quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A PAZ DE PRAGA NA GUERRA DOS TRINTA ANOS (1635)

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No dia 30 de maio de 1635 foi assinado o Acordo de Paz de Praga, que deveria encerrar a terceira fase da Guerra dos Trinta Anos. O acordo, entretanto, não vingou.


Por Catrin Möderler


Por volta de 1630, circulou em Nuremberg um panfleto em forma de cantiga medieval que dizia mais ou menos o seguinte: 

"Assustou-nos que chegue a guerra em nossa cama. Façam com que, de imediato, nos acorde o galo e não o trompete assassino. Em vez de batalhas, queremos a dança da alegria; em vez de louros, uma coroa de folhas de oliveira. E que todos possam dormir seguros".


Início: conflito religioso na Boêmia

A Europa Central já não suportava mais sua primeira grande guerra. Os confrontos acirravam-se havia 12 anos, com períodos de lutas ferozes, seguidos por fases de relativo apaziguamento.

A chamada Guerra dos Trinta Anos começara em 1618 como conflito religioso entre católicos e protestantes na Boêmia, e adquirira caráter político em torno das contradições entre Estados territoriais e principados. Envolveu a Alemanha, Áustria, Hungria, Espanha, Holanda, Dinamarca, França e Suécia.

O conflito eclodiu quando grupos protestantes boêmios rebelaram-se contra o imperador e, de modo ostensivo, construíram uma igreja evangélica num reduto católico. Eles invadiram a fortaleza Hradschin, em Praga, e assassinaram dois altos funcionários da corte que os haviam preterido.  Na época, Fernando II, Imperador do Sacro Império Romano de Nação Germânica, era também rei da Boêmia. Os rebeldes negaram-lhe esse título e entronizaram o príncipe eleitor calvinista Frederico do Palatinado.

Recém-coroado, Fernando II – monarca católico da casa dos Habsburgo, que permaneceu no poder de 1619 a 1637 – reagiu energicamente. Mandou à Boêmia as tropas de seu aliado, o duque Maximiliano da Baviera. Na primeira batalha da Guerra dos Trinta Anos, Maximiliano conseguiu controlar rapidamente os revoltosos boêmios. Ferdinando do Palatinado teve de fugir depois de uma breve regência que lhe rendeu o apelido de "Rei do Inverno".

Em Praga, o imperador vingou-se dos revoltosos com a execução pública de 27 nobres, líderes do levante. Para reprimir a insatisfação popular, enviou para a Boêmia tropas comandadas por Albrecht von Wallenstein, um comandante sedento de guerra.


Outros países entram no conflito

Na década de 1620, Wallenstein parecia estar a caminho de impor a paz na Boêmia. Foi aí que outros países europeus entraram no conflito. Os holandeses invadiram a Renânia para enfrentar os exércitos da Espanha e dos Habsburgo, comandados pelo poderoso general Spinosa. Em 1626, uma força dinamarquesa comandada pelo monarca Cristiano IV invadiu a Alemanha pelo norte, para apoiar os protestantes germânicos.

Albrecht von Wallenstein


Albrecht von Wallenstein ofereceu-se a Fernando II para expulsar os dinamarqueses com um exército organizado por conta própria – e teve sucesso. Como compensação, tornou-se príncipe imperial. Durante um breve período, Wallenstein foi o homem mais poderoso da Alemanha.

Mas essa rápida acumulação de poder em suas mãos apenas provocou os muitos inimigos da casa de Habsburgo, levando-os a lutar com mais empenho. Os príncipes germânicos logo depuseram Wallenstein do trono.


Assassinato de Wallenstein

Em 1630, o exército do influente rei sueco Gustavo Adolfo II (1611–1632), protestante, invadiu o norte da Alemanha e avançou para a Renânia e a Baviera no ano seguinte. Wallenstein foi novamente chamado para defender o território alemão, mas não conseguiu vencer as tropas de Gustavo Adolfo.

Ele acabou fechando um acordo de paz duvidoso, o que lhe rendeu a suspeita de alta traição à pátria. Por ordem do imperador Fernando II, Wallenstein foi assassinado por oficiais que ele próprio comandava.

Tropas suecas sitiam Colônia, na Alemanha, em 1632


Com a morte de Wallenstein, Fernando II reconquistou o controle sobre o Exército e conseguiu expulsar os suecos da Alemanha. Em consequência, os protestantes alemães passaram a procurar soluções pacíficas para o conflito, o que culminou no chamado Acordo de Paz de Praga, de 30 de maio de 1635.

Esse acordo, porém, foi de pouca duração. A França e a Espanha intervieram no conflito, desencadeando mais uma série de lutas, que só terminou em 1648, com a Paz de Vestfália, na qual foi reconhecida a liberdade religiosa dos calvinistas e dos demais protestantes.

A Guerra dos Trinta Anos reforçou o processo de fracionamento do território alemão. Em 1648, a Alemanha compunha-se de 300 principados soberanos, sem qualquer sentimento nacional comum. A Paz de Vestfália finalmente trouxe tranquilidade para a Alemanha.


Segundo Paul Kennedy, autor de Ascensão e Queda das Grandes Potências, a essência da solução de Vestfália foi o reconhecimento do equilíbrio religioso e político dentro do Sacro Império Romano de Nação Germânica, confirmando dessa forma as limitações da autoridade imperial.

Fonte: DW


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