sexta-feira, 30 de setembro de 2022

EDITOR DO PORTAL PARTICIPA DE SEMINÁRIO INTERNACIONAL PROMOVIDO PELA REDE MARIA QUITÉRIA

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O editor do portal Carlos Daróz-História Militar participou do seminário internacional "Bicentenário em Perspectiva", organizado pela Rede Maria Quitéria de Segurança e Defesa em comemoração aos 200 anos da emancipação política do Brasil.

A Rede Maria Quitéria, fundada em 2021, reúne pesquisadores com o objetivo de produzir estudos e pesquisas sobre a área de segurança, defesa, política externa, política de inteligência, cibersegurança e segurança pública.


A sessão temática de ontem, dedicada às perspectivas regionais das independências dos estados latino-americanos foi mediada pela Profa. Dra. Ana Paula Lage de Oliveira, da PUC de Campinas, contou com a apresentação das pesquisas de Carlos Daróz (Instituto de Geografia e História Militar do Brasil-Universidade Federal Fluminense/Université Libre de Bruxelles), Michel Laguerre (Marina de Guerra del Peru) e Maria Aparecida Lopes (California State University).


Na ocasião, Carlos Daróz apresentou pesquisa sobre O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DAS COLÔNIAS IBÉRICAS NAS AMÉRICAS, SOB A PERSPECTIVA DA HISTÓRIA COMPARADA E DO PODER MILITAR.

Quem quiser conferir, segue o link


terça-feira, 27 de setembro de 2022

IMAGEM DO DIA - 27/9/2022

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1º Regimento de Guardas a Pé britânico avança para atacar Blenheim, em 2 de agosto de 1704, durante a Guerra de Sucessão Espanhola


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domingo, 25 de setembro de 2022

A BATALHA DE KURSK ATRAVÉS DOS OLHOS DE SEUS PROTAGONISTAS

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Cidade na região de Prokhorovka foi palco da maior batalha de tanques da história mundial.

Por Viktor Gavrilov e Nezavissiomoie Obozrenie


Paira o silêncio sobre o campo de Prokhorovka. Somente de tempos em tempos ouve-se o repicar dos sinos, chamando os paroquianos para o serviço religioso na Igreja dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, construída com recursos doados pelo povo, em memória dos soldados que morreram na Batalha de Kursk.

Há quase 80 anos, nesse local fervia um terrível combate. Na região de Prokhorovka se desenrolou a maior batalha de tanques da história mundial. Tudo o que poderia se inflamar estava queimando, tudo estava coberto de poeira e fumaça dos tanques, aldeias, florestas e campos de trigo que ardiam em chamas. A terra foi queimada a tal ponto que não restou um único fiapo de grama. Aqui a guarda soviética se encontrou frente a frente com a elite da Wehrmacht, as divisões Panzer SS.

A batalha de Kursk também leva o nome de batalha no saliente de Kursk. Esse nome é devido à forma arqueada da frente de combate, constituída pelas tropas soviéticas (ver mapa abaixo). Os combates na face sul do saliente começaram no dia 4 de julho de 1943, mas os principais eventos ocorreram na madrugada de 5, quando os alemães lançaram o primeiro ataque maciço com as suas formações de tanques.

Mapa da Batalha de Kursk


Na manhã de 5 de julho, o comandante da Divisão SS "Leibstandarte Adolf Hitler", Obergruppenführer, Josef Dietrich, se aproximou dos seus "Tigres", e um dos oficiais gritou para ele: "Vamos almoçar em Kursk!". Mas os integrantes da SS não conseguiram nem almoçar nem jantar em Kursk. Em 12 de julho, às 8h30, os batalhões de assalto soviéticos iniciaram um contra-ataque, opondo-se às tropas do 4º Exército Panzer alemão.

Para revidar os ataques das tropas soviéticas, o comandante alemão Erich von Manstein lançou todas as forças disponíveis, porque entendia perfeitamente que o sucesso do avanço das tropas soviéticas poderia levar à completa derrota dos batalhões de assalto do grupo “Sul” dos exércitos alemães. Na enorme frente, com uma extensão total de mais de 200 km de comprimento, eclodiu uma luta feroz.

Os mais ferozes combates durante o dia 12 de julho estavam sendo realizados na assim chamada ponte (área de estágio tático) de Prokhorovka. Essa área foi conquistada pelo adversário em uma luta tensa ao longo do dia 11 de julho. Ali se estabeleceu e começou a agir o principal grupo das forças inimigas, que integrava a 2ª Divisão Panzer SS "Das Reich". Foi sobre essa força que o comando soviético lançou o seu ataque principal.

Blindados alemães destruídos em Prokhorovka


"Poucos minutos depois, os tanques do primeiro escalão das nossas 29ª e 18ª Divisões, atirando em movimento, com um impacto frontal, penetraram nas disposições militares das tropas alemãs-fascistas e com um rápido e lancinante ataque, literalmente perfuraram as disposições do inimigo. […] Os seus 'Tigres' e 'Panteras' foram privados da supremacia do seu poder de fogo, no combate de curta distância. No início da ofensiva, eles se aproveitaram dessa supremacia durante o confronto com as nossas outras conexões de tanques e agora estavam sendo derrotados com êxito pelos tanques T-34 soviéticos e até mesmo pelos leves T-70, a distâncias curtas. O campo de batalha era um turbilhão de fumaça e pó, a terra tremia devido às explosões poderosas. Os tanques colidiam uns com os outros e ficavam enroscados sem conseguir se separar, então lutavam até a morte até que um deles se inflamava como uma tocha ou parava com as lagartas destruídas. Mas mesmo os tanques abatidos, se as suas armas estivessem em condição de operar, continuavam a disparar”.
Pável Rotmistrov, comandante militar soviético


“O primeiro tanque, eu abati quando estava me movimentando pela estrada de ferro, ao longo da área de desembarque e, literalmente, a uma distância de cem metros, vi um tanque 'Tigre' que estava virado de lado para mim, disparando em nossos. Pelo visto ele tinha atingido vários tanques nossos, pois eles estavam indo de lado para cima dele e ele disparava nas laterais das nossas máquinas. Eu mirei um projétil perfurante e disparei. O tanque pegou fogo. Eu disparei mais uma vez e o tanque se inflamou ainda mais. A tripulação saltou para fora, mas não sei bem porque, eu não estava interessado nela. Eu contornei esse tanque e, em seguida, abati um tanque T-III e um tanque 'Pantera'. Sabe, quando eu abati o tanque 'Pantera', experimentei uma sensação de euforia, pois, vejam só, consegui realizar um feito heroico".
Evguêni Chkurdalov, ex-oficial soviético


"De repente um T-34 irrompeu e dirigiu-se diretamente para nós. O nosso primeiro operador de rádio começou a me passar os projéteis, um a um, para que eu os colocasse no canhão. Enquanto isso, o nosso comandante que estava no compartimento de cima, não parava de gritar: ‘Atirem! Atirem!’, porque um tanque se aproximava cada vez mais. E somente após o quarto ‘Atirem’, eu ouvi ele dizer: ‘Graças a Deus!’. Então, depois de algum tempo, verificamos que o T-34 parou apenas a oito metros de distância de nós! No topo de sua torre, como se tivessem sido carimbados, havia orifícios de 5 centímetros [...]. As disposições militares dos dois lados se misturaram. 'Os nossos tanquistas atingiam com êxito o inimigo, de distâncias próximas, mas também sofriam pesadas perdas'”.
Wilhelm Rees, ex-oficial alemão da divisão “Adolf Hitler” 


"O tanque T-34 do Comandante do 2º Batalhão da 181ª brigada da 18ª divisão, capitão Skripkin, penetrou a formação de 'Tigres' e abateu dois tanques inimigos, antes que um projétil de 88 mm atingisse a torre do seu T-34 e outro perfurasse a sua blindagem lateral. O tanque soviético pegou fogo, e Skripkin, ferido, foi retirado do tanque destroçado pelo condutor, sargento Nikolaev e pelo operador de rádio, sargento Zirianov. Eles se refugiaram na cratera aberta pela bomba, mas ainda assim um dos 'Tigres' os descobriu e partiu para cima deles. Então Nikolaev e seu artilheiro Tchernov saltaram novamente para o tanque em chamas, deram a partida e o orientaram diretamente para o 'Tigre'. Os dois tanques explodiram com o impacto”.
Extraído dos documentos do Arquivo Central do Ministério da Defesa da Federação Russa


Formação de uma divisão blindada em Kursk

O ataque com os blindados soviéticos, tanques novos com um conjunto completo de munição abalou significativamente as divisões do inimigo, já desgastadas pelas batalhas, e a ofensiva alemã malogrou.

Como resultado do contra-ataque das principais forças Soviéticas da 5ª guarda do exército de tanques, a sudoeste de Prokhorovka foi frustrada a ofensiva sobre o nordeste, das divisões Panzer SS Totenkopf” e "Leibstandarte Adolf Hitler". Essas divisões sofreram tamanhas perdas, que não puderam mais implementar uma ofensiva consistente.

As unidades da Divisão Panzer SS “Das Reich” também sofreram pesadas baixas devido aos ataques de unidades. Corpos da guarda de tanques que passaram a contra-atacar ao sul de Prokhorovka.

T-34/76 do 2º Exército de Tanques soviético. Kursk, 1943


Perdas e resultados

As perdas totais dos dois lados do confronto de tanques nas proximidades de Prokhorovka estão avaliadas da seguinte maneira: do lado soviético se perderam 500 tanques e do lado alemão, 300 tanques e canhões autopropulsados.

É claro que o grupo "Sul" do exército alemão sofreu as piores perdas nos primeiros sete dias de combates, antes mesmo da batalha nas proximidades de Prokhorovka.

Mas o significado básico da batalha de Prokhorovka consiste no fato de que os soldados soviéticos deram um duríssimo golpe e conseguiram parar as divisões de tanques da SS que avançavam em direção à Kursk. Isso minou o espírito de combate da elite das tropas blindadas alemãs, e depois disso, elas definitivamente perderam fé na vitória das armas alemãs.

Fonte: Gazeta Russa


sexta-feira, 16 de setembro de 2022

EDITOR DO PORTAL PUBLICA CAPÍTULO EM LIVRO SOBRE A FAMÍLIA MILITAR

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Foi lançado no salão de honra do Comando Militar do Leste o livro "A família militar no século XXI: perfis, experiências e particularidades", organizado pelas Dras. Sabrina Celestino e Eduarda Hamann. A obra contém trabalhos de pesquisadores brasileiros e internacionais, e aborda as especificidades da família militar, um tema para lá de necessário.

O editor do portal Carlos Daróz-História Militar contribuiu com o projeto produzindo o capítulo 5, VIVANDEIRAS E CANTINEIRAS: A FAMÍLIA MILITAR FORJADA NA GUERRA, no qual trilho um percurso histórico acerca das mulheres que acompanhavam os exércitos desde o alvorecer da Idade Moderna. Muitas delas esposas de soldados, acompanhavam seus maridos provendo um informal apoio logístico para as tropas e, eventualmente, participando diretamente dos combates.

A temática é muito pouco discutida no Brasil, e o capítulo contribui para o debate historiográfico sobre o papel da mulher na guerra.



Cantineira francesa atendendo soldados na Guerra da Criméia

O livro é apresentado pelo Ministro da Defesa, general Paulo Sérgio, e pelo comandante do Exército Brasileiro, general Freire Gomes, e prefaciado pelo professor Celso Castro, do CPDOC/FGV.




domingo, 11 de setembro de 2022

FESTIVAL DE CINEMA DE HISTÓRIA MILITAR MILITUM TERÁ SUA QUARTA EDIÇÃO

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Após dois anos suspenso em virtude da pandemia da pandemia da covid-19, o MILITUM - Festival de Cinema de História Militar retoma suas atividades com vigor em 2022, celebrando o Bicentenário da Independência do Brasil. Em sua quarta edição, o Festival Militum recebeu um número recorde de obras inscritas, totalizando 50 filmes, sendo 37 documentários, 8 ficções e 5 animações, provenientes de 11 estados do Brasil. 

As sessões do Festival ocorrerão no Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, dias 22 e 23 de setembro, e no Centro de Estudos e Pesquisas de História Militar do Exército, dias  27 e 28 de setembro, localizado no nosso prestigioso Museu Militar Conde de Linhares.

O Festival é uma criação da Pátria Filmes e recebe a colaboração de diversas instituições e entidades para, com muito empenho e criatividade, colocar à disposição de amantes do cinema e da história militar, a produção de cineastas amadores e, também, de profissionais, nas diversas categorias para as quais suas obras concorrerão ao Prêmio Apollo.




sexta-feira, 9 de setembro de 2022

"NOSSA INDEPENDÊNCIA FOI CONSOLIDADA NA GUERRA" - ENTREVISTA COM O DIPLOMATA HÉLIO FRANCHINI NETO

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O historiador e diplomata Hélio Franchini Neto diz que batalhas contra Portugal envolveram mais soldados que as de Simon Bolívar e ajudaram a criar a identidade nacional


Por Duda Teixeira 
   

O quadro “Independência ou Morte”, de Pedro Américo, eternizou o momento em que D. Pedro I declarou, em 7 de setembro de 1822, que o Brasil seria um império separado de Portugal. Para o historiador e diplomata Hélio Franchini Neto, a pintura em que o protagonista ergue a espada não traduz a realidade, por mostrar a independência como algo rápido, pacífico e sem complicações. Amparado em pesquisas recentes, ele afirma que a consolidação desse processo só se deu após batalhas encarniçadas, que envolveram mais homens que aquelas lideradas pelo venezuelano Simon Bolívar, o Libertador da América espanhola. 

Formado em direito, com mestrado em ciência política, Franchini Neto defendeu uma tese de doutorado em história sobre esse tema, em 2015. O material foi adaptado para o público geral e acaba de ser publicado no livro Redescobrindo a Independência: uma História de Batalhas e Conflitos Muito Além do Sete de Setembro (Editora Benvirá). Depois de trabalhar na embaixada brasileira em Bogotá, Franchini Neto, de 43 anos, assumiu no início do ano a vice-chefia na assessoria de relações federativas do Itamaraty com o Congresso. Ele conversou com a Crusoé.


Em seu livro, o senhor argumenta que a “Independência foi um desenrolar caótico, incerto, marcado por disputas, heterogeneidade de visões e de interesses, conflito político e guerra”. Como chegou a essa conclusão?

Uma vez, li em um livro que a guerra entre as forças de Portugal e de D. Pedro na Bahia envolveram mais soldados que a tropa do libertador venezuelano Simon Bolívar. O jovem imperador mobilizou, entre Exército e Marinha, algo em torno de 15 mil soldados no primeiro semestre de 1823. Bolívar, que liderou a independência de Venezuela, Colômbia e Equador, não ultrapassou 10 mil. Esse dado me impressionou muito. Então, continuei estudando o tema até decidir fazer um doutorado. Meu objetivo inicial era apenas o de mapear as operações militares desse período, mas aos poucos fui vendo que as batalhas eram muito maiores do que eu imaginava e que ocorreram em três frentes principais: na Bahia, no Norte e na Cisplatina, hoje Uruguai. Além dos números superlativos, elas se chocavam com as narrativas existentes. Ainda se fala muito que o conflito na Bahia foi entre baianos e tropas portuguesas ali presentes. Mas a guerra foi muito mais ampla e complexa.


Em que sentido?

Para começar, os dois militares baianos que começaram a luta eram originalmente defensores das Cortes de Lisboa. A disputa que se seguiu era local, pelo poder militar da província. Depois que um dos lados , aquele liderado por Manoel Pedro, foi derrotado, seus partidários refugiaram-se na cidade de Cachoeira e se aproximaram de D. Pedro. No fim de 1822, essa guerra civil já tinha ganhado outra dimensão. Portugal enviou sucessivamente o máximo de tropas que pôde, para apoiar o brigadeiro Ignácio Luiz Madeira. De 3 mil soldados, ele passou a contar com 10 mil no final do ano. Essa diferença, de 7 mil ou 8 mil soldados, é equivalente à expedição enviada pela Espanha para lutar contra Bolívar na Venezuela e na Colômbia. Vale ressaltar também que, entre os que defenderam o lado de D. Pedro, não havia só baianos. Pernambucanos, paraibanos e mineiros também lutaram.


A realidade nessas três frentes foi muito cruenta?

Uma estimativa é a de que entre 3 mil e 5 mil morreram no período de um ano, entre 1822 e 1823. Só na Bahia teria havido de 2 mil a 4 mil óbitos. Cerca de mil baixas foram por doenças no fronte. Considerando que 30 mil soldados foram mobilizados, isso dá uma taxa de 10% de mortos, sem contar os feridos. É uma proporção muito alta. No Piauí, o major português João José da Cunha Fidié reuniu 1,5 mil homens para lutar contra os partidários de D. Pedro, que recrutaram entre 2,5 mil e 3 mil para combater na Batalha do Jenipapo. Eles se enfrentaram ao longo de cinco horas, deixando entre 200 e 400 mortos. Foi um período de lutas encarniçadas.

Batalha do Jenipapo, no Piauí: um dos maiores enfrentamentos da Guerra de Independência


O que dizem os relatos desses conflitos?

Alguns depoimentos são incríveis. Comandantes portugueses reclamaram que, no cerco a Salvador, não se podia colocar a cabeça para fora da trincheira, porque isso seria morte na certa. Do lado oposto, um coronel que tinha mil soldados falou da dificuldade de alimentá-los e de conseguir calçados para eles. Também conta que cada ferido que ia para o cirurgião era uma morte certa. D. Pedro chamou isso de uma “crua guerra de vândalos”.


Por que o sr. não fala em brasileiros lutando contra portugueses?

Até a chegada da corte portuguesa, em 1808, o Brasil era formado por duas identidades: a local — como mineiros, paraenses, cearenses, baianos — e a portuguesa, ligada ao rei. A identidade brasileira ainda era incipiente. As longas distâncias dificultavam um laço mais forte entre as distintas populações. Quem saísse do Maranhão num barco demorava 15 dias para chegar a Lisboa. Mas a viagem até a Bahia, por causa das correntes marítimas do Atlântico, tardava quase três meses. A vinda de D. João VI alterou completamente essa ordem. Em 1808, o Rio de Janeiro se tornou a capital do Império Português, com tribunais, academias militares, corpo diplomático. Em 1815, o Brasil deixou de ser colônia, com a criação do Reino do Brasil, o que constituiu um primeiro elemento unificador. Esse movimento de coesão não se deu na América Espanhola, onde os núcleos continuaram vivendo de forma relativamente autônoma. Se a Coroa não tivesse vindo para o Brasil, poderíamos hoje estar fragmentados em vários países, como ocorreu no restante da América Latina.


As guerras que se seguiram à Independência ajudaram a moldar essa identidade brasileira?

A presença da corte, embora trouxesse essa sensação de unidade, não gerava benefícios homogêneos para todas as regiões. No Norte, havia descontentamento por causa dos impostos pagos para financiar o Estado. Quando os portugueses finalmente tomaram a decisão de acabar com o poder do Rio de Janeiro e dar primazia a Lisboa, após a Revolução do Porto, vários grupos políticos buscaram um projeto alternativo. Mas, em muitas províncias, o apoio a D. Pedro era frágil. Então, tudo ocorreu de maneira caótica, incerta. Fagulhas de guerra civil se espalharam por todos os lados. Em muitos casos, houve lutas violentas. Em outros, negociação. A guerra na Bahia foi o primeiro confronto que se poderia chamar de nacional, com forças mobilizadas por D. Pedro e por Lisboa. Quando a poeira baixou, paraibanos, cearenses, baianos e mineiros começaram a se identificar como brasileiros.


O que teria acontecido se os partidários de D. Pedro tivessem perdido essas guerras?

Depois da Declaração da Independência, Portugal tentou salvar alguma coisa do território. Naquela época, o Brasil era visto como dividido em duas regiões. O Sul já estava perdido, mas os portugueses ainda nutriam esperanças de recuperar o Norte. Um parlamentar português sugeriu que se fizesse algo parecido com o que ocorreu nos Estados Unidos, em que o Império Britânico logrou manter o Canadá entre suas possessões. No Brasil, a Bahia era o centro estratégico, pois era a transição entre o Norte e o Sul. Se os militares portugueses tivessem vencido as batalhas nessa região, eles poderiam ter permanecido com Pernambuco, Piauí, Pará e Maranhão. O Norte do Brasil se tornaria um país separado e avançar sobre o Sul, na tentativa de retomar tudo. Não foi o que aconteceu. Portanto, pode-se deduzir que nossa independência foi consolidada na guerra. Um desfecho distinto dessas batalhas mudaria radicalmente o rumo da história.

Fonte: Crusoé

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

UMA PRINCESA NA GUERRA - HOMENAGEM DO PORTAL À RAINHA ELIZABETH II

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Durante a Segunda Guerra Mundial, a vida mudou drasticamente para o povo da Grã-Bretanha, inclusive para a Família Real e para a Princesa Elizabeth.


Faleceu hoje no Castelo de Balmoral, Escócia, a Rainha Elizabeth II, aos 96 anos de idade.  Em 70 anos de reinado, forneceu estabilidade ao Reino Unido em um momento no qual o mundo passou por profundas transformações, atuando com grande senso de dever e honrando, pelo exemplo,  a Coroa britânica.
  
Seu reinado e influência no cenário mundial são bastante conhecidos, mas, o que muitos ignoram, foi o papel desempenhado por ela, ainda uma jovem princesa, durante os difíceis anos da Segunda Guerra Mundial.

Em 13 de setembro de 1940, logo após o início da campanha de bombardeios da Alemanha contra as cidades da Grã-Bretanha, cinco bombas altamente explosivas foram lançadas sobre o Palácio de Buckingham. A Capela Real, o jardim interno e os portões do palácio foram atingidos, e vários trabalhadores ficaram feridos. Ao invés de fugir da cidade sob ataque, o Rei George VI e sua esposa, a Rainha Elizabeth, permaneceram no Palácio de Buckingham, em solidariedade aos que viviam sob os ataques da Blitz. O casal real visitou áreas de Londres que haviam sido devastadas pelos ataques aéreos, falando aos residentes e membros dos serviços de emergência locais. A Rainha se interessou muito pelo que estava sendo feito para ajudar as pessoas que haviam perdido suas casas. 

A princesa Elizabeth tinha apenas 13 anos quando a guerra eclodiu em setembro de 1939. Como muitas crianças que viviam em Londres, Elizabeth e sua irmã Princesa Margaret foram evacuadas para diminuir os riscos dos bombardeios. Elas foram enviadas ao Castelo de Windsor, aproximadamente 20 milhas fora de Londres. As jovens princesas eram duas de mais de três milhões de pessoas - principalmente crianças - que deixaram as cidades para a segurança das pequenas cidades e do campo durante a guerra. O Conselho de Acolhimento de Crianças do Governo também evacuou mais de 2.600 crianças para a Austrália, Canadá, Nova Zelândia, África do Sul e Estados Unidos. 

No dia  13 de outubro de 1940, em resposta a este movimento, a Princesa Elizabeth proferiu seu primeiro discurso da sala de visitas do Castelo de Windsor, como parte da Hora das Crianças da BBC, em uma tentativa de elevar o moral do público. Ela falou diretamente com as crianças que haviam sido separadas de suas famílias como parte do esquema de evacuação.
"Milhares de vocês neste país tiveram que deixar suas casas e ser separados de seus pais e mães. Minha irmã Margaret e eu sentimos muito por vocês, pois sabemos por experiência própria o que significa estar longe daqueles que vocês amam mais do que tudo. A vocês que vivem em novos ambientes, enviamos uma mensagem de verdadeira simpatia e, ao mesmo tempo, gostaríamos de agradecer às pessoas amáveis que os acolheram em suas casas no país".

À medida que a guerra avançava, a Princesa Elizabeth defendia mais aspectos da vida e da resiliência em tempo de guerra. Em 1943, ela foi fotografada cuidando dos jardins no Castelo de Windsor como parte da campanha do governo "Cavem pela Vitória", na qual as pessoas eram incentivadas a utilizar hortas e cada pedaço de terra para cultivar legumes para ajudar a combater a escassez de alimentos. Antes da Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha contava com a importação de alimentos de todo o mundo, mas quando a guerra começou, a navegação passou a ser ameaçada por submarinos e navios de guerra inimigos. Isto resultou na escassez de alimentos e levou ao racionamento de alimentos tais como carne, queijo manteiga, ovos e açúcar.

Na manhã de seu 16º aniversário, a Princesa Elizabeth realizou sua primeira inspeção de um regimento militar, durante um desfile no Castelo de Windsor. Ela tinha recebido o papel de coronel honorária do Regimento de Guardas Granadeiros, o que simbolizava seu envolvimento militar no esforço de guerra. Quando a Princesa Elizabeth completou 18 anos em 1944, ela insistiu em juntar-se ao Serviço Territorial Auxiliar (Auxiliary Territorial Service-ATS), o ramo feminino do Exército Britânico. Por vários anos durante a guerra, a Grã-Bretanha havia recrutado mulheres para se juntar ao esforço de guerra. Mulheres solteiras menores de 30 anos podiam se alistar nas forças armadas, trabalhar na terra ou na indústria. O Rei George se certificou de que sua filha não recebesse um posto privilegiado no Exército. Ela começou como 2ª subalterna no ATS e, mais tarde, foi promovida a Comandante Júnior (equivalente a capitão).

A princesa Elizabeth, como 2ª Subalterna do ATS, diante de uma viatura ambulância durante o treinamento.

A Princesa Elizabeth começou seu treinamento como mecânica de viaturas em março de 1945. Ela fez um curso de direção e manutenção de veículos em Aldershot, qualificando-se no dia 14 de abril. Jornais da época apelidaram-na de "Princesa Mecânica Automobilística". Havia uma grande variedade de empregos disponíveis para as mulheres soldados no ATS como cozinheiras, telefonistas, motoristas, operárias dos correios, operadores de holofotes e inspetoras de munição. Algumas mulheres serviam como parte de unidades antiaéreas guarnecendo canhões, embora não lhes fosse permitido disparar as armas. Os trabalhos eram perigosos, e durante o curso da guerra, 335 mulheres ATS foram mortas e muitas feridas. Em junho de 1945, havia cerca de 200.000 membros do ATS de todo o Império Britânico servindo na frente doméstica e nos diferentes teatros de guerra no exterior.

O Rei, a Rainha e a Princesa Margaret visitaram a Princesa Elizabeth na Seção de Treinamento de Transporte Mecânico em Camberley, Surrey, e a viram aprender sobre manutenção de motores. Ao descrever a visita à Revista LIFE, a Princesa comentou "Nunca soube que havia tanta preparação antecipada [para uma visita real] ...saberei em outra ocasião".

Inclinada sobre o veículo, a Princesa Elizabeth demonstra ao pai, o Rei George VI, e à irmã Margaret suas habilidades como mecânica do ATS

Em 8 de maio de 1945, a guerra na Europa terminou. Em Londres, milhares de pessoas saíram às ruas para comemorar, lotando a Trafalgar Square e a avenida que levava ao Palácio de Buckingham, onde o Rei e a Rainha os cumprimentaram da varanda. Quando o sol começou a se pôr e as celebrações indicavam que continuariam pela noite adentro, a Princesa Elizabeth, vestida com seu uniforme do ATS, uniu-se à multidão com sua irmã para participar das festividades. 

Celebrando o Dia da Vitória na Europa (VE Day) na varanda do Palácio de Buckingham estão (esq. para dir.), a Princesa Elizabeth, a Rainha Elizabeth, o primeiro-ministro Winston Churchill, o Rei George VI e a Princesa Margaret.

Em 1985, já Rainha, falou à BBC sobre como ela tentou evitar ser vista: "Lembro-me que estávamos aterrorizadas, com medo de sermos reconhecidas, então eu puxei meu quepe bem para baixo sobre meus olhos". Ela descreveu as "linhas de pessoas desconhecidas de braços dados e andando por Whitehall, e todos nós fomos arrastados por marés de felicidade e alívio". Há até mesmo relatos de que as princesas se juntaram a uma dança de conga através do Hotel Ritz enquanto comemoravam com as multidões. "Acho que foi uma das noites mais memoráveis da minha vida", lembrou-se ela.

A rainha Elizabeth II ocupou o posto de coronel-em-chefe de 16 regimentos e corpos do Exército Britânico e de muitas unidades da Commonwealth. Como membro do ATS, ela foi a primeira mulher da família Real a ser um membro ativo das Forças Armadas Britânicas. Elizabeth II foi também a última chefe de estado sobrevivente a ter servido durante a Segunda Guerra Mundial. 

Ao longo de sua vida, ela foi frequentemente fotografada ao volante de veículos, sendo conhecida por diagnosticar e reparar motores defeituosos, assim como foi ensinada a fazer durante seu serviço em tempo de guerra no ATS.

Com a história de seu serviço militar durante a Segunda Guerra Mundial, o Portal Carlos Daróz-História Militar presta sua homenagem a essa que foi uma das mais importantes mulheres dos séculos XX e XXI.  Seguramente o fim de uma era.

Que descanse em paz e que seu legado seja longo.



"Quando a vida parece difícil, os corajosos não se deitam e aceitam a derrota; em vez disso, eles estão ainda mais determinados a lutar por um futuro melhor."

Rainha Elizabeth II
* 21/4/1926
+ 8/9/2022

Fonte: Adaptação de texto de Vikki Hawkins, Imperial War Museum

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

IMAGEM DO DIA - 7/9/2022 - DIA DA PÁTRIA

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7 de setembro de 1950: batalhão da Polícia Militar do Ceará desfila em homenagem ao Dia da Pátria




segunda-feira, 5 de setembro de 2022

A MORTE DO MARECHAL TURENNE EM SALZBACH

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Durante a Guerra Franco-Holandesa (1672-1678), o Visconde de Turenne marchou com o Rei Luís XIV e Condé para a Holanda. Em julho de 1672 tomou Nijmegen com 4.000 soldados de infantaria e 400 de cavalaria, e, a partir dali, investiu contra o Forte Crèvec, perto de Hertogenbosch, que caiu após apenas dois dias de sítio. 

Atacado pelas forças imperiais de Raimondo Montecucoli, Turenne foi forçado a recuar para além do Reno. Na campanha seguinte, em 1674, Turenne derrotou um exército imperial comandado por Eneias Sylvius Caprara, em Sinzheim, e devastou o Palatinado. Sua campanha relâmpago no inverno 1674 é considerada um dos maiores exemplos de guerra de manobras do século XVII.

Henrique de La Tour de Auvérnia, Visconde de Turenne e marechal da França

No dia 27 de julho de 1675, Turenne opôs-se novamente a Montecuccoli no campo de Salzbach. Seguiu-se um duelo de artilharia entre as baterias do tenente-general Pierre de Mormès de Saint-Hilaire e os artilheiros de Herman von Baden-Baden. Por volta das duas horas da tarde, enquanto Turenne realizava um reconhecimento com seu sobrinho, o Cavaleiro d'Elbeuf, e Saint-Hilaire, um projétil de canhão de 3 libras disparado por um artilheiro alemão chamado Koch atingiu tanto Saint-Hilaire como Turenne. O primeiro perdeu um braço, mas Turenne morreu no local, quando o tiro lhe atravessou o peito. 

Batalha de Salzbach, onde Turenne foi morto

De luto pela morte do seu adversário, Raimondo Montecuccoli ordenou que todas as operações militares fossem interrompidas por dois dias. Luís XIV concedeu ao seu marechal a honra póstuma de ser enterrado na basílica de Saint-Denis, junto aos reis da França, honra que apenas o Condestável Du Guesclin, herói da Guerra dos Cem Anos, havia recebido antes dele. 

Em 1800, Napoleão Bonaparte, um admirador de Turenne, transferiu seu túmulo para a igreja de Saint-Louis, no Hôtel des Invalides.

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sexta-feira, 2 de setembro de 2022

A GUERRA DO VIETNÃ CHEGA AO FIM (1973)

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Em 27 de janeiro de 1973, representantes do Vietnã do Norte e do Sul, bem como dos Estados Unidos, assinaram em Paris um difícil acordo que pôs fim à guerra do Vietnã.


Por Michael Marek

Nenhum outro acontecimento mobilizou tanto a opinião pública internacional nos anos 1960 e 1970 quanto a Guerra do Vietnã. Pela primeira vez na história, as atrocidades dos campos de batalha foram exibidas no "horário nobre" das tevês: vietnamitas queimados por bombas de napalm, o fuzilamento de um rebelde pelo chefe da polícia de Saigon com um tiro na cabeça, o massacre de My Lai por soldados norte-americanos.

Mais de um milhão de vietnamitas e 55 mil combatentes dos EUA morreram no conflito. A assinatura do acordo de paz, em 27 de janeiro de 1973, alimentou grandes esperanças. O cessar-fogo firmado em Paris deveria significar o fim da Guerra do Vietnã.

Com isso, o presidente norte-americano Richard Nixon queria terminar a intervenção militar dos EUA na Indochina: "Falo hoje à noite no rádio e na televisão para anunciar que fechamos um acordo que põe fim à guerra e deve trazer a paz para o Vietnã e o Sudeste Asiático.

Durante os próximos 60 dias, as tropas norte-americanas serão retiradas do Vietnã do Sul. Temos de reconhecer que o fim da guerra só pode ser um passo em direção à paz. Todas as partes envolvidas no conflito precisam compreender agora que esta é uma paz duradoura e benéfica".


Acordo previa um fim ordenado do conflito

O acordo de paz previa a retirada completa das tropas dos Estados Unidos. Em contrapartida, o Vietnã do Norte se comprometeu a soltar todos os prisioneiros de guerra norte-americanos. Além disso, Hanói reconheceu o direito à autodeterminação do Vietnã do Sul.

Foi criado também um conselho de reconciliação nacional, presidido pelo chefe de Estado Nguyen Van Thieu, encarregado de convocar eleições livres no Vietnã do Sul, com a participação dos comunistas do Vietcong e outros grupos de oposição.

Os principais arquitetos do acordo de Paris foram os chefes das delegações do Vietnã do Norte e dos EUA, respectivamente Le Duc Tho e Henry Kissinger, encarregado especial de Nixon. Pelos seus esforços, os dois diplomatas foram agraciados com o Prêmio Nobel da Paz de 1973.

Le Duc Tho e Henry Kissinger durante os acordos de Paris


Foi principalmente Kissinger quem forçou uma mudança de rumo na política externa dos Estados Unidos, depois que os protestos dos pacifistas criaram uma situação insustentável para Washington. "Não é o Vietnã comunista que põe em risco os interesses norte-americanos e, sim, o envolvimento dos EUA num conflito insolúvel", argumentava.

O então chanceler federal alemão Willy Brandt elogiou o acordo de Paris num pronunciamento oficial: "As condições para a paz mundial melhoraram. Sentimos o efeito libertador do acordo para milhões de atingidos. Infelizmente, as pessoas no Vietnã tiveram de sofrer duramente sob a guerra civil ao longo de uma geração".


A última ofensiva americana

Pouco antes do fim das negociações, Nixon ainda mandou bombardear o Vietnã do Norte. A chamada Campanha de Natal, iniciada no final de dezembro de 1972, foi um dos ataques aéreos mais pesados de toda a guerra. Com indiferença, o piloto de um dos bombardeiros B-52 descreveu assim a sua missão: "É apenas uma tarefa. Outras pessoas entregam leite, eu entrego bombas".

O acordo de cessar-fogo, no entanto, não foi implementado. Após a retirada das tropas dos EUA, as partes conflitantes tentaram ampliar pelas armas os territórios sob seu controle. O Exército do Vietnã do Sul desintegrou-se rapidamente, depois que os EUA suspenderam a sua ajuda financeira.

Pouco antes do fim das negociações, Nixon mandou bombardear o Vietnã do Norte


Em 21 de abril de 1975, o presidente Nguyen Van Thieu renunciou. Nove dias depois, Saigon foi tomada pelas tropas do Vietnã do Norte e do Vietcong. A pseudotrégua de janeiro de 1973 era letra morta.


O papel dos meios de comunicação

Existe a lenda de que os meios de comunicação decidiram a Guerra do Vietnã. Na prática, porém, não existiam imagens dos crimes cometidos pelas tropas norte-americanas nem das ondas de execuções dos comunistas nos territórios por eles conquistados.

Diversos estudos científicos demonstraram que as imagens das batalhas militares, dos feridos e dos mortos mutilados representaram apenas 5 a 7% do noticiário de TV sobre o Vietnã. Além disso, a maioria das cenas de guerra foram fictícias, porque as equipes de TV não chegavam com seus equipamentos até os últimos rincões das florestas vietnamitas.

É certo que os correspondentes tiveram mais liberdade do que em outras guerras para escrever críticas ao governo. Mas, nas tevês, a maioria das reportagens de três a quatro minutos mostravam um conflito sem nexo, de forma distanciada.

Fonte: DW

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