terça-feira, 13 de outubro de 2009

SURGEM OS BLINDADOS

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A 1ª Guerra Mundial (1914-1918) introduziu modificações importantes na Arte de Guerra. Até então, desde a Antiguidade, a mobilidade das forças era aceita como elemento importante para a obtenção da vitória. Acabava ganhando aquele comandante que conseguia surpreender o adversário, deslocando rapidamente suas tropas para atacar nos locais onde a defesa era mais fraca.
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.Nesse sentido a cavalaria desempenhava papel importantíssimo, mas, logo no inicio do conflito, ficou claro que seria suicídio manobrar cavalos contra posições defensivas equipadas com metralhadoras e artilharia de tiro rápido. Em poucos meses o confronto estabilizou-se num front delimitado por sucessivas linhas de trincheiras, guarnecidas por florestas de arame farpado e protegidas por ninhos de metralhadora e posição de artilharia.
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Começou então um longo período de confrontos desgastantes, onde cada palmo de terreno conquistado ao inimigo exigia enorme dispêndio de munição e vidas humanas. Os números são impressionantes. Na batalha do Passcheandale (1917), por exemplo, a artilharia aliada disparou logo de entrada 4.283.350 projéteis (107 mil toneladas de alto-explosivo) contra as linhas alemãs, mantendo depois uma cadência de 2 milhões de tiros por semana ate o fim da operação. E quando ela terminou, os aliados tinham avançado apenas uns poucos quilômetros, perdido mais de cem mil homens (contra perdas equivalentes nas tropas germânicas), sem obter nenhum resultado decisivo.
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Algo precisava ser feito: ou se encontrava um meio de romper as linhas de trincheiras, ou o conflito prosseguiria até o esgotamento humano e material de ambos os contendores. Este "algo" foi o tanque de guerra, nova arma introduzida pelos britânicos em fins de 1916, mas só empregada em massa nos últimos meses de conflito.
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Vantagem Tática
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A indústria automotiva ainda engatinhava no início do século XX: as técnicas de construção eram primitivas, os motores fracos e pouco confiáveis e os sistemas de transmissão precários. Mas a ideia parecia boa, e os britânicos decidiram experimentá-la: um veículo blindado, capaz de proteger seus ocupantes do fogo das armas leves da infantaria e dos estilhaços da artilharia, capaz de superar barreiras de arame farpado e posições de metralhadoras, abrindo caminho para a posterior passagem da infantaria amiga e evitando as perdas registradas até então. Uma vez superadas as linhas defensivas, seria possível novamente aplicar a guerra de movimento, cercando outras posições adversárias.
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Com o apoio indisfarçado de Winston Churchill, que ocupava o cargo de Primeiro-Lorde do Almirantado, vários protótipos foram construídos e testados até se chegar a forma básica batizada Mark 1. Na realidade, o segredo que envolveu a construção daqueles veículos foi tão grande que, quando os primeiros exemplares foram embarcados para a França, estavam cobertos com lona e nelas escrito "Water Tank-British Army" (tanque de água para o Exército Britânico). Daí nasceu o nome que genericamente conservam até hoje. Outros traziam pintada em caracteres russos outra legenda ainda mais inusitada: "Frágil - Destino Petrogrado"!
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O Mark 1 britânico em uma posição de espera. Pode-se observar a roda traseira utilizada para facilitar a transposição de trincheiras mais largas
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Pesando em 28 toneladas, medindo 8,04m de comprimento e 2,43m de altura, equipados com motor a gasolina de 105 HP, aqueles monstros foram empregados pela primeira vez em 1916 em duas versões: a versão "male" (macho), armada com um canhão 57mm e metralhadoras, e a versão "female" (fêmea), equipada apenas com metralhadoras. Na época, porém, não se sabia como empregar corretamente os blindados e seu uso inicial foi esporádico. Serviu, porém, para diminuir as perdas nos ataques e, logo em seguida, cada nação envolvida na guerra começou a construir seus próprios blindados.,

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Novas Tecnologias .
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A própria incerteza que cercava os primitivos blindados quanto ao seu emprego estendia-se também às suas formas e características. Os primeiros tanques ingleses tinham a forma de tetraedros e, muitas vezes, levavam atrás rodas auxiliares para ajudá-los a superar trincheiras maiores. Mas eram lamentavelmente lentos – desenvolviam, no máximo, a velocidade de 6 km/h - e paravam por defeito a cada poucos quilômetros percorridos. s mesmos ingleses lançaram depois o Whippet, mais ligeiro e ágil, mas armado apenas com metralhadoras.
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Whippet do exército britânico em deslocamento
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Na França prevaleceu a idéia da casamata ambulante. Seus dois tanques pesados mais utilizados foram o Schneider e o St. Chammond, ambos equipados com metralhadoras e este último com um canhão de 75mm de tiro rápido no nariz. Ambos possuíam motor de 70 HP a gasolina e sua velocidade chegava a 8 km/h, protegidos por uma blindagem que variava de 6 a 25mm.
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Tanque Schneider francês em ação. É possível verificar na foto a facilidade com que os tanques atravessavam verdadeiras "florestas" de arame farpado.
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Os alemães foram lentos em absorver os ensinamentos da guerra de blindados inaugurada por seus inimigos. E, quando o fizeram, lançaram na luta verdadeiros monstros encouraçados, os A7V, lentos, pesados e de difícil manobra.
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O monstro de aço A7V alemão pesava 32,5 toneladas e era tripulado por 18 homens.



Emprego Inadequado
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Até hoje causa espantos aos analistas e lentidão dos velhos oficiais de infantaria e cavalaria em compreender o verdadeiro valor bélico dos carros de combate. Somente a partir da batalha de Cambrai, em 1917, os tanques começaram a ser empregados de modo correto, em unidades compactas capazes de se proteger mutuamente com seu fogo e de levar de roldão as posições adversárias, por mais bem defendidas que fossem. Naquela operação, em poucas horas, dezenas de blindados franceses e britânicos avançaram 8 quilômetros além das linhas alemãs e capturaram 10.000 prisioneiros.
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Na batalha de Amiens, em agosto de 1918, os aliados lançaram na luta 540 blindados, dos quais 324 eram pesados.
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Tanque francês St. Chammond, com canhão 75mm de tiro rápido montado no nariz
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Os alemães nunca chegaram a empregar grandes formações de tanques na 1ª Guerra Mundial, pois o conflito terminou logo em seguida. Mas, apoiados na dura experiência que tiveram, aproveitaram os anos do período pós-guerra para aperfeiçoar sua “blitzkrieg”, ou guerra-relâmpago, onde poderosas forças blindadas usavam mobilidade para contornar posições adversárias.
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Desenvolvimento Final
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Nos últimos meses da guerra os franceses lançaram na batalha os primeiros carros de combate leves Renault FT, com torre rotativa, modelos que mais tarde se tornariam protótipos para as forças blindadas da maioria dos países, inclusive do Brasil.
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Os norte-americanos chegaram a experimentar em combate dois modelos: um pesado, o Holt/gás Eletric, tipo casamata, e outro, mais leve, desenvolvido pela Ford em 1918, cujas linhas lembravam a do Renault francês. Enquanto o modelo maior pesava cerca de 20 toneladas e atingia 10 km/h, o modelo Ford, levemente blindado, pesava apenas 2,5 toneladas e atingia a velocidade de 12 km/h.
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Resta lembrar que estes modelos acabaram forçando o aperfeiçoamento de outros blindados auxiliares, mas igualmente necessários. Os ingleses, por exemplo, depois de colocar em uso versões mais avançadas de seu Mark 1 (os Mark 2 , Mark 3 e Mark 6), modificaram os exemplares mais antigos para empregá-los como transportes de tropas blindados, veículos de socorro e carros-comando blindados.
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O Renault FT-17 francês foi o primeiro tanque com concepção moderna e, após a guerra, integrou as forças blindadas de diversos países do mundo, inclusive do Brasil
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Os blindados, no entanto, só atingiriam sua maioridade três décadas depois, em outro conflito de gigantescas proporções: a 2ª Guerra Mundial.


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Um comentário:

  1. Caro porfessor, Carlos Daróz, sou um leitor aficcionado a respeito do assunto, sou oficial da PMERJ, e utilizamos na Corporação blindados, na verdade, carro-fortes, adaptados para uso policial. Mas na verdade, escrevo-lhe para pedir ajuda, pois gostaria de saber onde encontrar material acerca dos primeiros blindados utilizados no Brasil.No site da UFJF, encontrei uma matéria sobre o tema, todavia gostaria de saber onde encontrar uma leitura aprofundada do tema.Cordialmente e meu muito obrigado,roberto garciamajorpmrobertogarcia@terra.com.br

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