Rafi Eitan comandou operação que conseguiu levar a julgamento um dos principais organizadores do Holocausto. Nos anos 1980, ele também foi pivô de uma crise diplomática entre os EUA e Israel.
O ex-agente secreto israelense Rafi Eitan, que comandou a operação de captura do nazista Adolf Eichmann, um dos principais responsáveis por organizar o genocídio de milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, morreu no sábado (23/03) aos 92 anos em Israel, anunciou a rádio pública do país. De acordo com o anúncio, ele faleceu no hospital Ichilov, em Tel Aviv.
"Rafi era um dos heróis dos serviços de inteligência do Estado de Israel, com múltiplas ações a favor da segurança de Israel", informou um comunicado do primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu. "Lamentamos sua morte".
"Rafi, que era um dos fundadores do braço de operações do Shin Bet (a Agência de Segurança de Israel), conduziu e participou de pelo menos dez operações históricas que continuarão sendo secretas por muitos anos", afirmou em um comunicado Nadav Argaman, chefe do Shin Bet. Eitan era "um combatente nato que se entregava à missão e àquilo que considerava como justo", afirmou o presidente israelense, Reuven Rivlin, também em comunicado.
Eitan nasceu em um kibutz na Palestina governada pelos britânicos em novembro de 1926. Ele foi apelidado por colegas de "Rafi, o fedorento", depois de cair em um esgoto durante uma operação militar antes da criação de Israel em 1948.
Após servir na organização paramilitar Haganah, precursora das Forças de Defesa de Israel, ele ingressou no Mossad – o serviço secreto israelense – nos anos 1950. Ele subiu na carreira até se tornar o chefe de operações da agência, comandando a operação que capturou Eichmann em Buenos Aires, Argentina, em 1960, e o posterior transporte do fugitivo alemão para Israel. Após chegar o país, o organizador do Holocausto foi julgado e depois enforcado no ano seguinte.
O nazista Adolf Eichmann sendo julgado por crimes de guerra em Israel
O sucesso da operação foi celebrado em Israel. Mas em 2017, quando o Mossad liberou os arquivos sobre a caçada fracassada ao médico nazista Josef Mengele, que realizou experimentos em prisioneiros no campo de extermínio de Auschwitz, Eitan admitiu que perdeu pelo menos duas chances de capturá-lo. "Ao mesmo tempo em que capturamos Eichmann, Mengele estava morando em Buenos Aires. Encontramos o apartamento dele e o mantivemos sob observação", contou Eitan em uma entrevista.
Segundo o ex-agente, o chefe do Mossad à época, Issar Harel, também desejava a captura de Mengele, mas ele se posicionou contra o plano. "Eu não queria realizar duas operações ao mesmo tempo porque já tínhamos uma operação bem-sucedida e, na minha experiência, se você tentar realizar outra, você as coloca em risco", disse.
Eitan também contou que esperou até que Eichmann fosse levado para Israel para agir contra Mengele, mas a essa altura o médico, conhecido pelos prisioneiros como o "Anjo da Morte", já havia escapado. Mengele nunca foi capturado. Ele morreu no Brasil em 1979.
Nos anos 1980, Eitan também foi o pivô de uma crise diplomática entre Israel e os Estados Unidos, um dos principais aliados do estado judeu, quando os americanos descobriram que ele era o agente encarregado de lidar com Jonathan Pollard, um analista da Marinha dos EUA que foi recrutado como agente duplo pelos israelenses.
Entre maio de 1984 e sua prisão em novembro de 1985, Pollard repassou milhares de documentos secretos do governo americano para os israelenses. Após ser capturado, ele passou 30 anos em uma prisão americana. Foi solto em 2015. Após o episódio, o FBI também chegou a emitir um mandado de prisão contra Eitan, que nunca foi cumprido.
Em 2006, aos 79 anos, Eitan foi eleito para o Parlamento e também foi ministro do governo - função que cumpriu até 2009. Recentemente, ele também foi um dos personagens entrevistados no documentário Por Dentro do Mossad, da Netflix.
Fonte: DW
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