Em
24 de junho de 1821, Simón Bolívar comandou o exército de rebeldes
sul-americanos que derrotou os espanhóis em Carabobo, perto de Caracas, na
principal batalha pela independência do país.
Por
Norbert Ahrens
A
luta pela independência das colônias e vice-reinos espanhóis na América do Sul
já durava 12 anos quando o rei da Espanha, Fernando VII, decidiu enviar reforço
europeu para as suas tropas, no início de 1821. O inimigo a ser derrotado
chamava-se Simón Bolívar, comandante que superava os espanhóis em determinação
e, se necessário, em brutalidade.
Oriundo
de família aristocrata criolla, José Antonio de la Santíssima Trindad Simón
Bolívar y Palácios (1783-1830) ficou conhecido como El Libertador das colônias
espanholas da América do Sul. Educado por um discípulo de Jean-Jacques
Rousseau, passou a juventude na Espanha e França, onde acompanhou movimentos
revolucionários.
"Guerra
até a morte"
Ele
retornou à Venezuela em 1807 e iniciou atividades anticoloniais clandestinas.
Em 1813, entrou com suas forças em Caracas, onde foi recebido como libertador,
mas em seguida enfrentou oposição, sendo levado a refugiar-se na Jamaica. Lá
escreveu a célebre Carta da Jamaica, em que expôs as razões da emancipação
americana.
De
volta ao continente, obteve brilhantes vitórias militares e tornou-se
capitão-geral dos revolucionários no norte da América do Sul. Na manhã de 24 de
junho de 1821, comandou 5 mil patriotas e um pequeno batalhão de soldados
britânicos que enfrentaram cerca de 7 mil espanhóis na planície de Carabobo,
cerca de 100 quilômetros a sudoeste de Caracas, na principal batalha pela
independência da Venezuela.
Simón Bolivar, El Libertador
Segundo
Salvador de Madariaga, historiador espanhol, o exército da Espanha controlava
Carabobo e o vale por onde os separatistas queriam chegar à planície. Bolívar
foi informado, porém, da existência de uma trilha pouco usada, por onde enviou,
sua cavalaria. Comandada pelo major José Antonio Páez, esta surpreendeu os
espanhóis pelas costas, exatamente no momento em que Bolívar os atacava pela
frente. Os espanhóis entraram em pânico e fugiram para não se tornar
prisioneiros de guerra.
Consagração
do mito
Cinco
dias depois, El Libertador entrou pela segunda vez vitorioso em Caracas. A
batalha de Carabobo consolidou o mito de Simón Bolívar, mas ainda seriam
necessários mais cinco anos de lutas até a vitória decisiva sobre os espanhóis.
A
revolta contra a metrópole fora desencadeada pela Revolução Francesa e foi
favorecida pela ocupação da Espanha por Napoleão Bonaparte. "Nesse outono
do reinado espanhol, governadores e vice-reis começaram a cair como folhas
secas", escreveu Madariaga.
À
frente de seu exército, Bolívar atravessou a Cordilheira dos Andes, tomou
Bogotá e proclamou a República da Colômbia (união da Venezuela e Nova Granada),
da qual foi eleito presidente. Ele comandou também as guerras de independência
do Equador, Peru e Bolívia. Em 1826, era o chefe supremo do Peru e acumulava a
presidência da Colômbia e da Bolívia.
Embora
admirasse pessoalmente os feitos militares de Bolívar, o monarquista Madariaga
não perdoou que o "Libertador tenha derrubado o império espanhol".
A
máxima de Bolívar — "guerra até a morte" — foi uma realidade
constante em sua vida. Em 1830, diante dos conflitos separatistas internos,
abandonou o poder e se retirou para Santa Marta, na Colômbia, onde morreu de
tuberculose antes de completar 48 anos. Santa Marta havia sido exatamente a
cidade que por mais tempo permanecera fiel à coroa espanhola.
Sonho
de um bloco hispânico unido
"A
América é nossa pátria. Nossos inimigos são os espanhóis. Nossa bandeira é a
independência; nosso objetivo, a liberdade." Assim Bolívar sintetizava seu
pensamento libertário. Seu grande sonho era criar uma nação latino-americana
que integrasse os hispano-americanos com os luso-americanos, como um bloco
equivalente à América Saxônica. Mas morreu sem ver realizado esse sonho: a
América Hispânica dividiu-se num grande número de pequenas de nações.
Em
seus últimos dias de vida, Bolívar só colheu decepções, como descreve Eduardo
Galeano, no livro As caras e as máscaras. "Nas ruas de Lima estão
queimando sua Constituição os mesmos que lhe tinham dado de presente uma espada
cheia de diamantes. Aqueles que o chamavam ‘Pai da Pátria’ estão queimando sua
efígie nas ruas de Bogotá. Em Caracas, o declaram, oficialmente, ‘inimigo da
Venezuela’. Lá em Paris publicam artigos que o infamam; e os amigos que sabem
elogiá-lo não sabem defendê-lo... Bolívar, pele amarela, olhos sem luz,
tiritando, delirando, baixa pelo Rio Magdalena rumo ao mar, rumo à morte."
Fonte:
DW
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