No
dia 2 de março de 1921, 300 representantes de estaleiros e marinheiros da
cidade russa de Kronstadt, no Mar Báltico, elegeram um Comitê Revolucionário
Provisório.
Por
Roselaine Wandscheer
Os marinheiros da cidade portuária de Kronstadt, no Mar Báltico, haviam se rebelado no final de 1917. A frota bloqueara a foz do Rio Neva, quando o cruzador Aurora deu o sinal para começar a histórica Revolução de Outubro.
A
historiadora alemã Jutta Petersdorf dedicou-se intensamente ao estudo da
história russa. Ela conta que os marinheiros de Kronstadt desempenharam papel
muito importante do começo ao fim da revolução. O próprio Leon Trotski
reconheceu este fato.
Retrocesso
na Rússia
O
povo russo continuava sofrendo mesmo depois da queda dos czares. A União
Soviética de então estava literalmente arrasada pela Primeira Guerra Mundial
(1914-1918) e pela Guerra Civil (1918-1921). Fome e epidemias grassavam por
toda parte, indústria e transportes estavam profundamente debilitados. Alguns
setores apresentavam índices equivalentes aos de fins do século XVIII.
Havia
greves, a agricultura estava paralisada, à espera de definições políticas, o
descontentamento agitava a população urbana e provocava revoltas no campo.
Protestos públicos eram punidos com prisão sumária.
Os
comunistas governavam com mão de ferro. Quem parasse de trabalhar, podia ser
condenado à morte. Esta efervescência provocou a insurreição dos marinheiros de
Kronstadt contra os bolcheviques. No dia 2 de março de 1921, 300 representantes
dos estaleiros daquela cidade portuária elegeram um Comitê Revolucionário
Provisório. Os marinheiros entendiam-se responsáveis pelo regime, criticavam a
inflação de poder do partido e queriam o retorno dos sovietes às suas origens.
"Somos
invencíveis!"
Os
sovietes eram os conselhos integrados por operários, camponeses e soldados.
Eles apareceram pela primeira vez na Rússia em 1905. Com a revolução de 1917,
passaram a ser órgão deliberativo no país. Mas Vladimir Lênin e Trotski viam
nos amotinados apenas contrarrevolucionários, e não os apoiaram. Em 5 de março,
Trotski enviou uma advertência aos rebelados para que encerrassem seu protesto.
Caso contrário, "seriam caçados como coelhos".
Cartaz de mobilização dos marinheiros rebelados em Kronstadt
Como
os marinheiros mantiveram suas reivindicações, dois dias mais tarde começou a
invasão de Kronstadt pelo Exército Vermelho. Protegidos como numa fortaleza, os
amotinados conseguiram defender-se e enviaram a seguinte mensagem a 8 de março,
Dia Internacional da Mulher.
"Da
Kronstadt libertada para todas as operárias do mundo: estamos aqui em meio aos
estrondos dos canhões, em meio às granadas explodindo, jogadas pelos
comunistas, inimigos do povo trabalhador! Mesmo assim, enviamos fraternas
congratulações a vocês, operárias de todo o mundo. Saudações da Kronstadt
vermelha rebelada, do império da liberdade. Que nossos inimigos se atrevam a
nos destruir. Somos fortes. Somos invencíveis!"
Rápida
derrota
A
invencibilidade durou apenas dez dias. Com o apoio de voluntários que participavam
da 10ª Convenção do Partido Comunista, as tropas russas conseguiram conquistar
a fortaleza de Kronstadt em 18 de março de 1921.
Tropas do Exército Vermelho atacam os marinheiros em Kronstadt
Uma
parte dos amotinados foi executada, outra enviada para prisões afastadas, nas
temidas ilhas Solofki, no Mar Branco, ao norte da atual Federação Russa; 8 mil
rebelados conseguiram fugir de Kronstadt pelas águas geladas do Mar Báltico.
Estava debelado, assim, um dos primeiros movimentos políticos na União
Soviética.
Fonte:
DW
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