensor do museu, "mas se tentarmos apagá-lo da história, então não poderemos nos lembrar de como erramos e por que não devíamos incorrer no erro novamente". Ele continuou afirmando: "Nash Farms sempre representou ambos os lados do conflito."

Fonte: Milo

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sábado, 5 de agosto de 2017

UMA NADA ORTODOXA FORÇA AÉREA PRIVADA NO AFEGANISTÃO

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O fundador da companhia militar privada Blackwater quer impulsionar a guerra aérea afegã com sua força aérea particular

Por Shawn Snow e Mackenzie Wolf 


Erik Prince, o ex-CEO da companhia militar privada conhecida como Blackwater, quer intensificar a guerra aérea afegã com uma força aérea privada capaz de coleta de inteligência e apoio aéreo aproximado, de acordo com uma proposta recente submetida ao governo afegão.

De acordo com um oficial superior afegão, Prince apresentou uma proposta de negócios que oferece uma "ala aérea composta" para ajudar a incipiente força aérea afegã em sua luta contra o Talibã e outros grupos militantes.

O desenvolvimento vem no momento em que a Casa Branca está considerando um plano para desencadear o envolvimento dos EUA no Afeganistão e substituir o vácuo de poder que se segue com empreiteiros privados.

Erik Prince, fundador e ex-CEO da Blackwater ofereceu ao governo afegão os serviços de sua força aérea privada

Os funcionários do Pentágono são céticos com esse plano. Além disso, um alto funcionário de defesa afegão disse ao jornal Military Times que o general John Nicholson, comandante das forças dos EUA no Afeganistão, se recusou a encontrar-se com Prince para tratar do plano.

O Military Times tentou entrar em contato com funcionários militares dos EUA no Afeganistão para um comentário sobre a reunião de Nicholson - ou a inexistência dela - com o Prince, mas ainda não recebeu uma resposta.

A proposta apresentada ao governo afegão em março inclui uma impressionante variedade de aeronaves de combate para uma empresa privada. A proposta inclui aviões de asa fixa, helicópteros de ataque e drones capazes de fornecer apoio aéreo aproximado para a manobra das forças terrestres, de acordo com uma cópia da proposta obtida pelo Military Times.

A proposta promete fornecer apoio aéreo de "resposta de alta velocidade", no qual "todo o país pode ser atendido em menos de 1 hora".  A proposta afirma que as decisões de liberação de armas ainda serão feitas pelos afegãos.

Dois jatos L-39 Albatross do Corpo Aéreo Nacional Afegão realizando voo de formatura sobre Cabul

Os quadros aéreos também serão equipados com sensores para fornecer coleta de inteligência, que inclui inteligência de imagens, inteligência de sinais e inteligência de comunicação. A aeronave seria operada pelos funcionários da empresa privada.

Uma ferramenta em particular é uma aplicação do iPhone chamada Safe Strike, uma ferramenta para os controladores aéreos aproximados chamarem com segurança e precisão os ataques aéreos. A proposta também promete "conduzir a evacuação médica em situações de combate", com "ex-médicos militares e atiradores de porta".

A força aérea afegã está nos primeiros estágios de transição de sua antiga frota de helicópteros russos de transporte Mi-17 para o modelo UH-60A modelo Black Hawks - um desenvolvimento que Nicholson considera necessário para ajudar a quebrar o impasse no Afeganistão.  No entanto, esses helicópteros não chegarão ao Afeganistão antes de dois anos, e o treinamento não deverá começar até o final deste outono.

Com o aumento das baixas do campo de batalha e o contínuo balanço do território entre o controle do governo afegão e do Talibã, a proposta de Prince procura fornecer uma força aérea privada provisória, enquanto a força aérea afegã atinge a capacidade operacional total.

No entanto, nem todos estão de acordo com o plano. Ronald Neumann, o embaixador dos EUA no Afeganistão de 2005 a 2007 e agora presidente da Academia Americana de Diplomacia, disse que o Afeganistão não aceitará uma força contratada privada. "O presidente Ghani me disse que não vai aceitar", disse Neumann ao Military Times em uma entrevista. "Os afegãos nunca aceitarão isso".

Neumann também questionou a legalidade e o custo de usar uma força contratada privada ao invés de utilizar os recursos militares dos EUA. "Não pode ser mais barato", disse ele. "Essa ideia de que é de alguma forma mais barata é ridícula. Qualquer força terá os mesmos requisitos [de suporte e logísticos].” As forças contratadas também não teriam as mesmas proteções legais sob o direito internacional, disse Neumann.

No entanto, este não é o primeiro rodeio de Erik Prince. O ex-CEO da Blackwater provocou uma controvérsia há uma década, quando sua empresa forneceu centenas de milhões de dólares em serviços de apoio à segurança para o governo dos EUA no Iraque.

Mais recentemente, Prince usou sua força aérea privada em todo o mundo para incluir Somália, Iraque e Sudão do Sul. Prince também teria laços estreitos com o governo Trump: ele é o irmão da Secretária de Educação, Betsy DeVos, e foi supostamente aprovado para criar uma linha de comunicação do canal de retorno com o governo russo durante a transição do Trump.

Helicóptero Bell 412, com matrícula civil, pertencente à EP Aviation

A empresa Prince é agora chamada Frontier Services Group e tem sede em Hong Kong. Através de uma afiliada conhecida como EP Aviation, Prince opera sua própria força aérea pessoal. Na África Central, a luta contra o Exército de Resistência do Senhor é reforçada pelo poder aéreo de Prince. Os helicópteros registrados na EP Aviation foram vistos transportando tropas das Forças Especiais dos EUA na região da África Central, conforme relatório do Daily Beast.

A empresa nomeada na proposta ao governo afegão, Lancaster6, já está operando algumas de suas aeronaves no Afeganistão, oferecendo transporte de mão-de-obra, transporte de tropas e lançamento de suprimentos e cargas com paraquedas.  Não está claro exatamente o papel atual de Prince na Lancaster6, que é baseada em Dubai. O oficial afegão disse que Prince apresentou pessoalmente a proposta de Lancaster6 às autoridades afegãs.

O atual CEO da Lancaster6, de acordo com um perfil pessoal do LinkedIn, é o ex-diretor de operações e diretor de aviação do Prince's Frontier Services Group, Christiaan Durrant. Durrant foi recrutado por Erik Prince para construir sua força aérea privada, de acordo com um relatório do jornal The Intercept.  Tanto o Frontier Services Group e a Lancaster6 não responderam aos pedidos de comentários do Military Times.

As forças afegãs, desde que assumiram a responsabilidade pela segurança do Afeganistão em 2015, têm suportado o peso do sacrifício com dezenas de vidas perdidas todos os dias, disse um oficial afegão ao Military Times. "A aviação é uma parte importante da luta contra o terrorismo", disse o militar. "Esperamos que as forças de segurança afegãs sejam providas de aeronaves adequadas, modernas e sofisticadas, em última instância, estas são as forças afegãs que continuarão a garantir que a região esteja protegida contra o terrorismo, a um longo prazo".

Comandos do Exército Nacional Afegão se preparam para realizar uma missão na província de Kandahar, em 20 de fevereiro de 2013. A capacidade da força aérea afegã continua limitada.

Uma porta-voz do Pentágono se recusou a comentar especificamente sobre a proposta contratada por Prince. "O secretário escuta muitos pontos de vista diferentes na formulação de planos militares", disse Dana W. White, porta-voz do secretário de Defesa, James Mattis.  "No momento, seu foco permanece em trabalhar com seus colegas membros do gabinete e com a Casa Branca para completar uma estratégia nacional para o sul da Ásia", disse ela. "Qualquer decisão que ele tome em relação aos níveis das trocas ou outro apoio ao Afeganistão apoiará essa estratégia".

De acordo com a proposta, o apoio aéreo contratado continuará até que os afegãos deixem de perder território até 2017-2018, e as forças afegãs começarem a retomar o terreno perdido para o Talibã.

Atualmente, há cerca de 8.500 soldados dos EUA no Afeganistão, número muito abaixo do pico de cerca de 100.000 em 2011. Os EUA fornecem apoio aéreo aproximado para forças terrestres afegãs em operações contra o Talibã e a facção do grupo do Estado islâmico no Afeganistão.

Fonte: Air Force Times

O SAQUE E A PILHAGEM NO SISTEMA LOGÍSTICO

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Ainda na Renascença, o problema da logística era tratado como no período medieval, predominando o sistema de requisições, quando em território amigo, e saques e pilhagens, quando o exército operava em uma área invadida. Muito embora aos olhos de hoje o saque pareça uma aberração e um desvio de caráter, nos exércitos modernos, amplamente compostos por mercenários, era uma prática comum, necessária e até mesmo incentivada pelos comandantes. Nesse sistema, no qual a violência das tropas era um fator intrínseco, os recursos para abastecer a tropa eram requisitados – ou saqueados – junto à população local, o que proporcionava grande flexibilidade para os pequenos exércitos mercenários e constituía-se na única alternativa para tropas sem uma estrutura logística formalmente estabelecida. As requisições, contudo, possuíam desvantagens significativas, pois os objetivos militares ficavam condicionados à possibilidade de obtenção dos suprimentos e impediam a concentração de grandes quantidades de soldados em determinadas áreas.

Apesar de garantirem o abastecimento de alimentos e de alguns outros itens, o sistema não era capaz de fornecer armas e munições para o exército, tendo esses itens que ser, obrigatoriamente, transportados pelos próprios soldados. Além desses problemas, havia o custo político e social do saque, que frequentemente provocava a revolta das populações de países ocupados.

Embora a modalidade do saque proporcionasse algum apoio logístico para os exércitos invasores, o custo social e material para as populações invadidas era imenso.


Roland Mousnier exemplifica os efeitos do saque sobre a população durante a Guerra dos Trinta Anos: 

“Era mister permitir que os soldados se nutrissem à custa dos habitantes ou impusessem contribuições ao país. Os soldados pilhavam, violavam, torturavam, incendiavam e causavam terror. As perpétuas variações de efetivos, as devastações, acarretavam longos períodos de suspensão das operações. Às vezes, a fome afugentava as tropas vitoriosas das regiões invadidas. [...] Os soldados apoderavam-se do gado, arrancavam o trigo, destruíam o que não levavam, cortavam as árvores, os cepos de vinha, quebravam portas, janelas, fogões, agrediam os habitantes. Mesmo as propriedades do Imperador eram saqueadas. Os camponeses viam-se reduzidos a comer ervas, cascas e frutos selvagens, a esconder-se nas florestas. Os viajantes eram assaltados nas estradas principais.”

No mesmo conflito, durante o saque à cidade luterana de Magdeburgo, em 1631, na Alemanha central, o exército da Liga Católica do general Graff Von Tilly massacrou homens, mulheres e crianças, cuja maioria tinha se rendido e implorava pela vida. O vilarejo foi completamente destruído e, de uma população de 30 mil moradores, apenas 5 mil pessoas conseguiram sobreviver. Um censo realizado na cidade, em 1640, apontou somente 2.400 habitantes. Com o objetivo de diminuir o desperdício e a violência, a França criou uma burocracia civil – a Intendência – para organizar as requisições, no que foi seguida pela Prússia.

Durante a Guerra dos Trinta Anos, o vilarejo de Magdeburgo foi completamente destruído e saqueado. De uma população de 30 mil moradores, apenas 5 mil pessoas conseguiram sobreviver. Um censo realizado na cidade, em 1640, apontou somente 2.400 habitantes.


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A GUERRA DO AÇÚCAR: AS INVASÕES HOLANDESAS NO BRASIL


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quarta-feira, 2 de agosto de 2017

O EMPREGO MILITAR DO AVIÃO

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Tão logo foi inventado pelo brasileiro Alberto Santos Dumont, o avião começou a ser cogitado para ser utilizado em operações de guerra. Na realidade, a ideia de utilizar meios aéreos para finalidades militares precedeu a própria invenção do avião.

Tão logo foi inventado pelo brasileiro Alberto Santos Dumont, o avião começou a ser cogitado para ser utilizado em operações de guerra. Na realidade, a ideia de utilizar meios aéreos para finalidades militares precedeu a própria invenção do avião. Já no século XVII, o jesuíta italiano Francesco Lana de Terzi considerou a possibilidade de serem lançados pedaços de ferro, a partir de um balão, para atingir e afundar embarcações inimigas.

O padre Bartolomeu de Gusmão imaginou o uso dos balões como plataforma de observação de tropas inimigas no campo de batalha, utilização que se tornou realidade em diversos conflitos dos séculos XVIII e XIX, como a Revolução Francesa, a Guerra Franco-Prussiana, a Guerra Civil Americana, a Guerra Hispano-Americana e a Guerra da Tríplice-Aliança. Ainda no início do século XX, os balões de observação chegaram a ser utilizados durante a 1ª Guerra Mundial.

Balão de observação francês ascendendo durante a Guerra Franco-Prussiana em 1871.

Com o surgimento do avião, os exércitos das principais potências mundiais começaram a vislumbraram sua utilização como arma de guerra. O inventor britânico John William Dunne teve seus projetos patrocinados pelas forças armadas do Reino Unido, e testados em segredo, em Glen Tilt, nas Scottish Highlands. Seu desenho mais conhecido, o D4, voou em dezembro de 1908, perto de Blair Atholl, em Perthshire.

Em julho de 1909, o aviador francês Louis Blériot atravessou o Canal da Mancha e chegou à Inglaterra. Os britânicos compreenderam que sua condição de nação insular não seria mais uma garantia de defesa contra futuras ações inimigas. Diante da façanha, o imperador alemão Guilherme II asseverou: “A Inglaterra não é mais uma ilha”.

Louis Blériot em seu avião antes de uma decolagem. "A Inglaterra não era mais uma ilha".

As forças armadas dos países mais importantes do mundo começaram a criar seus componentes aéreos, com a finalidade de atuarem em proveito de suas respectivas forças terrestres e navais. Por exemplo, em 1910 foi criado o Serviço Aeronáutico do Exército Francês e, dois anos depois, a Grã-Bretanha organizou o Royal Flying Corps (Real Corpo de Aviação) e o Royal Naval Air Service (Real Serviço Aeronaval), componentes do exército e da marinha, respectivamente. O mesmo ocorreu com a Alemanha, que estruturou os serviços aéreos de suas forças terrestre e naval.

Em 1909 os irmãos Wright venderam, para o Departamento de Guerra dos EUA, um de seus biplanos de dois lugares. O mesmo tipo de aeroplano foi comercializado pelos inventores com o Exército Francês.

A Alemanha passou a investir no emprego militar dos dirigíveis Zeppelin, já então consagrados como aeronaves de transporte de longo alcance. Tanto a Marinha Imperial quanto o Exército Imperial alemães passaram a empregar os dirigíveis como plataforma de observação, podendo voar mais alto, e por mais tempo, do que qualquer avião existente.

O dirigível LZ-3, da Marinha Alemã, em seu hangar.

Os aviões militares dos primeiros anos da década de 1910 eram frágeis, pequenos e podiam levar somente o piloto. Possuíam cabine aberta e instrumental de voo extremamente primitivo. Além disso, o piloto precisava utilizar um pesado traje de voo para suportar o frio quando em missão. A orientação era realizada pela comparação dos mapas com o terreno, tendo o aviador que pilotar, manusear o mapa em meio ao vento e compará-lo com a superfície centenas de metros abaixo, frequentemente por entre as nuvens. Por esta razão os casos de desorientação ocorriam com frequência, sendo comum os pilotos pousarem em algum campo para perguntar aos moradores locais onde se encontravam.

Os pilotos precisavam utilizar um pesado traje de voo para suportar o frio quando em missão. Um desses pesados trajes de voo na década de 1920.

As falhas mecânicas, aliadas à inexperiência dos pilotos, provocavam muitos acidentes, com perda de material e de aviadores. A despeito desses óbices, a aviação de guerra se desenvolveu inexorável e rapidamente.

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