terça-feira, 24 de janeiro de 2023

27 DE JANEIRO DE 1944 - TERMINA O CERCO DE LENINGRADO

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No dia 27 de janeiro de 1944 terminavam os 872 dias do cerco a Leningrado.


Por Aleksandr Korolkov


No dia 27 de janeiro de 1944, as tropas soviéticas fizeram os soldados de Hitler recuar para uma posição de até 100 km de Leningrado, restaurando as ligações de transporte com a cidade. Acabavam assim os 872 dias daquilo que entraria para os livros de história como  o cerco a Leningrado.

Naquela noite de janeiro provavelmente todos os que conseguiram saíram para a rua para assistir aos fogos de artifício em comemoração da libertação, mas de longe nem todos viram junto a si os seus vizinhos, amigos e parentes. De quase três milhões de habitantes da maior cidade soviética antes do cerco, 1,5 milhão de foram evacuadas e mais de 650 mil morreram, a maioria de fome.

Por que razão Leningrado (como era chamada São Petersburgo) era tão importante para Hitler? Ela não apenas ameaçava o flanco esquerdo das tropas nazistas, mas era importante em termos de logística. Se tomassem Leningrado, os alemães teriam à sua disposição um porto marítimo e um importante entroncamento ferroviário de abastecimento.

Bateria antiaérea russa defendendo Leningrado


A cidade se defendeu bem. O trabalho de cerca de meio milhão de seus habitantes a transformou em uma verdadeira fortaleza. Sitiados, eles se defendiam com os canhões navais da Frota do Báltico e a artilharia pesada do forte de Krasnaia Gorka. A densidade da artilharia antiaérea de defesa era dez vezes maior do que na defesa de Londres.

Sem conseguirem tomar a cidade, os soldados do Grupo de Exércitos Norte alemão bloquearam por completo Leningrado, já cercada ao norte pelos finlandeses.

As tropas soviéticas iniciaram as tentativas de libertar a cidade no outono de 1941, mas sem sucesso.


Evacuação

A evacuação dos habitantes de Leningrado, como da população de muitas outras grandes cidades do oeste da União Soviética, foi organizada logo após o início da guerra. No dia 29 de junho trens retiraram os primeiros refugiados para leste. Naquela altura a guerra soava ainda longe e muitas pessoas se recusaram a abandonar suas casas.

Quando no dia 27 de agosto as forças da Wehrmacht se apoderaram da ferrovia que saía de Leningrado, muitos civis ficaram. Tinha então início uma séria crise no abastecimento e era impossível alimentar os que restavam na cidade.



A situação começou a mudar apenas depois de o Lago Ladoga congelar. Em outubro de 1942, mais de 1 milhão de pessoas foram evacuadas de Leningrado através do “caminho da vida”, feito ao longo deste lago.


Fome

Antes, tal como agora, os suprimentos armazenados em qualquer grande cidade chegavam no máximo para garantir duas semanas de autonomia. E a sitiada Leningrado não foi exceção. O fogo nos depósitos de comida, deflagrado pelo bombardeamento dos aviões alemães, apenas apressou o inevitável. Já em outubro a cidade se viu com sérios problemas de falta de comida e em novembro, de fome declarada.

Fazer entrar comida por via aérea era impossível e o período entre o momento em que o lago Ladoga deixou de ser navegável até o seu gelo solidificar por completo foi o mais difícil durante o bloqueio: os barcos já não podiam atravessar o lago, mas os caminhões ainda não podiam passar por cima dele.

Muitos moradores de Leningrado morreram de fome durante o longo cerco


O sistema de racionamento apenas veio organizar a fome, mas não conseguiu vencê-la. Começou com a diminuição das doses de distribuição de comida, cujo pico se deu no dia 20 de novembro de 1941, quando os soldados na linha da frente receberam para todo o dia apenas 500 gramas de pão, os trabalhadores, 250 gramas, e os empregados e dependentes, 125 gramas.

No primeiro inverno do cerco, morriam diariamente de fome e de frio milhares de pessoas. A morte de fome em massa continuou até o verão de 1942, mas mesmo depois as normas de ração diária se mantinham muito baixas e até mesmo os soldados, que recebiam rações reforçadas, passavam frequentemente fome extrema.


A vida na cidade sitiada

Apesar da fome e dos bombardeios constantes, a cidade continuava a viver. A linha da frente estava posicionada a 16 km do Palácio de Inverno, ou seja, do coração da cidade. Os tanques que saíam das oficinas da fábrica de Kirov, constantemente sob fogo inimigo, seguiam direto para a frente de combate e do centro da cidade havia um bonde que fazia o percurso também até a linha da frente.

Apesar de tudo, a cidade preservava a ordem. Quando em novembro de 1941 as mortes derivadas da fome se tornaram generalizadas, foram organizadas equipes especiais que retiravam diariamente das ruas e calçadas dezenas e até centenas de cadáveres. Em março de 1942, toda a população ativa saiu para limpar o lixo da cidade e em abril começou a restauração dos canos e de outras estruturas.


Vida cultural

Apesar dos bombardeios e do bloqueio, Leningrado mantinha a sua vida cultural. Mesmo durante o primeiro inverno do cerco, alguns teatros e bibliotecas se mantiveram abertos ao público, e no verão de 1942 foram inauguradas algumas escolas e outros teatros. No dia 9 de agosto de 1942 se realizou o primeiro concerto sitiado da filarmônica municipal, no qual foi tocada a famosa Sinfonia Heroica de Leningrado, de Dmítri Chostakovitch, que se tornou o símbolo musical do bloqueio.

Fonte: Gazeta Russa


sábado, 21 de janeiro de 2023

UNIFORME - CONSELHEIRO MILITAR CUBANO

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Exército Cubano
Conselheiro militar
Guerra do Ogaden (1977-1978)

A breve Guerra do Ogaden começou com a invasão somali da Etiópia. A União Soviética desaprovou a invasão e cessou seu apoio à Somália, passando a apoiar a Etiópia. A Etiópia foi salva de uma grande derrota e da perda permanente de território por meio de um transporte aéreo massivo de suprimentos militares no valor de US$ 1 bilhão, a chegada de entre 12.000 e 24.000 soldados cubanos enviados por Fidel Castro para obter uma segunda vitória africana (após seu primeiro sucesso em Angola em 1975-1976).

O sargento cubano atuou como conselheiro militar cubano junto ao Exército etíope. Utiliza uniforme com peças de camuflagem de origem cubana e soviética, bastante adequado ao combate no ambiente operacional africano. Está armado com um fuzil de assalto AKS-47 com coronha rebatível, de fabricação soviética. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - CARLO DEL PRETE

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* 21/8/1897 - Luca, Itália

+ 16/8/1928 - Rio de Janeiro, Brasil


Herdeiro da influente família Lucchese, Carlo del Prete começou sua carreira militar se inscrevendo na Academia Naval de Livorno. Ainda como estudante participou de algumas operações da Guerra da Líbia. Ao deflagrar-se a 1ª Guerra Mundial foi designado, pela Marinha Real italiana no Adriático, primeiro para o encouraçado Giulio Cesare, e depois para o cruzador Aquila.

Nesse período começou a conhecer os hidroaviões. São célebres seus voos com Francesco De Pinedo e Arturo Ferrarin, que o levaram à Austrália e estabeleceram diversos recordes de permanência em voo e de distância percorrida. 

Em 1928, em dupla com Ferrarin, a bordo do hidroavião Savoia-Marchetti S.64, conquistou o recorde mundial de duração de voo em circuito fechado (7.666 km, em 58 h 37 min) e o recorde de distância percorrida sem escala, saindo de Montecelio, em Roma, e chegando em Touros, no Brasil, em 49 h 19 min, cruzando 7.163 km.

Cortejo fúnebre no centro do Rio de Janeiro em homenagem a Carlos del Prete

No dia 8 de julho do mesmo ano, enquanto estava no Brasil testando o Savoia-Marchetti S.62, sofreu um grave acidente. Transportado ao Rio de Janeiro, teve uma perna amputada, mas suas condições pioraram, morrendo em 16 de agosto de 1928. Foi condecorado com a medalha de ouro do Valor Aeronáutico. 

Em homenagem ao aviador nativo da cidade, o aeroclube de Luca foi batizado com seu nome.  Também no Brasil, diversas cidades deram o seu nome a logradouros públicos, como ruas e praças.

Estátua em homenagem a Carlo Del Prete na Rua das Laranjeiras, no Rio de Janeiro




sábado, 7 de janeiro de 2023

A DESCONHECIDA GUERRA PSICOLÓGICA UTILIZADA PELOS BRITÂNICOS NAS FALKLANDS/MALVINAS

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Em plena Guerra das Malvinas, um soldado argentino mal treinado e desprovido de armamentos, com frio e fome, faz a guarda de uma colina. O ano era 1982.

Por Max Seitz


Ali, assim como no resto do arquipélago, o vento é constante e não há uma única árvore para se proteger da chuva - somente pedras. O jovem está mais longe de casa do que nunca, quer fugir e ficar perto de sua família. Ele tem medo e poucas esperanças. A comida e os suprimentos são cada vez mais escassos e é improvável que o local seja reabastecido tão cedo. Mas não há outro remédio senão esperar a hora fatal, quando lutará contra as forças britânicas, muito melhor preparadas e armadas do que ele.


De repente, cai em suas mãos um panfleto com os escritos: "Ilha de Condenados".
"Soldados das forças argentinas: vocês estão completamente sozinhos. Da sua pátria não há esperança ou ajuda. Vocês estão condenados à triste tarefa de defender uma ilha remota (...) Não é justo que paguem com suas vidas pelas ambições tortuosas desta louca aventura."

Poucos dias depois, o jovem soldado abandona seu posto e se entrega à unidade britânica mais próxima.


Guerra psicológica

Assim, o governo do Reino Unido imaginava que poderia executar uma "guerra psicológica" (Psywar, na expressão em inglês), estratégia adotada no início do conflito no sul do Atlântico para atingir a moral dos soldados inexperientes que a Argentina havia enviado ao arquipélago. O panfleto é real e faz parte de uma série de documentos secretos recém-revelados pelo Ministério da Defesa britânico.

Os arquivos revelam detalhes até então desconhecidos dessa missão secreta para tentar "manipular" as forças argentinas durante a guerra que matou 649 soldados argentinos e 255 britânicos, entre 2 de abril e 14 de julho de 1982. "Esse material vem à tona só agora porque acabaram de transcorrer os 35 anos exigidos por lei para que pudéssemos divulgá-lo", explicou a autoridade dos Arquivos Nacionais, em Londres, onde os documentos podem ser consultados sob medidas de segurança restritas. Trata-se de uma pasta que contém 189 páginas de documentos etiquetados como "ultra-secretos", sob a referência DEFE 24/2254. Neles, são revelados os detalhes do plano, implementação, exemplos e lições aprendidas da guerra psicológica no arquipélago.


'Explorar o sentimento de isolamento'

A missão de "Psywar" fazia parte da "Operação Corporate", o nome da maior ofensiva militar para recuperar as Ilhas Malvinas. Nos documentos, é possível constatar que o governo britânico deu ao chamado Grupo Especial de Projetos (GEP) a missão de "enganar" as tropas argentinas no arquipélago em abril de 1982, quando a guerra havia acabado de começar. O GEP é uma pequena unidade de oficiais especializados em guerra psicológica dentro do Ministério da Defesa britânico.

Em termos gerais, a missão deles era espalhar o medo diante de um contingente britânico com melhor preparo, contra o qual a derrota seria inevitável. Seguindo essa "ideia de força", um dos documentos definia três metas específicas para o GEP.

- A primeira era "reforçar a percepção argentina sobre a determinação do governo britânico (de recuperar as ilhas) e ressaltar também o poder da força-tarefa (a frota enviada ao arquipélago) mostrando a capacidade do arsenal do Reino Unido."
A segunda era "intensificar a percepção entre os argentinos de que seus líderes são irresponsáveis", ao enfatizar a "escassez de suprimentos nas ilhas".
O terceiro objetivo, o mais ambicioso da operação, era "a desmoralização da tropa argentina nas ilhas", apelando para emoções.

Um dos pressupostos utilizados pelo GEP foi explorar o isolamento dos soldados argentinos nas ilhas.

Isso implicava "explorar qualquer sentimento de isolamento nas tropas de ocupação (argentinas) para que a defesa argentina das Ilhas Falklands (denominação britânica para as Malvinas) pareça insignificante diante da força-tarefa britânica", diziam os documentos. E quando nos arquivos se fala em isolamento, a referência feita não é apenas ao isolamento físico das ilhas, mas também ao desamparo psicológico: a ideia era também tirar proveito do afastamento dos soldados de seus familiares e amigos.


Guerra de panfletos

Para levar a guerra psicológica ao arquipélago, o Grupo Especial de Projetos escolheu "duas armas", segundo os documentos secretos: a produção de panfletos e a instalação de uma emissora de rádio em espanhol. A história da Rádio Atlântico Sul (RAdS) é bastante conhecida. Muito já foi escrito sobre ela, mas há aspectos menos conhecidos, como seu surgimento, operação e alcance - algo que os arquivos do Ministério da Defesa do Reino Unido revelam parcialmente.

Os panfletos produzidos em diferentes momentos do conflito - foram impressos 12 mil exemplares de cada um - são, talvez, o capítulo mais fascinante da guerra psicológica descrita nos documentos oficiais. Um dos panfletos se inspira na rápida derrota da tropa argentina nas Ilhas Geórgia do Sul, também ocupadas pelo país sul-americano. Ali, o capitão-de-fragata Alfredo Astiz sucumbiu em 24 de abril de 1982 diante da superioridade das forças britânicas.


O panfleto, que inclui uma foto de Astiz se rendendo, explora em particular o sentimento de separação.
"Seus valorosos companheiros de armas que estavam há pouco tempo nas Ilhas Geórgia do Sul voltaram à terra natal. Fotografias deles recebendo honras militares e reunidos com seus entes queridos apareceram em todos os jornais", diz o documento.

"Eles tomaram uma decisão correta e honrada. Você deve agora fazer o mesmo. Pense no perigo em que você se encontra. Seus suprimentos de guerra e alimentos são muito escassos. Pense em seus familiares e em sua casa, todos esperando seu retorno."

Outro panfleto descreve uma situação ainda mais dramática: 
"Todos os rigores de um inverno cruel irão cair sobre vocês e o exército argentino não está em condições de enviar os suprimentos e reforços de que vocês tanto precisam".
E completa: "Seus familiares vivem sob terror, sob o medo de que nunca voltarão a vê-los."


Salvo-conduto e canhões

Entre os panfletos impressos durante o conflito, um deles oferece aos soldados argentinos uma solução prática para "fugir" de sua "situação de desespero": um salvo-conduto assinado por ninguém menos do que o comandante das forças britânicas, o almirante John "Sandy" Woodward.


O documento, com objetivo claro de estimular a deserção, certifica: 
"O soldado que estiver portando este passe assinou seu desejo de não continuar na batalha. Ele será tratado estritamente de acordo com o estipulado pela Convenção de Genebra e deverá ser retirado da área de operações o mais rápido possível".

E ainda acrescenta, para tranquilizar o soldado: 
"Serão providenciados alimentos e tratamento médico e depois ele será internado em algum albergue, onde esperará sua repatriação com segurança".

O texto traz instruções precisas sobre como usar o salvo-conduto. Recomenda ao beneficiário: 
a) entregar sua arma; 
b) manter o documento de salvo-conduto em posição bem visível; 
c) aproximar-se do integrante das forças britânicas que estiver mais perto.

No entanto, a guerra psicológica com panfletos não terminou como havia planejado o GEP britânico, a unidade encarregada pela "ofensiva desmoralizadora". Por várias razões. Em um dos documentos secretos, o GEP reclama das dificuldades causadas pela "falta de (informações de) inteligência" sobre as "características psicológicas do público" para tirar o maior proveito da estratégia com os panfletos. Essa falta de inteligência, acrescenta, também impossibilitou comprovar se os panfletos tiveram alguma efetividade na região.

O que fica claro com os arquivos revelados é que os panfletos foram despachados para as Malvinas nos navios HMS Fearless e HMS Hermes e que houve relatos de que vários deles chegaram a ser distribuídos, ainda que em outros casos tenha sido impossível confirmar se eles efetivamente chegaram aos destinatários.

Tropas britânicas em marcha após desembarcarem nas ilhas

O GEP ressalta outro obstáculo que teve de enfrentar: as limitações técnicas para lançar os folhetos no "teatro de operações". "Não foi desenvolvido nenhum projétil para lançar os panfletos como um canhão de 105mm", lamenta. "Também não houve qualquer dispositivo de uso oficial para lançar os panfletos dos aviões de guerra." Na prática, tudo dependia da boa vontade dos militares britânicos no campo de batalha, que tinham outras prioridades na guerra.


Ondas de rádio

Nos documentos divulgados pelas autoridades britânicas, é possível ler que no fim de abril de 1982 o Ministério da Defesa do Reino Unido propôs a criação de uma emissora de rádio para "rebaixar a moral dos soldados argentinos" nas Malvinas. A missão, que levava o nome secreto de "Operação Moonshine" ("Luz da Lua"), deu origem à Rádio Atlântico Sul (RAdS). Seus programas, destinados a "intensificar o sentimento de isolamento das tropas argentinas e estimular sua rendição", seriam produzidos em Londres por uma equipe de 25 pessoas, majoritariamente militares.

Entre eles: um diretor, jornalistas, apresentadores, tradutores, engenheiros do rádio e "coletores" (membros do serviço de inteligência encarregados de obter informações relevantes de todas as fontes possíveis).


De acordo com um dos documentos divulgados, a equipe trabalhou de maneira secreta, em um local da capital britânica. Para evitar comprometer suas operações, os empregados precisavam usar uma senha secreta - "Pinóquio" - para se referir à rádio ou aos seus objetivos. Essa senha sugere a ideia de engano, mas, paradoxalmente, o grupo encarregado da guerra psicológica insiste que "a RAdS se apresentava como uma emissora neutra e imparcial", que "informava os fatos" com fontes do governo britânico e da Argentina, "se este último fosse compatível com as metas".

A justificativa para esse tipo de orientação editorial pode ser encontrada em um dos documentos: "No decorrer da crise, as autoridades argentinas buscaram maneiras de justificar suas ações e provar, especialmente para seu próprio povo, que estavam sendo bem-sucedidos." "Montaram uma campanha de propaganda em grande escala em que a verdade foi ignorada. Muitas declarações eram tão exageradas e absurdas que se desmentiam por si mesmas", completa.


'De iniciantes'

Segundo os arquivos secretos do Ministério da Defesa, a "Operação Moonshine" gerou resistência em outras áreas do governo britânico e na BBC, cujos serviços Mundial e Latino-Americano já faziam transmissões no arquipélago e no território argentino. A BBC também se opôs à iniciativa do governo de assumir o controle de uma de suas antenas na Ilha Ascensão - no meio do Oceano Atlântico - para lançar sua "arma psicológica" pela frequência 9,71 MHz. 

A RAdS fez transmissões em espanhol entre 19 de maio e 15 de junho durante quatro horas por dia. A programação incluía boletins de notícias, comunicados, reportagens, e, eventualmente, até músicas.

No entanto, conforme se constata no material divulgado, os líderes da "Operação Moonshine" acabaram frustrados. Em um dos documentos, há uma pergunta ao então ministro da Defesa, John Nott, se ele acreditava que a RAdS havia contribuído de alguma maneira na captura dos soldados argentinos. "As transmissões eram muito boas...mas eu diria que não tiveram um efeito maior no resultado", respondeu. Nott parecia julgar de maneira otimista a qualidade da programação da rádio. Porque os arquivos secretos detalham vários problemas nela - para começar, há uma citação à própria BBC dizendo que ela considerava que o conteúdo era "de principiantes" e denunciando que "comprometia" sua imparcialidade.

É possível identificar outros problemas por meio de uma comunicação do Exército argentino interceptada pela inteligência britânica, que é falha e cujas conclusões o governo do Reino Unido acabou aceitando. "A linguagem usada era similar à da América Central e faltava conhecimento do espanhol falado na Argentina", dizia o documento. Os britânicos reconhecem isso como um erro estratégico: como poderiam conseguir uma identificação emocional na guerra psicológica se usam expressões da língua que não são faladas ali?

Mas o documento em questão vai além: "Nenhum soldado tinha ideia do que era a RAdS (...) Os soldados argentinos nem estavam sabendo dessas transmissões, nem chegaram a escutá-la devido às circunstâncias." "A maioria das tropas se encontrava no chão e, com exceção de alguns oficiais, nenhum deles tinha receptores" e que "quando surgia alguma oportunidade de escutar rádio, sintonizavam nas rádios da Argentina".

Fonte: BBC