segunda-feira, 30 de novembro de 2015

MAIS ANTIGO NAVIO DE GUERRA EM SERVIÇO NO MUNDO SERÁ RESTAURADO

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A fragata americana USS Constitution foi conduzida para um porto seco em Boston. A embarcação é considerada o mais antigo navio de guerra ainda em atividade no mundo. Ela foi batizada pelo presidente George Washington e lançada ao mar em 1797. 

Atualmente, a fragata serve a Marinha americana em missões diplomáticas e passará por uma restauração que deve durar três anos com um custo de US$ 15 milhões.


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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

IMAGEM DO DIA - 20/11/2015

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Soldados americanos embarcam em um helicóptero Sikorsky H-55 Choctaw durante a Guerra da Coreia, em 1950

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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

HOMENAGEM AO DIA DA BANDEIRA - A BANDEIRA FERIDA



Na data em que comemoramos o Dia da Bandeira, o Blog Carlos Daróz-História Militar publica um depoimento da enfermeira da FEB Olímpia de Araújo Camerino.  É a nossa homenagem à bela e honrada Bandeira do Brasil.

"Uma tarde, ao entrar na S.11 Enfermaria do 7th Station Hospital, para minha visita diária aos feridos ali hospitalizados, senti que alguma surpresa me aguardava.

Recolhidos aos seus leitos, me esperavam. Em dado momento, aproxima-se de mim o Sargento Eloy Fernandes, trazendo nas mãos esta Bandeira, a qual me foi entregue, dizendo:

- É para a senhora, com a nossa gratidão. 

Olhando a Bandeira, remendada de esparadrapo, parecia um pedaço deles. Ferida e judiada. Pendurada em um canto da enfermaria, um altar da Pátria, era venerada pelos seus heróis, que iam ser evacuados para o Brasil. Recebi-a com respeito e reverência, orgulhosa de merecer a confiança de guardá-la como relíquia. Junto à bandeira havia uma carta que vai também, a seguir, reproduzida. Numa moldura guardo-as como o mais rico troféu que me poderia ser ofertado."

A "bandeira ferida", remendada com esparadrapos 


A carta assinada pelos feridos e doentes


  
Fonte: CAMERINO, Olímpia de Araújo. A Mulher Brasileira na Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Capemi Editora e Gráfica, 1983.


HISTORIADOR BRITÂNICO DEFENDE QUE 2ª GUERRA MUNDIAL COMEÇOU NA MANCHÚRIA

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O historiador britânico Antony Beevor defende no livro ‘A Segunda Guerra Mundial’, publicado em Portugal, que o conflito começou na Manchúria e que se transformou numa “guerra civil internacional”.




A Segunda Guerra Mundial foi claramente uma amálgama de conflitos, a maioria opôs nação contra nação, mas a guerra civil internacional entre a esquerda e direita permeou e chegou mesmo a dominar muitos deles”, escreve Beevor na introdução sobre as razões que conduziram à guerra.

A Europa não entrou em guerra a 1º de Setembro de 1939. Alguns historiadores falam de uma 'guerra de trinta anos, de 1914 a 1945', em que a Primeira Guerra Mundial funcionou como catástrofe original” refere Beevor, que defende que a longínqua batalha de Khalkhin Gol, entre russos e japoneses, que começou no dia 12 de maio de 1939 na fronteira entre a Mongólia e a Manchúria, ocupada pelo Exército Imperial Japonês, marca - de fato - o início do conflito e determina o curso da guerra, sobretudo no Extremo Oriente.

Na batalha, que se prolongou até ao dia 31 de agosto de 1939, as forças de Moscou lideradas por Zhukov, então comandante de cavalaria do Exército Vermelho, derrotou as tropas japonesas e, segundo Beevor, alterou as intenções de Tóquio em invadir a União Soviética “mudando para sempre” o curso da guerra.

Infantes soviéticos durante a batalha de Khalkhin Gol



A Batalha de Khalkin Gol, teve, assim, grande influência na decisão subsequente de os japoneses avançarem contra as colónias da França, Holanda e Grã-Bretanha no Sudeste Asiático, e até de enfrentarem a marinha de guerra dos Estados Unidos no Pacífico. A consequente recusa por parte de Tóquio em atacar a União Soviética no inverno de 1941 desempenharia, portanto, um papel crítico no ponto de viragem geopolítico da guerra, tanto no Extremo Oriente como na luta de vida ou morte que Hitler travou com a União Soviética”, escreve o historiador britânico.

No capítulo dedicado ao período entre Maio e Setembro de 1945, o autor faz a contagem de vítimas, nomeadamente dos judeus vítimas do Holocausto mas também dos milhões de mortos na Ucrânia, Bielorrússia, Polônia, Estados Bálticos e Bálcãs.

A Segunda Guerra Mundial, com as suas ramificações globais, foi a maior catástrofe provocada pelo homem da nossa história. As estatísticas do número de mortos – quer sejam sessenta milhões ou setenta milhões – transcendem a nossa compreensão”, refere Beevor que adverte para os riscos de comparações.

Numa crise atual, jornalistas e políticos vão instintivamente buscar paralelismos com a Segunda Guerra Mundial, seja para dramatizar a gravidade da situação, seja numa tentativa de se parecerem com Roosevelt ou Churchill” escreve o historiador para quem a Segunda Guerra é incomparável.

 Fonte: Notícias ao minuto


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domingo, 1 de novembro de 2015

IMAGEM DO DIA - 1°/11/2015

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  Durante a Confederação do Equador, em 1824, tropas do Exército Imperial do Brasil atacam as forças confederadas no Recife

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O BOMBARDEIO DE ARTILHARIA NO SOMME




Uma análise sobre os planos de fogos da artilharia britânica na preparação para a ofensiva do Somme em 1916.

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O plano de fogos da artilharia britânica durante a batalha do Somme era tão elaborado quanto o esquema tático da infantaria era simples. A artilharia compreendia agora uma grande variedade de armas, disparando vários tipos de granadas: a artilharia de campanha, desde a mais leve à mais poderosa, constituída por canhões de 18 libras e obuses de 4 a 5 polegadas, que lançavam pequenos shrapnels, ou granadas de alto explosivo ou (mais raramente) de gás, até uma distância de cerca de seis mil metros; artilharia média - canhões de 60 libras e com calibre de 4,7 ou 6 polegadas que disparavam granadas alto explosivo até dez mil metros; e uma variedade de obuses pesados, de 6, 8, 9, 10, 12 e 15 polegadas de calibre, que despejavam granadas de 100 a 1.400 libras de um ângulo elevado, a distâncias entre quinhentos e mil e cem metros.

Além disso, as brigadas de infantaria controlavam os seus próprios “morteiros de trincheira”, meros tubos de alma lisa que lançavam granadas de 2, 3 ou 4 polegadas numa trajetória muito elevada, de uma trincheira a outra, através da terra-de-ninguém.

O alcance, o peso do projetil e a trajetória determinavam quais deveriam ser as diferentes missões destas armas. Os morteiros de trincheira, tendo menor alcance e disparando um projetil sem qualquer poder penetrativo, visavam alvos de superfície próximos - as trincheiras inimigas - que pretendiam silenciar, e o seu arame farpado, que esperavam ajudar a romper. A destruição do arame era, evidentemente, o mais fundamental dos deveres da artilharia, porque se os emaranhados de obstáculos alemães permanecessem intactos na manhã do dia 7 (o dia do ataque), o avanço da infantaria terminaria inexoravelmente na outra ponta da terra-de-ninguém.

As cercas de arame eram muito espessas. Por isso, os canhões de 18 libras da artilharia de campanha divisionária também tinham por tarefa quase exclusiva a destruição do arame - apesar do seu fogo, com o shrapnel da época e o seu detonador de ação lenta tender a perder-se no terreno sob as cercas de arame (em vez de explodir ao “raspar” o arame). Alguns canhões de 18 libras tinham a missão também de “contrabateria”, isto é, de atirar contra a posição estimada dos canhões do inimigo, na esperança de os neutralizar antes da infantaria ter de avançar sob a barragem, pois, caso contrário, um contrafogo podia atingir o parapeito das trincheiras inglesas e à terra-de-ninguém.

As poucas granadas de gás existentes estavam principalmente reservadas para o fogo de contrabateria de última hora, pensando os artilheiros ingleses em como seria difícil para os seus opositores alemães acionar os canhões usando máscaras contra gases.
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Bateria britânica em deslocamento perto do Somme


Os morteiros e os canhões mais pesados tinham a missão de destruição das instalações, de trincheiras de comunicações, de vias de acesso, ramais ferroviários, de tudo enfim que apoiasse o movimento de homens e suprimento para as trincheiras que iam ser atacadas, mas sobretudo para todos os pontos fortes e postos de metralhadoras. Estes eram de diferentes tipos. Em vários lugares, em especial onde a frente alemã atravessava o local onde houvera antes uma aldeia, as defesas eram muito mais fortes do que no campo aberto entre elas. Porque, embora os alemães tivessem escavado abrigos de quase dez metros de profundidade, com intervalos regulares, ao longo da sua frente, que eram à prova de um tiro direto de qualquer projetil, de qualquer peso, e tivessem assim assegurado que as suas guarnições de trincheiras ficariam vivas mesmo após um prolongado bombardeio inglês, estas fortificações “de campanha” não podiam ter, sem um enorme trabalho suplementar, a complexa falta de lógica que apresentavam, aos olhos de um atacante, as ruínas de uma área desabitada.

Em alguns lugares, como no saliente de Leipzig, entre as aldeias devastadas de Thiepval e Pozières, esporádicos ataques e contra-ataques locais tinham produzido um labirinto de trincheiras tão impenetrável como qualquer ruína; e, noutros locais, como no reduto de Schwaben, os alemães julgaram preferível concentrar o necessário trabalho de sapa na construção de uma fortaleza-trincheira artificial. Mas as aldeias eram as mais importantes fortificações da linha alemã; e o mais importante ingrediente no esquema de defesa alemão para estes pontos fortes era o fogo das metralhadoras. Seria na destruição dos espaldões de metralhadoras, ou no sepultamento nos abrigos das guarnições que as manejavam, que a artilharia pesada inglesa concentraria os seus fogos durante os seis dias de “preparação”.

A metralhadora seria descrita pelo Major-General J. F. C. Fuller, um dos grandes enragés da doutrina militar gerados pela guerra, como “a essência concentrada da infantaria”, com o que pretendia dizer que esta invenção punha nas mãos de um só homem o poder de fogo anteriormente disparado por quarenta. E tinha razão, dado que um bom atirador, com um fuzil nas mãos, apenas podia disparar 15 tiros por minuto, contra os seiscentos de um metralhador. Porém, como Fuller certamente admitiria, uma guarnição de metralhadora não representava simplesmente o equivalente de uma tão grande quantidade de soldados de infantaria comprimidos num espaço pequeno. Os soldados de infantaria, por mais bem treinados e afinados que sejam, por mais resolutos que sejam, por mais prontos a matar que se mostrem, são sempre agentes erráticos da morte. A menos que acima deles haja uma direção centralizada, escolherão, talvez erradamente, os seus próprios alvos, abrirão e suspenderão fogo individualmente, deixarão de fazer pontaria corretamente ao responder o fogo inimigo, terão a atenção desviada pelos camaradas feridos a seu lado, cederão ao medo ou à excitação, atirarão alto, baixo ou fora do alvo. Foi para vencer as influências e as tendências deste tipo - tal como para fugir ao perigo de acidentes nas fileiras demasiado cerradas - que os exércitos dos séculos XVII e XVIII se esforçaram tanto por aperfeiçoar o tiro por rajadas em quadrado, linha e coluna. O resultado foi tornar um regimento de infantaria do começo do século XIX (Waterloo, por exemplo), em princípio, mais perigoso de ser abordado do que o de fins do mesmo século, como o da Guerra dos Bôeres. Porque, embora este último tivesse armas melhores e de maior alcance do que o primeiro, tais vantagens técnicas, quando não eram mesmo completamente anuladas, foram pelo menos muito compensadas pela dispersão dos soldados que a própria evolução das armas de fogo prescrevia - significando a dispersão uma perda de controle, o que, por sua vez, resultava numa deficiente mosquetaria. Daí o interesse que a metralhadora suscitou quando Maxim a transformou pela primeira vez numa arma de guerra utilizável. É que a metralhadora parecia ter feito retornar às mãos do comandante de regimento os meios para infligir ferimentos múltiplos e simultâneos a partir de uma única palavra de comando. Porém, o aparecimento da metralhadora foi, evidentemente, muito mais do que um retorno a um estado de coisas anterior. Porque o que de mais importante define uma metralhadora é que se trata de uma máquina e de um tipo particularmente avançado, similar, em alguns aspectos, a um torno mecânico de alta precisão, em outros, a uma impressora automática. Tal como um torno, precisa ser montada de forma a operar dentro de limites predeterminados; isto era feito na metralhadora de Maxim, existente em todos os exércitos de 1914-18, ajustando o ângulo do cano em relação ao seu reparo de tiro fixo, e apertando ou afrouxando o seu parafuso do mecanismo de pontaria em direção. Então, como uma máquina de impressão automática, e logo que acionado um simples gatilho, a metralhadora começaria e continuaria a realizar a sua função com o mínimo de atenção humana, auto-alimentando-se e precisando apenas de suprimento regular de material básico e uma ligeira manutenção de rotina para operar eficientemente em qualquer mudança de posição.

O metralhador, em suma, era mais uma espécie de supervisor da máquina, cuja principal tarefa consistia em alimentar as fitas de munição na culatra, algo que podia ser feito enquanto a metralhadora estava em pleno funcionamento, providenciar o resfriamento do cano, e movimentar a arma da esquerda para a direita e da direita para a esquerda, dentro dos limites impostos pelo seu reparo de tiro. A pontaria em direção era obtida por meio de uma técnica conhecida no Exército inglês como a “batida de duas polegadas”: devido a uma prática constante, o metralhador aprendia a bater na culatra com a palma da mão de forma suficientemente forte para mover a boca do cano exatamente duas polegadas contra a resistência do parafuso transversal. Uma sucessão de “batidas de duas polegadas”, primeiro num dos lados da culatra até chegar o momento de parar, depois no outro, manteria no ar um fluxo tão denso de balas que ninguém poderia passar à frente da posição do metralhador sem ser atingido - desde que, evidentemente, o metralhador tivesse instalado a sua arma para tiro tenso e o terreno não tivesse ângulos mortos.

O aparecimento da metralhadora, portanto, não disciplinou especialmente o ato de matar, disciplina que era o principal objetivo da preparação militar do século XVII, mas, sobretudo, mecanizou-o ou industrializou-o.

Foi este poder letal, automático e cruel da metralhadora que determinou a transformação de suas posições de tiro no principal alvo da artilharia pesada entre 25 e 30 de junho. Infelizmente para a infantaria inglesa, o obus pesado de 1916 era uma peça de tecnologia muito menos desenvolvida, em relação ao seu potencial, do que a metralhadora. As características que tornavam a metralhadora uma arma atraente, além da eficiência funcional, eram ser portátil, compacta e camuflável. A Maxim atendia a primeira característica excepcionalmente bem, as duas outras muito bem. As características positivas do obus pesado eram a sua alta precisão e um efeito de choque intenso. Características que os obuses de 6, 8 ou 9,2 polegadas não tinham (os de calibre maior eram muito poucos para causar estragos significativos). Os seus projetis tinham uma possibilidade de erro em relação ao alvo de pelo menos 25m e um poder explosivo insuficiente para desmantelar os abrigos mais profundos - abrigos “minados”, como os ingleses os chamavam, porque, valendo-se da técnica de abertura de túneis para minas, chegavam até nove metros de profundidade - em que os metralhadores se abrigavam com as suas armas, durante os bombardeios. Assim, os ingleses não podiam destruir o cerne de um ponto forte alemão. O máximo que podiam fazer era manter as guarnições de metralhadoras debaixo do solo, entulhando a entrada da “mina” com destroços das trincheiras desmoronadas; porém, para atingir a entrada da “mina”, a menos que a sorte ajudasse, fazia-se necessário um tipo de fotografia aérea muito mais preciso do que aquele que as máquinas fotográficas do Royal Flying Corps podiam obter, ou então uma incursão, com grandes baixas, ao longo da terra-de-ninguém, para localizar com exatidão onde situavam as entradas dos abrigos-minas.
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Artilharia britânica dispara contra posições alemãs no Somme


Portanto, se encararmos os preparativos para o ataque de 12 de julho como uma luta entre as tecnologias em competição, entre o poder manifesto da artilharia inglesa e o poder latente das metralhadoras alemãs, concluiremos claramente que travaram, os ingleses, um combate em termos desiguais - que não conseguiram reverter, apesar de, aparentemente, terem produzido uma terrível devastação. O bombardeio foi desencadeado a 24 de junho. Devia durar cinco dias, mas um adiamento do dia D fez com que durasse sete. Durante esse período, cerca de 1,5 milhão de projetis estocados nos depósitos de munição foram disparados - 138 mil a 24 de junho e 375 mil a 30 de junho. A maior parte desses projetis - cerca de um milhão - eram granadas de shrapnel de 18 libras; os obuses de 6 polegadas dispararam cerca de oitenta mil granadas, os de 8 e 9,2 lançaram da ordem de cinquenta mil cada um. São, de fato, números impressionantes. Para chegarem a tais cifras, as guarnições das peças de artilharia tiveram de trabalhar duramente, amontoando granadas ou reapontando o seu pesado material (o obus de 8 polegadas pesava 13 toneladas), hora após hora ao longo de todo o dia e durante longos períodos da noite. Quando os projetis atingiam o outro lado, o barulho, as ondas de choque e o efeito destrutivo eram extremamente violentos. De início, os soldados alemães que se encontravam nas trincheiras pensaram que o bombardeio anunciava um ataque e mantiveram-se aferrados às suas armas nos abrigos. Depois, como o bombardeio continuava, com maior ou menor violência, perceberam que se aproximava uma longa provação e prepararam-se para a aguentar o melhor que podiam.

"Durante o dia 25 de junho (...) o fogo das baterias inglesas (...) aumentou, e enquanto no dia anterior nove décimos do fogo tinham sido de granadas de shrapnel ou de morteiros de pequeno calibre [as granadas de shrapnel não intimidavam tanto porque a dispersão dos estilhaços mortais pouco efeito produzia nas trincheiras]. Agora, eram as baterias pesadas que pareciam estar em maioria. Quando as suas granadas explodiam contra as trincheiras alemãs, o solo tremia e os abrigos ficavam em ruínas. Aqui e ali as paredes das trincheiras desabavam , bloqueando-as por completo. Massas de terra precipitavam-se nos abrigos profundos, obstruindo todas as entradas [que, evidentemente, não eram atingidas pelo bombardeio]. Ao fim da tarde, alguns setores da linha de frente alemã estavam já irreconhecíveis, tendo-se transformado em campos de crateras. (Wyne, If german attacks)"

Os ingleses, depois, começaram a misturar gás com suas granadas, usando artefatos de lançamento primitivos e o vento predominante para atingir o outro lado da terra-de-ninguém.

"Às primeiras horas [26 de iunho], nuvens de gás de cloro (...) atingiram a posição alemã [perto de Fricourt] e, sendo mais pesadas do que o ar, enchiam todas as fendas que havia no terreno. O denso fumo descia, como uma coisa viva, pelos degraus das saídas dos abrigos, enchendo-os com veneno até que os pulverizadores de antídotos anulavam o seu efeito (...); durante a tarde, foram pela primeira vez lançados torpedos aéreos, pelos morteiros pesados na linha de frente inglesa.

Descendo quase perpendicularmente de uma grande altura, estes monstros enterravam-se bem fundo no solo e depois explodiam. [Esta é quase com toda a certeza uma referência não a granadas de morteiro, mas sim às granadas dos morteiros superpesados, felizmente, para os alemães, em pouco número.] Toneladas de terra, grandes blocos de calcário e rochas eram atiradas ao ar, deixando crateras, algumas com quatro metros de profundidade e cinco metros de diâmetro. Apenas os abrigos profundos e bem resistentes podiam suportar o choque (...). Os alemães, que até então tinham aguentado este inferno quase com indiferença, começaram a ficar alarmados. Ficavam com os nervos tensos ao ouvirem o barulho infernal e esperarem pelo ensurdecedor estrondo surdo do próximo torpedo quando atingia o solo e, depois, pela explosão devastadora. [uma experiência idêntica, de ouvir os obuses de sítio Krupp 420mm “mandando” as suas granadas para os alvos, deixara os homens histéricos no interior das fortificações de Liège, em agosto de 1914.] O impacto apagava as velas e os lampiões de acetileno nos mais fundos abrigos. As paredes balançavam como o costado de um navio em alto mar e a escuridão ficava cheia de fumaça e de gases (...) A 27 e 28 de junho registrou-se um quadro similar de devastação contínua (...). O bombardeio continuava a parecer sem método, com um intenso e, aparentemente, selvagem canhoneio, depois perfeitamente identificado como fogo de artilharia pesada de uma bateria de cada vez, seguido de tiros de morteiro de trincheira e torpedos aéreos ou ataques com gás, ou de novo uma súbita tempestade de granadas, com ocasionais períodos de absoluto sossego.

O 30 de junho foi uma repetição dos seis dias anteriores. As defesas da frente alemã já não mais existiam (...). Mas, apesar da devastação e do caos à superfície, os defensores que se encontravam nos abrigos profundos ainda intactos (a maioria) tinham (...) sobrevivido à provação. Durante sete dias e sete noites passaram sentados nos longos bancos de madeira ou nas camas de arame. em abrigos malcheirosos, a uns seis metros ou mais abaixo do solo. O barulho incessante e a necessidade de vigilância constante permitira-lhes dormir pouco, para não falar do medo sempre presente de que os seus abrigos se tornassem, de um momento para o outro, um túmulo para enterrados vivos, do qual era impossível sair. Raramente chegava comida quente (...), razão pela qual tiveram de viver à base de rações enlatadas [conservas].


Mas a verdade é que estavam vivos.

Às 11h30min , contudo, [no dia 1o. de julho] foi desencadeado de súbito um bombardeio sem paralelo contra toda a frente. De início, foi mais severo no centro, perto de Thiepval e Beaumoht, mas logo se espalhou por toda a linha, do norte de Ancre até o sul do Somme. Na hora que se seguiu, jorrava constantemente pelo ar enormes jatos de terra, pedras, fumaça e destroços (...). As explosões gigantescas das granadas mais pesadas eram os únicos ruídos identificáveis no meio do contínuo estrondo do bombardeio e os seus curtos intervalos regulares davam-lhe um certo ritmo. Todo o traçado do sistema de trincheiras da frente já desaparecera, e, com poucas exceções, todos os cabos telefônicos que o ligava às linhas da retaguarda e às baterias encontravam-se destruídos, apesar dos quase dois metros de profundidade em que tinham sido instalados. Pelos longos periscópios erguidos dos abrigos podia se ver uma massa de capacetes de aço acima do parapeito inglês (...). Os alemães, nos seus abrigos, cada um com o cinto repleto de granadas e um fuzil na mão, esperavam prontos pelo fim do bombardeio para deixar a trincheira da frente e ocupar as posições defensivas à retaguarda. Era de vital importância não perder um segundo e chegar rapidamente ao ar livre antes que a infantaria inglesa pudesse alcançar as entradas dos abrigos."

A batalha estava prestes a começar. E o seu primeiro, e decisivo, ato seria a “corrida para o parapeito”- uma corrida que os ingleses começaram na sua própria trincheira da frente até o outro lado da terra-de-ninguém, e que para os alemães começou no fundo dos abrigos e terminou no topo dos degraus desses mesmos abrigos. Quem primeiro alcançasse o parapeito alemão estaria vivo. O lado que perdesse a corrida morreria, quer soterrado nos abrigos, quer atingido na superfície da terra, frente à trincheira. Todos os esforços ingleses visaram assegurar que os alemães perdessem a corrida, a mostrarem-se demasiado inferiorizados para competir. Mas, como vimos, a maior parte das guarnições das trincheiras alemãs viviam ainda à hora H do dia D. Como é que o esforço da artilharia inglesa deu tão pouco resultado? A resposta é dada, em grande parte, se isolarmos a proporção de ingredientes ativos no bombardeio inglês: ou seja, das cargas explosivas lançadas sobre a área ocupada pelos alemães. O peso das granadas transportadas para os canhões ingleses foi de cerca de vinte e uma mil toneladas, sem as cargas de projeção (explosivo necessário para lançar a carga até a boca do tubo no momento do disparo). Foram empregados da ordem de cinquenta mil artilheiros (quase o total do exército de Wellington em Waterloo), durante sete dias, para carregar toda esta tonelagem nas respectivas peças e despejá-la contra o inimigo - ou, mais precisamente, na área, de 25 mil metros por 2 mil metros, que a infantaria inglesa deveria atacar. Grosso modo, isto significava que cada 2.500 metros quadrados tinham recebido uma tonelada de granadas; ou, se usarmos totais de granadas para o cálculo - e foram disparadas cerca de 1,5 milhão -, que cada mil metros quadrados tinham recebido trinta granadas. Contudo, cerca de um milhão de granadas eram de shrapnel disparadas pelos canhões de campanha de 18 libras das artilharias divisionárias, granadas que muito poucos danos podiam causar nas trincheiras, dado que continham apenas pequenos balins de aço, e somente algum dano adicional no arame, embora a sua alegada capacidade de destruição das cercas de arame justificassem o disparo de tão elevados totais. De fato, os canhões de 18 libras estavam preparados para lançar shrapnel porque as fábricas de munições inglesas ainda não podiam produzir grandes volumes de granadas de alto explosivo, apesar de quase todos na British Expeditionary Force, desde o oficial do quartel-general ao simples artilheiro, tivessem já percebido que só tal espécie de granada poderia causar sérios danos ao inimigo entrincheirado.
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39ª Bateria de Sítio britânica dispara seus obuseiros de 17 libras no Somme


Descontando as granadas tipo shrapnel, portanto, ficamos restritos ao desempenho dos obuses e dos canhões pesados - que dispararam cerca de meio milhão de granadas ou 12 mil toneladas de peso. A granada mais leve e abundantemente usada foi a dos obuses de campanha de 4,5 polegadas das artilharias divisionárias que pesavam 16kg; a mais pesada, e a dos obuses de 15 polegadas, que pesavam 635kg - mas das quais havia uma dotação bem limitada, pois existiam apenas seis dessas monstruosas armas no campo de batalha. No entanto, a sua contribuição para o bombardeio - cerca de mil e quinhentas granadas, pesando mil toneladas - é impressionante, e sê-lo-ia ainda mais se recordarmos que Napoleão dispunha em Waterloo apenas cerca de cem toneladas de projetis de artilharia. As comparações entre os esforços da artilharia de 1815 e 1916, contudo, não fazem sentido, pois os artilheiros de Napoleão tiveram a missão extremamente simples de atirar a curta distância, com munição sólida, contra massas densas e imóveis de soldados, para quem ser atingido significava a morte; os artilheiros de Haig, em contrapartida, não podiam ver o seu alvo e não podiam ter a certeza, mesmo que o atingissem, de que o seu tiro teria um efeito letal. Isto se devia à proporção muito pequena da quantidade de explosivo contida no projetil. A granada de 635kg do obus de 15 polegadas, por exemplo, continha 90kg de explosivo (Ammatol, uma mistura de TNT e nitrato de amônio); a granada de 16 kg do obus de 4,5 polegadas continha pouco mais de dois quilos. A explicação desta disparidade entre o peso total da granada e o peso da carga explosiva é dupla: os desgastes sofridos pela granada durante o tiro implicavam que ela tivesse um revestimento muito forte e, portanto, pesado, pois caso contrário desintegrar-se-ia dentro do canhão, com efeitos, naturalmente, desastrosos; enquanto o objetivo da granada, tal como foi concebida pelos seus criadores, era produzir um grande número de estilhaços de aço que, atingindo uma determinada velocidade, produziriam um efeito letal, que constituía um resultado indireto da sua explosão. Por essa razão, a maior parte das granadas tinha um sistema de detonação preparado para as fazer explodir quando do impacto, provocando os enormes jatos de terra e fumo que constituem o traço mais característico do cenário das batalhas da Primeira Guerra Mundial.

São esses jatos de terra e fumo que retratam o conflito bélico. Das 12 mil toneladas de granadas disparadas contra a área ocupada pelos alemães, apenas cerca de novecentas toneladas eram granadas de alto explosivo. E a maior parte desta pequena carga explosiva dissipava-se no ar, arrastando uma massa visualmente impressionante de material à superfície da terra e provocando uma chuva aterradora de estilhaços, mas, ao mesmo tempo, causando um impacto relativamente inexpressivo - se comparado com os outros efeitos - lá embaixo, nos abrigos, onde as guarnições das trincheiras alemãs estavam escondidas. Cada dez metros quadrados tinha recebido apenas meio quilo de granadas de alto explosivo, cada quilômetro quadrado fora atingido por cerca de trinta toneladas. Vinte e oito anos depois, as forças aéres aliadas lançariam contra as posições alemãs na Normandia, e em minutos, não em dias, qualquer coisa como oitocentas toneladas de bombas por quilômetro quadrado, consistindo a maior parte dessa tonelagem de altos explosivos. Hoje, a doutrina tática da OTAN veria a posição do Somme como um alvo adequado para várias pequenas ogivas nucleares, cada uma das quais produziria o mesmo que muitos milhares de toneladas de TNT por quilômetro quadrado. Mas alguns dos defensores, se devidamente protegidos por um abrigo adequado, poderiam, apesar disso, sobreviver- como ocorreu a muitos soldados alemães abrigados durante a preparação aérea para as operações Cobra em julho de 1944, sobrevivendo para acionar suas armas contra as colunas de blindados ingleses e americanos que emergiram através do pó do bombardeio.

Podemos, pois, entender agora porque o grande bombardeio do Somme, apesar de todo o seu estrondo e fúria, se revelou inadequado relativamente ao fim a que se destinava e se esperava atingir. As granadas que os canhões ingleses dispararam contra as trincheiras alemãs, tal como as que, um mês antes, tinham despedaçado as couraças dos navios de guerra alemães na Jutilândia, não eram o tipo correto de projetil para essa missão, além de frequentemente não primarem pela pontaria. E enquanto os artilheiros navais ingleses podiam ver e sabiam como atingir os seus alvos, os artilheiros ingleses de campanha e das trincheiras, muitos deles amadores, tinham, em grande parte, de adivinhar quais seriam os seus verdadeiros alvos, ou seja, onde estavam realmente escondidas as guarnições de metralhadoras, além de, muitas vezes, lhes faltar a perícia necessária para colocar o tiro exatamente no lugar onde queriam. Por isso, apesar da precisão do plano de fogos, o resultado foi uma craterização dispersa no campo de batalha, às vezes na linha das trincheiras e nos obstáculos de arame farpado alemães, outras vezes além desses alvos, outras vezes aquém. Craterização dispersa que, aliás, todos os observadores da frente do Somme mencionam em seus escritos.


Fonte: KEEGAN, John. A face da batalha. Bibliex.


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