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Durante a Idade Média a infantaria, menosprezada pelo
espírito da cavalaria, tinha geralmente pouco emprego no combate. Colocada à
retaguarda dos cavaleiros, aguardava o resultado dos duelos individuais para
massacrar ou para pilhar, em caso de vitória, ou para fugir, no caso contrário. Todavia, os ensinamentos da arte da guerra
não ficaram totalmente perdidos na Idade Média. Há exemplos do emprego
judicioso de certos conhecimentos que hoje conhecemos como princípios de
guerra.
Na Batalha de Crecy (1346), durante a Guerra dos Cem
Anos, o exército inglês foi quem fez melhor uso dos conhecimentos da
arte da guerra e do armamento. Conforme veremos
a seguir, sua vitória deveu-se a fatores positivos de sua qualificação e a
erros cometidos pelo exército francês.
Economicamente, a posse de território do outro lado da
Mancha exercia sobre negociantes ingleses, particularmente os de lã, forte
atração, pois eliminaria o isolamento insular em que viviam. A alegação de
direitos sucessórios era de suma importância para caracterizar a “guerra
justa”, base jurídica indispensável para invocar a ajuda feudal, a proteção de
Deus e o direito à pilhagem e ao resgate de prisioneiros.
A Batalha de Crécy inicia com o exército inglês em
marcha para o reduto britânico de Calais, um local estratégico, uma área de
interesse sob ângulo da geopolítica, pois era o ponto mais perto da Inglaterra
em território francês.
Fatores
positivos dos ingleses
Alguns fatores levaram os ingleses ao sucesso na
batalha. A seguir, alguns deles:
1) Calais como objetivo: Imitando Carlos Magno, Eduardo III, como comandante
de tropa em operação, selecionou o objetivo segundo critérios estratégicos e
políticos, visando a expansão do seu Estado.
2) Eduardo III pretendia
furtar-se a um choque em campo raso com o exército de Filipe VI, superior em
número. Percebendo que seria alcançado
antes de atingir Calais, decidiu ocupar uma posição defensiva favorável, onde
passou a noite.
3) Os ingleses
aproveitaram os momentos de confusão para agir, enfrentando o adversário no
momento em que ele estava vulnerável, atacando primeiro à distância com o uso
de flechas, como no momento em que os
cavaleiros ingleses desceram a encosta a pé e, antecedidos pelos arqueiros e
apoiados pelos lanceiros galeses, trucidaram os nobres franceses, inermes sem
suas armaduras ao serem derribados de seus cavalos, que patinavam na lama.
O lado inglês utilizou nesta
hora a concentração de forças para obter a decisão, - uma tática típica de
Carlos Magno.
Falhas no exército francês
1) O exército francês, que buscava
cortar a direção de marcha do inimigo antes que atingisse Calais, deu uma resposta
atrasada, falhando na presteza da intervenção, o que é elemento importante na
guerra. Seu sistema de comunicação falhou. A informação teria demorado a chegar
ao centro de comando francês.
2) Indisciplina da tropa e a
finalidade da luta. Os cavaleiros franceses escolhiam, enquanto marchavam, os
inimigos mais rentáveis para capturar e pedir resgate. Observamos que os
soldados estavam desfocados quanto ao objetivo, uma conduta imprópria na guerra.
Diferentemente do exército de Carlos Magno, que desprezava objetivos de lucro
imediato pela pilhagem, que era formalmente proibida e definia padrões de
conduta para a sua tropa.
Cavaleiros franceses avançando contra as tropas inglesas: a indisciplina tática foi uma das causas da derrota francesa
3) Filipe VI, não tendo
podido alcançar os ingleses em fim de jornada, não obstante deslocar-se em
marcha forçada, resolveu estacionar muito distante da posição ocupada pelos
ingleses. No dia seguinte teve de fazer
uma longa marcha de aproximação para o combate. Duas falhas aconteceram: a distância a percorrer foi mal avaliada, e ao invés de conservar energia
ela foi consumida na marcha de aproximação.
4) Os soldados de Filipe VI
fizeram a marcha para o combate sob chuva, com armas molhadas. E o contato com o inimigo somente ocorreu ao
cair da tarde, com o sol declinante ofuscando a vista dos franceses. As condições ambientais desfavoráveis,
como a chuva, incidência do sol e duração da luz solar, não foram pesadas em
seus graus de dificuldades na locomoção e sentido de ataque.
5) Filipe deu ordem para o
ataque sem reconhecimento do campo de batalha e, recebendo sugestões, mandou retroceder.
Sem esperar pelos tiros dos besteiros, os impetuosos cavaleiros, pesadamente
encouraçados, galoparam morro acima, atropelando os besteiros que, a esta
altura, tentavam obedecer à ordem de retroceder, em meio à densa chuva de setas
inglesas, que aumentava a confusão. Além da falha quanto ao reconhecimento
do campo e o elemento físico desfavorável da elevação, houve decisão precipitada
e falta de coordenação. Foram atacados neste momento de vulnerabilidade.
6) Os cavaleiros franceses
insistiram na investida sem coordenação. Do lado francês mais uma vez a falta
de coordenação e ação em terreno com grau de dificuldade impróprio para o deslocamento
a cavalo.
Arqueiro inglês em ação. O arco longo galês (longbow) permitia o lançamento de 12 flechas por minuto a um alcance de 300 metros
Vitória
inglesa
Os ingleses foram melhores no
emprego do armamento. Utilizaram eficientemente o arco e flecha, dos tipos
leves e pesados, como arma de efeito à distância, com oportunidade, precisão e
cadência de tiro muito superior. O grande arco galês permitia o lançamento de de doze flechas por minuto a 300 metros de distância, em
comparação aos besteiros do exército francês que lançavam apenas duas, e a
distância menor.
Eles utilizaram nesta ocasião
a pólvora pela primeira vez como arma em combate na Europa. Foi com a bombarda,
que causava mais ruído do que estragos materiais, mas foi eficiente para
assustar a cavalaria francesa.
A arma de fogo entrava na guerra, iniciando um largo e
importante período da História Militar.
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mesmo que seja o ponto de vista de quem escreve, a guerra fez parte de toda evolução ao longo dos tempos. não há historia sem guerra. parabéns pelo trabalho. peço-lhe autorização para divulgar em meu blog mantendo os créditos.
ResponderExcluirExcelente post.
ResponderExcluirInteressante a questão do espólio do pós-batalha. Estudo por minha conta história antiga e sei que os romanos solucionaram esse problema, mas parece que houve um grande retrocesso na idade média nesse ponto.
Quais foram as consequências geopolíticas da batalha?
Cumprimentos.
João Paulo