Os documentos abertos do National Archives, de Londres, revelaram que a
decisão de afundar o cruzador General Belgrano, maior navio argentino, durante
a Guerra das Malvinas, em 1982, foi tomada durante um almoço da
primeira-ministra Margaret Thatcher com seus ministros em Chequers, casa de campo
da premiê britânica.
Londres decidiu que qualquer navio ou submarino argentino que ameaçasse
as forças britânicas poderia ser afundado, mesmo que estivesse fora da área de
exclusão criada para delimitar o conflito. A principal preocupação era o
porta-aviões argentino 25 de Maio. O alvo, porém, foi o Belgrano, que foi
torpedeado no dia 2 de maio pelo submarino HMS Conqueror. O navio foi a pique
matando 323 marinheiros. Outros 700 foram resgatados.
Os documentos indicam que, no dia 5 de maio, o ministro da Defesa
britânico, John Nott, afirmou em um jantar de representantes da OTAN que
"a decisão fora tomada por um grupo de ministros liderados por
Thatcher".
O Belgrano foi construído em 1935. Sobrevivente do ataque japonês a
Pearl Harbor, em 1941, foi revendido à Argentina após a 2ª Guerra pelos EUA.
Embora antiquado, seus canhões aterrorizavam a Marinha britânica. Seu
afundamento é considerado um crime de guerra pelos argentinos. O
ex-vice-chanceler Andrés Cisneros disse ontem que o afundamento do Belgrano foi
proposital, com a intenção de chocar os argentinos e impedir qualquer
alternativa negociada para o conflito.
O cruzador General Belgrano sendo abatecido em Ushuaia, sul da Argentina, em abril de 1982, um mês antes de ser afundado pelo submarino britânico
Os documentos revelam detalhes sobre os esforços de outros governos para
uma trégua entre Londres e Buenos Aires, entre eles uma proposta de reunião que
o presidente mexicano, José López Portillo, tentou organizar entre o general
Leopoldo Galtieri e Thatcher em Cancún.
Nos últimos 20 anos, diversos historiadores britânicos haviam sustentado
que Thatcher pensou seriamente em bombardear a Argentina. Mas, até o momento,
nenhum documento oficial corrobora essa teoria.
Três documentos confirmam que assessores de Thatcher planejaram
bombardeios na Patagônia, principalmente a bases áreas. No entanto, os documentos
mostram que os ataques eram considerados apenas pelos assessores da premiê.
Os arquivos também indicam que os EUA estiveram a ponto de
comunicar à ditadura argentina uma manobra militar britânica para demonstrar a
Galtieri que o país permaneceria neutro. O plano havia sido elaborado pelo secretário
de Estado Alexander Haig, que pretendia avisar que os britânicos atacariam a
ilha Geórgia do Sul.
A ideia de Haig era comunicar "de forma imprecisa" os planos
britânicos quando fosse tarde demais para que os argentinos preparassem uma
reação. Os americanos estavam preocupados com o destino dos militares argentinos,
que haviam colaborado na luta anticomunista. No entanto, Haig foi dissuadido
pelo embaixador britânico nos EUA, Nicholas Henderson. Ele disse que a
antecipação da manobra teria um efeito devastador sobre a estratégia de
Londres.
Fonte: Estadão
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