domingo, 27 de fevereiro de 2022

O FAZENDEIRO VIETNAMITA QUE ABATEU SETE AVIÕES AMERICANOS

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O coronel Nguyen Van Bay, piloto vietnamita que abateu 7 aviões americanos durante a guerra do Vietnã, terminou seus dias de forma simples no interior do seu pais, na divisa administrativa entre a cidade de Lai Vung e a comuna de Tan Duong.

 
Nascido em 1936, se voluntariou para o treinamento de voo como um dos primeiros pilotos vietnamitas treinados na República Popular da China. Voando inicialmente os Yakovlev Yak-18 e depois os Mikoyan-Gurevich MiG-15, finalmente se formando como piloto de caças Mikoyan-Gurevich MiG-17 em janeiro de 1966.

Logo após seu treinamento ser concluído em janeiro de 1966, ele teria seu primeiro contato com aeronaves americanas em combate no final de abril daquele mesmo ano. Bay foi acionado para interceptar uma esquadrilha de caças americanos, e em desvantagem numérica numa formação de quatro Migs-17, entrou em combate contra oito McDonnell Douglas F-4 Phantom, abatendo um deles.

MiG-17, aeronave pilotada por Van Bay


Essa vitória somou-se a mais seis aeronaves e uma outra provável até o fim de sua carreira. Foram elas; dois Vought F-8 Crusader entre junho e setembro de 1966, um Republic F-105 Thunderchief no final de junho de 1966, três McDonnell Douglas A-4 Skyhawk em 1967.

Nguyen Van Bay na época da guerra 


O veterano aviador vietnamita fotografado em uma cermônia

As vitórias de Bay foram manchetes no Vietnã do Norte e seu status de ás lhe rendeu prestigio em seu pais natal. Frequentemente jantava com Ho Chi Minh e, após um período vitorioso de combate, foi tirado da linha de frente para inspirar gerações futuras de aviadores em visita a bases aéreas.

Após viver um período ilustre como aviador militar, o senhor Bay aposentou-se em 1972, e escolheu o anonimato da vida simples do campo, plantando seu próprio alimento em seu sítio no Vietnã.

O coronel Bay faleceu em 2019, de causas naturais, aos 83 anos de idade.

Van Bay trabalhando em sua fazenda

 Fonte: Histórias do Ar

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terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR – JOÃO DE SOUZA PEREIRA, O “BOTAFOGO”

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Um dos bairros mais antigos do Rio de Janeiro é Botafogo, que foi inicialmente habitado por franceses. Estes foram expulsos por Estácio de Sá, em 1565. Então, as terras foram adquiridas pelo morador que deu nome ao bairro: João de Souza Botafogo.

 
* c. 1540

+ 1627
 
João de Souza Pereira, apelidado de “Botafogo“, foi capitão-mor da capitania de São Vicente, nomeado por meio de uma ordenança do governador D. Francisco de Sousa.

Na condição de lugar-tenente do governador-geral D. Antônio Salema, Pereira de Sousa ganhou duas sesmarias, a de Francisco Velho e a de Inhaúma. A primeira, na bela enseada que hoje leva seu nome, adotado por seus ancestrais pela fama do galeão São João Batista, mandado construir pelo rei D. João II, em 1519. O galeão tinha poder de fogo de 200 peças de artilharia pesada e ganhou o apelido de “Botafogo”. Os feitos do galeão foram tantos que os nobres portugueses produziram uma carta com base em seu brasão de armas com o título de Botafogo.

O galeão português São João Batista ("Botafogo") em ação na Batalha de Tunis, em 1535. Era o navio mais poderoso de sua época

Em 1560, o governador geral Mem de Sá, tendo expulsado os Franceses da Baía de Guanabara, deteve-se na Capitania de São Vicente e "providenciou para que o provedor Brás Cubas e o mineiro Luís Martins fossem ao sertão adentro a buscar minas de outro e prata". Os sertanistas percorrem trezentas léguas de sertão em busca de outro e prata. Partindo de São Paulo e passando por Mogi das Cruzes, desceram o rio Paraíba, guiados pelos índios até a paragem de Cachoeira, onde encontraram o caminho que atravessava do litoral para a serra acima, e, tomando esse caminho, subiram a serra de Jaguamimbaba (Mantiqueira), na direção do rio das Velhas, e correram a margem do rio São Francisco até o Pará-Mirim, de onde voltaram pelo mesmo caminho.

Navegando a favor da correnteza nas águas do rio Paraíba do Sul, os paulistas e outros sertanistas e aventureiros atingiram as terras de Guapacaré (atual Lorena ) e, transpondo o rio "antes dele encachoeirar-se", atravessavam a garganta do Embaú, por onde se transpunha a serra da Mantiqueira e penetraram os sertões mineiros.

As expedições de João Pereira de Souza “Botafogo” (1596), de Martim Corrêa de Sá e Anthony Knivet (1597), de André de Leão e Wilhelm Glimmer (1601), Jerônimo da Veiga ( 1643), Sebastião Machado Fernandes Camacho (1645), de Fernão Dias Paes (1674), atravessaram o Vale do Paraíba percorrendo o rio e as velhas trilhas, abrindo o chamado "caminho geral do sertão", que ligava a vila de São Paulo aos primeiros núcleos de povoamento nos sertões do Paraíba e  às minas dos Cataguás, de Taubaté e da Gerais.

Bandeirantes. A expedição de João de Souza Pereira auxiliou a desbravar o sertão brasileiro

Desde os primeiros anos do século XVII "foi esse caminho senhoreado e frequentado pelos paulistas, tornando-se a linha de penetração mais importante do Brasil, senão na América do Sul" , até a abertura do "caminho novo de Garcia Rodrigues ", que ligou, diretamente, Rio de Janeiro às Minas Gerais.

O bairro de Botafogo recorda João Pereira de Souza "Botafogo", aí morador desde 1590, donde também chamar-se-ia "praia de João de Souza", antes, "praia de Francisco Velho", companheiro de Estácio de Sá, que, da praia Vermelha ou de Martim Afonso, avançou pela praia da Saudade, costeando o morro, depois chamado de Matias, do Pasmado, da Azinhaga (começo da avenida Pasteur de hoje), atravessando o rio de Berquó, nome do ouvidor Berquó, onde está hoje se encontra o Pavilhão Mourisco. Desbravou então, daí, a pequena baía encerrada entre os morros do Pasmado e da Viúva: a atual enseada de Botafogo, cartão-postal do Rio de Janeiro e do Brasil.

No âmbito da atual Região Administrativa de Botafogo, estão localizadas duas importantes edificações: o Palácio Guanabara, sede do Governo Estadual (localizado em Laranjeiras); e o Palácio da Cidade, sede do Governo Municipal (situado em Botafogo).


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

EDITOR DO PORTAL PARTICIPA DE CONFERÊNCIA SOBRE OS CONFLITOS DO SÉCULO XX NA AMÉRICA LATINA EM BRUXELAS

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No dia 17 de fevereiro, o editor do portal Carlos Daróz-História Militar participou da conferência "L'Amérique latine das les grands conflits du XXe siècle", ministrada pelo Prof. Olivier Compagnon e promovida pelo Centre d´Etude de la vie politique da Université Libre de Bruxelles, onde o editor cursa seu doutoramento.

 



Professor Olivier Compagnon apresentando sua conferência na Universitré Libre de Bruxelles


Université Libre de Bruxelles

O professor Compagnon pertence à Université Sorbonne Nouvelle e ao Institut des Hautes Etudes de l´Amérique latine, e suas pesquisas são referência mundial para o estudo da participação da América Latina na Guerra de 1914-1918.  Além disso, os trabalhos do professor Olivier Compagnon são importantes referências para a  tese de doutoramento do editor do portal.

Muito bom poder participar presencialmente e interagir com tamanha fonte de conhecimento. 


sábado, 12 de fevereiro de 2022

EDITOR DO PORTAL DESENVOLVE PESQUISA DE CAMPO EM CHARLEROI

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Prosseguindo em meus estudos aqui na Bélgica, realizei hoje pesquisa de campo na cidade de Charleroi, situada às margens do Rio Sambre, na região da Valônia belga. Ali, em junho de 1815, as tropas francesas de Napoleão venceram os prussianos e abriram o caminho para Bruxelas, que seria interrompido em Waterloo.

Charleroi e o Rio Sambre em 1914.


O Rio Sambre no coração de Charleroi, limite entre as forças franco-belgas e alemãs.


Durante a Grande Guerra (1914-1918), a Batalha de Charleroi foi travada no período de 21-23 de agosto de 1914, entre o 5º Exército francês e os 2º Exército alemão, no contexto da invasão da Bélgica, também conhecida como Batalha das Fronteiras.

Os franceses, liderados pelo general Lanrezac e contando com forças belgas, planejavam um ataque através do Sambre, mas os germânicos atacaram primeiro. Obrigados a recuar, os franceses quase foram cercados, quando os alemães cruzaram o Rio Meuse em Dinant, ameaçando o flanco direito francês, e venceram a Força Expedicionária Britânica em Mons, no flanco oeste.

Ainda que derrotado, o 5º Exército francês conseguiu escapar graças aos vigorosos contra-ataques que atrasaram o avanço alemão em Dinant.  A Batalha de Charleroi foi um dos combates que mais produziu baixas nas primeiras semanas da Grande Guerra. Envolvendo mais de um milhão de soldados, resultou em cerca de 10 mil baixas para cada lado. 

Caserne Caporal Trésignies, sede do Musée Memorial des Chaussers à Pied. Os caçadores a pé (infantaria leve) foram protagonistas na história militar belga.


Uniforme de combate belga de 1917. A coloração e a padronagem variava muito durante a Grande Guerra. Musée Memorial des Chaussers à Pied.


Diante do Monument aux Martyres, no centro de Charleroi. Homenagem da cidade a seus mortos na Grande Guerra.


Como ocorreu em Dinant, moradores de Charleroi e Tamines também foram executados por forças alemãs, como represália a atuação de supostos “franco-atiradores” entre os civis.

Cimitière de Charleroi Nord. Homenagem da cidade a seus mortos na Grande Guerra.


No cemitério militar, junto à sepultura de G. Butler, da Brigada de Fuzileiros britânica, morto em 8 de março de 1917.


Cemitério militar no interior do Cemitério Charleroi Nord. Identificamos soldados sepultados de diversas nacionalidades: britânicos, alemães, neozelandeses, australianos, canadenses e poloneses.

Esquema da Batalha de Charleroi. O 5º Exército francês confrontado pelo 2º Exército alemão.


Em Charleroi tive a oportunidade de percorrer a região do Rio Sambre, visitar o Musée Mémorial des Chasseurs à Pied – verdadeira imersão na história militar belga - , monumentos e o cemitério militar da cidade.  Com certeza, uma contribuição valiosa para nossa pesquisa.



terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

A LUTA PELA CRIMEIA DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

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Para os alemães, a tomada da Crimeia abriria o caminho para o Cáucaso e proporcionaria o controle sobre infraestruturas da costa norte do Mar Negro. A Crimeia viveu três anos terríveis, durante os quais perdeu quase metade de sua população.

Por Aleksandr Korolkov


A Segunda Guerra Mundial começou para a Crimeia, como para toda a União Soviética, ao amanhecer do dia 22 de junho de 1941 e acabou em maio de 1944.

Para a URSS, a península era uma base importante da Marinha, um aeródromo para ataques contra reservas petrolíferas de Hitler na Romênia e, após as derrotas do Exército Vermelho em 1941, uma fortaleza natural que obrigava tropas inimigas a desviar da direção principal da agressão.

Para os alemães, a tomada da Crimeia abriria o caminho para o Cáucaso e proporcionaria o controle sobre infraestruturas da costa norte do Mar Negro. Em 1943, a península devia deter e desviar as forças do Exército Vermelho, que já estava avançando para o Ocidente.

A Crimeia viveu três anos terríveis, durante os quais perdeu quase metade de sua população.


Defesa de Sebastopol

Quando a Segunda Guerra começou, a cidade de Sebastopol era um dos locais mais fortificados do mundo.

Avanço alemão e romeno sobre a Crimeia em 1941


A zona defensiva da cidade continha dezenas de peças de artilharia, campos de minas e duas baterias de torres blindadas, BB-30 e BB-35, chamadas pelos alemães de “Máximo Gorki”, bem como uma bateria antiaérea, batizada pelos nazistas de “Forte ‘Stálin’”. As fortificações estavam ligadas entre si por uma rede subterrânea de passagens e arsenais nos túneis escavados nos rochedos.

As tentativas dos alemães de se apoderarem da cidade logo no outono de 1941 fracassaram. Quando foi concluída a libertação pelo exército soviético de uma parte da Península de Kerch (no dia 2 de janeiro de 1942), os nazistas retiraram suas tropas dos arredores de Sebastopol. 

No entanto, as tropas soviéticas não conseguiram manter suas posições na Península de Kerch, sofrendo grandes perdas durante a retirada. O inimigo cortou o acesso à passagem às unidades militares soviéticas (cerca de 10 mil homens e mulheres), que estavam protegendo a evacuação, o que as obrigou a se colocar na defensiva, junto com uma parte da população local, nas pedreiras de Adjimuskai.

Tropas mecanizadas alemãs invadem a Crimeia


As pedreiras foram a última linha de defesa da Crimeia. Os alemães tomaram-nas dentro de quase seis meses; no fim do cerco de 170 dias, só 48 pessoas sobreviveram do total aproximado de 13 mil.

Em julho de 1942, os alemães tomaram Sebastopol. Durante a defesa da cidade, de outubro de 1941 a julho de 1942, o Exército Vermelho sofreu 156 mil baixas.


Gerrilha

Ainda antes da invasão alemã, na Crimeia foi criada uma infraestrutura para a guerrilha. Esconderijos com armas e provisões foram construídos de antemão, a direção de futuros destacamentos estava sendo formada.

Durante a ocupação nazista, atuavam mais de 200 organizações e grupos clandestinos na Crimeia, abrangendo até 2.500 pessoas. Os guerrilheiros organizavam sabotagens na ferrovia e atacavam guarnições inimigas.

A população local simpatizava com os guerrilheiros, já que a “nova ordem” estabelecida pelos ocupantes subentendia extermínio sistemático dos habitantes.

Só no período entre o final de 1941 e o início de 1942 as tropas punitivas alemãs fuzilaram cerca de 12 mil pessoas nos arredores de Feodóssia e 7 mil na zona de Kerch.

Milhares de habitantes locais foram encarcerados nos campos de concentração, o maior dos quais se encontrava no terreno do sovkhoz (fazenda estatal) “Krassni”.

Nacionalistas tártaros da Crimeia participavam de modo ativo nas unidades punitivas que lutavam contra a população local e guerrilheiros.

Mais de 60 mil habitantes da Crimeia estavam combatendo no Exército Vermelho. A participação dos tártaros na guerrilha é avaliada em 17 mil elementos. Sultán Amet-Khan, ás da aviação, um dos mais conhecidos daquela guerra por ter derrubado 30 aviões inimigos, era oriundo dos tártaros da Crimeia.


Libertação

No outono de 1943, as tropas soviéticas se aproximaram da Crimeia e conseguiram tomar posições para ofensiva no norte e no leste da península. Durante o inverno de 1944, decorreram combates contínuos; não obstante, não foi possível recuperar a península logo.

A defesa alemã na Crimeia – poderosa, escalonada em vários níveis – se baseava num agrupamento de 195 mil soldados e oficiais. As forças soviéticas dispunham de aproximadamente 470 mil elementos.

Fuzileiros navais soviéticos da Frota do Mar Negro em ação na Crimeia


Em 8 de abril de 1944, as unidades soviéticas passaram à ofensiva no norte da península; passados 3 dias, no leste; em 18 de abril, toda a Crimeia, com exceção de Sebastopol, foi libertada dos alemães.

Após um curto período preparatório, dia 7 de maio foi iniciado um ataque maciço contra uma região fortificada alemã nos subúrbios de Sebastopol. O golpe principal foi efetuado no mesmo local do ataque geral das tropas alemãs, que ocorreu dois anos antes, entre o monte Sapún e a elevação Górnaia.

Seguindo a intensiva preparação da parte da aviação e artilharia, grupos de assalto foram ao ataque. Ao fim da tarde, foi tomado o monte Sapún, no dia seguinte o inimigo foi expulso dos montes Mekenzievi.

Dia 9 de maio, um ano antes da vitória sobre Alemanha, às 8h, começou o assalto geral de Sebastopol. O impulso dos atacantes foi tão forte que, com falta de embarcações, os soldados começaram atravessando a baía em tudo que podia flutuar.

Até os caixões, preparados por intendentes alemães, serviram de barcos. À noite de 9 de maio, toda a cidade de Sebastopol foi libertada.  Os restos das tropas hitlerianas recuaram até ao cabo de Khersonés e foram apertados contra o mar.

Os moradores contavam que em 100 metros da costa não se via água, pois tudo estava cheio de cadáveres inimigos e de cavalos, bem como de carros e meios técnicos de combate. Assim, foi encerrada a presença alemã na Crimeia.

Fonte: Gazeta Russa