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Situado em uma das colinas mais altas de Lisboa, num local com comandamento sobre o rio Tejo, o Castelo de São Jorge, domina a paisagem ribeirinha da Baixa Pombalina.
Vestígios da antiguidade
Em meados do primeiro milênio antes de Cristo, a colina do Castelo era banhada por um afluente do Tejo, que entrava pela Praça do Comércio e se prolongava até à Praça da Figueira - Martin Moniz, onde desaguavam pequenas ribeiras. O progressivo açoreamento e atulhamento dessas linhas d’ água foi dando lugar a construções. Na época, o povoamento desenvolvia-se pelas vertentes Sul e Sudoeste da colina do Castelo, diluindo-se na zona baixa das praias do esteiro.
Os vestígios mais antigos encontrados no Castelo remontam à Idade do Ferro, ao séc. VI a.C. É provável que, nesta época, existisse um povoado fortificado na área, não se conhecendo, porém, os seus contornos exatos. As escavações arqueológicas realizadas no local revelaram um conjunto de estruturas, pavimentos e muros, e de objetos de uso quotidiano, que testemunham a antiguidade da ocupação da zona onde hoje se encontra o Castelo.
Estrabão, geógrafo do séc. I a.C., informa que Olisipo foi fortificada no séc. II a.C, durante as campanhas militares romanas na Lusitânia. Dessa fortificação não se encontraram vestígios, mas sabe-se que Olisipo era, na época, um importante porto comercial, quer pelos geógrafos da antiguidade clássica, que escreveram sobre a Península Ibérica, quer pelos vestígios arqueológicos descobertos.
Considerando o espaço do Castelo como um local privilegiado para a implantação de edifícios públicos de caráter monumental ou religioso, foram identificadas poucas estruturas da época romana, das quais destaca-se a presença de um edifício público marmoreado. Também, os objetos do dia-a-dia, nomeadamente, moedas, ânforas e lucernas são pouco abundantes. Porém, são abundantes as epigrafes que, ainda, que deslocadas do seu local original, são reveladoras da importância de Olisipo.
Planta atual do castelo de São Jorge
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Sob o domínio muçulmano
A existência de um castelo propriamente dito, é documentado nas fontes e na arqueologia a partir de meados do século XI. As descrições dos geógrafos árabes salientam o forte castelo e as muralhas que defendiam a kasabah (alcáçova). Nessa altura, Al Uzbuna, como era designada pelos muçulmanos, mantinha a sua importância enquanto cidade portuária, datando desta época o castelo e muralhas que defendiam a kasabah. A cidade propriamente dita - a Medina - desenvolvia-se, desde o Castelo até ao rio, pela encosta Sul e Sudoeste.
A alcáçova, com o seu castelo, construída no topo da colina era efetivamente o centro do poder político e militar da cidade. Na alcáçova, no sítio da Praça Nova, o bairro islâmico revelado pelas escavações arqueológicas constata essa realidade, simultaneamente de residência por excelência dos governadores, nobres e altos funcionários, e de centro militar. A cerca velha ou moura, com pedaços ainda visíveis em vários pontos, terá sido, provavelmente, reconstruída e aumentada durante o período islâmico.
Período da Reconquista
Em 1147, quando D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, acampa com o seu exército na envolvente da colina do Castelo para tomá-lo aos mouros, o castelo e parte da cidade encontravam-se defendidos por uma muralha, que abraçava parte da cidade que pela colina do Castelo se desenvolvia até ao rio.
A conquista que ficou célebre nos anais da história pela morosidade do cerco devido à dificuldade em tomar o Castelo, que imponente se erguia no topo, contou com a ajuda da Segunda Cruzada que se dirigia para a Terra Santa para mais uma ofensiva contra os árabes.
A lenda, que com o tempo surgiu em torno da conquista de Lisboa, enaltece em particular, a proeza de um nobre cavaleiro de D. Afonso Henriques, Martim Moniz, que, percebendo que os mouros fechavam a porta do Castelo, a flanqueou permitindo, assim, a entrada dos cristãos no último reduto de defesa. Desde então, passou a designar-se por Porta do Moniz, aquela que permitiu a vitória a D. Afonso Henriques, e que se situa junto à Praça Nova.
A conquista cristã de 25 de Outubro de 1147 parece dar continuidade à ocupação islâmica do espaço da alcáçova, bem patente a nível político nos pactos firmados para a rendição da cidade, não se registrando quaisquer níveis de destruição que testemunhem momentos de guerra nesta área. A mesquita, a confirmar-se a sua localização tradicional, cede o lugar à igreja de Santa Cruz. O palácio do alcaide da cidade cede lugar ao paço que aloja o rei quando este se encontra em Lisboa.
Em 1256, Lisboa, torna-se capital do reino de Portugal. Desde então, até ao início do séc. XVI, o Castelo conhece o seu período áureo. Para além da residência real e do palácio dos Bispos, a alcáçova recebe casas dos nobres da Corte.
O castelo retratado por Duarte Galvão em 1505
Os vários reis do séc. XIII, XIV e XV, dedicam uma atenção especial ao Castelo, promovendo várias melhorias. Em meados do séc. XIII, D. Afonso III faz obras de reparação no palácio do governador. No séc XIV, D. Dinis, transforma a alcáçova mourisca em Paço Real da Alcáçova. D. Fernando, em 1373 - 1375, manda construir a Cerca Nova ou Cerca Fernandina, para que a cidade ficasse mais defendida, pois tinha-se expandido muito. Também, com D. Fernando, é instalada na Torre de Ulisses o tombo do reino, onde se guardava os documentos antigos do Arquivo Real.
Depois das guerras com Castela e restabelecida a paz, nos finais do séc. XIV, D. João I, manda atulhar o fosso e coloca o Castelo sobre a proteção de São Jorge, santo protetor dos guerreiros e da fé cristã.
Tempos modernos
Gradualmente, o castelo vai ganhando um cunho mais cortesão, e perdendo a sua função militar. É no Paço Real da Alcáçova que Vasco da Gama é recebido por D. Manuel depois de regressar da Índia, no limiar do séc XV para XVI. É também, neste paço que é apresentada a primeira peça de teatro português, o Auto do Vaqueiro, de Gil Vicente, por ocasião do nascimento do príncipe D. João, futuro rei D. João III.
No raiar do séc. XVI, a residência real e a corte transferem-se para a baixa da cidade, na Praça do Comércio, onde era concluído o Paço da Ribeira.
Desde então, o antigo Paço Real da Alcáçova, vai perdendo, naturalmente importância. O terremoto ocorrido no ano de 1531, acentuou-lhe o abandono, já que sofreu alguma ruína. Porém, em meados do séc. XVI, D. Sebastião, manda reedificar o Paço para aí estabelecer a sua residência, ficando para a história como o último rei a residir no antigo Paço Real.
Com a ida da corte para a zona baixa da cidade, a fisionomia da alcáçova, foi-se alterando, e gradualmente os palácios e casas nobres foram dando lugar a habitações mais populares, ainda hoje visíveis no traçado urbano da atual freguesia do Castelo.
A partir de 1580, com a dominação filipina, o castelo, retoma a sua importância militar, sendo construídos e adaptados edifícios para albergar a guarnição espanhola e para servir de prisão. A função de presídio, será uma constante até à sua reabilitação em 1938-1940.
Nos séc XVII e XVIII, mantêm-se a sua função de quartel e presídio. Ainda no séc. XVII, é construída numa das torres o Observatório Geodésico, passando a designar-se, desde então, por Torre do Observatório. A Torre do Tombo, também se manteve na alcáçova, ocupando para além de uma das torres do castelejo, algumas alas do antigo Paço Real mais próximas, nomeadamente, uma ala designada por Câmara de D. Fernando.
Com o terremoto de 1755, o Castelo, descaracterizado pelas construções que lhe foram sendo acrescentadas, sofre graves danos, desaparecendo numerosos edifícios, torres e trechos de muralha.
Os trabalhos de reconstrução então empreendidos, refletem meios e condições diferentes das existentes na área da baixa pombalina. Os vestígios arqueológicos em toda a zona da antiga alcáçova, testemunham uma notória incapacidade de retirar os escombros do terremoto, optando-se por construir sobre esses escombros novos edifícios ou não construir e deixar essas zonas baldias.
Assim, dos vários trabalhos de reedificação, foram empreendidas obras de reconstrução e adaptação para receber a instalação da Casa de Correcção da Casa Pia, que permanecerá no Castelo até ao inicio do séc. XIX. Porém, parte do antigo Paço Real da Alcáçova, do Palácio dos Condes de Santiago, do Palácio das Cozinhas ou do Hospital de São João de Deus, não serão mais reconstruídos ou só serão reconstruídos parcialmente já nos finais do séc. XX.
Uma das torres do castelo ostentando a bandeira de Portugal
O castelo na atualidade
Em 1910, com a implantação da República, o castelo é classificado como Monumento Nacional.
Em 1940, o Castelo de São Jorge assume um novo destaque em razão da comemoração centenária da Fundação da Nacionalidade e da Restauração da Independência. A intervenção realizada entre 1938-1940 pela Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, procurou imprimir-lhe a dignidade de outros tempos, em que era o centro político e militar do país, pondo a descoberto algumas das estruturas antigas do velho paço real e do castelejo que se encontravam subterradas.
O Castelejo e o Antigo Paço Real da Alcáçova que hoje existem, não são a “reconstrução fiel” do que foram outrora, mas o resultado dos aspectos mais marcantes das sucessivas épocas que lhe foram moldando a fisionomia.
Fonte: Site Oficial Castelo São Jorge
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