Presidente francês diz que líder do regime de Vichy foi 'um grande soldado' durante o primeiro conflito bélico mundial, que completa 100 anos
Uma onda de críticas foi dirigida nesta quarta-feira ao presidente francês, Emmanuel Macron, por elogios ao colaboracionista nazista Philippe Pétain (1856-1951), que comandou o regime autoritário francês de Vichy, mas antes foi, em suas palavras, um "grande soldado" durante a Primeira Guerra Mundial.
O porta-voz do Exército Patrik Steiger anunciou de última hora na terça-feira que, no sábado, será celebrada uma cerimônia em homenagem aos oito marechais que comandaram as forças francesas durante a Primeira Guerra Mundial, incluindo Pétain.
Philippe Pétain, aqui retratado como o "herói de Verdun"
— É legítimo que façamos uma homenagem aos marechais que levaram o Exército à vitória — disse Macron na cidade de Charleville-Mézières, no âmbito de uma viagem pelo Norte e Leste da França pelo centenário do término do primeiro conflito mundial. — Durante a Primeira Guerra Mundial, ele foi um grande soldado, isto é um fato — declarou o presidente francês, para pouco depois acrescentar que Pétain tomou "decisões desastrosas" durante a Segunda Guerra Mundial, ao colaborar com o regime nazista.
Durante o regime de Vichy, que durou de 1940 a 1944, Pétain, então um idoso marechal, atuou como chefe de Estado francês. Após a derrota da França e de seus aliados na Batalha da França, em maio de 1940, Pétain, então primeiro-ministro, ofereceu a rendição de seu Exército. Seu governo transformou a desacreditada República Francesa no Estado Francês, um regime autoritário alinhado com a Alemanha nazista.
Após a guerra, Pétain foi julgado e condenado por traição. Ele foi originalmente sentenciado à morte, mas por causa de sua liderança militar na Primeira Guerra Mundial, particularmente durante a Batalha de Verdun, Pétain era visto como um herói nacional na França e não foi executado, mas teve a sentença convertida em prisão perpétua.
Os comentários do atual presidente provocaram duras críticas por parte de políticos opositores e de líderes judeus, ao abrir um doloroso capítulo da História da França que continua dividindo o país há décadas.
Após a derrota da França, em 1940, Pétain colaborou com os nazistas
Francis Kalifat, do Conselho representativo das instituições judaicas da França (Crif), disse que estava "chocado" com os comentários de Macron e lembrou que Pétain foi julgado por "alta traição".
"Pétain é um traidor e um antissemita", tuitou Jean-Luc Mélenchon, do partido de extrema esquerda França Insubmissa, fazendo eco a várias mensagens furiosas.
Durante muito tempo, Philippe Pétain foi considerado um excelente estrategista, sobretudo por ter detido o avanço alemão em Verdun em 1916.
Horas depois das declarações polêmicas, Macron tentou colocar panos quentes e afirmou que “não perdoa" os atos de Pétain, mas que também "não apaga nada" da História da França.
O presidente não irá à cerimônia de sábado no Museu dos Inválidos, em Paris, mas enviará seu assessor militar para que o represente.
Nesta quarta-feira, um porta-voz do governo tentou minimizar o que ele chamou de "falsa polêmica", dizendo que inclusive Charles de Gaulle, general que comandou a resistência francesa na Segunda Guerra Mundial, acreditava que a glória de Pétain conquistada em Verdun "não poderia ser questionada".
Pétain morreu na prisão aos 95 anos.
Fonte: France Press
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