"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sexta-feira, 16 de março de 2012

JÚLIO CÉSAR CONQUISTA A GÁLIA

.




Travando uma dura campanha militar que se estendeu por sete anos, Julio César, pró-consul romano da Gália Narbonense, entre 58 e 51 a.C., conseguiu submeter as 60 tribos celtas que habitavam as três partes da Gália original.

Desde então, cessada a resistência nativa ao redor do ano 50 a.C., teve início o lento processo de absorção dos derrotados pelos vencedores. Política que continuou se prolongando com sucesso pelo império de Otávio Augusto e de Tibério Cláudio.


O começo da conquista

Independentemente de César ser um homem ambicioso. Desejoso de fazer fama nos combates e nas aquisições territoriais fazia tempo que os romanos olhavam cobiçosamente para a Gália. Ainda que ela se apresentasse extremamente dividida (Bélgica, Aquitânia e Gália propriamente dita), com suas 60 tribos se desentendendo e sendo rivais, ela era uma ameaça permanente a fronteira norte da Itália. Além de possuir enorme riqueza agrícola e mineral, bem como prodigiosa criação de gado, tinha uma notável rede de rios navegáveis, tais como o Ródano, o Garona, o Loire, Mosele, Reno, Oise, Saône, Somme, Sena, etc., apresentava-se, pois, como uma questão de segurança.

Tanto assim que foi daquelas terras de onde partiu a maior ameaça que Roma sofreu em todos os tempos: a impressionante campanha de Aníbal Barca, o general cartaginês que por pouco não pôs fim à própria Roma, quando invadiu a Itália em 218 a.C.. Portanto, os estadistas romanos estavam sempre à espreita de uma oportunidade de rumarem com suas armas para o norte e colocar a Gália inteira sob sua tutela. César narrou no De Bello gallico (‘Comentários sobre a Guerra Gálica’, Livro I,) que foi atendendo ao chamado dos celtas que terminou por envolver-se na guerra.


Batalhas travadas durante a conquista da Gália


Entrou em ação a pedido dos galos-sequanos para neutralizar o chefe germano Ariovisto, que assolava a região, e, a partir de então, suas legiões não pararam mais de marchar e lutar até que todo o território celta ficasse submetido. Sua força núcleo compunha-se das legiões Claudia (VII legião), Augusta (VIII legião), Hispana (IX legião) e a Gemina (X Legião), num total de 24 mil combatentes, fora os 12 mil das tropas auxiliares. Seu objetivo era impedir por meio militar que o líder suevo implantasse, como era seu intento, uma Gália Germânica na parte setentrional da França de hoje, pois ela poderia servir como trampolim para futuras incursões dos bárbaros sobre a área controlada pelos romanos.

A guerra que os dois deram começo, em setembro do ano de 58 a.C., com a vitória espetacular de César nos Vosges (batalha de Ochsenfeld, para os alemães), nas proximidades de Mulhouse (hoje na Alsácia), foi a primeira de uma série travada entre romanos e germanos que se estendeu por séculos e que tinha como alvo o domínio da Gália, até quando os francos sálicos (vindos da Francônia alemã) a ocuparam definitivamente no século V, fundando a França moderna.

Nesta impressionante operação, agindo numa área imensa, quase duas vezes superior a da Itália, suas coortes combateram os helvécios, os germanos e, também, ao atravessar o canal da Mancha para invadir a Bretanha, no ano de 54 a.C., as tribos bretãs.  Depois de ter batido os germanos, teve a seu favor o fato dos celtas não possuírem um governo central. A Gália subdivida-se entre as tribos marítimas, as da Gália central e da Bélgica, mostrou-se incapaz de fazer uma frente comum contra o romano invasor.

A maior resistência à ocupação partiu do chefe Vercingetórix, bravo filho de Celtilo Arverno, que, conclamando as demais tribos gaulesas (senones, parísios, pictones, cadurcos, turonos, aulercos, lemovices, andes, etc.), lutou heroicamente contra o cerco romano em Alésia, até que viu-se constrangido à rendição no ano de 52 a.C., não suportando o sitio e a fome que as legiões lhe impuseram.


O chefe gaulês Vercingetórix depõe suas armas diante de um vitorioso Júlio César


A Gália Narbonense

César na sua conquista não partira da Itália e sim da Gália Narbonense, também conhecida como Gália Transalpina, região que desde 120-118 a.C. fazia parte do Império.

Aquela margem do Mar Mediterrâneo que ligava a Ligúria à Espanha, dos Alpes aos Pirineus, que os franceses hoje denominam genericamente como Languedoc - Roussinon - Provence, durante muito tempo foi hegemonizada pela cidade-estado de Marselha (fundada pelos gregos fócios em 600 a.C., sendo assim a cidade mais antiga da França), que matinha relações de amizade e dependência para com Roma. Todavia, razões geopolíticas fizeram com que os romanos, na esteira da última guerra púnica, a de 146 a.C., se decidissem por implantar uma colônia na região. Foi assim que nasceu a vila de Narbo Martius fundada pelo cônsul Aenobarbo Cneu Domitio que logo se lançou na construção de uma obra histórica.

O intento deles era não só fixar-se no sul da Gália – que passou a ser designada como Província Nostra, ou simplesmente Provence - como também abrir uma estrada da Itália alpina à Espanha pirenaica, rota que passou a se chamar de Via Domitia, cujos começos datam de 118 a.C.. Dali mesmo, de Narbone, outro longo caminho foi planejado, visando à ligação dos dois mares, o Mediterrâneo com o Atlântico, denominada de Via Aquitânia.


Guerreiros gauleses


Para proteger sua aliada Marselha das incursões bárbaras que a ameaçavam, o general Sextus Calvinus fundou Aquae Sextiae, no ano de 120 a.C., a 30 quilômetros de distancia ao norte dela, oppidum que veio a se tornar mais tarde na famosa Aix-en-Provence, agradável local de repouso e veraneio, prodigiosamente provido de águas quentes salutares.

Ali é que, em 102 a.C., poucos anos depois da sua fundação, se travou a lendária batalha de Aquae Sextiae entre o cônsul romano Caio Mario e os Kimber, teutões-cimbrios, que foram derrotados. Desastre que culminou no suicídio em massas de 300 mulheres germanas e seus filhos que não aceitaram ser escravizadas pelos vitoriosos. Esta batalha garantiu em definitivo a posse do espaço Narbonense pelos romanos, província que serviu como base e ponto de partida para o grande assalto ao país dos celtas ensejado por César meio século depois.


A política da ocupação

Octávio Augusto, tornado princep et imperator pelo Senado, no ano de 27 a.C., deu seguimento a política de César em integrar os gauleses ao projeto de domínio romano. Para os nobres celtas ele ofereceu posições de mando na administração e na magistratura, fazendo deles novos cidadãos do império com direito a pertencer ao cursus honorum, e para os jovens guerreiros gauleses, cheios de energia e vigor, abriu-lhes as portas do serviço militar, particularmente na arma da cavalaria.

Transformou a cidade de Ludgunun (Lyon) no centro da Gália federada, fazendo com que anualmente delegações de representantes tribais, presentes na Dieta, viessem prestar homenagens à pessoa do imperador, tornado culto sagrado. Estas reuniões podem ser consideradas como o embrião histórico da assembléia nacional francesa. Lentamente notou-se a alteração dos costumes, os ‘gauleses cabeludos’ deram lugar a uma população galo-romana que gradativamente foi sendo introduzida nos hábitos e costumes trazidos pelo invasor. Uma nova língua começou também a ser falada.

Ainda que rude e impreciso, foi na Provence que, desprendendo-se do latim vulgar, o provençal (ou occitano), pai do idioma francês, derivado da Língua Romana Rústica, conheceu seus primeiros avanços.  Administrativamente, a Gália foi divida em quatro partes: Aquitânia (com capital em Bordeaux), Belga (capital em Tréveris), Ludgunense (capital em Lyon) e Narbonense (com capital em Narbone), chamada mais tarde de Septimania. O antigo sistema cantonal dos celtas foi definitivamente substituído pelo municipia romano.

Todavia, coube ao imperador Tibério Cláudio, que nascera em Lyon, em 10 a.C., adotar uma política mais afirmativa no sentido de distribuir a cidadania romana ao número mais amplo possível de gauleses. Nada lhe parecia melhor para a proteção das fronteiras – talvez por sugestão do seu preceptor, o historiador Tito Lívio - do que a participação dos nativos, agora cada vez mais integrados e comprometidos na estabilidade do império.



Neste aspecto, foi importante a campanha romana contra a ilha da Bretanha, comandada pelo general Aulo Plaucio, em 43, visto que Claudio estimulou-a como um elemento fundamental para estreitar a confraternização militar entre romanos e gauleses, escolhendo os bretões como inimigo comum. Ao atrair a nobreza nativa (que adotou o tria nomina do cidadão romano) e interferir o mínimo possível nos usos e costumes locais (proibiu-se, todavia, os sacrifícios humanos), dando a maior autonomia possível aos municípios gauleses - só lhes extraindo impostos extraordinários em caso de emergência - Roma não conheceu mais atos de rebeldia na região.

Os governadores provinciais e seus agentes foram instruídos em servirem mais como árbitros dos conflitos entre as cidades federadas ou entre as tribos rivais e não como representantes de uma máquina repressora. E, claro, manterem os privilégios e regalias dos comerciantes romanos na área.

A romanização da Gália foi um dos mais bem sucedidos projetos de colonização almejados pelos Césares na ocupação da Europa Ocidental.



Fonte: Educaterra
 
 
.

Um comentário: