sexta-feira, 31 de julho de 2020

A SEGUNDA EXPEDIÇÃO MILITAR CONTRA CANUDOS

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Transcrição da excelente página do FB Canudos: uma guerra nordestina


Com o fracasso da primeira expedição, o governo da Bahia lança a segunda com o dobro de soldados da anterior, agora com a artilharia. Chegam a Queimadas no dia 26 de novembro de 1896. Com a ansiedade do comandante Febrônio de Brito, por mais que Sólon (General comandante do terceiro distrito militar, em Salvador, da primeira expedição militar contra Canudos. Com a preparação da segunda, sai de seu posto por conta de desavença com o governador Luís Viana. Era sogro de Euclides da Cunha) pede a espera de mais homens, marcham para Monte Santo no dia 7 de dezembro. Com a chegada de reforços, essa expedição ficou composta por mais de 250 soldados, dois médicos, duas metralhadoras Nordenfelt e dois canhões Krupp.

No dia 18 de Janeiro de 1897, a expedição entra em combate e tomam as formidáveis serras do Cambaio, que foram usadas como meio de defesa para os defensores canudenses. O combate, segundo o comandante Febrônio de Brito, durou das 10 horas da manhã e só terminou às 3 horas da tarde. Usaram canhões e metralhadoras.

Tristão de Alencar Araripe explica como foi o combate: “a força moveu-se, sob o fogo certeiro dos jagunços, embora custosamente. A artilharia irrompeu fogo às 10 horas, secundada pela infantaria. O combate durou, ininterrupto e renhido, cerca de cinco horas. À uma hora da tarde, os fanáticos ainda não tinham cedido um passo sequer. O major Febrônio reuniu, então, todos os oficiais e dividiu a coluna para o assalto. Este foi executado com êxito e os jagunços foram desalojados das posições ao longo da estrada.”.
Houve algumas mortes e 20 feridos, não se sabe o número exato das baixas dos canudenses.

No dia 19, perto de Canudos, uma força canudense ataca o acampamento da força expedicionária às 7 horas da manhã, como explica o mesmo autor: 

“(...) no momento em que a força legal se movia de Tabuleirinho para empreender o ataque a Canudos, foi impiedosamente envolvida por enorme massa de jagunços. (...). A surpresa provocou a natural indecisão, mas a ordem foi mantida e a reação foi pronta e energética. Não chegou haver desordem e pânico. Submetida ao ataque de frente, dos flancos e da retaguarda, a tropa, sob a impulsão de seu valoroso comandante e demais oficiais, formou o clássico quadrado e, a pulso, colocou os seus canhões em posição.
A pronta decisão permitiu que se fizesse frente aos primeiros ímpetos dos jagunços.
Estes batiam-se com excepcional bravura e denodo. Atacavam sem temor da cerrada fuzilaria e dois tiros de metralha. Muitos chegavam a morrer abraçados aos canhões. Narram os legais que ficaram logo prostrados cerca de 700 cadáveres de jagunços, e das tropas legais só havia seis mortos e mais de 60 feridos. Difícil é acreditar na desproporção desses números. Ela significaria, caso fosse verídica, uma vitória da 2ª expedição.”

A seguir, Febrônio recuou, e ao chegar de volta para Monte Santo as tropas estavam maltrapilhas, com fome, quase nua e extenuada. Diante do seu recuo após o combate, Febrônio já previra que seria duramente criticado pela sua retirada e não ter tomado Canudos.

Mesmo contando com duas metralhadoras Nordenfelt a expedição não obteve êxito


Febrônio tenta explicar em sua Ata que seus inimigos dispunham de forças numerosas e “eram fortes pelo número e ferocidade em ação, com as vantagens do terreno, só por eles conhecido e todos armados e protegidos”; que o confronto era desgastante e parecia que não teria um fim; que desde o dia 17 de Janeiro a força não se alimentava e era continuadamente ameaçada de sede e falta de curativos para os feridos; falta de munição para a infantaria e artilharia, que havia sido deixada em Queimadas; falta de linha de comunicações; seus animais (usados como carga) eram mortos pela fome, sede e nos combates; e que atacar o arraial de Canudos podia ser inútil nas condições que a força estava depois dos terríveis confrontos.

Mas isso não justifica completamente o seu recuo. Febrônio cometeu erros e Araripe aponta suas falhas ao realizar a sua expedição:

“- ao efetivo e valor combativo do adversário;
- à necessidade de processo de combate adequado;
- aos cuidados especiais com o abastecimento de víveres, água e munições e com transportes;
- ao reconhecimento do terreno e das estradas;
- a medida de segurança especiais".

Fontes:
- MELLO, Frederico Pernambucano de. A Guerra Total de Canudos. São Paulo: A Girafa Editora, 2007. pp 122-123, 295.
- ARARIPE, Tristão de Alencar. Expedições Militares Contra Canudos – seu aspecto marcial. 2.ed. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército,1985. pp 39-45.


quinta-feira, 23 de julho de 2020

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR – GENERAL YOSHITSUGU SAITŌ

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* 2/11/1890 - Tóquio, Japão


+ 10/7/1944 - Saipan, Ilhas Marianas



Yoshitsugu Saitō foi um tenente-general do Exército Imperial Japonês durante a Segunda Guerra Mundial e comandou as forças japonesas em Saipan.


Natural de Tóquio, Yoshitsugu Saitō se formou na 24ª classe da Academia do Exército Imperial Japonês, em 1912, na arma de cavalaria. Saitō chegou a servir na Guerra Russo-Japonesa e, posteriormente, se formou na 36ª classe no Colégio Superior de Guerra em 1924. Ascendeu rapidamente na hierarquia do Exército, passando por vários regimentos de cavalaria, em uma carreira não muito distinta.

Em 1938, se tornou membro do Estado-Maior da 5ª Divisão do Exército Imperial e foi promovido ao posto de major-general, quando foi transferido para o Exército de Kwangtung, na função de chefe das operações da cavalaria. Tornou-se tenente-general em 1942.

Em abril de 1944, Saitō foi nomeado comandante da 43ª Divisão do Exército, quando esta unidade foi transferida para Saipan. Como o Japão já praticamente tinha perdido o controle dos mares naquele estágio da Guerra do Pacífico, três divisões do Exército sofreram pesadas baixas devido a ataques de submarinos americanos aos navios de transporte japoneses. Saitō se tornou comandante de todas as forças japonesas em Saipan, apesar de não ter experiência em combate e nem sequer era o oficial de mais alta patente na ilha. O Almirante Chuichi Nagumo, comandante da Frota do Pacífico Central, também estava na ilha, e se tornou o principal conselheiro de Saitō.

A Batalha de Saipan começou em 15 de junho de 1944. Sem a possibilidade de receber mais suprimentos ou reforços, a situação dos defensores era precária, mas Saito estava determinado a lutar até o último homem, já que ele tinha conhecimento de que a captura de Saipan pelos americanos colocaria as ilhas metropolitanas do arquipélago japonês dentro do alcance dos aviões bombardeiros dos Aliados. 

Soldado japonês aprisionado em Saipan. Somente 3% da guarnição japonesa sobreviveu à batalha.


Os japoneses usaram várias cavernas vulcânicas da ilha como local para atacar e atrasar o avanço americano, defendendo ferozmente suas posições durante o dia e atacando de forma furtiva durante a noite. Os norte-americanos rapidamente desenvolveram técnicas para limpar as cavernas, usando lança-chamas apoiados por artilharia e metralhadoras. 

Em 7 de julho, os japoneses já não tinham mais para onde recuar e a derrota parecia iminente. Apesar das objeções do Almirante Nagumo, Saito fez planos para um último ataque banzai suicida. Para os últimos civis na ilha, Saitō teria dito: "Já não há mais distinção entre civis e combatentes. Seria melhor para eles se juntarem ao ataque com lanças de bambu do que ser capturados com vida." 

No entanto, às 16:15h de 9 de julho o comandante americano, Almirante Turner, anunciou que Saipan havia sido conquistada por completo. Saitō, ferido por um tiro de artilharia, cometeu suicídio ritual em uma caverna ao amanhecer do dia 10 de julho.



quarta-feira, 22 de julho de 2020

HOJE, LIVE SOBRE O PODER AÉREO NA GUERRA DO VIETNÃ

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Nos canais Arte da Guerra e Velho General, com a participação do Cel FAB Cláudio Calaza, professor de história militar da Academia da Força Aérea.

Imperdível!

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domingo, 19 de julho de 2020

O CERCO DE ANFÍPOLIS (357 a.C.)

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O cerco de Anfípolis (357 a.C.) foi uma vitória antecipada de Filipe II da Macedônia, que conquistou uma posição chave na Trácia, embora à custa de prejudicar permanentemente seu relacionamento com Atenas.


Anfípolis era uma cidade importante, localizada no interior, a leste de Calcutá. Foi fundada pelos atenienses na tentativa de controlar a costa da Trácia e as rotas comerciais para o Mar Negro. A posse de Anfípolis era um objetivo ateniense de longo prazo, embora a cidade só permanecesse em suas mãos por um curto período de tempo (entre a fundação da cidade em 437 a.C. e sua perda para os espartanos no ano 424 a.C. (seguida pela derrota ateniense na batalha de Anfípolis em 422 a.C.). Em 359 a.C., Atenas havia combinado uma aliança com Filipe II, talvez acreditando que ele prometera apoiar sua reivindicação à cidade.

Moeda contendo a efígie de Filipe II, rei da Macedônia

De acordo com Demóstenes, Filipe prometera entregar Anfípolis a Atenas, uma vez que ele controlara, em troca de Pydna, um porto macedônio que estava nas mãos de Atenas desde 346 a.C. No entanto, este foi um tratado secreto. A aliança libertou Filipe para concentrar tropas em suas fronteiras norte e oeste. Primeiro, ele derrotou as tribos paonianas, ao norte da Macedônia; depois, em 358 a.C., derrotou o rei Bardylis de Ilíria ( batalha do vale Erigon ou planície de Lyncus). Essas vitórias empurraram a fronteira da Macedônia para mais longe do coração da Macedônia.

Em 357 a.C., Atenas foi enfraquecida pela eclosão do Guerra Social (357-355 a.C.), desencadeada por uma série de revoltas contra o domínio ateniense. Logo depois, Filipe atacou Anfípolis, aproveitando a fraqueza ateniense ou porque essa fraqueza reduziu o valor da aliança ateniense. Seu pretexto era que o povo de Anfípolis estava mal disposto com relação a ele.

Segundo Diodoro, Filipe empregou suas armas de cerco e aríetes em um ataque severo e contínuo contra a parede. Logo, foi criada uma brecha no muro e suas tropas invadiram a cidade. Após a queda da cidade, Filipe exilou os que se opunham a ele, mas tratou o resto dos habitantes com indulgência. Demóstenes nos diz que dois enviados de Anfípolis - Hierax e Stratocles - chegaram a Atenas durante o ano 357 a.C. e pediram aos atenienses que tomassem a cidade.

O sucesso de Filipe preocupou Olinto, líder da Liga Calcídica. Olinto fez concessões para Atenas, mas sem sucesso. Eles também entraram em negociações com Grabus, um rei ilírio. Filipe respondeu com uma contraproposta. Ele prometeu ajudar a restaurar o controle da Liga em Potideia, que era um clérigo ateniense desde 361 a.C. e entregava o território fronteiriço de Anthemus. Os olintianos aceitaram a oferta de Filipe e concordaram com ele. Um dos termos era um acordo para não entrar em aliança com Atenas sem a presença de Filipe.

Hoplitas combatendo em Anfipolis


Logo depois de tomar Anfípolis, Filipe expandiu ainda mais seu poder na área. O rei trácio Cersobleptes tentou capturar o centro de mineração de Crenides, ao redor da montanha Pangaean. Este era um centro de produção de ouro e, assim, quando os crenidenses apelaram para Felipe, ele ficou feliz em ajudar. Cersobleptes foram forçados a voltar e as comunidades dispersas de Crenides estavam concentradas em uma cidade, com o novo nome de Filipos.

Ruínas das muralhas de Anfipolis

Logo após esses eventos, Filipe capturou Pydna, pelo menos de acordo com Demóstenes, com a ajuda de traidores na cidade.

Atenas respondeu à queda de Anfípolis declarando guerra a Filipe, desencadeando a "Guerra de Anfípolis", que duraria dez anos. Durante a década seguinte, os atenienses frequentemente planejavam ajudar os inimigos de Filipe, mas suas forças quase sempre chegavam tarde demais para ajudar, e a guerra acabou com a Paz de Filócrates (346 a.C.) , o mesmo acordo que levou ao fim da Terceira guerra sagrada.



terça-feira, 14 de julho de 2020

KHIUAZ DOSPANOVA – A CORAJOSA “BRUXA DA NOITE” CAZAQUE QUE RENASCEU DENTRE OS MORTOS

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Khiuaz Dospanova nasceu em 1922 na região de Atyrau, Cazaquistão, e desde cedo demonstrou ser uma garota inteligente e diligente. Um ano antes do início da Grande Guerra Patriótica, em 1940, ela terminou a escola secundária com honras.  Khiuaz foi inspirada pelos feitos dos pilotos soviéticos e, desde a infância, a menina sonhava em ser piloto. Durante os anos letivos, ela frequentou o clube local de voo, até conseguir o certificado de piloto da reserva. Então, ela seguiu para Moscou, mas a Academia da Força Aérea de Zhukovsky rejeitou sua inscrição, porque a escola aceitava apenas homens. 

Khiuaz ficou irritada, mas adaptou-se e ingressou no Instituto Médico. Quando ela terminou o primeiro ano no instituto, a guerra começou. Era o verão de 1941. Logo depois disso, Khiuaz Dospanova soube que um novo regimento de aviação feminino estava sendo formado sob o comando de Marina Raskova. Khiuaz, então, se inscreveu e foi aceita para o 588º Regimento de Bombardeio Noturno, organizado e treinado em Saratov e formado unicamente por mulheres. Em maio de 1942, o regimento feminino de bombardeiros leves foi colocado sob o comando da major Yevdokiya Bershanskaya. 

A destemida piloto cazaque Khiuaz Dospanova

As mulheres desta unidade aérea tiveram um desempenho tão bom, que os alemães as chamaram de "Nachthexen" ("bruxas da noite"). Elas adotaram uma tática inusitada - as pilotos aproximavam-se dos alvos e desligavam os motores para diminuir o ruído das aeronaves. Os bombardeiros perdiam altura e jogavam suas bombas sobre o inimigo antes de serem vistos. As pausas entre os voos eram de cinco a oito minutos. Às vezes, uma tripulação fazia de seis a oito missões em uma única noite no verão, e dez e doze no inverno, quando as noites eram mais longas. 

No total, as aeronaves do 588º (depois renomeado 46º Regimento de Guardas) passaram 28 676 horas (1.191 dias) voando.  Khiuaz Dospanova totalizou 300 horas de voo em combate. Ela era a única no regimento que nunca usava cintos de segurança. Provavelmente, isso salvou sua vida na primavera de 1943, quando a aeronave de Pashkova e Dospanova colidiram com o bombardeiro de Makogon e Svistunova, enquanto pousavam no aeródromo. Os primeiros socorros foram fornecidos imediatamente, mas Makogon e Svistunova estavam mortas. Dospanova e Pashkova, inconscientes, foram transportadas para um hospital de campanha. Julia Pashkova morreu na mesa de operações. Khiuaz também não mostrava sinais vitais e foi colocada ao lado de sua amiga morta. Depois de um tempo, as enfermeiras perceberam que sua pele não estava pálida. Imediatamente eles começaram a reanima-la e conseguiram que a jovem abrisse os olhos. Os médicos passaram vários dias e noites tentando salvar sua vida. Havia alguns sinais de gangrena nas pernas. Mas o médico recusou a amputação: "Não posso cortar as pernas dessa garota. Se ela sobreviver, precisará delas". 

Khiuaz Dospanova escapou milagrosamente da morte e continuou a voar na guerra

E Khiuaz sobreviveu, praticamente ressuscitando do mundo dos mortos. Ela estava usando gesso quando voltou para a frente de combate. Apesar das sequelas de seus ferimentos, ela voltou a voar, contando com a ajuda de suas colegas para entrar e sair de seu avião.  O tempo passou e ela foi nomeada Oficial de Ligação do regimento.

Hoje é difícil imaginar que essa garota jovem e delicada pudesse bombardear o inimigo e matar fascistas. Cada um de seus voos era como um exame - um teste de suas habilidades de voo, bravura, desenvoltura e autocontrole. Ela passou no teste com sucesso. Por sua bravura, Khiuaz Dospanova recebeu a Ordem da Estrela Vermelha, a Ordem da Grande Guerra Patriótica de 2ª Classe, a Ordem da Bandeira Vermelha, e as medalhas da defesa do Cáucaso, libertação de Varsóvia e vitória sobre a Alemanha. Em 2004, Khiuaz Dospanova recebeu a condecoração mais alta da República do Cazaquistão - a Estrela Dourada "Khalyk Kakharmany" ("Herói Nacional"). 

As três heroínas cazaques da Grande Guerra patriótica: Khuiaz Dospanova, Aliya Moldagulova e Manshyk Mametova.

A brava piloto feminina que lutou na Grande Guerra Patriótica faleceu em 2008, deixando um legado de patriotismo, sacrifício e coragem, e inscrevendo seu nome na história da aviação de combate.

Conheça essa e outras histórias lendo


Garanta já seu exemplar.



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segunda-feira, 13 de julho de 2020

IMAGEM DO DIA - 13/7/2020

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Cavalaria norte-americana atacando uma posição de artilharia do Exército do México, durante a Guerra Mexicano-Americana (1846-1848)

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O MASSACRE DE MY LAI, UM CRIME DE GUERRA NO VIETNÃ

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Há 52 anos, no episódio mais infame da Guerra do Vietnã, um ataque de fúria irracional levou ao extermínio de até 504 aldeões


Por Isabelle Somma

O massacre de My Lay foi abafado pelos oficiais da companhia por quase um ano, estima-se que as tropas americanas mataram entre 347 e 504 vietnamitas, sendo homens, mulheres, crianças, idosos e até bebês, um verdadeiro extermínio de toda a aldeia. Apenas 26 soldados foram acusados e houve uma retratação pública, depois de 52 anos.

Tudo isso aconteceu no dia 16 março do agitado ano de 1968. Logo nas primeiras horas daquela manhã, os 120 soldados da Companhia Charlie receberam uma missão: “limpar” a aldeia de My Lai. Suspeitava-se que ali, no humilde vilarejo, estivessem escondidos alguns gooks – ou lodos, como os americanos chamavam os soldados inimigos. Pouco depois das 8 horas, dois pelotões invadiram o povoado, enquanto um terceiro ficou na retaguarda.


Tragédia

Em quatro horas, estava consumada uma enorme tragédia. Os combatentes dos Estados Unidos vasculharam as choupanas, onde se encontravam apenas mulheres, crianças e idosos. Centenas de tiros foram disparados sem alvo certo. As mulheres eram estupradas e mortas. Os homens, torturados e mutilados antes de serem assassinados a sangue-frio. A soldadesca ainda usou baionetas para inscrever “Companhia C” no peito das vítimas. No fim do espetáculo sangrento, o saldo: 504 aldeões abatidos de uma só vez sob a liderança do tenente William Calley.

O tenente William Calley, que liderou as tropas americanas no massacre de My Lai, fotografado durante seu julgamento nos EUA: somente ele foi condenado pelo crime de guerra
 
O genocídio só veio a público em 1969, provocando reações de repúdio mundo afora. Durante as horas de atrocidades, não houve sequer um tiro que não tivesse saído das armas dos soldados americanos. Ou seja, a suspeita de que My Lai era esconderijo de combatentes do Vietnã do Norte era falsa.

“Pressões psicológicas, medo, raiva e fraca liderança são elementos chave para explicar tal comportamento brutal”, afirma, David L. Anderson, autor de Facing My Lai (“Encarando My Lai”) e ex-combatente da Guerra do Vietnã. “Quando o massacre foi divulgado, mostrou o que o conflito estava causando a americanos e vietnamitas. Revelou também os rumos que a guerra tinha tomado em termos de objetivos e custos, e como era urgente um desfecho.” Segundo o professor, o pelotão responsável pelo massacre estava há apenas três meses no Vietnã.


Farsa

Jovens e sem experiência de guerra, muitos soldados da Companhia Charlie entraram em pânico durante a carnificina. O único americano ferido foi um soldado que deu um tiro no pé para não ser obrigado a participar do show de horror que se descortinava à sua frente. Um piloto de um helicóptero que dava cobertura à operação, Hugh Thompson, pousou na frente de um dos pelotões pedindo para que parassem de atirar. Mesmo tendo causado asco em muitos dos combatentes da própria companhia, a verdade sobre o massacre demorou a aparecer.

Ao reportar-se a seus superiores, o capitão Ernest Medina disse que haviam morrido apenas 20 civis na ação. De acordo com Anderson, os oficiais também deram ordem de silêncio à tropa. Mas, um ano depois, o recém-chegado Ronald Ridenhour ouviu o relato contado pelos colegas da Companhia Charlie. E, chocado, escreveu às autoridades revelando os bastidores de My Lai. A imprensa publicou a história. Chegava ao fim a terrível farsa.

O massacre de Mi Lay somente foi descoberto após a denúncia de Ronald Ridenhour, aqui fotografado em Saigon
 
De todos os oficiais que foram à corte marcial, apenas Calley saiu condenado. Ele teria de cumprir prisão perpétua. Mas não chegou sequer a ficar em uma cela. Durante três anos permaneceu em prisão domiciliar em um forte do exército, no Estado da Geórgia. Em 1974, sua pena acabou comutada para dez anos. E, no mesmo ano, foi perdoado pelo presidente Richard Nixon e libertado. “Era impossível para um tribunal determinar se houve ordens superiores para matar os aldeões. Mas é verdade que os comandantes responsáveis pelo planejamento e a liderança da operação deveriam ter evitado o massacre”, diz Anderson.

O piloto Hugh Thompson, por outro lado, foi considerado um traidor durante anos, recebendo até ameaças de morte. O reconhecimento pelo ato de heroísmo só aconteceu quando seu nome entrou para o Hall da Fama da Aeronáutica norte-americana.


Para saber mais

- Four Hours in My Lai, de Michael Bilton e Kevin Sim,1993
- My Lai: A Brief History With Documents, de James Stuart Olson e Randy Roberts,1998
- Facing My Lai, de David L. Andrerson, 2000

Fonte: Aventuras na História

segunda-feira, 6 de julho de 2020

IMAGEM DO DIA - 6/7/2020

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Soldados bizantinos utilizando um trabuco durante operação de sítio, Século X



sábado, 4 de julho de 2020

DISCRETAMENTE, FORÇA AÉREA DA FINLÂNDIA APOSENTA A SUÁSTICA

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Comando Aéreo exibia uma versão do símbolo desde 1918, antes que o emblema passasse a ser associado aos nazistas, mas havia questionamentos sobre se era apropriado continuar a usá-lo. Mudança ocorreu sem anúncio oficial.

A Finlândia mudou o símbolo do Comando Aéreo do país sem fazer um anúncio oficial. O novo emblema mostra uma águia dourada cercada por um círculo de asas. Já o antigo trazia um símbolo com implicações mais sinistras: uma suástica. A mudança, feita discretamente, foi notada por Teivo Teivainen, professor de política internacional da Universidade de Helsinque.

A Força Aérea do país usava a suástica em seu emblema desde 1918, antes que o símbolo passasse irremediavelmente a ser associado aos nazistas. Embora a entidade tenha parado de estampar a suástica em seus aviões após a Segunda Guerra Mundial, o símbolo ainda figurou pelas décadas seguintes em bandeiras, uniformes e símbolos de unidades de combate, em versões na cor azul, enquanto o brasão do Comando Aéreo usava uma suástica adornada com asas douradas.

Um porta-voz das Forças Armadas finlandesas disse à rede BBC que o emblema do Comando da Força Aérea foi modificado já em 2017, para corresponder ao símbolo usado mais comumente pela Força Aérea desde o final dos anos 1940: a águia dourada: "Como os emblemas das unidades são usados nos uniformes, foi considerado impraticável e desnecessário continuar usando o emblema antigo, que causava mal-entendidos de tempos em tempos", disse o porta-voz.

A suástica foi substituída como símbolo na Força Aérea Finlandesa pela águia dourada (à direita)

O Comando Aéreo é responsável por centralizar a direção da defesa aérea do país e serve como quartel-general do comandante da Força Aérea. O QG está localizado em Tikkakoski, cerca de 250 quilômetros ao norte de Helsinque.

Segundo a BBC, o professor Teivainen, o primeiro a notar e anunciar a mudança, já havia questionado no passado se era apropriado continuar a usar a suástica. Ele levantou questionamentos de que o símbolo poderia gerar antipatia entre os jovens finlandeses em relação às Forças Armadas.

Ele ainda argumentava que a Rússia, vizinha da Finlândia, poderia interpretar a persistência do símbolo como um sinal de que os finlandeses ainda seriam inimigos. Ele também temia que o símbolo pudesse impactar a atitude dos vizinhos ocidentais em apoiar a Finlândia caso o país voltasse a ser ameaçado pelos russos.


História

Embora a suástica seja hoje mais comumente associada aos nazistas, a relação da Força Aérea finlandesa com o símbolo remonta a 1918. Ou seja, antes que o símbolo fosse apropriado por Adolf Hitler e pelo movimento nacional-socialista da Alemanha.

No início do século XX, a suástica era bastante disseminada como um adorno, sendo usada até mesmo como logotipo de empresas. No Brasil, figurou em propagandas da predecessora da empresa petrolífera Shell publicadas em jornais paulistas. No caso finlandês, a associação tem origem em um presente oferecido por um nobre sueco chamado Eric von Rosen (1879-1948).

O Conde Von Rosen, que deu origem à Força Aérea finlandesa, possuía uma suástica azul como símbolo pessoal

No início de 1918, ele presenteou os finlandeses com aquela que seria a primeira aeronave a compor a Força Aérea do país, um monoplano de origem francesa fabricado sob licença na Suécia. À época, a Finlândia havia acabado de obter a independência do antigo Império Russo e ainda tentava formar as suas próprias forças armadas.

O conde Von Rosen usava uma suástica azul como um símbolo pessoal, uma espécie de amuleto da sorte. O avião dado como presente tinha justamente o símbolo estampado na fuselagem. A partir daí, a suástica azul se disseminou em futuras aeronaves finlandesas, passando ainda a fazer parte dos uniformes e emblemas de unidades de combate.  

Aeronaves finlandesas voaram com o símbolo durante a Guerra de Inverno (1939-1940), quando o país enfrentou os invasores soviéticos. Ainda estamparam os aviões quando o país se envolveu mais diretamente na Segunda Guerra Mundial, se aliando à Alemanha nazista para combater os soviéticos mais uma vez. No país, essa segunda fase é conhecida como Guerra da Continuação. Depois do fim da guerra, os finlandeses pararam de usar a suástica na fuselagem dos aviões, mas ela persistiu até o século 21 em unidades de combate e uniformes. 

As aeronaves finlandesas combateram na Segunda Guerra Mundial ostentando a suástica em sua fuselagem. Aqui, um Hawker Hurricane durante a Guerra de Inverno contra a União Soviética

Apesar de Von Rosen não ter tido nenhuma associação com os nazistas em 1918 – que nem sequer existiam como movimento organizado ainda –, ele eventualmente acabou tendo conexões com a ditadura dos nacional-socialistas. A irmã de sua esposa, Carin von Kantzow, se casou em 1923 com Hermann Göring, que viria a ser um dos mais poderosos do regime nazista. Göring seria ainda o primeiro comandante supremo da Luftwaffe, a Força Aérea da Alemanha, em 1933. O casal se conheceu no castelo Von Rosen em 1920, quando Göring trabalhava como piloto na Escandinávia. 

Von Rosen também acabaria fundando o Bloco Nacional-Socialista Sueco, um grupo fascista que existiu entre 1933 e 1936. Em entrevistas da época, ele expressou admiração pelos nazistas e disse esperar um renascimento do "espírito nórdico" na Suécia.

Fonte: BBC/DW