.
Acaba
de chegar às livrarias britânicas um lançamento com relatos históricos sobre a
coragem de pilotos de aviões de combate durante a Segunda Guerra Mundial.
No
entanto, o livro, escrito pela jornalista britânica Jacky Hyams, se
diferencia de outros do gênero num ponto: os cinco pilotos que enchem suas
páginas com depoimentos são mulheres.
Muitos
se surpreendem ao saber que havia mulheres pilotos. Elas não eram muitas e não
participavam de batalhas, mas pilotavam os aviões dentro da Grã Bretanha, entre fábricas, unidades de manutenção e, a partir destas, para os pilotos nas
frentes de batalha.
O
livro de Hyams, intitulado The Female Few: Spitfire Heroines of the Air
Transport Auxiliary, é um tributo às "heroínas" que trabalhavam para
o órgão que dava suporte aos transportes aéreos no país, o Air Transport
Auxiliary - ou ATA.
"Um
total de 1.245 pilotos e engenheiros voavam para o Air Transport Auxiliary",
disse Hyams à Rádio 4 da BBC. "Destes, 15%, ou 168, eram mulheres".
Aventura
Entre
elas, estava a ex-piloto Joy Lofthouse, hoje com 89 anos. Com voz firme e cheia
de vida, ela também falou à Rádio 4. "Comecei em 1943", disse Joy
Lofthouse. "Faltavam pilotos qualificados e eu vi um anúncio em uma
revista dizendo que eles estavam oferecendo treinamento. Então, me inscrevi. Eu
nem sabia dirigir carros, mas consegui ser selecionada."
Lofthouse
disse que sua principal tarefa era pilotar Spitfires, mas explicou que pilotou
um total de 18 modelos diferentes, a maioria monomotores. "Meu favorito
era o Spitfire. Era um aviãozinho tão compacto, fácil de manobrar, suave no
toque, era como se (o próprio piloto) tivesse asas e pudesse voar."
Jay Lofthouse não sabia dirigir carros
As
mulheres eram pilotos civis mas, tecnicamente, voavam dentro da Royal Air Force
- a Força Aérea britânica. Sua função era pegar os aviões na fábrica e levá-los
às unidades de manutenção onde eram equipados com rádios e armas. Por conta
disso, tinham de pilotar qualquer avião que aparecesse - mesmo os modelos que
nunca haviam pilotado antes.
"Tínhamos
uma pasta chamada Ferry Pilot’s Notes (notas do piloto de transporte)",
contou Lofthouse. "Se você se deparava com um avião que nunca tinha
pilotado antes, abria a página correspondente na pasta e ela dizia exatamente
as velocidades de decolagem, de aterrissagem, de perda de sustentação - quase
tudo o que você precisava saber. Eu acho
que não era muito diferente do que você entrar em carros de marcas diferentes
hoje em dia. Não parecia muito difícil", disse a ex-piloto.
Apesar
da modéstia de Lofthouse e das outras pilotos entrevistadas, Hyams ressalta que
o trabalho que faziam não era seguro de maneira alguma. "O tipo de voo que faziam seria
considerado impensável hoje", explicou. "Na maior parte do tempo,
voavam às cegas (sem instrumentos) e no terrível clima inglês, ou seja, se você
entrasse em uma nuvem ruim, podia se ver em grave perigo".
Além
disso, elas voavam sem rádio. De fato, de um total de 173 pilotos da ATA mortos
durante a guerra, 16 eram mulheres.
Destemidas
Uma
das entrevistadas por Hyams, a ex-piloto Mary Ellis, contou que uma amiga que
trabalhava para a ATA morreu em serviço.
Ellis pilotava um avião levando uma engenheira como passageira quando a
aeronave caiu. Ela escapou com vida, recebeu alguns dias de folga para se
recuperar e logo estava de volta pilotando.
Diane Barnato-Walker embarcando em um avião para mais uma missão de transporte
Em
seus depoimentos, as pilotos contaram que não havia ressentimento ou atitudes
machistas por parte dos homens na época. Ao contrário. Às vezes, quando um
avião aterrissava e uma mulher saía da cabine do piloto, notava-se nos homens
um sentimento de admiração, elas disseram.
Até porque, em certas ocasiões, as mulheres pilotavam sozinhas aviões
que normalmente eram tripulados por até cinco homens.
Mas
as pilotos explicaram que quando voavam tinham de se concentrar tanto no que
faziam que não sobrava tempo para sentir medo. "Éramos tão jovens, nada
nos assustava naquele tempo", contou Lofthouse. "Era tudo parte do esforço de guerra e
sentia que tinha muita sorte em poder fazer algo tão recompensador. Eu teria adorado se pudesse ter continuado a
voar, pilotando aviões mais velozes e maiores, mas a guerra terminou antes de
que eu pudesse fazer isso."
Aviadoras do ATA em seus trajes de voo
Lição
de Vida
Refletindo
sobre o período, Lofthouse acha que a experiência fez dela e das colegas
pilotos pessoas mais aventureiras. "Meu lema, mais tarde, era: melhor
fracassar do que lamentar. Você sentia
que podia encarar a vida e lidar com qualquer situação, porque tinha feito
coisas como essas durante a guerra."
Ela
confessou, no entanto, que sentiu muita saudade quando tudo terminou.
"Quando tive de deixar todos os meus amigos e toda essa empolgação para
trás, me perguntei: 'O que vou fazer com o resto da minha vida’?”
Fonte:
BBC
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário