quarta-feira, 28 de junho de 2017

GUAHYBA E ACARY: OS NAVIOS BRASILEIROS TORPEDEADOS EM CABO VERDE

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Por sua posição estratégica no coração do Oceano Atlântico, o arquipélago de Cabo Verde foi palco de intensas operações de submarinos alemães, que resultaram no afundamento de dois navios mercantes brasileiros

Por Ricardo José Lustosa Leal
Conselheiro da Embaixada do Brasil em Praia, Cabo Verde 


Quem passa pela Praça Mauá, no centro do Rio de Janeiro, depara-se com um monumento em que estão assinaladas em mapa as ilhas cabo-verdianas de Santiago, Santo Antão e São Vicente. Trata-se da memória dos portos visitados na I Guerra Mundial pela esquadra brasileira então criada para patrulhamento do Atlântico, especialmente no circuito Dacar-São Vicente-Gibraltar. Apresentada na Conferência Inter-Aliada de Paris, em novembro e dezembro de 1917, esta esquadra de 1502 homens, dois cruzadores leves e quatro contratorpedeiros - ie, a Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG) do Brasil - materializou-se em janeiro de 1918, decorrência da constatação de um estado de beligerância iniciado pelo Império Alemão e declarado pelo Congresso no Rio de Janeiro em 26 de outubro de 1917. Esse estado de guerra envolveria o torpedeamento  dos vapores mercantes Acary (118 metros, 4275 t), do Lloyd Brasileiro, e Guahyba (275 pés, 1119 t), da Companhia de Commercio e Navegação, que haviam atracado a curta distância um do outro no Porto Grande da ilha de São Vicente. A ilha faz parte do arquipélago de Cabo Verde, próximo à costa ocidental da África, no "gargalo atlântico" entre Fernando de Noronha e  Dacar. O torpedeamento vinha somar-se aos demais ataques de submarinos e corsários alemães à navegação nacional naquele ano (navios Paraná, Tijuca, Lapa e Macau, todos na Europa).  

Croqui do "Porto Grande" de São Vicente

As relações entre o Rio de Janeiro e Berlim já haviam sido rompidas em abril de 1917. Em fevereiro, o almirantado alemão autorizara submarinos - "Untersee Boot", U-Boot -  a torpedear quaisquer navios que entrassem em suas zonas de bloqueio. Isto não excluía os do Brasil, que se mantivera neutro desde agosto de 1914, não considerava o café como contrabando de guerra e até 1917 o vendia a ingleses e franceses. O Guahyba e o Acary , justamente, carregavam café e charque. Faziam escala no Mindelo (o "Porto Grande" de São Vicente, onde hoje atua Missão Naval da Marinha do Brasil), para abastecer-se de carvão, fazer aguada e prosseguir até o Havre e Liverpool - o Acary vindo do Rio de Janeiro e o Guahyba, de Santos. 

Ainda que detectar submarinos submersos fosse praticamente impossível no início do século XX, por outro lado sua autonomia era limitada e  precisavam emergir com frequência. Tal como concebida, a DNOG teria como contribuir no esforço de dissuadir agressões contra navios Aliados, em área que também abarcava Cabo Verde. Nesta área, somente duas canhoneiras inglesas respondiam então – e de maneira inadequada - pelo patrulhamento marítimo. Entre setembro e outubro de 1918, o contratorpedeiro Piauhy (CT-3) patrulharia águas cabo-verdianas, sob o comando do Capitão-de-Corveta Alfredo de Andrada Dodsworth.    

O contratorpedeiro Piauhy, da DNOG patrulhou as águas cabo-verdianas 

Naquela quadra com quase um século de vida independente, 25 milhões de habitantes, boas tradições militares e meios navais adquiridos no reaparelhamento da Armada estimulado por Rio-Branco poucos anos antes (até hoje é lembrada no País a "esquadra de 1910"), o Brasil de um lado entrou tardiamente no teatro de guerra mais amplo e o fez sem maiores consequências - mas por outro lado tinha capacidade para reagir, ainda que com meios muito limitados; e não poderia deixar de fazê-lo diante das agressões contra seus navios mercantes. A que vitimou o Paraná foi particularmente traumática: navio de 4.466 t , carregado de café, navegava a 10 milhas do Cabo Barfleur (França), iluminado, com a bandeira brasileira içada e a palavra "Brasil" pintada no casco. Após torpedeá-lo, o submarino alemão ainda dispararia cinco tiros de canhão contra os botes de salvamento. 
Verdade que a DNOG enfrentaria em 1918 muitas dificuldades para operar.  

Como é sabido, mais de cento e cinquenta militares brasileiros foram vitimados em Dacar pelo vírus da gripe espanhola, contraído em escala em Freetown. Quatro tripulantes do Piauhy também faleceriam e podem ter sido sepultados no Mindelo.  Do ponto de vista do Rio de Janeiro, entrar ativamente no confronto era porém uma iniciativa incontornável, no plano da política externa tendo ademais por pano de fundo a declaração de guerra dos Estados Unidos ao Império Alemão, em abril de 1917.  

Cabo Verde, do seu lado, envolvia-se na dinâmica do conflito por sua posição estratégica - valorizada inclusive duas décadas antes, em 1898, quando esquadra espanhola partira de São Vicente para combater em Cuba contra os Estados Unidos.  Em 1916, Lisboa declarava guerra às Potências Centrais (Alemanha e Império Austro-Húngaro), e São Vicente não poderia deixar de interessar aos alemães a partir da decisão de Berlim de torpedear navios mercantes. O Porto Grande era além disto não somente ponto de apoio para abastecimento, mas elo de ligação radiotelegráfica para as comunicações, seja entre entre Lisboa e África, seja da esquadra inglesa no Atlântico Sul com o almirantado em Londres. Vale recordar que o Atlântico Sul, por distante que estivesse do epicentro da conflagração, não deixou de ser engolfado por ela: já em dezembro de 1914 se dera por exemplo batalha naval entre alemães e britânicos nas Malvinas (vitória aliada). Em fevereiro de 1916, oito navios alemães foram apresados no Porto Grande.

As canhoneiras portuguesas Beira e Ibo (foto acima) faziam a proteção do porto

As canhoneiras lusas Ibo e Beira, o posto de vigilância no Ilhéu dos Pássaros (na baía da ilha de São Vicente) e as fortificações de João Ribeiro e Morro Branco (onde hoje funciona o Centro de Instrução Militar das Forças Armadas de Cabo Verde, com uma "Sala Brasil" inaugurada em 2017) terão possivelmente ajudado a repelir em 1917 duas outras incursões de submarinos - mas não lograram impedir no final daquele ano o torpedeamento do Acary e do Guahyba, atraiçoados por cobertura oferecida aos alemães por navio espião caracterizado como mercante holandês. Este zarpara de Salvador dois dias antes dos vapores brasileiros, levando sempre dois dias de vantagem sobre eles. 

O vapor brasileiro Guahyba antes de ser torpedeado no porto de São Vicente

Na manhã de 2 de novembro de 1917, ambos foram fatalmente atingidos pelo U-151 sob comando do Kapitänleutnant Waldemar Kophamel: o Guahyba ao zarpar, e o Acary enquanto se reabastecia de carvão. Os feridos foram levados ao hospital do Mindelo, mas perderam a vida no episódio os foguistas Antônio Moura Lima e Octaviano Vargas de Souza. Haviam descido à casa de máquinas do Guahyba e receberam em cheio o impacto da explosão. Como relatava em 15 de dezembro de 1917 o jornal A Capital, de Manaus, os marinheiros "pereceram afogados pelo enorme volume de água que se precipitou rombo a dentro". Os corpos não foram localizados, "desaparecendo com os  restos do navio." Em entrevista publicada pelo Correio da Manhã em 22 de novembro de 1917, tripulante do Guahyba refere "um rombo de seis metros de extensão e quatro de largura". O Comandante do vapor, Capitão Paulo Guerra, logrou ainda assim voltar ao porto e intencionalmente encalhar em águas rasas.

O Acary avariado no "Porto Grande"

Cem anos depois do torpedeamento perpetrado pelo U-151, em 2017 é possível a mergulhadores visitar na baía de São Vicente os destroços de pelo menos um dos dois vapores brasileiros, ainda não identificado mas com localização conhecida. Aparentemente, a maior parte do que restou do Guahyba foi desmantelada, para facilitar manobras no porto. Os foguistas brasileiros falecidos no cumprimento de seu ofício podem ser lembrados também por cariocas que passem pelo monumento à DNOG na Praça Mauá, ou por quem visita no Mindelo o Museu do Mar, defronte à baía de São Vicente. 

A recuperação da memória dos dois mercantes torpedeados há cem anos serve agora porém à celebração da paz - e da importância de que se reveste no Brasil e em Cabo Verde o trabalho realizado em comum, para manter o Atlântico Sul uma região livre de toda presença militar que não seja de cooperação. 


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segunda-feira, 26 de junho de 2017

HERDEIROS DE GENGHIS KHAN CONTRA NAPOLEÃO

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Em novembro de 1812, um general francês ferido em batalha foi levado ao hospital do Grande Exército de Napoleão, perto do povoado de Krasnoe, na região de Smolensk. O fato de o oficial superior ter sido ferido não surpreendeu os cirurgiões do exército: só na Batalha de Borodino, alguns meses antes, Napoleão perdera oito generais. O que espantou os médicos foi uma flecha com plumagem colorida espetada no ombro do militar francês. Havia séculos que as fileiras dos exércitos europeus tinham deixado de usar arqueiros, e os médicos não faziam ideia de como operar tais lesões.

Por Aleksandr Verchínin


O general francês tinha sido vítima da cavalaria dos calmucos, um destacamento do Exército Imperial russo, formada por cavaleiros das estepes do Baixo Volga. Esses asiáticos de baixa estatura e montados em cavalos de pequeno porte eram descendentes diretos dos temíveis guerreiros mongóis. Nem a sua aparência física nem as suas armas haviam mudado desde o tempo de Genghis Khan.

Com uniformes coloridos, chapéus de pele desgrenhados e rabos de cavalo ao vento, a aparição do grupo no campo de batalha semeava terror entre os inimigos. Em 1812, os soldados franceses se referiram aos calmucos de “demônios do inferno”.

As suas armas, que pareciam bastante arcaicas, se mostraram bastante eficazes em guerra. O arco dos calmucos era envolto por crina de cavalo e casca de bétula para proteger da umidade. Graças à corda feita de tendões de animais bem esticada, uma flecha disparada por um arco calmuco podia percorrer uma distância de meio quilômetro. A essa mesma distância, as espingardas da infantaria dificilmente acertavam o alvo.

Munido apenas com o seu arco, o calmuco conseguia acertar em brechas estreitas de armaduras. Depois da Batalha das Nações, travada em Leipzig no ano de 1813, os franceses, vencidos pela precisão das flechas dos calmucos, apelidaram os calmucos de “amurs orientais”. “Amur” é um dos nomes pelo qual os russos identificavam Eros, que muitos conhecem como a representação do Cupido. Mas é evidente que esta analogia não foi feita levando em conta o “Deus do amor”.

A cavalaria dos calmucos era usada principalmente para exploração do terreno, na primeira linha de batalha e em ataques de guerrilha. Atuaram também como dignos soldados em batalhas campais, cara a cara com a infantaria francesa. Na batalha de Fère-Champenoise, em março de 1814, o regimento calmuco derrubou a infantaria francesa e fez mil prisioneiros, entre soldados e oficiais do inimigo.


Enxame imperial

Lado a lado com os calmucos, combatia outro povo: os cavaleiros basquírios. Nativos das estepes dos Urais, esses soldados travaram uma batalha incomum contra os franceses. “Eles ficavam girando em torno das nossas tropas, como um enxame de vespas, esgueirando-se por todos os lados. Acertar neles era muito difícil, e os ataques desses bárbaros se repetiam constantemente. Com seus gritos ruidosos, os bárbaros cercavam os nossos esquadrões, jogando sobre eles nuvens de flechas”, recordou um oficial francês em suas memórias.

Arqueiro calmuque a serviço do exército russo em 1812


Centenas de guerreiros basquírios ficariam horas cavalgando em volta da unidade inimiga, abatendo-a com suas flechas. Esses confrontos culminavam frequentemente no aniquilamento total do inimigo.

Nas batalhas contra o Exército de Napoleão, os guerreiros basquírios usaram uma tática de combate a cavalo sem precedentes na época. Com a bolsa das flechas colocada na parte da frente, no peito, o cavaleiro carregava o arco com duas flechas ao mesmo tempo, tendo já outras duas presas pelos dentes e prontas para serem imediatamente carregadas no arco.

O arqueiro disparava as quatro flechas praticamente sem intervalo, e depois pegava a mais longa, que mantinha presa junto ao corpo do cavalo. Soltando gritos de guerra, corria ao encontro ao inimigo. Em um ataque desses, o guerreiro basquírio conseguia derrubar até cinco soldados inimigos.


Fama e truque

Vencidos no confronto com esses soldados, os franceses espalharam entre os europeus a notícia da existência de feras selvagens com formas humanas que se alimentavam da carne dos inimigos mortos. Mas fato é que, em vez de bárbaros sanguinários, os habitantes de cidades alemãs e francesas viram chegar forasteiros amigáveis que de bom grado mostravam suas roupas e armas incomuns.

Na cidade alemã de Weimar, os basquírios foram saudados pelo poeta alemão Johann Goethe. Um dos centuriões basquírios gostou tanto do escritor que lhe ofereceu como lembrança seu arco e flechas. Anos mais tarde, Goethe ainda exibia esse presente com orgulho às visitas.

Para o comando russo, era útil aproveitar o medo que Napoleão incutira nos europeus. Quando, em março de 1814, o Exército russo chegou às portas de Paris, a guarnição da cidade se preparava para defender a capital. Foi então que os russos decidiram recorrer a um truque: 500 calmucos despidos até a cintura, com os troncos sujos de sangue de animais e montados em cavalos sem sela começaram a empurrar um grupo de camelos contra os muros da fortificação de Paris. Os animais não só faziam um barulho enlouquecedor como levantavam grandes nuvens de poeira.

O efeito psicológico foi total: os franceses, imaginando todos os horrores da possível captura de Paris pelos bárbaros sangrentos, se renderam incondicionalmente. Os calmucos marcharam sobre Paris como integrantes do Exército russo e montaram o seu acampamento na Champs Elysees.

A região, porém, foi logo transformada em um enorme hipódromo, onde cavaleiros asiáticos surpreendiam os parisienses com sua mestria na arte de montar a cavalo. Junto com os lendários cossacos, os calmucos e basquírios causaram grande impressão nos franceses, que ainda hoje guardam a memória dos filhos das estepes russas.

Fonte: Gazeta Russa



sábado, 24 de junho de 2017

LANÇADA A SEGUNDA EDIÇÃO DO LIVRO "UM CÉU CINZENTO"



Em um prestigiado evento realizado na Biblioteca do Exército Editora, lançamos a segunda edição do nosso livro UM CÉU CINZENTO: A AVIAÇÃO NA REVOLUÇÃO DE 1932

O livro conta a história do emprego do pode aéreo durante a Revolução Constitucionalista e as três aviações presentes: Militar, Naval e Constitucionalista. 

Agradeço a presença dos amigos que prestigiaram o evento e fazem do livro um sucesso. Algumas fotos do lançamento:












Saiba como adquirir seu exemplar clicando aqui , ou enviando um e-mail para

umceucinzento@yahoo.com.br






quinta-feira, 22 de junho de 2017

A INCRÍVEL HISTÓRIA DE CORAGEM POR TRÁS DE UMA FOTO

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35 anos atrás, dois torpedos do submarino nuclear britânico HMS Conqueror feriram fatalmente o cruzador argentino ARA General Belgrano. E levaram para o fundo do oceano 323 vidas. Esta é a história heroica dos dois últimos membros da tripulação que deixaram o navio, minutos antes de afundar para sempre em um mar revolto


Por Gaby Cociffi

Dois homens na popa do navio afundando. Eles seguram na balaustrada em cima de um mar tempestuoso. Eles são os últimos restantes do gigante ferido de morte.

Abandono o navio ou não?, pergunta o comandante capitão Héctor Bonzo.

Uma voz o surpreende atrás dele, pois pensava que estava sozinho no navio. Ele não reconhece o estranho contido na névoa. O homem grita:

Se não pular, eu também não vou! Eu vou ficar com você, Capitão!

São 16h35 de 2 de maio de 1982. Trinta e quatro minutos mais cedo, a partir das profundezas do mar do sul, o operador do submarino britânico HMS Conqueror lançou a pergunta que iria selar o destino do cruzador General Belgrano. — Devemos afundá-lo?

A resposta é dada em segundos a 12.489 quilômetros entre o Reino Unido e as Ilhas Falkland. O Capitão Richard Hask, da Força Tarefa, é aquele que transmite a ordem implacável de Margaret Thatcher, a primeira-ministra britânica.
— Disparem e afundem.

O cruzador ARA General Belgrano fotografado antes da guerra


Às 16h01 o primeiro torpedo Mk.8 atravessa a proa do navio, que navega a 30 milhas da zona de exclusão imposta pelos britânicos. Perfura os quatro conveses verticalmente. A água entra em todos os compartimentos. Apenas alguns segundos depois, o segundo torpedo acerta a popa.

O cruzador está inclinado para bombordo, o fogo surge das suas entranhas. Há gritos. E depois um silêncio ensurdecedor que dói. A partir da ponte, e com um megafone, o capitão Bonzo — 23 minutos após o primeiro impacto, dá a ordem: “Abandonem o navio”. Setecentos e setenta homens alcançam as balsas. Trezentos e vinte e três encontram o seu destino final no oceano.

Como ainda não foi para uma das balsas!? O que você está fazendo aqui se não há mais ninguém!?” Bonzo repreende a figura irreconhecível, coberta da cabeça aos pés com uma capa de chuva e uma balaclava cinza, que se recusa a deixar o navio. O homem que grita “Não há tempo, capitão! Você deve abandonar o navio!” está determinado a impedir que o comandante atenda à lei marinheira de ir para o fundo com o seu navio.

Às 16h01 o submarino britânico HMS Conqueror disparou o primeiro de dois torpedos Mk.8 que acertaram a proa e a popa do Belgrano. A imagem surpreendente foi tomada pelo primeiro tenente Martín Sgut, que estava em uma das balsas


Ali, de frente para o mar, para mim era mais difícil viver do que morrer”, confessou anos mais tarde o comandante do Belgrano.

Eu vi o capitão com essa atitude de afundar com o navio, e não permitiria”, explica calmamente da província de Catamarca, 35 anos depois da tragédia, o suboficial Ramón Barrionuevo, como se não tivesse conhecimento do seu ato de heroísmo. “Eu sou aquela figura que você vê na imagem, lá no convés. Fui inflar o colete do Capitão”, diz ele humildemente.

E se o capitão não pulasse, você estava disposto a ir para o fundo com o navio?

Não sei. Nós iríamos ter uma longa discussão. Eu não deixaria meu comandante sozinho no Belgrano. Porque o que estávamos vivendo lá era o pior inferno.

Com emoção, Ramón Barrionuevo — nascido em Piedra Blanca em 17 de fevereiro de 1947, filho de Gerardo, pedreiro, e Antonia Sánchez, costureira, recorda o momento em que ele viu o mar engolir o gigante de 185,5 metros. Nomeia um por um seus companheiros mortos. Lembra do Capitão Bonzo, que morreu em 2009. E se desculpa quando surgem lágrimas incontroláveis.

Desgastada pela ação do tempo, esta é a única foto do suboficial Ramón Barrionuevo junto do capitão Héctor Bonzo (em trajes civis).


Vamos ouvi-lo.

A mim cabia dar o serviço das 4 às 8h e de 16h às 20h. Eu guarnecia o compartimento de controle de cobertura de artilharia 03 no topo do navio, logo à frente do comando. Em 2 de maio, saí do meu camarote às 3h45 para dar tempo de receber informações do meu colega Juan Carlos Córdoba, e assumir o posto às 16h. Juan me passou os dados das armas carregadas, as pessoas que estavam prontas e a posição do navio. Cumprimentei-o como em qualquer dia. E ele foi para o nosso camarote na popa para descansar. Ali foi onde o segundo torpedo acertou. Eu não o vi mais.”

Às 16h01 veio o primeiro torpedo. O barulho era tremendo. O navio balançou. Eu estava sentado num banco e caí. Era como se o navio tivesse afundado debaixo dos meus pés. Eu já tinha 35 anos de idade e 14 de serviço, era especialista em armas, eu sabia que tínhamos sido torpedeados.”

“Um vigia que estava com binóculos viu o rastro na água e conseguiu gritar… ‘Torpedo!’ Abri a porta da sala de controle e o segundo impacto atingiu a popa, mas eu não pude senti-lo, talvez por causa do nervoso ou por causa da fumaça da primeira explosão, que cobriu o meu convés”.

“Eu ouvi os gritos das pessoas que estavam se queimando. Desci do terceiro convés, e eu estava carregando comigo toda a tripulação que estava no caminho. Podia ver o medo dos jovens, tentando manter a ordem. Foi um inferno“.

Dos 1093 tripulantes do navio, 770 salvaram-se nas balsas, 323 pereceram no mar


“As pessoas começaram a pular direto para as balsas porque o navio começou a inclinar cada vez mais. O vento era muito forte e as balsas batiam contra o costado do navio. Alguns foram levados em direção à proa, onde as chapas abertas afiadas as partiam ao meio. Eu vi a corrente da âncora arrastando para o fundo do oceano uma balsa com toda a tripulação dela. Ninguém pode ser salvo“.

“No convés vi o comandante Bonzo com uma faca de cozinha tentando cortar uma corda para liberar uma balsa. Se ela caísse, poderia arrastá-lo e ele não teria força para suportar o peso. Perguntei. .. ‘O que está fazendo comandante?’. Ele sabia o perigo, mas queria colocar o máximo de balsas no mar.”

“Bonzo ordenou-me a deixar o navio e eu me recusei, em seguida, olhou para mim e disse … ‘Ajude-me a ver se há mais alguém, se tem alguém ferido’, com o convés do navio quase tocando o mar, entravam toneladas de água…”.

“Eu não quero nunca mais ver na minha vida o que eu vi naquela tarde no Belgrano. Houve um marinheiro com o corpo completamente queimado, gravata e punhos da camisa estavam colados à pele, carbonizada. A pele escamosa, carne viva. Nos pediu para jogá-lo na água. Se ele caísse no mar, com o corpo queimado não teria sido capaz de sobreviver. O descemos cuidadosamente com uma corda feita com as roupas de cama que foram deixadas no convés pelos marinheiros que estavam em sua hora de descanso quando começou a tragédia”.

Às 16h50, o cruzador está inclinado a 60 graus. O Belgrano levou menos de uma hora para afundar. Sem sonares para detectar submarinos, navegava na companhia dos destróieres Bouchard e Piedrabuena que tinham o equipamento


“De repente, um rapaz veio chorando … ‘Me ajude, me ajude’, tapava o rosto com as mãos. Separamos suas mãos e a pele descascando grudou às palmas e começou a sangrar muito. Eu lhe dei um lenço para estancar o sangue. Saímos para uma balsa. E eu não o vi mais. Meses depois, em julho de 1982, eu fui para o hospital Azul, na província de Buenos Aires. E vi que alguém estava me chamando. ‘Suboficial Barrionuevo! eu tenho algo para dar lhe devolver’. “Eu não o reconheci até que ele me trouxe o lenço. Você não sabe a emoção que senti! ele estava vivo!”.

“Com o capitão Bonzo percorremos o convés para ter certeza de que ninguém tinha sido deixado para trás. Eram 16h38 e o navio estava muito inclinado. As pessoas das balsas gritavam para saltarmos na água, porque o navio afundava.”

“Fomos até a proa ali eu notei o capitão em dúvida. ‘Se você não pular, eu vou ficar também’, lhe disse. Ele olhou para mim. O Belgrano se inclinava cada vez mais. Me mandou: “Pule e eu lhe sigo”.

“Antes de saltarmos, inflei o colete salva-vidas dele. Nós amarramos lençóis como um cinto para podermos deslizar para baixo. Tiramos os sapatos para nadar melhor, e guardamos as meias nas calças. Eu saltei do topo do navio, que no momento estava a cerca de 4 metros do mar, porque o vento nos impedia de descer do lado onde o convés quase tocava a água.”

“Eu pulei na água e não senti frio, era tão grave a situação que estávamos vivendo, que havia bloqueado os meus sentimentos. Eu comecei a nadar para longe do navio, porque se ele afundasse ele iria me arrastar. Não vi mais o Bonzo, eu o perdi no oceano“.

“O navio fez um movimento, re-emergiu da água e finalmente afundou verticalmente. Em baixo dágua as caldeiras explodiram e criaram um redemoinho gigante de água “, lembra Barrionuevo


“As ondas eram enormes. Eu vi as balsas subir e descer, tremendo como cascas de nozes. De repente, veio em minha direção uma a toda velocidade empurrada pelo vento. Nadei e eu agarrei como pude. O impacto me tirou um dedo do lugar: foi a primeira vez que senti dor. Quando cheguei na balsa, comecei a tremer, era como se mil agulhas fossem pregadas no meu corpo. Eu estava congelando”.

“Olhei para fora e vi o naufrágio do navio. Foi triste ver como tal massa foi engolida pelo mar. O navio fez um movimento, re-emergiu da água e finalmente afundou verticalmente. No mar as caldeiras explodiram e fizeram um vórtice gigante de água. A última coisa que vi foi o guardabote, uma vara de 6 metros que veio à tona e flutuava no oceano. O povo gritou … ‘Viva o cruzador, viva o Belgrano, viva la Patria!’. Eu não sei de onde nós tivemos forças.”

“As balsas foram amarradas umas nas outras, para formar uma grande mancha no mar para que uma aeronave de salvamento pudesse nos encontrar. Mas as ondas eram tão altas que nós tivemos que cortar as cordas, porque as balsas pareciam que iriam se rasgar. E ficamos sós, à deriva”.

“As balsas eram para 20 pessoas, algumas tinham mais gente, outras menos. Estavam bem equipadas: sachet de água, rações alimentares (muito calóricas para ter uma porção por dia), cigarros, uma pequena Bíblia, kit de curativos, pomada, calmante, equipamentos de sinalização SOS”.

“Na minha balsa tinham 20. Havia pessoas com mãos queimadas, joelhos quebrados e outro que tinha sido operado do apêndice há três dias e não aguentava mais de dor. Eu tentei dar-lhe incentivo e calma. Um tenente começou a ler parágrafos da Bíblia. A palavra de Deus trouxe a paz em meio à tempestade.”

“Passamos mais de 48 horas à deriva. Pensei que não nunca seríamos encontrados. Eu sabia que a união dos dois oceanos puxa para o sudeste e em algum momento o mar nos arrastaria e nós iríamos morrer. Olhei para os meus companheiros e eu pensei, ‘estamos todos mortos’, mas não disse nada a ninguém. Eu lembrei dos meus quatro filhos pequenos e pedi a Deus para cuidar deles e eu orava à Virgem del Valle: …‘Mãe, eu só peço para não sofrer’“.

“Quando você está à deriva, tem que comer e beber o mínimo possível até não conseguir mais, porque não sabe quanto tempo você estará bem. E não sabíamos mesmo se estavam nos procurando. Quando fomos resgatados, tínhamos acabado de comer 20 porções e tínhamos bebido um sachê de água”.

“Durante o dia, conversávamos sobre suas namoradas, sua família, sua idade. Até mesmo os fazia rir. Tinha que mantê-los acordados, com o espírito alerta. Um rapaz entrou em colapso nervoso. E eu tive que dizer: ‘Se você não se acalmar, vamos jogá-lo na água, porque o pânico é contagioso e se você continuar assim estamos todos mortos.’”

O resgate das balsas. Elas ficaram mais de 48 horas à deriva num mar agitado, com ventos de 120 km por hora

“Quando você está na balsa você não dorme … A escuridão do mar é absoluta e tremenda e o que existe é o nada. Quando amanhecia, continuávamos com a incerteza. ‘Somos uma só balsa no mar … ela não pode ser vista por ninguém … e o inimigo está lá fora’.”

“De repente, quando já não esperávamos nada, em 4 de maio ouvimos o ruído do motor de um avião. Era um A-4Q da Armada! Nós não sabíamos se tinham nos visto … Foi um tempo quase eternal — até que começamos a ver, no meio da tempestade, as luzes de um navio apontando para o céu e depois para o mar, sacudido pelas ondas enormes. ‘Estão nos procurando!’, gritei. E o ânimo mudou.”

“Esquecemos o frio, a sede, a fome e começamos a organizar o resgate. Em meio ao mar mais revolto que eu já vi, apareceu o Gurruchaga“.

“Nós fomos resgatados. O barco estava lotado porque eles tinham resgatado outras balsas do Belgrano. Tiraram nossas roupas geladas e duras de sal e nos deram um caldo quente. Éramos tantos que acabaram os alimentos. O cozinheiro fez um pouco de pão com farinha e água. Nos acomodamos no convés como pudemos, e nos envolveram com cobertores.”

A imprensa argentina noticia a tragédia do Belgrano


“Quando entramos no Canal de Beagle, o Gurruchaga parecia uma coqueteleira. No meio das pessoas, apareceu um cabo gritando meu nome …. ‘Barrionuevo, está aqui o Barrionuevo?’ Me identifiquei. Eram 6h da manhã. ‘O capitão Bonzo está no barco e está lhe procurando, quer falar com você’, me disse. Eu não sabia que ele tinha sobrevivido, e ele não sabia se eu estava vivo … mas estava procurando.”

“De repente, a porta se abriu e apareceu o capitão. Ele andou até onde eu estava firme, esperando por ele. Ele esqueceu a hierarquia, a saudação formal. Nos demos um abraço eterno. Todo mundo começou a aplaudir. ‘Já vamos falar sobre isso que aconteceu’, me disse. E choramos abraçados. Antes de sair, ele sussurrou para mim: ‘Obrigado, obrigado.’“

“Nos encontramos muitas vezes ao longo destes 35 anos. Mas nós nunca mais voltamos a falar sobre aquela noite dramática em que nós éramos os últimos homens agarrados ao navio afundando para sempre nas profundezas do mar austral”.

Fonte: Infobae


segunda-feira, 19 de junho de 2017

BOMBARDEIRO DA 2ª GUERRA MUNDIAL É LOCALIZADO EM PAPUA NOVA GUINÉ

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Aeronave estava perdida há mais de sete décadas, junto com seus seis tripulantes

Usando um robô equipado com sonares, pesquisadores da Universidade de Delaware, nos EUA, descobriram os destroços de um bombardeiro B-25 no fundo do mar na costa de Papua Nova Guiné. Pertencente à Força Aérea Americana, a aeronave foi abatida pelos japoneses em combates travados durante a Segunda Guerra Mundial e estava desaparecida há mais de 70 anos, junto com seus seis tripulantes.

O B-25 é considerado um ícone da Segunda Guerra, período em que foram produzidos cerca de 10 mil aviões do tipo. Eles participaram de operações diversas, de bombardeios a missões de reconhecimento, e tiveram papel importante no ataque contra Tóquio. A região de Papua Nova Guiné foi palco de combates militares entre janeiro de 1942 e o fim da guerra, em agosto de 1945, com perdas significativas de aeronaves e militares, muitos dos quais continuam desaparecidos.

Bombardeiro B-25 em uma base no Pacífico


Katy O’Connell, da Universidade de Delaware, explica que o reconhecimento de destroços sete décadas após o desaparecimento não é tarefa fácil. O primeiro passo para tentar localizar as aeronaves perdidas é a condução de pesquisas em dados militares e relatos históricos, além de entrevistas com a população local para a definição de uma área de buscas. Feito isso, mergulhadores, robôs submarinos e sonares iniciam a varredura do fundo do oceano. Os destroços foram localizados a cerca de 40 metros de profundidade.

As pessoas têm a imagem mental de um avião repousando intacto no fundo do mar, mas a realidade é que a maioria das aeronaves é danificada antes da queda, ou se quebra com o impacto — disse Katy. — E após décadas no mar, eles quase sempre estão irreconhecíveis para o olho destreinado, normalmente coberto por corais e outras formas de vida marinha.

Torreta de metralhadoras nos destroços do B-25 localizado no fundo do mar


A descoberta fez parte do projeto Recover, que reúne pesquisadores das universidades de Delaware e da Califórnia e da organização sem fins lucrativos The BentProp. O objetivo é reunir informações sobre aeronaves e soldados perdidos em combate e encaminhá-las ao Departamento de Defesa dos EUA, que decide sobre a possibilidade de missões de resgate.

Qualquer achado no campo é tratado com cuidado, respeito e solenidade — disse Katy. — Ainda existem mais de 73 mil soldados americanos desaparecidos na Segunda Guerra Mundial, que deixaram famílias sem respostas sobre seus entes queridos. Nós esperamos que nossos esforços possam ajudar a trazer um fechamento e honrar o serviço dos que caíram.

Fonte: O Globo


quinta-feira, 15 de junho de 2017

LANÇAMENTO DE "UM CÉU CINZENTO: A HISTÓRIA DA AVIAÇÃO NA REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932"

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Está pronta a nova edição do nosso livro 

Um céu cinzento: a história da aviação na Revolução Constitucionalista de 1932.

Você é meu convidado para o lançamento no Rio de Janeiro.




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segunda-feira, 12 de junho de 2017

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - MARECHAL JOHAN BANÉR

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* 23/6/1596 - Castelo de Djursholm, Suécia

+ 10/5/1641 - Halberstadt, Alemanha

Johan Banér  foi um Marechal-de-campo sueco na Guerra dos Trinta Anos.


Johan Banér Nasceu no Castelo de Djursholm em Uppland. Aos quatro anos de idade, foi forçado a testemunhar contra seu pai, o Privy Councillour Gustaf Banér, e seu tio, Sten Axelsson Banér (também um Privy Councillour), que foram executados no Massacre de Linköping em 1600. Eles foram acusados de alta traição pelo Rei Carlos IX devido ao apoio deles ao Rei Sigismundo. Apesar de ter sido o pai do Rei Gustavo Adolfo quem executou o pai de Banér, os dois desenvolveram uma forte amizade desde cedo, em parte por que logo após a coroação de Gustavo Adolfo, ele se encarregou de reinstalar a familia Banér.

Entrou no Exército Sueco em 1615, participando do cerco sueco a cidade de Pskov durante a Guerra Ingriana, Banér provou ser um jovem excepcionalmente corajoso. Também serviu com distinção nas guerras contra a Rússia e Polônia, e chegou ao posto de Coronel aos 25 anos de idade.

Em 1630, Gustavo Adolfo chegou à Alemanha e, como um de seus principais comandantes subordinados, Banér, serviu na campanha do norte da Alemanha. Na primeira Batalha de Breitenfeld liderou a ala direita da cavalaria Sueca. Esteve presente na tomada de Augsburg e de Munique, e teve papel importante em Lech e em Donauwörth.

No ataque sem sucesso ao acampamento de Albrecht von Wallenstein, na batalha de Alte Veste, Banér se feriu, e logo depois, quando Gustavo marchou sobre Lützen, foi deixado no comando do oeste, onde se opôs ao General Imperial Johann von Aldringen. Dois anos depois, Banér, com 16.000 homens, entrou na Boêmia e, junto ao exército saxão, marchou sobre Praga. Mas a total derrota de Bernard of Saxe-Weimar na primeira Batalha de Nördlingen parou o avanço.

Johan Banér no comando de suas tropas


Depois deste evento, a Paz de Praga colocou o exército sueco em uma situação precária, mas a vitória dos aliados de Banér, Carl Gustaf Wrangel e Lennart Torstensson em Kyritz e em Wittstock (em 4 de outubro, 1636), restaurou a influência sueca no centro da Alemanha. Porém, os três exércitos unidos eram considerados inferiores em força em relação aos derrotados, de forma que, em 1637, Banér foi completamente incapaz de confrontar o inimigo. Resgatando com grande dificuldade a guarnição de Torgau, ele bateu em retirada de Oder para Pomerânia.

Em 1639, entretanto, Banér novamente vai ao noroeste da Alemanha, derrota os saxões em Chemnitz e invade a Boêmia por conta própria. O inverno de 1640–1641 Banér passou no oeste. Seu último triunfo foi um audacioso ataque no Danúbio. Levantando acampamento no meio do inverno (ato muito incomum no século XVII), ele uniu forças com a França sob representação de Comte de Guébriant e surpreendeu Ratisbona, onde a Dieta estava. Apenas o gelo impediu a captura do lugar. 

Brasão de armas da família Banér

Banér teve de retirar-se para Halberstadt. Lá, em 10 de maio de 1641, ele morreu, após designar Torstenson como seu sucessor. Ele era muito estimado por seus homens, que levaram o seu corpo no campo de Wolfenbüttel. Banér foi lembrado como um dos melhores generais de Gustavo, e ofertas tentadoras (as quais ele recusou) foram feitas a ele pelo imperador para que Banér se submetesse ao império. Seu filho recebeu dignamente o título de conde.

Johan Banér esta enterrado na Igreja de Riddarholmen em Estocolmo.


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