Um dos chefes militares que fugiram do comum nas operações do último século da Idade Moderna foi John Churchill, Duque de Marlborough (1650-1722). As ações que caracterizam sua capacidade de liderança e seu gênio militar ocorreram durante a Guerra de Sucessão espanhola (1701-1711). Nesse conflito, importante para a Europa e também para o Brasil (durante ele ocorreram a perda da colônia do sacramento e as duas invasões francesas no Rio de janeiro, em 1710 e 1711), eram adversários principais, de um lado, França, Espanha e Baviera e, do outro, Inglaterra, Áustria, Holanda e Estados alemães da Dieta de Ratisbona.
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A França, esgotada pelas guerras anteriores de Luís XIV, estava em situação crítica do ponto de vista militar, pois suas forças careciam de instrução, disciplina e equipamento. Com exceção do Marechal Villars, os chefes militares eram escolhidos por suas qualidades de cortesãos, sem nenhum valor militar.
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Em contrapartida, o Exército inglês, sob o comando de Churchill, embora constituído de voluntários de toda a Europa Ocidental, comportando apenas um terço de ingleses, era bem treinado por seu comandante em manobrar sob fogo e resistir com tenacidade aos ataques adversários. Além disso, Churchill instaurou uma disciplina férrea.
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A infantaria de Churchill era constituída por batalhões de 700 a 900 homens armados de fuzil e baioneta, formados em três ou quatro fileiras. O fogo era comandado simultaneamente por um pelotão em várias fileiras, enquanto os franceses atiravam por fileira. Quando um batalhão era envolvido, formava um quadrado e estava habituado a se deslocar nessa formação. Cada batalhão compreendia uma companhia de granadeiros, munidos de granadas de mão e machados, que encabeçavam o ataque aos pontos fortificados ou a transposição de obstáculos.
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Granadeiro britânico do Exército de Marlborough
A cavalaria carregava à espada, porém, os dragões eram armados de mosquetões, podendo atuar como infantes quando apeavam, mantendo o terreno conquistado pelo fogo.
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A artilharia disparava projetis maciços a 400 metros e caixas de metralha a 300 metros. Churchill tinha um cuidao todo especial com sua artilharia, ele próprio escolhia, por diversas vezes, suas posições de bateria.
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Surpresa, velocidade e manobra eram os pontos em que Churchill pôs mais ênfase, a ponto de levar Napoleão a julgá-lo bem superior a Frederico II e a outros grandes chefes da Idade Moderna. Para Churchill, o que importava era a destruição do exército inimigo e não o assédio a praças fortes. Porém, essas idéias, tão em contraste com as que predominam na época, encontraram numerosos opositores. Para limitar ainda mais sua liberdade de manobra, havia a timorata, mesquinha e egoísta política de segurança da Holanda – a financiadora do Exército Britânico -, voltada para as operações em suas fronteiras, eriçadas de praças fortes.
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Quando Churchill pôde, ocasionalmente, vencer essa política, na quadra em que os franceses ameaçavam atuar no vale do Danúbio para pôr fora de ação a Áustria (1704), foi possível aos ingleses e alemães – estes comandados pelo príncipe Eugênio – obterem a brilhante vitória de Blenheim, das mais decisivas da Europa e, também, do mundo.
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John Churchill, primeiro duque de Marlborough
Churchill, então, precisava marchar com suas forças da Flandres para o alto Danúbio, despistando as tropas francesas que guarneciam a fronteira leste da França. Além disso, a marcha fugia completamente às condições normais em que então se combatia. Para contornar as enormes dificuldades que ela apresentava para ser cumprida com êxito, Churchill adotou as seguintes providências: emprego de destacamentos precursores para para preparar o estacionamento e a alimentação para o grosso; obtenção de créditos com os banqueiros aliados para a aquisição dos suprimentos necessários ao Exército (não existia ainda o Serviço de Intendência); compra de milhares de pares de calçados antes de lançar a tropa na transposição dos terrenos acidentados; construção das pontes necessárias no itinerário de marcha, uma delas com a finalidade de iludir os franceses quanto à sua verdadeira direção; e, finalmente, transporte de artilharia e trens pelo Reno em grande parte do percurso.
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Quando feita a junção com as tropas do Príncipe Eugênio, Churchill se defrontou com os franco-bávaros em Hochstadt (Blenheim ou Plentheim), no dia 13 de agosto de 1704, percebeu o ponto fraco do dispositivo inimigo, no centro, e, juntamente com seu companheiro de comando, orientou uma força adequada para ruptura, conseguindo a penetração e o envolvimento de grande parte das forças adversárias.
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Em Ramillies (1706), Oudenarde (1708), Malplaquet (1709), estas ainda em companhia de Eugênio, e Arleux (1711), Churchill obteve novas vitórias sobre os franceses.
Fonte: Adaptado de A Arte da Guerra, de Francisco Ruas Santos
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