domingo, 27 de dezembro de 2015

AS FORÇAS DA COMMONWEALTH NA GUERRA DA COREIA

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Depois dos sul-coreanos e dos americanos, as forças britânicas do Commonwealth (chegadas pela primeira vez no combate em 13 de novembro de 1950) representaram a maior contribuição em efetivos combatentes para o Comando das Nações Unidas (UNC) e, mais uma vez depois dos EUA, foram as primeiras a desembarcar na Coreia. O governo trabalhista do Primeiro-Ministro Clement Atlee pareceu mais preocupado em evitar que os americanos embarcassem em alguma espécie de "cruzada" anticomunista contra a República Popular da China do que em defender uma vitima de agressão. Na realidade, os comandantes das forças singulares do Reino Unido só com muita relutância concordaram com a decisão do primeiro-ministro, por julgarem que as Forças Armadas de seu país estavam muito dispersas e diluídas na ocasião.


Os australianos

A contribuição da Austrália, considerando sua população, foi maior que a de qualquer outro aliado do UNC, excetuando-se, é claro, a dos Estados Unidos e a da própria Coreia do Sul (ROK). Tal comprometimento foi compreensível considerando que a Austrália é relativamente próxima da península coreana, mais próxima, aliás, do que qualquer outro aliado do UNC, salvo a Tailândia. Além do mais, aquela nação do Commonwealth ainda tinha recentes lembranças dos bombardeios nipônicos que sofrera no início da 2ª Guerra Mundial; a Coreia e o Japão são quase equidistantes da Austrália. Nos anos imediatamente pós-guerra, a Austrália havia reorientado sua política de defesa para a linha dos Estados Unidos e passara a dar muito mais atenção à Ásia.

O 77º Esquadrão da Royal Australian Air Force, equipado com caças a pistão Mustang P-51, foi a primeira unidade, não americana e não coreana do sul, a entrar no conflito; ele encontrava-se sediado no Japão como integrante da 5ª Força Aérea da USAF e, portanto, estava familiarizado com os procedimentos americanos para a guerra aérea. Os aviadores australianos prestaram valiosíssima ajuda para a defesa do Perímetro de Pusan, assim como durante todo o conflito armado.

P-51 Mustangs do 77º Esquadrão da RAAF durante a Guerra da Coreia


A Austrália também enviou um batalhão de infantaria, o 3º do Royal Australian Regiment, que entrou em ação em 5 de novembro de 1950. O 3º operou então como retaguarda das forças americanas e sul-coreanas que se retiraram da Coreia do Norte e, mais tarde, investiu sobre Seul na contraofensiva da ONU do ínicio de 1951. Como parte da 27ª Brigada da Grã-Bretanha e apoiado pelo batalhão de infantaria canadense e pelo regimento de artilharia de campanha neozelandês, o 3º derrotou os chineses em uma importante operação em Kapyong. O primeiro comandante do batalhão australiano, combatendo, como de hábito, na linha de frente com seus subordinados, foi morto por estilhaço de granada chinesa quando se encontrava em sua barraca, logo após ferrenho entrevero.

Já em 29 de junho de 1950, o governo australiano havia autorizado o emprego da fragata HMAS Shoalhaven e do destróier HMAS Bataan (esta última denominação, simpática homenagem a defesa americana ate o último homem na península filipina de Bataan, nos primeiros dias da guerra no Pacífico durante a 2ª Guerra Mundial). Pelo restante do conflito, a Austrália manteve sempre dois destróieres ou fragatas em águas coreanas. Em outubro, o porta-aviões HMAS Sidney chegou à Coreia transportando dois esquadrões de Sea Furries a pistão e um de Fireflies, todos fazendo parte do 20º Grupo de Aviação Embarcada. O Sidney era o único porta-aviões da Marinha australiana e o único capaz de empregar aviões de combate.


Os ingleses

A primeira grande unidade terrestre inglesa, a 27ª Brigada, ajudou a defender o Perímetro de Pusan. No total, nove regimentos britânicos operaram na Coreia, um deles, os imortais Glosters. As forças do Commonwealth ficaram, inicialmente, adidas, como unidades independentes, a divisões do US Army e foram, mais tarde, reunidas na 1ª Divisão do Commonwealth britânico (que incluia a 60ª Unidade Indiana de Campanha de Ambulâncias e Cirúrgica), designada para integrar o 1º Corpo dos EUA. Depois das batalhas no Perímetro de Pusan, a divisão avançou para o Yalu, abriu uma brecha para acolher a 2ª Divisão dos EUA que recuava e suportou ataques de todos os lados em Kunu-ri, na Coreia do Norte, empenhando-se nas acirradas batalhas que barraram as ofensivas chinesas na primeira metade de 1951. A opinião generalizada entre os americanos foi a de que o Comandante inglês, General A.J.H. Cassels, e o Brigadeiro canadense, J.M. Rockingham, personificaram o que havia de melhor na tradição militar do Commonwealth; os dois aliaram às suas virtudes militares tato e diplomacia exemplares em seus comandos combinados.
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Soldados da 27ª Brigada britânica em marcha na Coreia

Existiam diferenças consideráveis entre a doutrina e a organização das forças americanas e inglesas. Uma delas era que os britânicos privilegiavam o topo das elevações para a defesa, enquanto os americanos preferiam ocupar as encostas para tirar melhor proveito do fogo cruzado.

O cometimento da Royal Navy foi também quase imediato. Poucos dias depois da autorização do Conselho de Segurança da ONU para a assistência militar à Republica da Coreia, uma frota da Marinha inglesa, procedente do Extremo Oriente e liderada pelo porta-aviões HMS Triumph, já conduzia operações militares em águas coreanas. Já em 2 de julho de 1950, o cruzador HMS Jamaica e a fragata HMS Black Swan participavam da destruição de cinco lanchas torpedeiras da Coreia do Norte, na primeira e única batalha naval da guerra, a qual constituiu um embate bastante unilateral. No dia seguinte, os aviões do Triumph, fundeado na costa oeste coreana, começaram a atacar alvos em terra e a realizar operações de patrulha antissubmarina em proveito da Força-Tarefa 77 anglo-americana. Foi também aproximadamente nessa ocasião que o primeiro navio-hospital, o HMHS Maine, começou a operar na Guerra da Coreia.

Não surpreendeu que a contribuição naval britânica só fosse excedida pela da US Navy. Não menos que quatro porta-aviões da Royal Navy (Glory, Theseus, Ocean e Triumph) operaram em águas coreanas, junto com o cruzadores Belfast, Jamaica, Birmingham, Kenya e Newcastle, com os destróieres Cossack, Consort, Cockade, Comus e Charity (todos, obviamente, da Classe "C") e com outras belonaves da Marinha britânica. A cooperação cerrada entre os estados-maiores navais americano e inglês fez lembrar coordenação semelhante ocorrida na 2ª Guerra Mundial, que incluiu a troca regular de recursos. Na realidade, toda a costa oeste da península coreana, até a latitude 39/30, ficou sob o controle do Contra-Almirante William G. Andrewes, da Royal Navy, que comandou todos os navios de guerra aliados do Commonwealth e não americanos e a maioria das outras forças navais da coalizão. Para aprimorar a ligação com a US Navy, o Almirante Andrewes estabeleceu seu QG do teatro de operações navais em Sasebo, o porto japonês que abrigava também o QG da armada americana.

Cruzador HMS Belfast disparando contra alvos na Coreia do Norte

Foram designadas missões para a Royal Navy na costa oeste da península porque a Grã-Bretanha reconhecia a existência da Republica Popular da China (PRC); quaisquer perambulações de belonaves do Commonwealth em águas da PRC poderiam ser dirimidas pelos canais diplomáticos estabelecidos. (As ações navais na costa leste ficaram sob controle operacional da US Navy, e lá atuaram os navios de guerra americanos.)  As forças navais americanas e inglesas engajaram-se em missões semelhantes de bombardeios, bloqueios e ataques navais e aéreos contra as respectivas áreas costeiras.

Em virtude de sua predominância nas águas ocidentais coreanas, as belonaves da Royal Navy tiveram significativa participação nos desembarques de Inchon e realizaram também manobras diversionistas ao longo da costa oposta. Com a virada no conflito contra a ONU, uma força de destróieres liderada pelo Commonwealth enveredou corajosamente pelo estuário do Rio Taedong, em condições climáticas desfavoráveis, para evacuar o pessoal de Pyongyang. Em uma outra operação ribeirinha, ainda mais arriscada, navios da Royal Navy entraram pelo estuário do rio Han, sob constante ameaça do litoral dominado pelos norte-coreanos, para realizar sondagens marítimas e colocar bóias naquelas águas pouco profundas e sujeitas a mares desconcertantes.

Mais ao norte, navios de guerra do Commonwealth ajudaram as guerrilhas norte-coreanas, apoiadas pelo UNC, nas suas operações partidas de pequenas ilhas na costa oeste da Coreia do Norte, mas foram incapazes de evitar a retomada por parte dos comunistas da ilha mais setentrional de Taewa-do, no final de novembro de 1950. Com o impasse no combate terrestre, as missões da Marinha inglesa resumiram-se também à rotina dos bloqueios, das operações de comandos e aos bombardeios do litoral. A Royal Navy e a Royal Australian Navy realizaram aproximadamente 25 mil surtidas aéreas. Cerca de 3.500 combatentes da Marinha britânica serviram em qualquer momento do conflito, em alguns dos seus 34 navios de guerra nas águas coreanas durante todo o conflito. No cômputo final, a Grã-Bretanha, a Austrália, O Canadá, a Nova Zelândia, a Colômbia, a França e a Holanda contribuíram com o impressionante total de 5 porta-aviões, 5 cruzadores, 17 destróieres, 17 fragatas e numerosos navios de apoio para a causa da ONU na Coreia. E ao destróier canadense HMCS Nootka coube a honra de capturar um lançador de minas norte-coreano, a única belonave comunista aprisionada durante a Guerra da Coreia.

Carecendo de bases próximas da Coreia, a contribuição da Royal Air Force foi bem mais modesta, mas, ainda assim, bastante valiosa. Ela consistiu em aeronaves localizadoras de artilharia e de três esquadrões de grandes hidroaviões Sunderland de reconhecimento.


Os neozelandeses

A Nova Zelândia enviou um regimento de artilharia que proporcionou acurado fogo em Kapyong (e em outras ocasiões), embora tenha sofrido um ataque acidental de napalm da USAF e a despeito de nenhum de seus integrantes ter experiência prévia no tiro de artilharia quando a unidade desembarcou na Coreia. Na última fase do conflito, os artilheiros kiwis e um pelotão adicional de transportes continuaram prestando utilíssimo serviço ate o final.


Os canadenses

O Canadá mandou a 25ª Brigada de Infantaria a três batalhões, que entrou em ação em 21 de abril de 1951. O primeiro batalhão a chegar foi o Princess Patricia's Light Infantry; mais tarde, no rodízio anual, os Princess Pat's foram substituídos pelo 22º (os tradicionais Van Doos franco-canadenses) e, depois, pelo Royal Canadian Regiment. A apressada conscrição dessa força canadense toda de voluntários deu margem a algumas anomalias. As seções de alistamento foram inundadas por voluntários. Os atarefados oficiais recrutadores realizaram entrevistas muito superficiais com os candidatos, e o resultado foi que cerca de 30% deles tiveram depois que ser afastados e diversos desertaram (mesmo antes de o contingente deixar o Canadá). Mas os que desembarcaram na Coreia constituíram uma força bastante respeitada que mostrou seu valor nas batalhas por indescritíveis elevações e cristas, depois de dois anos de impasse no combate. O batalhão era, na essência, uma unidade autossustentada com suas próprias tropas de apoio logístico, médico e de engenharia. Contudo, os canadenses foram equipados com o modelo M4A3B8 do blindado americano Sherman, do qual os veteranos bem se lembravam dos tempos da 2ª Guerra Mundial.

Coluna de Shermans canadenses cruzando o rio Imjin em 1952

A Royal Canadian Air Force contribuiu com o 426º Esquadrão de Transportes, equipado com os quadrimotores a pistão North Star, de fabricação canadense. Esses grandes aviões realizaram regularmente importantes missões de longo alcance entre a Base McCord da Força Aérea americana, situada no Estado de Washington, e o aeroporto de Haneda, no Japão. Os pilotos canadenses de caça ficaram adidos à 5ª Força Aérea americana e abateram 20 aeronaves comunistas.

Os canadenses e os ingleses destacaram tropas para sufocar rebeliões ostensivas nos campos de prisioneiros de guerra do UNC. Os dois contingentes ficaram espantados com a negligência que encontraram e julgaram que os americanos tentavam dividir a culpa por um dos erros de guerra mais embaraçosos do UNC; ambos os comandantes protestaram contra o fato de o UNC não ter consultado seus respectivos governos antes que suas tropas fossem despachadas para aquele tipo de missão. Não obstante, os contingentes passaram a cumprir imediatamente os deveres de guardas. (o primeiro-ministro inglês Clement Attlee deixou escapar, mais tarde, que, se os campos estivessem desde o início sob o controle inglês, jamais teriam ocorrido as sublevações.) Descontados esses pequenos incidentes, as tropas do Commonwealth, foram consistentemente elogiadas pelas suas correspondentes americanas, mesmo que estas últimas sempre questionassem a recusa dos brits em usar capacete de aço em combate.



Fonte: Adaptado de SANDLER, Stanley. A Guerra da Coreia. Rio de Janeiro: BibliEx, 2009.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

PENSAMENTO MILITAR

 

"Uma nação não se perde porque outros a atacam, mas porque aqueles que a amam não a defendem."

Blas de Lezo y Olavarrieta
Almirante espanhol

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

PERSONALIDADES DA HISTÓRIA MILITAR - GENERAL FRANCISCO RESQUIN




* ??/??/1823 – Assunção - Paraguai

+ ??/??/1882 - San Pedro del Ycuamandiyú - Paraguai

Francisco Isidoro Resquin foi um general paraguaio durante a Guerra da Tríplice Aliança e seus seus escritos são uma das principais fontes primárias sobre o conflito. Depois de fazer seus primeiros estudos na escola professor Tellez em sua cidade natal, em 1841, durante o governo de Carlos Antônio Lopez, Francisco Isidoro Resquin se juntou ao exército de seu país.

Em 1859 atingiu o posto de coronel e foi designado para integrar a comitiva de Francisco Solano Lopez em sua mediação antes da guerra entre a Confederação Argentina e o Estado de Buenos Aires. Em seu retorno, foi nomeado comandante da guarnição de Concepcion, onde organizou um corpo de cavalaria que teve excelente desempenho na campanha do Mato Grosso.

Quando o general Wenceslao Robles caiu em desgraça, em junho 1865, Resquin foi promovido a brigadeiro e nomeado comandante-geral da Divisão do Sul. Por ordem de Lopez, recuou para o Paraguai cruzando o Rio Paraná, com suas tropas e mais de cem mil cabeças gado, conquistando a província de Corrientes, que foi ocupada por seu exército.

Seu desempenho na Batalha de Tuiuti rendeu-lhe a Ordem Nacional do Mérito e as funções de chefe de gabinete Lopez. Lutou em 26 de dezembro de 1868 na Batalha de Lomas Valentinas.  Estabelecendo seu quartel-general em Azcurra, Resquin assumiu o comando do 1° Corpo de Exército e organizou a retirada de López, seu gabinete e comitiva. Promovido a general de divisão em San Estanislao, Resquin seguiu na vanguarda da retirada para organizar o acampamento em Cerro Corá.

Após a morte de Lopez e a derrota paraguaia, Resquin permaneceu como prisioneiro de guerra no Brasil, e, ao voltar ao Paraguai, o presidente Juan Bautista Gill encarregou-o da organização do primeiro exército paraguaio do pós-guerra.

O general Resquin morreu em San Pedro de Ycuamandyyú, em janeiro de 1882.  Foi o único general da Guerra da Tríplice Aliança que deixou seu testemunho por escrito, sua obra Datos históricos de la Guerra del Paraguay contra la Triple Alianza.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

ENCONTRADOS CORPOS DE SOLDADOS JAPONESES DA 2ª GUERRA MUNDIAL EM GRUTA NA MICRONÉSIA

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Os cadáveres de seis soldados, que se crê serem combatentes japoneses na Segunda Guerra Mundial, foram encontrados numa gruta reaberta em Palau, pequeno Estado insular da Micronésia, no Oceano Pacífico.  O pequeno posto avançado foi cenário de violentas batalhas em 1944 entre forças japonesas e norte-americanas de que resultou um número muito elevado de vítimas mortais.



Estima-se que o Japão tenha perdido 10.000 soldados nos combates e os restos mortais de 2.600 deles nunca foram recuperados, pensando-se que muitos deles estarão numa rede de subterrâneos fortificados que foram utilizados como parte de uma estratégia defensiva. 

Muitas das cavernas, cheias de restos de explosivos da guerra, foram classificadas como perigosas e seladas após o conflito. A rádio nacional australiana indicou que uma delas foi recentemente aberta pela primeira vez em quase 70 anos, antes de uma visita, agendada para este mês, do imperador japonês Akihito e da imperatriz Michiko.



"A própria caverna situa-se numa zona conhecida como o promontório que é o ponto determinante, na costa ocidental, da ilha de Pelileu", disse Steve Ballinger, diretor de operações da organização não-governamental Cleared Ground Demining.



Segundo o responsável, nesse local encontrava-se "uma peça de artilharia antitanques num bunker de betão altamente fortificado e foram necessários vários dias para tomar essa posição fortificada".



"Penso que os cadáveres pertenceriam ao batalhão, talvez um oficial e os seus homens que controlavam a arma; alguns soldados norte-americanos morreram também nas proximidades", explicou.  Ballinger, cuja equipa está há seis anos trabalhando em Palau, para remover restos de artilharia da Segunda Guerra Mundial, disse ainda à rádio que os corpos descobertos serão repatriados.



A caverna foi, em seguida, novamente selada, mas outras poderão ser abertas. 

Fonte: SIC Notícias


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sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

SUÍÇA, UM PAÍS NEUTRO DESDE 1515

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No dia 14 de setembro de 1515, uma pequena confederação nos Alpes Ocidentais decidiu, através de uma declaração, abdicar de todos os conflitos armados ou guerras. Declaração foi a pedra fundamental da Suíça.


Por Catrin Möderler



No final do século 13, algumas localidades dos Alpes Ocidentais uniram-se contra o domínio dos Habsburgos, formando uma confederação de regiões soberanas dentro do Sacro Império Romano da Nação Germânica. Os objetivos bélicos dessa confederação visavam não apenas defender os territórios em questão, mas também a conquistar novos.


Ao perder uma importante batalha, porém, as regiões soberanas unidas optaram, no dia 14 de setembro de 1515, por uma estratégia sui generis: em vez de uma declaração de guerra, foi ordenado um cessar-fogo imediato, pondo fim à política expansionista. Com isso, a Suíça tornou-se "neutra".


Segundo Christoph Mörgeli, membro do Conselho Nacional (uma das duas Câmaras do Parlamento suíço), "o Sacro Império Romano da Nação Germânica não estava convencido de que tal atitude pudesse ser aceita. Na verdade, a neutralidade das regiões confederadas foi se estabelecendo pouco a pouco, o que passou com o tempo a servir aos interesses das potências europeias da época. Os suíços eram especialmente admirados por suas habilidades militares e combatiam com frequência na Europa em troca de soldos".

Piqueiros suíços mercenários combateram em muitas das guerras da Idade Moderna. Seu desempenho em batalha era bastante elogiado



E foi exatamente através desses soldados experientes que a confederação das regiões soberanas conseguiu sustentar sua tradição militar. Até mesmo o Papa, em Roma, contratava guardas suíços para a sua proteção: uma tradição mantida até os dias de hoje.



Abismo entre católicos e reformadores


A religião foi a prova de fogo para a neutralidade da Suíça. Ulrich Zwingli (vigário da catedral de Zurique) e João Calvino introduziram a Reforma protestante no país. Criou-se, com isso, um abismo entre os reformadores e os católicos, fiéis ao papa.


"A Suíça ficou completamente dividida, chegando várias vezes à beira da desintegração. A neutralidade fez com que outros países europeus não se intrometessem nos conflitos internos. Além disso, as regiões em questão não puderam pedir ajuda a potências estrangeiras", analisa Mörgeli.


Durante a Guerra dos Trinta Anos (1618–1648), a Suíça conseguiu realmente manter a sua neutralidade e saiu intacta da catástrofe que envolveu o continente europeu. Mais tarde, no entanto, com as conquistas de Napoleão Bonaparte, uma parte do território suíço passou a ser dominado pela França e outra parte pela Itália, que também estava sob o jugo do imperador francês.

Cartão-postal da época da 1ª Guerra Mundial satirizando a posição de neutralidade da Suíça.  Entre ovos franceses e alemães, o soldado suíço diz: "preciso olhar bem, para o caso de quebrar algum."



Os dez anos sob domínio francês foram os únicos a interromper a longa história de neutralidade da Suíça. "Os habitantes do país eram suficientemente realistas para saber que a neutralidade não significava proteção. Tratava-se sempre de uma neutralidade armada. O serviço militar obrigatório exigia esforços extraordinários. Essa foi, com certeza, uma das razões pelas quais a Suíça não foi envolvida nas duas guerras mundiais. O preço pelo ingresso do país em tais conflitos teria sido muito alto, mesmo do ponto de vista das grandes potências europeias da época", explica Mörgeli.



Neutralidade e liberdade de expressão


Na era da globalização e de uma união cada vez maior das nações europeias, a neutralidade da Suíça está se tornando um problema. Na opinião de Mörgeli, "políticos, diplomatas e administradores têm cada vez mais dificuldade com a neutralidade do país. Por outro lado, essa neutralidade está muito ancorada no povo suíço, pois ela também tem um aspecto ligado à liberdade de expressão. O Estado suíço não representa as opiniões dos cidadãos, porque esses podem dizer simplesmente que não foram consultados diretamente".


É provável que o povo suíço defenda ainda, por muito tempo, a situação que seu país mantém há mais de 500 anos: a de um Estado independente, soberano e neutro.

Fonte: DW