Por Simone Pallone
Usar substâncias químicas e agentes biológicos como armas não é uma novidade dos últimos tempos. Desde a Antiguidade, os militares já se encantavam pelo poder das armas biológicas. Durante a dominação romana, os exércitos tinham especialistas que envenenavam as fontes de água potável que abasteciam as cidades. Além dessa tática, chegaram a utilizar germes de pessoas doentes de cólera, peste ou lepra, com o intuito de fazer com que as doenças enfraquecessem as forças do inimigo.
Nos séculos XVIII e XIX, os colonizadores europeus utilizaram a mesma estratégia, introduzindo a sífilis, a gripe, a varíola, o tifo e a tularemia, para aniquilar as populações nativas de outros continentes, técnica usada também no Brasil.
Entre 1940 e 1944, na campanha da Coreia contra a Manchúria, os japoneses bombardearam onze cidades com material contaminado com peste e tifo. O número de mortos nunca foi avaliado. E nos campos de concentração de prisioneiros de guerra, os japoneses injetaram em prisioneiros de origem mongol, britânica, americana e coreana, soluções com princípios ativos de diversas enfermidades epidêmicas, resultando na morte de, no mínimo, mil prisioneiros.
Após a 2a Guerra Mundial, nos anos 50 e 60 do século passado, o Governo dos Estados Unidos instalou no estado de Maryland, um complexo de laboratórios militares, conhecido como Forte Detrick, onde foram realizados mais de mil experimentos voltados ao desenvolvimento de armas biológicas.
Em relação às armas químicas, na 1a Guerra Mundial, os exércitos alemão, francês e britânico utilizaram gases venenosos para aniquilar os soldados do exército inimigo. Foram utilizados gás de cloro e de mostarda, a partir de 1916. Isso foi permitido pelo poder da indústria química do século XIX.
Soldados britânicos incapacitados pelo gás durante a 1a Guerra Mundial
Uma primeira experiência com o gás foi feita em 3 de janeiro de 1915. Os alemães lançaram gás de cloro em cartuchos sobre as trincheiras inimigas, mas as baixas temperaturas inibiram o efeito da substância. Porém, em abril do mesmo ano, o exército alemão usou o gás novamente. Nessa ocasião, uma densa névoa verde-cinza, típica do gás de cloro, que foi expelido de 520 cilindros, começou a soprar em direção às linhas de um regimento franco-argelino que sustentava a posição. Os soldados fugiram, tentaram se esconder ou se proteger com máscaras improvisadas. Alguns conseguiram, outros não. Psicologicamente, o ataque deu grande resultado, pois os soldados abandonaram suas posições deixando armas e mochilas no local.
Ainda em 1915, em setembro, os ingleses deram a sua resposta a esse ataque, jogando sobre os alemães entrincheirados, uma substantiva quantidade de gás de cloro. Se nos primórdios desse tipo de recorrência ao gás mortífero era costume utilizar grandes cilindros para despejar veneno ao sabor da direção em que o vento soprava, em seguida avançou-se para o uso de um cartucho próprio, capaz de lançar cápsulas de gás venenoso a enorme distância.
Foi a partir do ano de 1916, especialmente durante a longa batalha de Verdun, travada entre alemães e franceses, que o gás entrou em cena de vez. E desta vez estreou-se um novo gás, muito mais tenebroso em seus efeitos do que o cloro - o chamado gás de mostarda (dichlorethylsulphide). De cor amarelada forte, ele mostrou-se capaz de devastar as linhas adversárias mesmo em meio às tropas equipadas com máscaras antigases. Em contato direto com qualquer parte da pele da vítima, de imediato, ele levantava bolhas amareladas, atacando em seguida os olhos e as vias respiratórias. Além disso, tinha a capacidade de permanecer fazendo efeito durante um tempo bem superior do que os outros, como o gás lacrimogêneo (lachrymator), não-mortal, e o de cloro, seja o fosgênico ou o difosgênico.
Desde então, a paisagem da guerra das trincheiras foi marcada pela presença sistemática dos vapores do gás de mostarda que, utilizado por ambos os lados, passou a ser o manto sombrio e enfumaçado que cobria os soldados em seus últimos momentos de vida.
Guerras atuais
Na Guerra do Vietnã, os Estados Unidos utilizaram o napalm e o agente laranja. O napalm é uma mistura de gasolina com uma resina espessa da palmeira que lhe deu o nome e que, em combustão, gera temperaturas a 1.000º C. Se adere à pele, queima músculos e funde os ossos, além de liberar monóxido de carbono, fazendo vítimas por asfixia.
Ataque com Napalm no Vietnã
O agente laranja é um herbicida que derruba as folhas das árvores. Foi chamado assim porque era guardado pelos soldados em tonéis cor-de-laranja. Foi usado pelo exército americano, com a aprovação do presidente John Kennedy, desde 1961 até 1971, com o objetivo de privar os guerrilheiros vietnamitas de suas fontes de alimento e de proteger os invasores norte-americanos de seus ataques. É por isso que enormes descargas desses venenos se concentraram nas zonas em torno das bases norte-americanas e dos campos de pouso de aviões, assim como nas proximidades das rotas terrestres e fluviais.
Aviões da Força Aérea dos EUA espargindo o agente laranja nas florestas vietnamitas
Os efeitos destruidores do napalm devem-se, em grande parte, ao seu componente principal, a dioxina, um dos produtos tóxicos mais potentes, que perturba as funções hormonais, imunizantes e reprodutivas do organismo. Trinta anos depois da guerra, vê-se ainda nas ruas das cidades e nos campos gente mutilada - sem pernas, sem braços, cegas, com os corpos disformes. Esses problemas estão, em grande parte, ligados ao uso de desfolhantes nas operações militares frequentemente classificadas de a maior guerra ecológica da história da humanidade. Mesmo nos Estados Unidos, os efeitos ainda são notados nos ex-combatentes e em suas famílias. Entre os sintomas apresentados estão: cegueira, diabetes, câncer da próstata e dos pulmões, deformação de braços e pernas, entre outros.
Mais recentemente, em 1995, integrantes da seita apocalíptica Verdade Suprema promoveram um ataque a um trem do metrô de Tóquio. Eles levaram gás sarin dentro de sacos plásticos, escondidos embaixo do banco. Quando deixaram os vagões, os terroristas furaram os sacos plásticos com a ponta do guarda-chuva. O ataque causou a morte de 12 pessoas e deixou cinco mil feridos. O gás sarin, provoca um "curto-circuito" no organismo, com sangramentos e vômitos, que também levam à morte. O sarin pode matar em questão de minutos, após a exposição. A substância penetra no corpo por inalação, ingestão, ou também pelos olhos, ou pela pele.
Vítimas do atentado com sarin no metrô de Tóquio sendo atendidas
Os sintomas mais comuns são olhos lacrimejantes e salivação, ocorre também a contração das pupilas, também ocorre sudorese (suor excessivo), bem como dificuldade de respirar, visão turva, náusea, vômito, espasmos e dor de cabeça. A morte se dá pelo ataque à musculatura, ou seja, no momento em que ocorre o ataque à musculatura corporal, ocorre a incapacidade da sustentação de funções como a respiração, pois ocorre a paralisia dos músculos. O atentado de Tóquio mostra como é fácil disseminar um agente químico no ar.
Traje de proteção QBN (químico, bacteriológico e nuclear) do Exército dos EUA
O mais recente uso de arma biológica foi a contaminação por carbúnculo, ou antraz, ocorrida nos Estados Unidos, após os ataques desse país ao Afeganistão, na busca pelo terrorista Osama bin Laden. Esporos da bactéria Bacillus anthracis foram enviados por carta para políticos e profissionais da imprensa. Quatro pessoas morreram e 13 contraíram antraz desde o início de outubro, em meio a receios de que os Estados Unidos estariam sendo alvo de um ataque biológico.
O efeito devastador do antraz já havia sido descoberto em 1979, quando uma liberação acidental de esporos de antraz ocorreu em um instituto biológico de Sverdlovsk, na Rússia. Setenta e nove casos de antraz inalado foram registrados e 68 foram fatais.
Equipe de segurança interna investiga suspeita de atentado terrorista com antraz nos EUA
No início da década de 1940, a Grã-Bretanha detonou bombas de antraz experimentais em uma ilha remota da costa nordeste da Escócia chamada Gruinard. Ela foi interditada até 1990, quando autoridades britânicas descontaminaram a ilha com centenas de toneladas de formaldeído.
O antraz humano tem três formas clínicas principais: cutâneo, pulmonar e gastrointestinal. O antraz cutâneo é o resultado da introdução do esporo através da pele; o antraz pulmonar, resultado de inalação, através do trato respiratório; e o antraz gastrointestinal, de ingestão. Se não for tratado, o antraz, em todas suas formas, pode conduzir a septicemia e morte. O tratamento precoce do antraz cutâneo conduz normalmente à cura, e o tratamento precoce de todas as formas é importante para recuperação. Em pacientes com antraz gastrointestinal a taxa de mortalidade varia de 25% a 75%. A taxa de mortalidade para antraz respiratório pode chegar de 90 a 100%.
Fonte: Com Ciência
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