sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

HISTÓRIA MILITAR NA FRANÇA – O MONUMENTO DA GRANDE GUERRA, A ESTÁTUA DO MARECHAL JOFFRE E A HOMENAGEM AO AVIADOR BRASILEIRO MORTO EM CHANTILLY

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O Blog Carlos Daroz-História Militar visitou o município de Chantilly-Gouvieux, localizado no departamento de Oise, na região Hauts-de-France. 

Situada no coração da Floresta de mesmo nome, Chantilly possui, de acordo com o último censo de 2014, 10.861 habitantes. Chantilly é conhecida por seu castelo, que abriga as coleções do museu Condé, e pelo seu mundialmente famoso creme de chantilly. Também é reconhecida internacionalmente por suas atividades equestres: além de seu hipódromo, em que são realizadas duas corridas de cavalos, o Prêmio Jockey Club e o Prix de Diane, a cidade e seus arredores constituem o maior centro de treinamento de cavalos de corrida do mundo. 

O belíssimo castelo de Chantilly


Como em muitas localidades no interior da França, em Chantilly a memória da Grande Guerra é bastante vívida, pois a cidade foi envolvida pelas operações militares e muitos de seus filhos morreram no front, lutando contra os alemães.

Logo no início da ofensiva de 1914 pelo território francês, em 3 de setembro o Exército Alemão entrou na cidade, mas não se instalou ali e partiu no dia seguinte. Apesar de uma breve ocupação do castelo, nenhum dano particular ocorreu à cidade, diferente do que ocorreu nas localidades vizinhas de Creil e Senlis, que foram bombardeadas e parcialmente incendiadas. Após a partida dos alemães, as tropas franceses retomaram Chantilly no dia 9 de setembro.

Cartão postal francês mostrando o Marechal Joffre e os comandantes Aliados durante a conferência de Chantilly, realizada no final de 1915

Depois da Batalha da Marne, o Marechal Joseph Joffre, comandante do Exército Francês, instalou seu Grande Quartel-General (GHQ) em Chantilly, devido à relativa proximidade e facilidade de ligação com Paris por via férrea. A sede do GHQ instalou-se no Hotel Grand Condé em 29 de novembro de 1914, com 450 oficiais e 800 soldados e funcionários de apoio. Joffre ocupou alojamento na Villa Poiret, a cem metros de distância do hotel. Durante a conferência de Chantilly, realizada entre 6 e 8 de dezembro de 1915, o comandante francês reuniu os líderes dos exércitos aliados para definir os planos militares e coordenar a ofensiva Aliada para o ano de 1916.  O GHQ deixou a cidade em dezembro de 1916 para se instalar em Beauvais. 

Chantilly também sediou um hospital militar, distribuído pelo Hotel Lovenjoul e pelo Pavilhão Egler.  Uma das três oficinas de camuflagem pertencentes ao 1º Regimento de Engenharia instalou-se na cidade em 1917, em cabanas especialmente construídas no pequeno gramado perto do hipódromo.  Cerca de 1.200 mulheres, bem como 200 prisioneiros de guerra alemães e 200 trabalhadores civis contratados, trabalharam na confecção e pintura de redes de camuflagem para proteção da artilharia e das viaturas de transporte logístico.

No período entre as duas guerras, a cidade se expandiu em 1928, com o aditamento do distrito desmembrado Bois Saint-Denis da comuna de Gouvieux. 

O editor do Blog diante da estátua do Marechal Joffre

A estátua do Marechal Joffre

Para homenagear o GHQ e seu comandante, um monumento ao Marechal Joffre foi inaugurado, em 1930, na sua presença, na avenida que hoje leva seu nome.  

Outro monumento, adjacente à estátua de Joffre, foi erguido posteriormente, para reverenciar os filhos da terra mortos nas duas guerras mundiais defendendo a França.  Um rápido exame do monumento permite compreender porque em boa parte do país a memória acerca da Primeira Guerra Mundial é bem mais forte do que a da Segunda.  O número de cantilianos (nascidos em Chantilly) mortos no primeiro conflito (180) é 7,5 vezes maior do que as baixas fatais ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial (24).  Tal efeito também pode ser percebido no Brasil, em sentido contrário, com a memória da Primeira Guerra Mundial sendo praticamente apagada pela da Segunda, ainda que o país tenha sido o único da América do Sul a enviar contingentes para os dois conflitos mundiais.

No monumento aos mortos das duas guerras mundiais em Chantilly

Ao lado do monumento destaca-se uma lápide contendo os nomes de dois aviadores mortos em 28 de janeiro de 1918, quando seu avião foi abatido em combate sobre a cidade: o francês Charles d’Albert de Luynes e o brasileiro Luciano de Mello Vieira.  O piloto Luciano Antônio de Mello Vieira era tenente da Divisão Salmson da Legião Estrangeira e voluntariou-se para lutar na guerra em 30 de maio de 1917. Teve vida breve no conflito: morreu aos 21 anos, na queda de seu avião.

Lápide com o nome dos aviadores mortos em Chantilly em 28 de janeiro de 1918, dentre os quais o brasileiro Luciano Antônio de Mello Vieira

Finalizando as referências sobre a Grande Guerra, encontramos na estação ferroviária da cidade uma placa de bronze homenageando os treze funcionários da Ferrovia do Norte mortos no conflito na região de Chantilly.

Placa na estação de Chantilly com o nome dos treze ferroviários mortos na região durante a Grande Guerra

Pela beleza da cidade e de seu castelo e pela riqueza histórica, valeu a pena a visita à Chantilly-Gouivieux.



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