Paris comemora os 75 anos da liberação da cidade dos nazistas, uma conquista eternizada pelas palavras do general Charles de Gaulle, em 25 de agosto de 1944: “Paris ultrajada. Paris quebrada. Paris martirizada. Mas Paris liberada!” No total, as tropas alemãs ficaram 1.500 dias na capital francesa.
No último domingo (25), a cidade realizou uma série de eventos comemorativos para marcar a data. Uma celebração aconteceu na torre Eiffel, em homenagem aos seis bombeiros que subiram o monumento, sob fogo inimigo, para substituir o estandarte nazista pela bandeira francesa.
Ao meio-dia, uma gigantesca bandeira foi desenrolada no primeiro andar da torre, na presença de turistas, bombeiros e políticos. Jeanne-Marie Badoche, filha do capitão Lucien Sarniguet, que foi obrigado a retirar a bandeira francesa em 1940 e retornou ao local quatro anos depois para recolocá-la, estava presente e emocionada com a celebração.
Cartaz elaborado pela Prefeitura de paris homenageando os 75 anos do levante contra a ocupação alemã
Outra cerimônia acontece na Porte d’Orléans, no sul da cidade, pela qual o general Leclerc e suas tropas entraram em Paris depois da liberação. “As pessoas ficaram doidas! O clima estava extraordinário. Muitas garotas não voltaram para casa naquela noite”, recorda-se René Gonin, que tinha 24 anos na época.
Parisienses se revoltaram
A liberação de Paris ocorreu quase quatro três meses depois do Desembarque aliado na Normandia, ocorrido em 6 de junho de 1944. No dia 15 de agosto, os aliados atracam também pelo sul, na Provença, mas a chegada à capital ainda parecia distante. Os parisienses então organizam uma revolta popular, a começar pelo comando da polícia.
No amanhecer de 19 de agosto, 3 mil policiais franceses à paisana tomaram a caserna da île de la Cité, no centro de Paris, onde os bombeiros já estavam rebelados e haviam erguido a bandeira tricolor quatro dias antes. É o início da insurreição de Paris, em meio a uma greve geral lançada na cidade no mesmo momento.
Após ser atacada, uma viatura alemã ardendo em chamas em pleno Quartier Latin, defronte à catedral de Notre Dame
A insurreição prossegue: barricadas erguidas pela população parisiense em plena Rua Rivoli, muito perto do Museu do Louvre
Seis dias de combates contra as forças alemãs transformaram a capital num campo de batalha, mas segundo os historiadores, os 20 mil soldados nazistas, mal equipados, pouco resistiram à empreitada. Apenas 167 policiais franceses perderam a vida, apesar da ordem de Adolf Hitler ao general Von Choltitz de reduzir Paris a ruínas – missão que ele decidiu, de última hora, desobedecer.
A vitória se consolidou com a chegada das primeiras tropas aliadas nas ruas da capital, em 24 de agosto. Dois dias depois, o general De Gaulle desfilaria, triunfante, na avenida Champs Elysées, aplaudido pela multidão.
O general alemão Dietrich von Choltiz, governador militar de Paris, aqui fotografado após sua rendição: mesmo diante de grande risco pessoal, optou por desobedecer as ordens de Hitler, salvando a cidade da completa destruição.
Mulheres parisienses celebram a libertação da cidade, na manhã de 26 de agosto de 1944. Muitas delas participaram dos combates de rua
Novo museu leva a quartel-general clandestino no sul de Paris
Para recordar esse momento crucial da história, Paris inaugurou neste domingo um novo museu, que relembra os quatro anos de ocupação nazista e a semana de insurreição que levou à libertação. "Começa com uma França abatida e termina com uma França que se põe de pé", resume Sylvie Zaidman, diretora do novo museu localizado no sul de Paris, em substituição a um espaço aberto anteriormente (1994 a 2018), que nunca superou os 14 mil visitantes anuais.
"Antes, os avós podiam contar o que aconteceu. Mas há cada vez menos testemunhas. É por isso que o museu toma seu lugar, conta a história", afirmou Zaidman, que defende uma rota "muito clara e pedagógica, para que todos possam entrar na história".
Em um espaço de 2.500 m², 300 objetos, fotografias, cartas e pedaços de filmes de época oferecem ao visitante uma cronologia de como os parisienses viviam o governo colaboracionista de Philippe Pétain, e como celebraram o triunfo do general de Gaulle.
Museu da Liberação de Paris possibilita descer até o quartel-general da resistência parisiense, no sul da capital francesa
O ponto alto da visita, que só poderá ser descoberto em grupo e com inscrição prévia, é a descida por uma escadaria estreita que leva a 20 metros de profundidade: ali se encontrava o quartel-general clandestino de Henri Rol-Tanguy, líder da Resistência.
O operário comunista, que se tornou comandante das Forças Francesas do Interior (FFI) na região parisiense, esperou ansiosamente a chegada dos aliados, com sua esposa e uma dúzia de simpatizantes.
Alguns dos equipamentos do abrigo também são preservados de onde ele coordenou a insurreição de Paris, como um armário enferrujado e um sistema de pedalar para gerar eletricidade.
Fonte: RFI
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